quinta-feira, novembro 30, 2006

O papel da conjuntura externa:a rebelião catalã

(Para o José Augusto Borges de Almeida com um grande abraço por hoje)

Para o sucesso da Restauração Portuguesa foi essencial a conjuntura externa, e a forte coligação europeia contra o Império dos Áustrias, no curso da Guerra dos Trinta Anos. Neste panorama, a
rebelião da Catalunha foi definitiva, pois Madrid priorizou o esmagamento dos Catalães, dando tempo a D.João IV para consolidar a estratégia defensiva de Portugal, no plano da estabilidade interna, no início da recuperação das áreas perdidas no Ultramar, no Brasil e em Angola. E prepa-
rar a defesa no plano político-diplomático e militar, obtendo os meios financeiros para sustentar
tais políticas. Foi também o fim do Conde-Duque de Olivares, valido de Filipe IV e autor da política de "castelhanização" de Portugal, que consciencializaria os Portugueses quanto às consequências reais da"monarquia dualista".

FIGURAS ILUSTRES (3): D. ANTÃO VAZ DE ALMADA

Na véspera de mais uma comemoração do 1º de Dezembro, como sempre com a cerimónia mais visível nos Restauradores, patrocinada pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal, a figura histórica que obrigatoriamente temos de referir é a desse grande português que foi D. Antão Vaz de Almada.

Nascido em 1543, D. Antão de Almada foi um dos vultos mais importantes da revolução do 1º de Dezembro de 1640, altura em que abrigou no seu palácio ao Rossio cerca de quarenta conjurados que nos libertariam da tirania filipina - entre eles D. Miguel de Almeida, João Pinto Ribeiro, Pêro de Mendonça e Francisco de Melo. Após o triunfo do partido português, o ilustre fidalgo viria ainda a ser nomeado para uma importante missão, como Embaixador em Londres, conseguindo assinar com Carlos I um tratado que levaria ao reconhecimento da soberania portuguesa e de D. João IV. Faleceu em 1644, já em Lisboa. A sua residência ficou justamente conhecida como Palácio da Independência, tendo sido sede da Mocidade Portuguesa e, hoje, da Sociedade Histórica da Independência de Portugal.

A casa principal da família Almada é, hoje em dia, o Paço de Lanheses, em Ponte de Lima.

O 1º de Dezembro


O lº de Dezembro de 1640 representou a prova de vida de Portugal, que a Nação queria reconquistar o seu Estado em plena soberania. Fê-lo então com sucesso.
Hoje, as ameaças à soberania, à independência nacional, são múltiplas; a começar pela "agressão ideológica" através das palavras.
A mensagem subtil é a alteração das palavras. Chamar, por exemplo, "soberanistas", aos defensores da independência de Portugal, é uma forma de "desvalorizar" o conceito de independência, transformando-o numa espécie de discussão bizantina sobre "detalhes" jurídico-constitucionais.
Não devemos permitir o sucesso deste tipo de truques semânticos. Como não devemos permitir o discurso da "desconstrução" dos valores, baseado na ideia que não fazem sentido, que estão ultrapassados, que o século XXI é só economia, finanças, globalização.
Nunca o jogo geopolítico dos interesses territoriais e energéticos foi tão político. Nunca as nações precisaram tanto do Estado, -do Estado pessoa de bem,entenda-se- para as defender.
Em 1 de Dezembro de 1640 a Nação Portuguesa reconquistou "por um punhado de bravos" a sua Liberdade. É isso que conta, não só para lembrar tal esforço, como para o continuar por palavras e acções.


Sobre o 25 de Novembro: 1.O Thermidor francês

Os conjurados contra Robespierre em 9 de Thermidor


O 25 de Novembro foi o Thermidor da última revolução portuguesa. Escrevemos isso na época, trabalhamos e glosamos este conceito, muitas vezes em artigos jornalísticos e trabalhos académicos. Os leitores familiarizados com a História Política moderna conhecem, concerteza, a teoria do ciclo revolucionário, de Crane Brinton, que partiu de uma analogia do processo da Revolução Francesa, para interpretar as modernas revoluções europeias e americanas; esta analogia considera quatro momentos "dialécticos", num processo revolucionário:

Ancien Régime
Tempo dos Moderados
Terror
Thermidor

Em França, o Ancien Régime caiu no 14 de Julho de 1789, com a Bastilha; seguiu-se "o tempo dos moderados", um tempo de "liberalização" e "constitucionalização" das instituições da Monarquia Francesa, com um núcleo de moderados do Ancien Régime - parte da aristocracia do alto clero e a Coroa - a tentarem, com a aliança dos revolucionários "moderados" - os Girondinos - consolidar uma monarquia "limitada" à inglesa, que fora o grande sonho de Montesquieu e da ala direita dos "liberais" ilustrados.

No Verão de 1792, em Agosto, as coisas complicaram-se com o ataque às Tulherias e o massacre dos guardas suiços, os únicos que defenderam a Família Real (e é por isso que estes "mercenários" suiços são bastante mais fiáveis que os locais). E o "povo unido" parisiense continuou a fazer das suas - os massacres de Setembro, encorajados pelo sinistro Marat. Este "povo unido" de Paris era uma pequena percentagem da população da cidade, 5000 a 10000 pessoas, mas que iam a todas.

Em 1793, que Victor Hugo imortalizaria num romance que empolgou a minha infância - Quatrevingt treize - em Janeiro, os Jacobinos cortaram a cabeça a Luís XVI e iniciaram oficialmente o Terror, com aquelas manifestações rituais que conhecemos; ao mesmo tempo, a "contra-revolução" e a guerra exterior, justificavam estas medidas de excepção.

Os processos de terror de "esquerda" têm sempre uma curiosa marca que os torna mais odiosos: é justificarem-se, permanentemente, pela "virtude", pelo "bem", pelo "mundo melhor". Líderes cínicos ou pelo menos tão maquiavélicos como todos - soltam os seus cães, polícia política, "milícias", povo, camponeses - aterrorizam, prendem, massacram, sempre com um discurso "justificativo".

O "terror" das "direitas" - que também não falta - não tem este lado "ideológico-religioso"; desde os tempos da inquisição, cujos oficiais tratavam mal os corpos para salvar as almas. E os Inquisidores tinham a atenuante de acreditar que era mesmo assim... Modernamente dão-se razões de "bem público", mas não se faz em grandes apologias. Há pelo menos pudor.

Mas voltemos ao Terror na França revolucionária. A guilhotina trabalhou activamente, em Paris e em todo o país, matando muitos milhares de contra-revolucionários; em Lyon, optaram os Jacobinos por fuzilamentos, enquanto em Nantes, um republicano poupado - Carrier - com preocupações de "austeridade" financeira, afogava os realistas que metia numas barcas no Loire. Na Vendeia foi mais complicado pois os realistas e católicos eram camponeses chefiados pelos nobres e padres locais. A República Humanitária inventou ali, o genocídio, com as colunas do General Torreau.

Quando o Terror de Robespierre e dos Jacobinos, depois dos Reis, dos Aristocratas, do Clero, dos Girondinos, passou às próprias fileiras dos "terroristas", estes, acossados pelo medo, surgiu a reacção. E foi Thermidor, resultante de uma associação de todos frente a Robespierre. Este cometeu alguns erros tácticos, juntou os inimigos e dividiu os amigos, e perdeu a partida. Os thermidorianos, que eram do métier e seus correligionários da véspera, não esperaram e guilhotinaram-no e aos seus seguidores principais, acto contínuo.

Depois desta acções expeditivas, os thermidorianos, quase todos ex-Jacobinos, acharam por bem pôr fim ao Terror e reequilibrar o sistema, num compromisso entre o antigo regime e os objectivos revolucionários. Actuaram essencialmente em causa própria e para salvar a pele (e as fortunas entretanto amealhadas), mas perceberam que a revolução permanente levava (podia levar...) à vitória da Contra-Revolução. E pararam a tempo. Seguiram-se animadas experiências governativas - como o Directório e o Consulado - até que Bonaparte passou a Primeiro Consul e repetiu o modelo cesarista de Roma, com a força das armas, fazendo a tal síntese entre o passado e o futuro.

Nostalgias 26: (cantando na) Chuva


Agora, que a chuva está a passar, regresso ao tema, sem masoquismo: e, na tradição moderna e ocidental da chuva - há dezenas de ocasiões e citações de "chuva" em Shakeaspeare - que não faltam os links. Fica um, que por conhecido e repetido, não deixa de fazer sentido... Singing in the rain, com o Genne Kelly.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Almeida Santos e a Descolonização: a lógica é uma batata

Vem no Público que para o Dr. Almeida Santos a descolonização portuguesa não foi tão má como isso. "Outras foram piores. Poucas terão sido melhores". É, portanto, a vida. No entanto há "culpados" (de quê?): "a teimosia de Salazar, a indecisão de Caetano..." e por aí fora. Temos de concluir portanto que a culpa de todas as outras descolonizações terem corrido tão mal ou pior do que a portuguesa só pode ter sido também da "teimosia de Salazar, da indecisão de Caetano" etc. ou então talvez se lhes deva que a nossa não tenha sido das piores. É muito confuso. Estamos naquela ordem de raciocínios que nos países anglo-saxónicos se exprime assim: Não aconteceu nada, não fui eu – e que mal é que tem?

Exortação à Mocidade

Nestes tempos de desalento em que vivemos, não resisti à tentação de transcrever a dedicatória com que abre a obra Exortação à Mocidade de Malheiro Dias:

"A Antero de Figueiredo Mestre da Boa Linguagem e da Boa Doutrina

Em recordação daquela tarde de Outono
Em que, no campo de batalha de Alcácer-Quibir,
Onde a Pátria foi vencida,
Fervorosamente pedimos a Deus
A fizesse vencedora dos males
Que actualmente a afligem,
Incutindo na alma da
Juventude
A fé nos seus destinos e a
mesma energia dos que ali
Batalharam, até ao último
Alento, pela Grandeza,
A honra e a Glória
De
Portugal."

FIGURAS ILUSTRES: D. FREI MANUEL PINTO DA FONSECA (2)

Nascido em 1681, em Lamego, D. Manuel Pinto da Fonseca foi um dos mais destacados Grão-Mestres da Ordem de Malta, tendo governado a ilha durante 32 anos (1741-1773). Ao longo do seu reinado, viu ser-lhe atribuído o título de Príncipe, tendo também, numa época marcada pelo absolutismo, tomado a decisão histórica de fechar a coroa dos Grão-Mestres e cunhar moeda com a sua efígie.

A sua acção como soberano de Malta ficou marcada por diversos episódios importantes, de entre os quais se destacam a vitória sobre os exércitos de Mahomet V e a valorização cultural e arquitectónica da ilha.

Frei Manuel Pinto da Fonseca é, ainda hoje, uma referência incontornável de Malta, sendo o seu túmulo, considerado um dos mais belos do mundo, um destino obrigatório do turismo local. Refira-se, por último, que existiram, antes dele, três outros Grão-Mestres portugueses: D. Frei Afonso de Portugal (1202-1206), D. Frei Luiz Mendes de Vasconcelos (1622-1623) e D. Frei António Manuel de Vilhena (1722-1736).

Nun'Álvares Pereira

Há livros que não têm recebido toda a atenção que merecem. É o caso desta biografia de Nun'Álvares Pereira. Herói e Monge. Catolicidade e Portugalidade, da autoria do nosso colega António Maria M. Pinheiro Torres, um dos fundadores da Futuro Presente, e publicada pela Prefácio.

Esta biografia, contudo, não se limita a analisar a vida do Santo Condestável, os seus feitos militares e a sua obra enquanto monge. Explora também diversas questões relacionadas com a nossa Identidade Nacional, interrogando-se sobre assuntos importantes; nomeadamente, "Como continuar Português?" e "Actualidade de Aljubarrota", onde se refere o grande desconhecimento que as novas gerações têm sobre este momento decisivo da nossa História. Um livro que recomendamos vivamente a todos os nossos leitores.

terça-feira, novembro 28, 2006

Nostalgias 25: Maria Antonieta ou prima della rivoluzione



"Antes da Revolução" era a douceur de vivre, a tal a que se referia esse celerado de muito talento - Talleyrand - quando dizia, muito depois, na nostalgia desarmada e desarmante da própria velhice, que quem não tinha vivido no Ancien Régime não tinha conhecido a tal douceur de vivre. Diríamos nós que essa douceur e "qualidade de vida", falando ordinária, corrente e publicitariamente, dependia do estatuto social, do status, do estamento (Stamen, em alemão) de "quem" vivia. Maria Antonieta estava no topo do mundo e conheceu essa douceur de vivre em Versailles, como Rainha de França. Não deve ter percebido muito bem o que estava a chegar, nem que os fundamentos do poder real, e até do poder social da sua classe, tinham sido já destruidos, nos próprios salões da aristocracia francesa, que desde a Regência admirava piamente, com aquela estupidez fútil dos suicidas sociais, os que os iam empurrando para o cadafalso. Era, no fundo uma mulher nova, bonita, divertida, curiosa, casada com um marido maçador, bondoso, com hobbies de classe média bem sucedida, que entretanto era Rei de França "por graça de Deus", coisa que practicamente nenhum francês acreditaria com muita convicção, incluindo - e isto ainda agravava as coisas como se viu adiante - o próprio Luís XVI.

Na desgraça, aliás como a maioria dos seus companheiros de infortúnio, e enfrentando as mais terríveis injúrias e sofrimentos que uma mulher e mãe pode passar, Maria Antonieta foi de uma extrema dignidade e coragem. Noblesse oblige... e nestas circunstâncias limite, sempre dá alguma formação, senão para viver bem, pelo menos para bem morrer.

nostalgias 22: Fahrenheit 451, 3a. via da utopia



Fahrenheit 451 foi uma obra prima da fc poética, mas também uma das mais originais "utopias negativas" do século XX. O livro de Ray Bradbury conta uma sociedade de grande abundância material e técnica, mas espitualmente embrutecida e regressiva, uma sociedade que baniu os livros e a sua leitura e exalta obcessivamente o audiovisual. É aqui que o bombeiro (Oskar Werner) encontra a jovem dissidente - Julie Christie, no seu melhor.

Encontram-se, descobrem-se, amam-se, ela converte-o à dissidência e além de amantes, no modo romântico e púdico da época, tornam-se cúmplices. É um grande filme mas, voltando às utopias e seus tipos, uma terceira via, pois aqui, ao contrário da paupérrima sociedade de 1984, há abundância material. Mas ao contrário de Brave New World, mais que condicionamento hedonista, há repressão permanente.

Figuras Ilustres: o General Silveira (1)

Em Portugal não há muito o culto dos heróis e é pena. Há, assim, figuras gradas da nossa História que acabam por passar algo despercebidas. Lembrámo-nos, portanto, de fazer aqui alguns breves apontamentos sobre várias delas. Por vezes, falaremos até nalgumas personalidades estrangeiras mas que, de alguma forma, estiveram ligadas a Portugal ou à nossa família, de sangue ou de pensamento.

Para iniciarmos esta secção do nosso blog, escolhemos o Marechal Francisco da Silveira Pinto da Fonseca ou, como ficou conhecido, o General Silveira, o heróico defensor da ponte de Amarante e um dos primeiros oficiais a derrotar as tropas de Napoleão.

A sua figura merece estudo acrescido por diversas razões, entre elas o facto de ter sido um dos precursores da guerra de guerrilhas, através da utilização que fez das milícias e das tropas irregulares portuguesas contra os ordenados soldados franceses.

A sua intervenção nas campanhas do Norte de Portugal, contra as tropas do Marechal Soult, não se limitou contudo à já referida resistência em Amarante, mas assumiu-se também como um factor importante para o início da derrocada de Napoleão, tendo continuado por terras de Espanha, junto das forças inglesas. Um exemplo de Oficial e de Português que urge lembrar às novas gerações.

Nostalgias 24: RIP - Philippe Noiret



Filme-homenagem a Philippe Noiret por ocasião da sua morte aos 76 anos.

segunda-feira, novembro 27, 2006

"Give Saddam a chance!"

"Give him a chance?"

«The debate about Iraq has moved past the question of whether it was a mistake (everybody knows it was) to the more depressing question of whether it is possible to avert total disaster. Every self-respecting foreign policy analyst has his own plan for Iraq. The trouble is that these tracts are inevitably unconvincing, except when they argue why all the other plans would fail. It's all terribly grim.

So allow me to propose the unthinkable: Maybe, just maybe, our best option is to restore Saddam Hussein to power.

Yes, I know. Hussein is a psychotic mass murderer. Under his rule, Iraqis were shot, tortured, and lived in constant fear. Bringing the dictator back would sound cruel if it weren't for the fact that all those things are also happening now, probably on a wider scale.

At the outset of the war, I had no high hopes for Iraqi democracy, but I paid no attention to the possibility that the Iraqis would end up with a worse government than the one they had. It turns out, however, that there is something more awful than totalitarianism, and that is endless chaos and civil war.

Nobody seems to foresee the possibility of restoring order to Iraq. Here is the basic dilemma: The government is run by Shiites, and the security agencies have been overrun by militias and death squads. The government is strong enough to terrorize the Sunnis into rebellion but not strong enough to crush this rebellion.

Meanwhile, we have admirably directed our efforts into training a professional and nonsectarian Iraqi police force and encouraging reconciliation between Sunnis and Shiites. But we haven't succeeded. We may be strong enough to stop large-scale warfare or genocide, but we're not strong enough to stop pervasive chaos.

Hussein, however, has a proven record in that department. It may well be possible to reconstitute the Iraqi army and state bureaucracy we disbanded, and if so, that may be the only force capable of imposing order in Iraq.

Chaos and order each have a powerful self-sustaining logic. When people perceive a lack of order, they act in ways that further the disorder. If a Sunni believes that he is in danger of being killed by Shiites, he will throw his support to Sunni insurgents who he sees as the only force that can protect him. The Sunni insurgents, in turn, will scare Shiites into supporting their own anti-Sunni militias.

And it's not just Iraqis who act this way. You could find a smaller-scale version of this dynamic in an urban riot here in the United States. But when there's an expectation of social order, people will act in a civilized fashion.

Restoring the expectation of order in Iraq will take some kind of large-scale psychological shock. The Iraqi elections were expected to offer that shock, but they didn't. The return of Saddam Hussein--a man every Iraqi knows, and whom many of them fear--would do the trick.

The disadvantages of reinstalling Hussein are obvious, but consider some of the upside. He would not allow the country to be dominated by Iran, which is the United States' major regional enemy, a sponsor of terrorism, and an instigator of warfare between Lebanon and Israel. Hussein was extremely difficult to deal with before the war, in large part because he apparently believed that he could defeat any U.S. invasion if it came to that. Now he knows he can't. And he'd probably be amenable because his alternative is death by hanging.

I know why restoring a brutal tyrant to power is a bad idea. Somebody explain to me why it's worse than all the others.»

( Jeremy Chait, The New Republic online, 27nov.2006)

"Give Politics a Chance!"

As eleições de 7 de Novembro mostraram que o Iraque, a corrupção e os escândalos, envolvendo políticos do GOP, trouxeram a derrota dos Republicanos no Congresso. Foi o sinal para uma Administração eleita numa linha de interesse nacional, mas que depois do 11/9 trocou a guerra certa e necessária - a campanha contra o macro-terrorismo - pela guerra contraproducente - a guerra do Iraque.

O número de conservadores entre os democratas eleitos, conservadores fiscais e de costumes, "against bigger taxes and for guns and God" e a rejeição, nos referendos locais, dos projectos "liberais", provam que a maioria conservadora se mantém no país. Mas o eleitorado recusou e puniu duas coisas: a utopia da "democratização" global e a linha "virtudes públicas, vícios privados".

O Iraque passou a uma "guerra esquecida", ou para esquecer. Vimos outras: a Argélia, a nossa "guerra de África", o Vietname. Nestas "guerras", quando chega a hora de partir, há sempre quem pague o preço da "volubilidade" da política das metrópoles ou dos aliados: os "colonos" - pieds-noirs da Argélia e "retornados" portugueses - e a parte da população ontem "leal", hoje "colaboracionista". E depois há os combatentes, que acreditam que estavam no terreno a lutar por coisas boas e eternas: a pátria, a civilização, a liberdade. São "os soldados perdidos"...

Na Argélia, centenas deles, geralmente das forças de elite, desertaram e juntaram-se à OAS; em Portugal, no caos poliárquico do PREC ninguém quis saber, sobretudo do que e de quem ficava para trás - e foram as guerras civis - de que se culparam os locais e a "guerra fria"! No Iraque, há 150.000 militares americanos, mais rapazes que homens, mais da "América profunda" que das grandes cidades, na maioria soldados da "fiel infantaria" e dos marines de que ninguém quer saber, desde que a "guerra" se tornou "perdida". Das centenas de correspondentes de há três anos, restam uma dúzia... Os oficiais vão, uma vez mais, ser os portadores das más novas e dos "body bags". Não há colonos: mas se a saída for à pressão, sunitas e shiitas vão bater-se ao carro armadilhado, à kalash, à faca, no caos das milícias meio sectárias meio-crime organizado, pouco religiosas! Fora os "duros" vão fazer esquecer a manipulação da intelligence, a caução dada a charlatães e burlões como o Sr. Chalabi,. O Iraque, esse, ou vai reduzir-se a uma área fragmentada, uma espécie de super-Líbano dos anos 80, ou, mal menor, verá a ascensão de um dos generais do N.I.A. - New Iraquian Army, (parece que há algumas brigadas capazes e Allah as conserve!) que conseguirá restaurar a ordem e segurança no que restar do país, repetindo um modelo "cesarista"; solução menos má mas nos antípodas da utopia do "novo Médio Oriente"!

Será a altura de "dar" à política uma chance? Por uma razão simples: os "argumentos" dos Estados Unidos são mais poderosos perante os governos de Damasco, Teerão e Ramalah, que face a "guerrilheiros" no terreno, no Iraque ou na Palestina. Foi assim na Guerra Fria com a União Soviética, patrono e patrão dos "terroristas" de então e que os "controlou" quando foi preciso. Agora pode resultar ou não, mas não há muitos mais caminhos.

Publicado no Expresso a 25.11.2006

domingo, novembro 26, 2006

Nostalgias 23: "Julius Caesar"past and present.


A ver Rome, a série da BBC com o Ciran Hinds a fazer de César. Bastante bem, diga-se de passagem. Nunca achei esquisito ver os Romanos a falar inglês, já que Shakeaspeare e Hollywood são as grandes fontes contemporâneas de conhecimento (às vezes"desconhecimento") de Roma antiga.Mas não resisti a lembrar um"clássico"do cinema sobre a mesma época e tema, o Julius Caesar, de Joseph L. Mankiewikz , com Marlon Brando, James Mason, John Gielgud e outros.
Realizado em 1953.

sábado, novembro 25, 2006

Citações 23: is there "a deep divide"?

"There is a deep divide between Democrats and Republicans. It used to be based on the elevated principle enunciated by Matthew Arnold: Choose equality and flee greed.Democrats signed on to this; Republicans--at least once Theodore Roosevelt left--didn't. That's still true today. President Bush has certainly not embraced equality. And many of his administration's policies virtually enshrine greed as a guarantor of the public good. Still, the breach between the parties is no longer so clear or so deep. You really can't count the pampered and petulant Hollywood (or Cambridge or Upper West Side) left as truly egalitarian. Ditto for the party's high-tech zillionaires. George Soros is certainly no egalitarian, nor is John Kerry. And Teresa? Please. Maybe Democrats feel ethically superior because they used to be egalitarians, although past tense is a shaky platform for moral arrogance."

Martin Peretz, "Ghosts"in TNR , in 9-3-2004

Nostalgias 21: The wild geese



The Wild Geese foi outra grande fita de aventuras do fim dos anos 70. Era uma história ao gosto da época, uma história de um grupo de mercenários "bons", que partiam numa operação de "comandos", para derrubar um ditador africano "mau", e substitui-lo por um dirigente da oposição,bondoso e culto do tipo licenciado "humanista". Aliás uma outra fita da época, adaptada de um thriller de Fredrick Forsight, foi The Dogs of War (John Irvin,1980) com um enredo paralelo. A operação acabava por não correr bem(nunca correm bem nesses sítios...)mas a amizade do grupo , o valor do seu espírito de corpo, e um"núcleo duro" de actores, bem nos papeis-Richard Burton, Richard Harris, Roger Moore, Hardy Kruger e o "veterano" Stewart Granger, a fazer de "mau"capitalista que atraiçoa os "operacionais -produziram este excelente filme, dirigido por Andrew V. McLaglen, em 1978.
Hoje, 25 de Novembro,dedico este post ao Victor Ribeiro, pelo seu papel nos acontecimentos de há 31 anos, lembrando a nossa amizade ( ainda mais) antiga e as nossas andanças africanas .

Nostalgias 20: outras chuvas


O temporal de ontem deixou marcas por toda a cidade e aqui ao pé da porta - no pátio - arrancou de raiz mais uma árvore; hoje de manhã, na Alameda e no Jardim do Campo Grande, havia restos de guarda-chuvas despedaçados; e poças de água e lama, ramos, bocados de árvores, restos.

Lembrei-me de outras chuvas, imaginárias, reais, mais civilizadas ou selvagens, chuvas da Paris da Belle Époque, de Nova Iorque dos anos 50, dos pintores do Porto e da Foz da volta do século XX, do neo-realismo italiano, da literatura asiática e africana dos anglo-saxónicos, do Conrad ao Somerset Maughan, este autor de um admirável conto "Chuva", que li na adolescência, na "Miniatura". Vou ver neste week-end se encontro algumas destas chuvas. Para já fica uma, parisiense, proustiana, onde apetece estar.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Sugestão para um dia chuvoso

Amanhã, dia 25, prevê-se que seja um desagradável dia chuvoso. Uma óptima oportunidade para visitar o Bazar Diplomático que se realiza, como habitualmente, na Cordoaria Nacional. Cada país vende aí, com objectivos de caridade, alguns dos seus produtos típicos e a preços muito convidativos. Uma ocasião ideal para comprar presentes de Natal e, sobretudo, para encontrar algumas pessoas amigas. Tudo num ambiente que é sempre muito simpático.

"Grandes Americanos": uma reflexão sobre os EUA (2)

A respeito dos "100 mais" da América, e até para comparação com uma iniciativa parecida local (a propósito, quando sabemos os resultados sobre o "maior" português ou será que saiu um português "incorrecto"?), ontem dizíamos que foram atribuídos os lugares cimeiros a políticos, metade a presidentes - dois Founding Fathers - Washington e Jefferson - dois do século XIX - Lincoln e Madison - e dois do século XX - Wilson e F. D. Roosevelt. E fora da política, só Edison, o grande inventor.

O critério do inquérito americano era a "influência", no sentido do papel, da participação, da intervenção na vida e na configuração da sociedade americana. A questão da "influência" é sempre ambígua, pois pode ser "positiva" ou "negativa". Lenine, Hitler e Mao-Tse-Tung são personalidades chave dos seus países e da História do século XX; foram, nesse sentido, muito "influentes" e "grandes". Mas para quê, para que resultado? Em Portugal, por exemplo, Álvaro Cunhal foi uma figura muito influente da História do século XX e é uma personalidade importante, com carácter, com coerência, com pensamento. Tudo isso, entretanto, para muitos portugueses, em que me incluo, foi uma influência nefasta, negativa, prejudicial na História de Portugal. O Otelo e o Vasco Gonçalves foram igualmente influentes e nefastos, um foi (é) um néscio e o outro, Deus lhe perdoe, era um paranóico. Mas as suas acções tiveram efeitos trágicos na vida do país e de milhões de pessoas, aqui e em África.

Os historiadores do painel, em certo sentido - e porque partem do princípio que os Estados Unidos, em última instância, tiveram, têm uma História grande e positiva - associaram a influência à "boa" influência, ou pelo menos, num sentido genérico "não má" ou "não negativa".
Passemos à segunda "tranche" dos seleccionados:

11º - John Rockefeller - "inventou " o petróleo e a filantropia.
12º - Ulysses Grant - foi o general decisivo da Guerra Civil.
13º - James Madison - o verdadeiro "pai da Constituição".
14º - Henry Ford - "inventou" o automóvel para todos.
15º - "Ted" Roosevelt - o sentido da aventura e do movimento da América.
16º - Marc Twain - o criador literário da "épica" americana.
17º - Ronald Reagan - tornou populares os valores conservadores e acabou com a URSS.
18º- Andrew Jackson - nacional-populista, democrático e militar.
19º - Thomas Paine - panfletário radical. Também fazem falta... numa sociedade conservadora.
20º - Andrew Carnegie - o self-made man e filantropo por excelência. O "sonho americano".

Continuam os presidentes - Madison, Grant, Ted Roosevelt, Reagan, Jackson - e o escritor político - Paine; mas chegam em força os industriais e homens de negócios - Rockefeller, Ford, Carnegie, os nomes lendários dos tycoons.

Algumas observações: ao contrário da nota facciosa e politicamente correcta dos "Grandes Portugueses", que respira "antifascismo" quanto à idade contemporânea, "Os Grandes Americanos" são mais "independentes". Aliás não há muitos contemporâneos o que só mostra bom-senso, pois o tempo é que se encarrega de arrumar estas coisas. O primeiro na lista é Bill Gates (54º), embora von Neumann, como cientista e investigador, fosse mais o pai do computador... Ralph Nader (96º), é à partida, o outro "vivo" ilustre.

Nós, estamos cheios de vivos. Alguns bem "mortos"; outros, futebolistas, artistas do espectáculo e antifascistas - destes alguns bem modestos de ideias e obras, para além da "cidadania vigilante". Não se enxergam...

* * *
NOTA: fotografias de Ronald Reagan, Henry Ford e John Rockefeller.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Nostalgias 19: Alec Guiness no rio Kwai


A ponte do Rio Kwai é das mais distantes memórias do cinema épico que registo: vi o filme de David Lean (1957) no Porto, talvez no S. João. O conflito de deveres e rituais de Alec Guiness, a história, a paisagem, as interpretações do Jack Hawkins e do William Holden, a música de Malcolm Arnold - a "Coronel Bogey March" assobiada pelos prisioneiros - tudo isto constituiu um filme inesquecível. A dinamitação da ponte no momento da inauguração e a reacção de Guiness são o climax da história.

"Grandes Americanos": uma reflexão sobre os EUA (1)


The Atlantic Monthly organizou um inquérito para saber "quem foram as figuras mais influentes da História americana". A pergunta foi dirigida aos leitores e a dez reputados historiadores, dando origem a uma lista "The top 100". A lista abre com os "10 mais":

1 - Abraham Lincoln
2 - George Washington
3 - Thomas Jefferson
4 - Franklyn Delano Roosevelt
5 - Alexander Hamilton
6 - Benjamin Franklin
7 - John Marshall
8 - Martin Luther King Jr.
9 - Thomas Edison
10 - Woodrow Wilson

Olhando estes primeiros nomes nota-se que: dominam os políticos. Há 5 presidentes - Lincoln, Washington, Jefferson, F. D. Roosevelt, W. Wilson; um Presidente do Supremo, que consolidou o poder judicial - Marshall; 3 pensadores, homens de Estado e políticos activos - Hamilton, Franklin e Martin Luther King Jr. E apenas um não político - um inventor de génio - o "mais prolífico inventor da História americana" - Thomas Edison. De resto, nos primeiros dez, nem um banqueiro, nem um industrial, nem um escritor ou poeta.

Quanto à linha política destas figuras, Hamilton é de direita - o nacional-conservador realista; Jefferson, de centro-esquerda - liberal progressista; Franklin o "ilustrado" por excelência; Washington é conservador e realista; Wilson, mundialista e utópico; Martin Luther King, de centro-esquerda.

Os membros do painel justificam a sua escolha recair em Presidentes, legisladores e políticos, na base de que os Estados Unidos são "institucionais", que há desde sempre um "império da lei" e as leis moldam a vida nacional. Faz sentido.

O "inventor", o criador científico-técnico, também faz sentido e a América teve muitos. Talvez não tantos como a Inglaterra. Em Vespasiano, Belo Horizonte, Brasil, dizia-me há 30 anos o António Champalimaud: "Os Ingleses inventaram tudo o que tem a ver com física e química e máquinas". É verdade. E a América seguiu a tradição.

Abraham Lincoln é o homem que faz a guerra para manter a unidade nacional e, subsidiariamente, acabar com a escravatura no Sul. George Washington é o fundador, o soldado e político, como o nosso D. Afonso Henriques; Jefferson o autor do "All men are created equal". ("What about black slaves in the plantations..."). A importância de Martin Luther King foi ser o símbolo dessa solução; que se deve também muito a Richard Nixon e à sua política de empowerment, que criou uma classe média negra - 1/3 do total, mas alguma coisa. Donde vêem os Powell, as Condolezza Rice, os Clarence Thomas. Todos republicanos e conservadores. Há muitos problemas na América, os Afro-americanos continuam a ter níveis de educação, habitação, criminalidade diferentes e piores dos níveis nacionais, mas a conquista da dignidade está feita.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Citações 23: Duas utopias...

"The twentieth century could be seen as a race between two versions of man-made hell-the jackbooted state totalitarianism of Orwell's Nineteen Eighty-Four, and the hedonistic ersatz paradise of Brave New World, where absolutely everything is a consumer good and human beings are engineered to be happy. With the fall of the Berlin Wall in 1989, it seemed for a time that Brave New World had won " (...)

Margaret Atwood, "George Orwell:Some Personal Connections", in Curious Pursuits

Robert Altman (1925-2006)


Morreu com 81 anos o realizador Robert Altman, quando ainda está em exibição o seu último filme, Bastidores da Rádio. Devemos-lhe - no verdadeiro sentido da expressão - alguns filmes insubstituíveis, como Short Cuts (Os Americanos) ou The Player (O Jogador) ou Gosford Park e muitos momentos únicos no cinema americano do pós-guerra. M.A.S.H, de 1970, é o filme em que marca o seu lugar como "criador de formas" no cinema e que o define politicamente. Era um falso "homem de esquerda": tinha pouca fé na bondade natural do homem. Nem tudo o que fez cinematograficamente foi bom e até fez coisas razoavelmente más, sempre com elegância, mas tudo o que fez de melhor é inconfundivelmente seu. É isso o estilo.
P.S. - Um dos filmes de Altman que melhor me soube ver foi um filme "menor", Cookie's Fortune (1999), uma pachorrenta comédia dramática de intriga policial e um dos seus raros filmes "amáveis".

Os teo-cons

A religião, como toda a gente sabe, só merece respeito se não for cristã – e tanto mais respeito quanto maior capacidade e entusiasmo mostrem os respectivos crentes para degolar incréus. Somos secularistas mas não somos parvos.
No mundo anglo-saxónico, theocons é um termo que tem sido usado para designar com a natural dose de reprovação a gente religiosa que se mete em política (como em Theocons, um livro recente que tem como subtítulo "a América secular em perigo", e muitas outras publicações e opiniões sobre o perigo que representa a religião (cristã). Com hífen – theo-cons – o jornalista inglês John Lloyd atribui-lhe um sentido muito diferente, para não dizer inverso: usa-o para designar um crescente número de pessoas sem religião, ou nada praticantes, que no entanto vêem nas religiões cristãs e em particular na Igreja Católica um dos últimos baluartes dos "valores" que acham importantes para a sobrevivência e saúde das nossas sociedades. Como ele diz, "alguns secularistas estão a chegar à conclusão de que a Igreja é cada vez mais a sua derradeira protecção". Alvíssaras.

Blog power

Ségolène Royal obteve uma vitória esmagadora nas eleições internas em que o Partido Socialista escolheu o seu candidato à Presidência da República, excedendo as expectativas de analistas e sondagens. Diz-se que uma das razões foi a utilização que tem sabido fazer da blogosfera, no que "tem sido um dos políticos franceses mais inovadores". Segundo os mesmo comentadores "o poder da internet para marcar o debate político em França tinha sido posto em evidência o ano passado "quando milhares de sítios e blogs foram criados em apoio da campanha do Não no referendo sobre o tratado constitucional europeu" - contra as grandes máquinas partidárias que apoiavam o Sim. Tendo em conta também a "grande sede de direita que tem o povo de esquerda", como diz o escritor Marc Lambron.

Nostalgias 18 : Pessoa e Corto Maltese


"Os navios que entram a barra,
Os navios que saem dos portos,
Os navios que passam ao longe
(Suponho-me vendo-os duma praia deserta)-
Todos estes navios abstractos quase na sua ida,
Todos estes navios assim comovem-me como se fossem outra cousa

E não apenas navios, indo e vindo,"

Álvaro de Campos, Ode Marítima

terça-feira, novembro 21, 2006

Verdades verdadeiramente inconvenientes

1 - Al Gore não quer salvar o mundo. Quer ser eleito Presidente dos Estados Unidos. 2 - A "dúvida metódica", grande orgulho da mentalidade científica, só é aplicada às matérias de Fé. Nas matérias da Ciência reina o Dogmas. 3 - No que se refere ao "aquecimento global" e às "mudanças climáticas" pratica-se uma verdadeira censura de facto em relação a toda a investigação que sai fora da "ortodoxia" vigente e pratica-se o "terrorismo ambientalista" de que falámos, de passagem, no núnero 60 da revista (a propósito, leia-se "A mitologia do aquecimento global" em www.alamedadigital.com.pt e "Global Warming: Apocalypse Now?", de Kevin Shapiro, na Commentary de Setembro.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Nostalgias17: José António e a outra Europa

20 de Novembro: há 70 anos, em Alicante, fuzilaram José António, o fundador da Falange e desse fascismo poético e revolucionário, "do pão, da pátria e da justiça", que foi essencial na "educação sentimental "de muitas gerações de Espanha e de Portugal. Faz todo o sentido falar dele, para perceber a História europeia do século XX e a nossa história. Iremos fazê-lo. Por agora fica esta breve nota.

Friedman hoje


Friedman foi um economista que influenciou poderosamente diversas correntes do pensamento económico. Vale a pena lembrar algumas:
Num tempo em que um keynesianismo mal absorvido, de um Keynes mal lido, dominava as políticas públicas e os economistas mais influentes, Friedman remou contra a corrente, voltou a reabilitar a linha de Bhöm-Bawerk chegando quase a aproximar-se da economia sem números de Ludwig von Mises. Aqui a sua linha de pensamento triunfou. As Administrações socializantes, que detinham vastos sectores da economia nas mãos públicas, promovendo o mau aproveitamento de recursos, vieram a ter um fim. O Estado recuou e cedeu ao mercado como ele previa. Com a atribuição do prémio Nobel da Economia ao austríaco Friedrich A. Hayek, premiava-se um chefe de fila da escola de Viena, e indicava-se que o caminho era a desintervenção, a liberdade do mercado e a desregulamentação. Logo em 1975 é o próprio Friedman a conquistar o Nobel, pela sua teoria do mercado livre e as suas teses sobre o dinheiro.
Na questão de fabricação de dinheiro ele foi muito claro. Teorizou que era um imposto a ser pago por todos, porque a sua consequência directa é a inflação. E não podemos andar a esconder o problema porque ele é visível em Portugal, sobretudo de 1975 a 1990. Fez-se dinheiro a rodos para todos os fins. A inflação disparou e os juros passivos chegaram aos 35% ano.
O trabalho de Friedman foi continuado e acompanhado por Henry Hazlit, Jacques Rueff, Luís M. Hacker, Ropke, e mais uns quantos teóricos influentes. A própria escola de Chicago da "escolha pública" não pode ser desligada das suas concepções quanto ao papel da Administração na economia e a função do dinheiro na vida económica, da inflação e da poupança. E este não é o caso de um autor que só se tenha de entender no contexto das estatizações e do estado soviético dos anos 60. É um autor para hoje. Por exemplo: para o ministro da economia ler. ( Recomendação: Dollars and Deficits, Prentice-Hall,1968). Não é um livro velho. É para agora e aqui.

"Política Nacional"

Alguns dos nossos amigos têm-se referido ao Futuro Presente online, isto é, a este blog, elogiosamente, mas queixando-se de que tratamos pouco da "política nacional".

Vamos a entender-nos. Não se trata, pela nossa parte, de nenhum preconceito "elitista" ou snob. A política nacional interessa-nos - "tudo o que é nacional é nosso", como dizia Maurras - mas na verdade para além de haver uma proliferação de blogs a fazê-lo - e alguns bem - até que ponto aquilo que não falámos não é mais "doméstico" e fait-divers, que "política nacional".

Um exemplo: as entrevistas de Cavaco Silva e de Pedro Santana Lopes, em simultâneo, em competição de audiências, competição que parece, o segundo ganhou. O que está a calhar!

Que acrescentaram os estados de alma justificativos de um e os silêncios "de Estado" do outro? Santana Lopes fez o rol das queixas, das perseguições, das incompreensões, de que foi vítima, e apesar das quais fez uma "extraordinária" carreira política - para alguém com o seu currículo profissional e cultural - chegando a ocupar um lugar que, no século XX, foi de João Franco, Afonso Costa, Salazar, entre outros.... É obra. Cavaco Silva deu uma entrevista para dizer uma coisa que já tínhamos todos percebido: que é o "presidente de todos os portugueses" e sobretudo que não é "o presidente do PSD"; que preza mais a estabilidade e o tecnocratismo pragmático socrático, que as queixas do PSD lamentativo e cada vez mais indefinido em linha política - entre uma linha "progressista" que quer ultrapassar o PS pela esquerda em "valores", ou "desvalores "- favorecendo o aborto, os casamentos homossexuais e a liberalização das drogas - e a maioria conservadora dos (ainda) seus eleitores e militantes.

São estes folhetins e outros que não temos comentado. Ou melhor, vamos comentando, mesmo sem querer, como se vê pelo presente post.

Nostalgias 16: Youssupov, conspirador.

Nas crónicas do não sucedido, há o não sucedido útil e o não sucedido inútil. A morte de Raspoutine, nas vésperas da Revolução de Fevereiro, aproveitou pouco à Rússia .
Mas de qualquer modo têm mérito os conspiradores patriotas que decidiram pôr termo a criatura tão sinistra. O mais famoso foi o príncipe Félix Youssupov, parente da família imperial, sobrevivente da Revolução (saiu da Rússia nos princípios de 1919) refugiado em Paris, mas com recursos - salvou uma fortuna em jóias - e que ainda há pouco foi aqui, na Blogosfera nacional, lembrado no Je Maintiendrai.

P.S.Pensando mais realisticamente, não sei se uma paz separada com a Alemanha, que era um dos pontos da agenda de Raspoutine, não nos teria poupado a revolução bolchevique e todas as desgraças daí derivadas...

domingo, novembro 19, 2006

Amadeo de Sousa-Cardozo

Fantástica a exposição de Amadeo de Sousa-Cardozo que a Gulbenkian acaba de inaugurar sob o título "Diálogo de Vanguardas". Embora a obra do genial autor de Amarante seja já bastante conhecida, não é fácil termos a oportunidade de vermos reunidos tantos dos seus quadros, oriundos dos mais prestigiosos museus do mundo e acompanhados de diversas obras de autores que conviveram com Amadeo, ou que ele admirou ou que, de alguma forma, o influenciaram.

A exposição encontra-se muitíssimo bem organizada e apresentada, permitindo que o público não se atropele e que as obras sejam vistas à distância conveniente. São espaços repletos de quadros seus, numa enorme explosão de cor, ou salas com as suas gravuras, desenhos e ilustrações, dando uma imagem única da modernidade da pintura portuguesa. Uma exposição a não perder e a visitar tantas vezes quanto possível. Uma palavra final para o respectivo catálogo que passa a ser referência bibliográfica impossível de contornar.

* * *

Já agora, aproveita-se também a ocasião para referir a mostra de gravuras japonesas modernas, oriunda da Arthur M. Sackler Gallery da Smithonian Institution de Washington. Patente ao público na galeria de exposições temporárias da Gulbenkian, sob o título "Mundos de Sonho", resulta do facto de aquela instituição se ter associado às comemorações dos 50 anos da Fundação Calouste Gulbenkian.

Para além da beleza e inegável interesse das referidas gravuras, que surpreendem pela sua modernidade, não podemos deixar de referir a forma como as mesmas estão expostas, realçando toda a sua delicadeza e combinações de cores.

Calçada à portuguesa

Sinceramente, não estão um bocadinho fartos da calçada à portuguesa? Reparem, eu adoro este tipo de calçada e acho que o devemos preservar e manter, sobretudo junto a alguns monumentos e em algumas artérias mais emblemáticas da capital e de outras cidades do País. Não me passa pela cabeça que seria bom, por exemplo, acabar com ela em zonas como a rua Augusta, ou a avenida da Liberdade, ou ainda na rua Direita, em Cascais. Mas será que se justifica em todas as ruas e ruelas das nossas cidades?

A verdade é que tudo aquilo que apreciamos na calçada à portuguesa, perde-se quando a vemos tão maltratada como ela se encontra hoje em dia. De facto, como é que podemos descobrir algum encanto numa calçada que é sistematicamente abandonada e cuja manutenção é descurada. Não está generalizada uma situação marcada por buracos constantes, pedras escorregadias e dejectos de cães a cada metro? Não se torna cansativo caminhar a evitar sistematicamente uma escorregadela, um pé torcido ou uma sola suja? Não estão fartos?

Como é que podemos viver nas nossas ruas, nos nossos bairros tradicionais, com esta situação? Quantos de nós não evitamos os passeios (destinados aos cães e respectivos donos, ou aos carros, ou às obras constantes e nunca concluídas) e nos habituamos a caminhar pela estrada?

Penso que é tempo de termos uma discussão séria sobre este assunto. Das duas uma: ou se passa a assegurar uma manutenção eficaz da calçada à portuguesa e se adopta a decisão de multar os donos dos cães que tornam intransitáveis as nossas ruas; ou, então, optemos por mantê-la apenas nalguns locais mais emblemáticos e mais voltados para o turismo e adoptemos o tipo de chão de todas as cidades europeias. É triste, mas a actual situação é-o ainda mais!
* * *
P.S. - Reparem que fui simpático e que, por respeito pelo leitor, ilustrei este post com imagens que não traduzem minimamente a realidade das ruas de Lisboa.

O peso da consciência

Há quem já tenha investigado e determinado, "cientificamente", o peso da alma: 21 gramas (daí o título do filme de Alejandro González Iñarritu e Guillermo Arriaga em que tentaram recriar nos Estados Unidos, com resultados discutíveis, o indiscutível êxito mexicano de Amores Perros). Agora graças à Carris sabemos, além do suposto peso da alma, o peso da consciência - que se vai somando em euros, 180, por exemplo, que é a multa por não "validar o título" nos autocarros, operação a que nos incita a empresa "para não nos pesar na consciência". A sociedade portuguesa mudou muito desde que éramos "moralmente responsáveis" pelos acidentes que causássemos por falar com o condutor.

Nostalgias 15: Barbarella 68


O ano de 68 foi um ano muito especial no Ocidente: teve a ver com Maio em Paris, com Marcuse, com a transição portuguesa em Setembro, com Nixon e a sua "Southern Strategy " a baterem Humphrey, em Novembro. Mas foi também o ano de Barbarella, de Jean-Claude Forrest, uma BD erótica novíssima e revolucionária, que Jane Fonda interpretou no cinema. Inesquecível.

sábado, novembro 18, 2006

Nostalgias 14:o mundo em quadradinhos

Numa volta pela Fnac e a ver BD recordo, a propósito de um album reeditado do Príncipe Valente, os grandes "heróis" da infância, descobertos nas edições, às quintas e sábados, respectivamente, do Mundo de Aventuras e do Cavaleiro Andante:

O Príncipe Valente contra os Mongóis

E agora diante de um"rei" de duvidosa extracção...



E "O Fantasma", o justiceiro da Selva, "o duende que caminha "para os nativos.

E o Rip Kirby,detective de Nova Ioorque,que tinha um mordomo, Desmond.Impecável mordomo, do tipo do Hudson de Upstairs,downstairs.

E finalmente este Flash Gordon "primitivo"e um tanto naïf, com a Dale e o Zarkov, em "The Master of Mars"

sexta-feira, novembro 17, 2006

Porque é que a esquerda não gosta de George Bush?

É uma boa pergunta. Oliver Kamm, um jornalista e consultor político "de esquerda" escreveu um livrinho cujo título por si só ajuda a perceber a questão: Anti-totalitarianism: The left-wing case for a neo-conservative foreign policy. Na revista "de direita" The Spectator , por outro lado, John Laughland, um feroz conservador, escreveu, sob o título revisteiro de Full Marx for George Bush, que "O Presidente dos Estados Unidos não é comunista mas a sua crença numa revolução democrática global inspira-se no pensamento marxista". É talvez mais produtivo discutir isto do que a questão que tanto tem preocupado os nossos analistas de porque é que "a direita" gosta de José Sócrates. (A Direita? Gosta?)

Eleições americanas: post scriptum

Louvo-me no trabalho de casa de um colunista do Financial Times (e senior editor de The Weekly Standard), Christopher Caldwell. Por um lado, os últimos estudos sobre a votação americana da semana passada indicam que, à frente da guerra do Iraque, foram os recentes escândalos republicanos (corrupção, peripécias sexuais, abusos de poder) o que mais pesou nos ânimos eleitorais e também que, logo atrás da guerra do Iraque, a própria pessoa de George W. Bush terá sido um dos grandes factores negativos para o Partido Republicano nestas eleições. Por outro lado, confirma-se que muitos dos democratas eleitos pedem meças em "conservadorismo" a muitos dos republicanos derrotados – e mais surpreendentemente que o actual sistema eleitoral norte-americano acaba por punir sistematicamente...o "centrismo". Há notícias piores.

Jack Palance, segunda parte

Demorei a responder ao desafio do Jaime. E Palance merece, pelo menos, mais duas ou três palavras. É verdade que foi durante grande parte da sua carreira o "mau" por antonomásia - e mesmo "a encarnação do Mal": ninguém pode esquecer o demoníaco pistoleiro de Shane (1953), de alma tão negra como as suas luvas negras de assassino, uma imagem que tem de fazer parte de qualquer memória do cinema. Mas teve outros empregos. Foi o actor angustiado que não quer vender a alma ao diabo em The Big Knife (No reino da calúnia, 1955), um saboroso melodrama "progressista" de Clifford Odets e Robert Aldrich, em que o mau não é ele mas um produtor personificado por Rod Steiger, numa das mais espectaculares e bem sucedidas aplicações do "Método" no cinema. (Anos mais tarde, invertiam-se os papéis, pois o cinema dá quase tantas voltas como a vida: Jack Palance era o produtor malvado em Le Mépris de Jean-Luc Godard, em que lhe emprestavam a espectacular Villa Malaparte, mandada construir nas falésias de Capri pelo grande jornalista Curzio Malaparte). Perto do fim da sua carreira, fez uma muito sóbria caricatura de si próprio na comédia City Slickers (A vida, o amor e as vacas, 1991), que lhe valeu um Óscar como melhor actor secundário em 1992 – e uma divertida presença na cerimónia de entrega dos prémios. Nos seus primeiros filmes usou o nome de Walter Jack Palance, com que apareceu na sua estreia cinematográfica, o conhecido Pânico nas ruas, também um dos primeiros filmes de Elia Kazan, que conhecia e apreciava Palance do teatro. Podíamos lembrar mais alguns filmes notáveis de uma carreira prolífica e desigual, mas não quero esquecer dois, de que não se fala muito: Os Profissionais, de Richard Brooks, e um grande western "menor" de 1953, Arrowhead (O Apache Branco, acho que se chamava em português), de Charles Marquis Warren, com Charlton Heston.

Milton Friedman (1912-2006)


Morreu Milton Friedman,prémio Nobel da Economia(1976) e um dos chefes de fila da Escola de Chicago, que muito contribuiu para a restauração do pensamento neoclássico e da importância dos mercados livres na base da criação e prosperidade sociais. Ligado às Universidades de Columbia, onde se doutorou em 1946, de Chicago e de Standford, Friedman foi um dos inspiradores da "nova economia "em que assentaram as "revoluções conservadoras" de Tatcher e Reagan na Inglaterra e nos Estados-Unidos dos anos 80. O António Marques Bessa irá falar aqui da sua obra.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Lido e Visto

Newt Gingrich publica um artigo de opinião, "Which Bipartisanship will Bush choose", na edição de hoje do Wall Street Journal, em que analisa as possibilidades da "maioria" bipartidária do novo Congresso norte-americano. Referindo-se a um núcleo de democratas conservadores - 54 na Câmara dos Representantes - aconselha a Casa Branca a negociar as maiorias de votação legislativa com eles e não com as suas lideranças "liberais".

O princípio de uma working majority conservadora tem o seu exemplo frutífero no legislativo do primeiro mandato de Ronald Reagan (1980-84), quando 48 democratas conservadores votaram a favor da legislação-chave, nomeadamente a redução de impostos, maiorias que subiram noutros diplomas essenciais.

Não resisto a citar algumas passagens do artigo de hoje de Paul Johnson, em The Spectator:
"When Fox was asked for advice about quoting in Parliament, he replied: "No modern languages except English. No English poet unless dead. Greek never. Latin as much as you like".
(...) if you quote Dulce et decorum est pro patria mori, you will get dinner-table snorts, not least because few now agree with the sentiments - and who, indeed, would die for Prince Charles multicultural multifaith Britain
".

Na Visão (16-22 Nov.), Mário Soares qualifica George W. Bush de "fanático religioso". A esquerda usa e abusa destes qualificativos, para estigmatizar os seus inimigos: "fanático", "exacerbado", "extremista". "Fanático religioso", "nacionalismo exacerbado", "extremista de direita", "imobilismo salazarista". E porque não dizer do Dr. Soares que é "um fanático laico", "exacerbado europeísta" e "exacerbado anti-salazarista"; e Jerónimo de Sousa, um "comunista fanático"; e Louçã "um "extremista de esquerda"?


Acabei de rever a 5ª série de La Piovra (O Polvo). Considero-a excelente em termos de narrativa, de realismo de situações e de desempenho dos personagens. Sobretudo de uma reconstituição de um passado próximo mas infelizmente muito actual e presente (em peso) sobre o presente. O grande crime organizado, à volta do narcotráfico, da lavagem de dinheiro do narcotráfico e de outras actividades ilegais, como o tráfico de pessoas e a corrupção autárquica, continua próspero. Os símbolos da luta contra este cancro - representados pela Juíza Silvia Conti, pelo "infiltrado", David Licata, continuam em risco num combate solitário. Os grandes mestres do crime, são mais parecidos com os corruptos "senhores" Linori, o selvagem Anibale Corvo ou o tenebroso Espinosa (Bruno Crémer), que com os lendários "Padrinhos" Corleone, D. Vito e Michael, imortalizados por Marlon Brando e Al Pacino.

O Polvo dá tudo isto, na atmosfera trágica, sufocante, do poder e da permanência do mal, do grande crime organizado. Atenção também à qualidade dos "segundos", "bons" e "maus", polícias e bandidos, com destaque para a escolta de Silvia Conti e para o chefe dos sicários dos Linori, Carta - o excelente Orso Maria Guerrini.

Os Maus, os Bons e os Vilões

3. "Os bons" por cá
Quando se aproximava o final do regime em Portugal, os poderes deste mundo interessados, quanto mais não fosse por função, em tapar os "vazios" no pós-Estado Novo, constataram que, para a esquerda da "Situação" e até chegar ao PCP, existia muito pouca coisa: havia a "ala liberal", que aceitara o convite de Marcelo Caetano para colaborar e integrar a UN-ANP mas rompera, depois; e que, para além da simpatia de quadros tecnocráticos do regime e das "classes instruídas" de Lisboa e Porto, não tinha base social de apoio; havia a oposição republicana "histórica" - o reviralho - geralmente advogados da capital e províncias e políticos sobreviventes da Primeira República. E depois havia "os maus", os comunistas e a extrema-esquerda - maoístas, trotskystas, e grupúsculos de admiradores de Ho Chi Min, Estaline, Guevara e outros benfeitores da Humanidade! Que tinham iniciado algumas acções armadas contra a "guerra colonial".
A tradição da esquerda em Portugal tinha a ver com o jacobinismo maçonizante e anti-católico, com o comunismo e com o progressismo "cristão". Nunca houvera - ao contrário da Espanha - um Partido Socialista com base "popular".
É da convergência desta ausência ideológica e social e do lançamento de Mário Soares nos media norte-americanos, alemães e franceses, como figura cimeira da oposição democrática em Portugal, que nascem também as condições "públicas" para a "social-democracia" ou o "socialismo democrático" no nosso país, (um brinde a quem explicar a diferença ideológica entre uns e outros)! Melhor, na República Federal da Alemanha, em 1973. O PS agarrará a etiqueta esquerda-democrática, o PSD, o centro-esquerda, e partirão à conquista em competição dos votos das classes médias assustadas.
Assim, em 1974-75, quando a pressão da esquerda - dos "maus" e dos "vilões" - sublinhou para o "povo de direita" os riscos de apanhar com eles, estavam lá os socialistas de "rosto humano" e a "ala liberal" - entretanto reforçada com os quadros conservadores da província no PSD - para partilhar os medos e os votos do país "anticomunista". E foram ficando. Até hoje.

Homenagem a um cineasta ainda vivo

Dino Risi é agora homenageado entre nós com a edição em DVD de três dos seus filmes mais famosos: A ultrapassagem, Os monstros e O matador. A escolha é acertada. Um deles, A ultrapassagem, de 1961, é certamente a sua obra-prima e assim é unanimemente celebrado pela crítica, italiana e estrangeira; uma vez não são vezes. É um grande filme e um dos filmes que não esquece, mesmo para quem não tinha 16 anos e não o viu na sua época. Bastava Il sorpasso, comédia verdadeiramente dramática, para justificar uma carreira. Risi foi condecorado pela República Italiana e premiado no Festival de Veneza de 2002 com um Leão de Ouro alla carriera.
O cinema italiano que ilustrou, a par de muitas dezenas de outros realizadores, geniais argumentistas, cenógrafos brilhantes, grandes directores de fotografia, foi engolido pelo tempo – e já nem realizamos, muitas vezes, e muita gente já nem sabe, que durante trinta ou quarenta anos o cinema italiano foi uma das grandes cinematografias do mundo.
Matemos saudades. Para mais pormenores, veja-se o próximo número da revista.

Nostalgias 13:"To repeat the past" with J.Gatsby


"Can't repeat the past ? he cried incredulously. Why of course you can! He loooked aroud him wildly, as if the past were lurking here in the shadow of his house , just out of the reach of his hand"

F.Scott Fitzgerald ,The Great Gatsby

quarta-feira, novembro 15, 2006

O novo Goncourt

Jonathan Littell, até há pouco um desconhecido jovem norte-americano de 38 anos, acaba de se tornar famoso ao apresentar ao público francês uma obra monumental, Les Bienveillantes, escrita directamente na língua de Racine. A obra, com 900 páginas, marca a estreia literária do autor (se exceptuarmos um pequeno livro de ficção científica, publicado nos anos oitenta sob o título Bad Voltage e que o próprio classificou como "muito mau").

Com uma intensidade dramática e uma escrita de primeira ordem, depressa a obra granjeou os elogios quase generalizados da crítica, tal a impressão causada pelo realismo das descrições e a surpresa do tema. Ao fim de poucas semanas vendeu 200.000 exemplares e conquistou o Grande Prémio do Romance da Academia Francesa (26OUT) e o Goncourt (6 NOV).

Mas, de quem estamos a falar? Jonathan Littell é filho do escritor norte-americano Robert Littell. Nasceu em Nova-Iorque, vive em Espanha e escreve em francês. Apoiante de diversas causas humanitárias e tendo viajado um pouco por todo o mundo, é também consultor de política internacional. Estranho percurso o deste autor, que agora nos brinda com as confissões de um antigo oficial SS, doutorado em direito internacional, jurista e funcionário da temível SD (Sicherheitsdienst). Aí, explica ao leitor as razões do seu comportamento, os crimes e o sofrimento que viveu, as condições em que fez o que fez, concluindo que não sente arrependimento: «Je ne regrette rien: j'ai fait mon travail, voilá tout».

Jonathan Littell, que aborda aqui a questão do mal, classifica a sua obra como um «conto moral», mostrando o isolamento e as contradições do indivíduo face ao regime em que lhe é dado viver. Uma obra extraordinária, que estamos a ler e de que daremos notícia em próximo número da revista.

terça-feira, novembro 14, 2006

Os "neocons", vistos da direita


Entrevista ao Spectator (11.11.2006) , John Hulsman, autor, com Anatol Lieven, de Ethical Realism: A Vision for America's Role in the World:

"The neocons have gone wrong by offering us humanitarianism on steroids. It has been a false realism, as though you can impose democracy at the barrel of a gun and people will like it. As though one size fits all for the world - culture and history don't matter at all. In essence, the neoconservatives are stil Jacobin utopian Rousseauian Trotskyists, supporters of permanent revolution. That's their gig. And of course it's met with predictable disaster".

2. Os "bons": o socialismo de rosto humano

Georges Sorel e Karl Kautsky










O socialismo reformista "democrático" distinguiu-se, à partida, do socialismo revolucionário marxista, pelos métodos. Mantendo o objectivo ideal de uma "sociedade sem classes" renunciava à violência para lá chegar.
Primeiro fê-lo por razões tácticas e de conveniência: perante a evolução nos grandes Estados constitucionais e industriais europeus dos finais do século XIX - Grã-Bretanha, Alemanha, França - e depois do fracasso da Comuna de Paris (1871), fazia mais sentido, para os líderes socialistas, conquistar o poder sem violência, até porque o Estado "burguês", com os seus exércitos conservadores - o Corpo de Oficiais e os rurais enquadrados como soldados - podia levar a melhor.
As eleições e a luta contra o sistema dentro do sistema pareciam um caminho mais humano, mais seguro, mas pacífico, de chegar ao poder, que a violência, em que, aliás, o Estado tinha vantagens.

Daqui, por táctica e depois por princípio, o aparecimento de muitos "socialismos" reformistas: democráticos, catedráticos, nacionais até, como o de Ferdinand de Lassale; ou a variente "de direita" do sindicalismo revolucionário, com Georges Sorel, um "intelectual" activista, onde encontro aspectos biográficos, intelectuais e de "carácter" que me lembram o nosso Joaquim Pedro Oliveira Martins. (Mas isso são outros contos, embora interessantes...).

Com a Grande Guerra, estes partidos socialistas - depois do assassinato de Jaurés - votaram os créditos de guerra nos parlamentos: o nacionalismo pesava mais que o internacionalismo, para fúria e conclusão ("não vos tinha dito?") de Lenine. E na Rússia, os bolcheviques, depois de liquidados os "brancos", liquidaram impiedosamente todos os socialistas não comunistas - anarquistas, mencheviques, sociais-democratas. Não ficou um para amostra na Rússia, vivo e em liberdade.
Percebendo esta problemática, os socialistas alemães, Friedrich Ebert (o da "Fundação") e Nöske, aliaram-se à Reichswehr e aos Corpos Francos - que eram, como já referi, ("Nostalgias 5") o braço armado da Reichswehr no princípio de Weimar, e arrumaram os spartakistas, incluindo Rosa Luxemburgo e Karl Liebneckt, mortos de modo cruel e expedito pelo Conde Arco Valley e alguns subalternos em Berlim, em 1919. (Para pormenores deste período, há a clássica Histoire de l'Armée Allemande, de Jacques Benoit-Méchin, numa acessível edição dos "Bouquins" da Robert Laffont. Mais os textos de Dominique Venner e o clássico Os Reprovados de Ernst von Salomon).

Estes acontecimentos são muito importantes para perceber o "fosso histórico" entre os vários "socialismos", quando chegou a hora da verdade. Seguiu-se na Alemanha, a História de Weimar, a tese dos comunistas da equivalência "moral" e estratégica dos "socialistas" aos "nacionais-socialistas", e a vitória de Hitler, que tendo o seu equivalente aos "reformistas" (a direita conservadora e o Zentrum) soube aproveitar o nacionalismo alemão (e dos alemães) humilhado em Versailles, a crise económico-social e o anti-comunismo das classes médias e tradicionais para chegar ao poder.
Foi a partir desta vitória de Hitler (mas a de Mussolini em Itália em 1922 já mostrara como as coisas podiam acontecer), que Estaline e o seu factotum Dimitrov elaboraram a nova estratégia da "Frente Popular", que levou à vitória eleitoral em Fevereiro de 1936 em Espanha e pouco depois na França. A primeira uma vitória pírrica da Frente das esquerdas, que levou à Guerra Civil e à vitória da coligação de direitas, chefiada por Franco. E reforçou o Estado Novo em Portugal. A Frente Popular francesa de 1936 contribuiu para o desarmamento da França e assim para a derrota de 1940.

Nos pós-guerra, estas divisões reacenderam-se perante o modo como os comunistas, com o apoio da URSS, tomaram o poder na Europa Oriental, dando cabo fisicamente de toda a oposição, incluindo os socialistas. Na França, Guy Mollet diria o célebre "Os comunistas não estão à direita nem à esquerda, estão a Leste"; os trabalhistas ingleses alinharam com Truman na "contenção" e a Guerra Fria e a NATO separaram as águas. Mais separadas, em 1948, com Praga; em 1956 com a Hungria; em 1968 com Praga; em cada uma destas "crises" houve "dissidentes" da devoção comunista, de Mário Soares e António José Saraiva a Jean-Paul Sartre.
Hoje, finda a União Soviética, liberalizada economicamente a China, com o "campo" socialista entregue às "microtiranias" norte-coreana e cubana, com parte dos Estados socialistas de África e da América hispânica, transformados
poderes pessoais embaraçosos para os seu irmãos dos "partidos operários", este "socialismo de rosto humano" e medidas práticas tem de conviver com outras questões:
A primeira tem a ver com a economia-mundo, capitalista, reforçada pela entrada da China, da Índia e da própria Rússia, que tiraram qualquer possibilidade - a não ser o regresso ao proteccionismo - de manter de pé, mesmo nas áreas ricas, o Estado Social concebido pela social-democracia no pós-2ª Guerra, e que tivera as suas raízes sociais na Alemanha de Bismarck e nos "corporativismos" fascistas e autoritários.
A segunda é o modo de tratar, ideologicamente, o que em termos tradicionais entra na retórica acusatória dos comunistas aos socialistas reformistas.

A necessidade da tolerância

Afirmava frequentemente Karl Popper que ninguém sabia o suficiente para se dar ao luxo de ser intolerante. O pensador austríaco vivera num espaço temporal acossado pelo primarismo nacional-socialista e fragilizado pela ambição totalitária do bolchevismo, poderosas formas de discriminação com máquinas amplamente dotadas para matar. Erguera-se a pulso do facciosismo intelectual da juventude para, com o tempo maduro, pairar acima das cegueiras normais das ideologias e reflectir com lucidez não isenta de algumas simpatias sobre a condição humana e a vida social.
Não pode admirar ninguém que este homem, que num acesso de devoção doutrinal de todo compreensível chegara a exercer o mester de carpinteiro, pela sua inteligência aguda e trabalhos intelectuais inovadores fosse guindado, na estima da colectividade pensante, a mestre do saber contemporâneo. Na sua memória sempre esteve essa experiência pessoal que o tornou tão convincente e o levou a defender com persistência a necessidade de compreender as razões diferentes dos outros, de estabelecer limites funcionais para a autoridade, de criar trincheiras para as instituições na sociedade civil. Ele caminhou activamente de uma posição fideista em termos ideológicos para a compreensão do relativismo político das crenças ideológicas, mas sobretudo deu-se conta, num mundo atacado por formas baixas de pensamento que reivindicavam o monopólio da iluminação que era necessário iniciar um processo transparente de refutação permanente para buscar a verdade com humildade. É possível que não pareça heróico este método a quem cultua a brutalidade das letras do heavy metal, o entontecimento programado pelas palavras de ordem, a exibição dos últimos chavões do pronto a pensar contemporâneo, enfim, a quem já deixou, insensivelmente, de se preocupar com o sentido da velha máxima socrática - conhece-te a ti mesmo, porque já se vendeu de alma e coração ao atordoamento como forma superior de vida ou àquela Simpathy for the Devil, celebrada pelos The Rolling Stones, que cria zombies. Popper recentra o homem, chamando ao método todos os que vivem longe de si mesmos, alienados na realidade virtual. E Sócrates andava cheio de razão ao recomendar aquele difícil caminho de interioridade, pois ele é condição prévia para conhecer e compreender os outros. Popper situa-se neste tempo e nesta época especial como uma inteligência fulgurante que incansavelmente apontou à Verdade com a consciência da fragilidade do conhecimento adquirido pelas culturas humanas, e à Tolerância, com a certeza de que ela era um dos vectores decisivos para o homem viver na plenitude da sua condição. A este propósito, deixou-nos tantos escritos que seria fastidioso enumerá-los, mas não posso deixar de convidar todos, docentes e discentes, a apreciarem a sua lucidez numa colectânea que delicia o espírito: Em Busca de um Mundo Melhor. E se conseguíssemos pensar e fazer assim, com certeza teríamos já, na margem de cá do Paraíso, esse mundo tão procurado pelos corações inquietos e sempre tão perdido para lá da névoa ancestral dos nossos ódios, meticulosamente cultivados.

CITAÇÕES 22


"Il faut une science politique nouvelle à un monde tout nouveau"

Alexis de Tocqueville

segunda-feira, novembro 13, 2006

Sempre Saramago

Numa entrevista dada ao Público em que nos deixa entrever como seria o interessante Portugal sonhado por ele, Saramago, acorrendo em defesa de Günter Grass - les beaux esprits se rencontrent - fala da "grande hipocrisia das pessoas que se apresentam como grandes virtuosas, honestas, límpidas de carácter, com passados impolutos". Auto-biografia?

A revista

Queixam-se alguns assinantes do Futuro Presente, da irregularidade do aparecimento e distribuição da revista – ou de que tenha chegado primeiro às bancas do que aos que a assinam.
Já tivemos ocasião de explicar alguns destes problemas aos leitores. Quanto ao avanço das bancas sobre os assinantes, se chegou a haver, foi pontual: a revista só foi entregue nos chamados pontos de venda depois de expedida pelo correio. Temos toda a consideração pelos assinantes com as assinaturas regularizadas e procuraremos sempre evitar-lhes qualquer incómodo ou razão de queixa.
A instituição dos comentários tem para nós o máximo interesse quando serve qualquer fim útil para nós e para os leitores ou visitantes: não é uma parede para graffiti boçais e "anónimos".
De resto, é claro que não temos o monopólio da inteligentsia de direita ou de esquerda. Só uma razoável percentagem...
Entretanto estamos a ultimar o próximo número, o 62, em que voltaremos - que se há de fazer - à questão das "direitas". O número inclui um estudo sobre a "nova direita", "balanço provisório de uma escola de pensamento", da autoria de Jean-Yves Camus e, em pré publicação, alguns trechos de um debate sobre "direita e esquerda" entre José Pacheco Pereira, Luís Salgado Matos e Jaime Nogueira Pinto, cuja versão integral deverá ser editada em livro ainda este ano, se tudo correr como previsto. Mas o número não é dedicado só a isso.

Esquerdas: os "maus", os "bons" e os "vilões"

1. "Maus": os incríveis da "Almadense"

Comecemos pelo princípio: olhando a História do século XX e, ainda mais longe, a História do pensamento socialista, encontramos as raízes das várias linhagens de "esquerda". No século XIX, a utopia igualitária dos primeiros socialistas, que imaginavam sociedades futuras de abundância e prazer, do tipo "Cucanha", recebeu o apport científico de Herr Doktor Karl Marx. A partir daí, a ciência da História, ou de uma teoria geral da História Económica, tomou conta dos acontecimentos: tinham sido revelados a Marx os mistérios da História e do futuro da Humanidade, numa síntese entre os materialistas clássicos e o historicismo "metafísico" hegeliano; a nova cartilha, a "vulgata", explicava tudo - para trás e para a frente - pela Economia e pela luta de "classes" determinadas pela sua função no "processo de produção ". Lenine acrescentou a isto uma teoria da acção e do papel do partido e do Estado na revolução. "Engenheiro de revoluções" extraiu daí uma fórmula que implicava o terror como instrumento de luta social; e que o seu companheiro Trotsky teorizou mais aprofundadamente - em Terrorismo e Comunismo, na polémica com Kautsky - e praticou na Guerra Civil, retendo como reféns as famílias dos oficiais "profissionais" do exército regular, que foi buscar para combater os "brancos". Terror que Lenine também foi praticando, embora a fama e o proveito ficassem mais para Estaline.
Este fez do terror, não só um instrumento, mas um fim, matando displicentemente muitos milhões de russos, sobretudo camponeses pobres; e muitos comunistas, quadros do Partido e da polícia política, GPU, muitos deles assassinos, anteriormente, de outras vítimas. E a partir de 1945, exportou estes métodos para as áreas conquistadas, da Europa Oriental até à China de Mao-tsé-Tung. Quarenta milhões de mortos na União Soviética, 60 milhões na China maoísta, mais as carnificinas dos Pol Pots, dos Mengistus e outros assassinos em massa, das "áreas imperialistas" libertadas.
São os continuadores e descendentes espirituais e políticos destas criaturas - e que de tal herança se reclamam, sem uma palavra de explicação e desculpa - que a convite dos "camaradas" locais vieram até à Academia Almadense, fazer o ponto actual dos crimes do Capitalismo, de Bush e dos Estados Unidos.
Incríveis...

domingo, novembro 12, 2006

Os Lugares de Hopper



Ao ler o post de Jaime Nogueira Pinto sobre Edward Hopper, especialmente a sua observação de que a pintura deste artista é ao mesmo tempo realista e metafísica, lembrei-me de dois livros que vão precisamente ao encontro dessa apreciação. Como acontece com esses dois conceitos (realismo e transcendência) na pintura de Hopper, estes dois livros complementam-se, e põem em evidência a completude (desculpem a palavra, mas existe) da obra deste pintor, ou como lhe chama o pintor espanhol António López, a sua "entereza". Os dois livros são muito claros quanto à chave escolhida para aceder à obra de Hopper. Os seus títulos são autênticos letreiros a apontar um caminho (embora nenhum deles reclame a propriedade do solo sobre o qual o trilham). Hopper's Places é uma espécie de "foto-monografia". A autora, Gail Levin, fez uma recolha (que está em constante renovação) de fotografias de locais que serviram de modelo a Hopper para os seus quadros, e colocou-as ao lado das respectivas pinturas (A imagem mostrada acima foi retirada deste livro).

Hopper and the American Imagination é uma colecção de contos de ficção de vários autores americanos (Paul Auster, Walter Mosley, Norman Mailer, James Salter, entre outros) de alguma maneira inspirados na pintura de Hopper, e que como diz David A. Ross na sua introdução, procura dar testemunho do contributo deste artista para a construção "dessa coisa efémera" a que convencionalmente se chama "o imaginário americano". O livro foi publicado pelo Whitney Museum of American Art, concebido como uma extensão da exposição retrospectiva que este museu dedicou ao pintor. Curiosamente, a colecção abre com um ensaio sobre Hopper escrito por Gail Levin.


Hopper's Places

Gail Levin,

University of California Press, 1998 (2ª ed.)

Hopper and the American Imagination

Julie Grau (ed.),

Norton/Whitney, New York, 1995 (1ª ed.)


Nostalgias 12:contra a corrente

Para a Sun-Sun:

Edward Hopper,"Boats against the current"

Nostalgias 11: os faróis

Edward Hopper: "The lighthouse at two lights " (1929) . Os faróis são um tema importante da pintura de Hopper, no final dos anos 20 ; são lugares simbólicos e perigosos, como todos os lugares de encontro-confronto dos grandes elementos. Aqui a Terra enfrenta o Mar. Na costa do Maine vi faróis assim.