quarta-feira, maio 28, 2008

NOSTALGIAS - AUDREY HEPBURN E HUMPHREY BOGART



O filme é Sabrina, de 1954. Eu era miúdo, tive um desgosto com a queda de Dien-Bien-Phu, mas não vi a fita nesse tempo. Vi-a depois, várias vezes e em remake. Mas é difícil encontrar cena tão românticamente nostálgica. Adorava a Audrey Hepburn desde Férias em Roma. Não havia cinema como a preto e branco.

segunda-feira, maio 26, 2008

NOSTALGIAS - "SAY A LITTLE PRAYER"...



Acontece lembrar-me de músicas de infância e adolescência. Esta acho que a ouvi pela primeira vez num dos últimos Outonos da adolescência, cantada pela Maahalia Jackson ou pela Aretha Franklin. Eram uns Outonos bem marcados climatèricamente - de Sol, com a linha ainda "praiável" (matem-me os puristas) e em Lisboa a começar o ano, com livros (franceses) na Bertrand e na Buchholz. Nixon nos States, Pompidou em França (?), droite buissonière, Blondin, Nimier, memórias da Argélia Francesa, saudades da Catherine Deneuve e da Monica Vitti... Quem não conheceu... não conheceu a douceur de vivre - mesmo paga caríssima...
Esta versão é da Nathalie Cole e da Whitney Houston. Espero que gostem.

"NÍNGUÉM GOSTA DE ESCREVER, GOSTA-SE DE TER ESCRITO"

Graças à internet há perguntas que com um mínimo esforço não precisam de ficar muito tempo sem resposta. Numa pesquisa não muito exaustiva descobri que: primeiro, a frase acima, objecto do post "ter escrito", é geralmente atribuida no Brasil ao grande jornalista Armando Nogueira que a usou mais do que uma vez, em entrevistas, etc., em várias datas ("Não gosto de escrever. Gosto de ter escrito."); segundo, num post recente em The American Scene também há quem se interrogue sobre a autoria desta fórmula - cuja invenção uma pessoa citada nesse post costuma atribuir a Dorothy Parker (1893-1967), que teria dito: I hate writing; I love having written, mas ninguém tem a certeza absoluta.

domingo, maio 25, 2008

TER ESCRITO

Ana Sá Lopes recordava ontem no DN o recentemente desaparecido Torcato Sepúlveda, que não conheci em carne e osso mas com quem tive uma breve e cordialíssima - e única - conversa, há uns anos, por causa de um artigo que lhe mandei para o Público; quase podia dizer que, como aqueles dois personagens de André Brun, ao fim de cinco minutos éramos amigos de infância. Mas não foi ele que inventou a frase citada por ASL, "Ninguém gosta de escrever, gosta-se de ter escrito". Sei exactamente quem a disse uma vez, muito antes de haver Público: Manuel Múrias numa conversa matinal com Rodrigo Emílio, uma conversa de dois queridos amigos mortos, que me tenho farto de repetir. Não posso garantir, contudo, que o Manuel Maria a tenha inventado; é provável que venha de uma outra mais antiga fonte, onde ambos a tenham bebido.

QUE FITA VAI HOJE? - DUAS PALAVRAS

É tarde. Só duas palavras. Uma para Barbet Schroeder. Autor de um espantoso documentário sobre Idi Amin nos tempos em "o último rei da Escócia" reinava sobre o Uganda, Schroeder realizou muitos filmes depois disso, incluindo o excelente Revezes da fortuna, um grande papel para Jeremy Irons (e uma tradução interessante de Reversal of Fortune, 1990, título original que quer dizer uma coisa um bocado diferente, se não contrária?) e hoje tem à 00.10, no AXN, um dos seus filmes menores, Antes e depois (Before and after, 1996). Outra para Clint Eastwood - e John Malkovich, e uma René Russo antes de ter deixado para trás o seu melhor: Na linha de fogo, fora um climax que nunca mais acaba, é um dos melhores filmes de Wolgang Petersen, com um extraordinário Malkovich num daqueles "vilões" que salvam certos filmes (In the Line of Fire, 1993). À meia-noite em ponto no Hollywood.

PASSEIO DE DOMINGO - NAMIBE (EX - MOÇÂMEDES)

Bem, não vou lá hoje mas, se Deus quiser, dentro de uns 10 dias lá estarei. Vamos fazer um Rally, de Luanda à foz do Cunene, descendo pela costa. Depois voltamos pelo interior. São 3250 quilómetros. E Moçâmedes é uma parte de Angola que não conheço e que sempre fascinou o meu imaginário de europeu e português do fim do Império. Entre o Mar e o Deserto procurarei reencontrar jardins abandonados, ou a nova imagem do que lá ficou.

NOSTALGIAS - O CANTO COMO ARMA

Vladimir Mayakovsky , 1917

Our March



(Translated by Dorian Rottenberg.)



Beat the squares with the tramp of rebels!
Higher, rangers of haughty heads!
We'll wash the world with a second deluge,
Now’s the hour whose coming it dreads.
Too slow, the wagon of years,
The oxen of days — too glum.
Our god is the god of speed,
Our heart — our battle drum.
Is there a gold diviner than ours/
What wasp of a bullet us can sting?
Songs are our weapons, our power of powers,
Our gold — our voices — just hear us sing!
Meadow, lie green on the earth!
With silk our days for us line!
Rainbow, give color and girth
To the fleet-foot steeds of time.
The heavens grudge us their starry glamour.
Bah! Without it our songs can thrive.
Hey there, Ursus Major, clamour
For us to be taken to heaven alive!
Sing, of delight drink deep,
Drain spring by cups, not by thimbles.
Heart step up your beat!
Our breasts be the brass of cymbals.

quinta-feira, maio 22, 2008

HERÓIS - O "ULISSES" DE TENNYSON

Ulisses mata à frechada os Pretendentes de Penélope

Alfred Tennyson - Ulysses

It little profits that an idle king,
By this still hearth, among these barren crags,
Match'd with an agèd wife, I mete and dole
Unequal laws unto a savage race,
That hoard, and sleep, and feed, and know not me.
I cannot rest from travel: I will drink
Life to the lees: All times I have enjoy'd
Greatly, have suffer'd greatly, both with those
That loved me, and alone, on shore, and when
Thro' scudding drifts the rainy Hyades
Vexed the dim sea: I am become a name;
For always roaming with a hungry heart
Much have I seen and known; cities of men
And manners, climates, councils, governments,
Myself not least, but honour'd of them all;
And drunk delight of battle with my peers,
Far on the ringing plains of windy Troy.
I am a part of all that I have met;
Yet all experience is an arch wherethro'
Gleams that untravell'd world whose margin fades
For ever and forever when I move.
How dull it is to pause, to make an end,
To rust unburnish'd, not to shine in use!
As tho' to breathe were life! Life piled on life
Were all too little, and of one to me
Little remains: but every hour is saved
From that eternal silence, something more,
A bringer of new things; and vile it were
For some three suns to store and hoard myself,
And this gray spirit yearning in desire
To follow knowledge like a sinking star,
Beyond the utmost bound of human thought.
This is my son, mine own Telemachus,
To whom I leave the sceptre and the isle, -
Well-loved of me, discerning to fulfil
This labour, by slow prudence to make mild
A rugged people, and thro' soft degrees
Subdue them to the useful and the good.
Most blameless is he, centred in the sphere
Of common duties, decent not to fail
In offices of tenderness, and pay
Meet adoration to my household gods,
When I am gone. He works his work, I mine.
There lies the port; the vessel puffs her sail:
There gloom the dark, broad seas. My mariners,
Souls that have toil'd, and wrought, and thought with me -
That ever with a frolic welcome took
The thunder and the sunshine, and opposed
Free hearts, free foreheads - you and I are old;
Old age hath yet his honour and his toil;
Death closes all: but something ere the end,
Some work of noble note, may yet be done,
Not unbecoming men that strove with Gods.
The lights begin to twinkle from the rocks:
The long day wanes: the slow moon climbs: the deep
Moans round with many voices. Come, my friends,
'Tis not too late to seek a newer world.
Push off, and sitting well in order smite
The sounding furrows; for my purpose holds
To sail beyond the sunset, and the baths
Of all the western stars, until I die.
It may be that the gulfs will wash us down:
It may be we shall touch the Happy Isles,
And see the great Achilles, whom we knew.
Tho' much is taken, much abides; and tho'
We are not now that strength which in old days
Moved earth and heaven, that which we are, we are;
One equal temper of heroic hearts,
Made weak by time and fate, but strong in will
To strive, to seek, to find, and not to yield.

QUE FITA VAI HOJE? - MUITAS

Às 21.30 torna a passar, no canal Hollywwod, O fugitivo (The Fugitive, 1993), uma muito bem sucedida resurreição cinematográfica da série de televisão da nosa juventude, que protagonizava o inenarrável David Janssen, um dos mais notórios canastrões americanos, substituido por Harrison Ford no filme. A versão cinematográfica foi dirigida por Andrew Davis, um realizador que já aqui referi e que dirigiu o único filme aproveitável de Steven Segal. Inclui também um dos primeiros grandes papeis de Tommy Lee Jones, que por aqueles anos se revelou numa extraordinária série de filmes, dois deles, aliás, dirigidos também por Andrew Davis (o mencionado Under Siege, com Seagal, e The Package, de 1989). No mesmo canal, às 2.00, passa outra vez Um peixe chamado Wanda (que quem quiser pode assim ver madrugada dentro pela décima ou vigésima vez, que ele aguenta). No TCM, às 23.05, uma curiosidade: The Power and the Prize (1956), um daqueles raros filmes que o cinema americano produziu sobre o mundo dos negócios e que alguns comentários dizem valer a pena ver. É dar uma espreitadela. O argumento é de Robert Ardrey, um escritor que conhecemos principalmente como autor de dois livros que lemos em tempos que já lá vão e causaram grande impresão na sua época: African Genesis e The Territorial Imperative, mas teve também uma menos conhecida, longa e frutífera carreira como argumentista e dramaturgo - e foi um dos grandes amigos de Elia Kazan desde os seus tempos da Broadway. Mas não me demoro mais, que está a começar O Fugitivo.

CLOUZOT E "LE CORBEAU"


NOSTALGIAS 3 - CINEMA FRANCÊS



Estava a ler a última crónica do MFC aqui no BLOG e fui à procura de bonecos... Encontrei "a boneca" por excelência da minha juventude - a Brigitte Bardot - e uma capa do DVD de Le Corbeau. França, Paris ícones da França e de Paris eram os mitos e os símbolos da nossa adolescência,da nossa descoberta do mundo nesses decisivos anos 60.
Só mais tarde, quase 20 anos depois, chegámos à América!

terça-feira, maio 20, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - FOI ONTEM; OUTRA VEZ

Se tivesse prestado a devida atenção, ontem podia ter recomendado a quem estivesse disposto a esperar pela 1.30 que desse uma olhadela, no canal Hollywood, ao filme do cineasta francês Henri-Georges Clouzot A verdade (La vérité, 1960, com Brigitte Bardot). Não o revi e, com franqueza, não tenho uma recordação muito definida deste filme, que vi uma única vez, na sua época, e pouco reaparece. Condizia, tanto quanto me lembro, com o resto do cinema de Clouzot pelo seu negrume mas tenho ideia de que não estava à altura do que de melhor devemos a este realizador, um tempo maldito, acusado de ter traçado em Le Corbeau (1943) um retrato desabusado e pouco lisonjeiro dos franceses de província, numa altura em que isso, sob a ocupação alemã e para uma produtora dominada pelos alemães, montava a alta traição. Tive ocasião de ver esse filme, pela primeira vez, recentemente - numa edição em dvd em que o cineasta e crítico Bertrand Tavernier o apresenta e defende - e é, ao contrário da lenda negra, um dos mais amáveis e "humanos" do autor, na veia "policial" e de costumes que cultivou quase exclusivamente e com inegável talento. Os dois filmes mais conhecidos de Clouzot ainda são, penso, As diabólicas (1955, refeito em Hollyood há alguns anos) e o famoso e muito gabado filme de suspense O salário do medo (Le salaire de la peur, 1953, também remade em Hollywood, sob a direcção de William Friedkin). A noite de ontem não oferecia, de resto, uma visão muito rósea da natureza humana: no TCM passou o amaríssimo Pennies from Heaven (Dinheiro caído do céu, 1981), escrito pelo brilhante e desagradável Dennis Potter, uma figura ímpar no panorama da televisão e do cinema da Grã Bretanha (o mesmo texto fora uma mini-série de televisão, em 1978, com Bob Hoskins). Hoje - neste momento - está a correr no canal Hollywood, Thunderheart (Coração de trovão, 1992), de Michael Apted, a quem devemos um dos melhores filmes policiais dos últimos vinte anos, a adaptação impecável e inolvidável de Gorky Park (1983, com duas das maiores interpretações de William Hurt e Lee Marvin), a primeira aventura de Arkady Renko, o polícia russo criado por Martin Cruz Smith, protagonista de uma série de romances que estão entre os mais bem escritos dos últimos tempos, e não estou só a falar dos que entram na categoria dos thrillers.

NOSTALGIAS DE UM OCIDENTAL - HART CRANE

The Great Western Plains

 
The little voices of the prairie dogs
Are tireless . . .
They will give three hurrahs
Alike to stage, equestrian, and pullman,
And all unstingingly as to the moon.

And Fifi's bows and poodle ease
Whirl by them centred on the lap
Of Lottie Honeydew, movie queen,
Toward lawyers and Nevada.

And how much more they cannot see!
Alas, there is so little time,
The world moves by so fast these days!
Burrowing in silk is not their way --
And yet they know the tomahawk.

Indeed, old memories come back to life;
Pathetic yelps have sometimes greeted
Noses pressed against the glass.

domingo, maio 18, 2008

NOSTALGIAS - "STARDUST" - NAT KING COLE

QUE FITA VAI HOJE? - FOI ONTEM

Vejo, admirado, que passaram dez dias - dez dias! - desde a última vez. Onde tenho tido a cabeça? Nestes dez dias, não faltaram, como nunca faltam, motivos para aqui estar, entre os quais, por exemplo, uma passagem no TCM de White Heat (Fúria sanguinaria, Raoul Walsh, 1949 ) um dos "clássicos" da grande época do filme de gangsters da Warner Brothers, com James Cagney, a sua fixação maternal (famosasa últimas palavras: top of the world, mom, top of the world, antes de deasaparecer envolto em chamas), as sua "migraines" neuróticas. Há no filme uma cena famosa em que o protagonista interpretado por Cagney perde as estribeiras quando lhe chega, em pleno refeitório da cadeia em que está preso, a notícia da morte da mãe; no tempo em que era praticamente impossível rever filmes a partir do momento em que saíam do circuito comercial das salas de cinema, um crítico amigo meu "contou-me" essa cena como exemplo de um tour de force de montagem à revelia das regras estabelecidas; muito mais tarde, acabei por apanhar o filme numa reposição qualquer e, sem com isto querer desmerecer do impacto dessa cena, verifiquei que o meu amigo tinha "visto", com muito talento, uma montagem inexistente - e o filme obedecia com muito juízo às práticas consagradas (não havia, ao contrário do que me tinha descrito, o corte de um grande plano do actor para um plano geral do refeitório no momento da "explosão", invertendo a ordem convencional dos planos). Assim se teve de fazer durante muito tempo a "história" do cinema, na base da memória, que tanto gosta de nos atraiçoar.
Ontem, a RTP 2 deu-nos a Morte em Veneza (Death in Venice, 1971) de Luchino Visconti, que vi pela primeira vez integralmente (sempre me faltou a paciência - com razão, infelizmente). O grande Visconti de Ossessione, de Bellissima, de Senso, de Rocco e os seus irmãos, de tantos filmes indispensáveis, incluindo, claro, O Leopardo, tem aqui um dos seus grandes tropeços, num filme que não passa de um devaneio maçador e possidónio de "decorador" decadente, com imagens belíssimas e uma das piores interpretações de sempre de Dirk Bogarde, em quem Visconti não conseguiu operar a magia que fez de Burt Lancaster um Príncipe de Salina definitivo. E o maldito abuso do zoom que nos anos 70 arruinou ou maculou tantos filmes.

"OS CONTEMPORÂNEOS" NA RTP: SEGUNDO EPISÓDIO

É caso para dizer: Nossa Senhora me valha. O meu post sobre o desgracioso programa que estamos a sustentar no horário nobre da televisão pública despertou a ira de muita gente - e um anormal volume de comentários, quase todos pouco amáveis. Umas linhas um pouco mais rudes sobre uns "bonecos" humorísticos suscitaram imensa indignação entre pessoas que provavelmente partilham a ideia de um dos comentadores de que "tudo" se pode dizer sobre "tudo", mesmo as coisas mais sérias. Mas não se pode dizer nada sobre quem se sente no direito de dizer "tudo": caem o Carmo e a Trindade. É uma experiência sempre instrutiva. Só uma nota técnica: ninguém pode levar a sério a comparação que ocorreu a alguém entre aquele humor gorduroso (e despeitado) e os Monty Python. Como dizem os espanhóis, todavia hay clases.

PASSEIO DE DOMINGO - CABO ESPICHEL



O outro dia vim aqui perto ver um velho amigo, com memórias e histórias de outro tempo, de outro Continente e der outro Hemisfério. E agora que tenho desertos os jardins daqui,parto para outras paragens. Este Cabo Espichel de onde estive próximo num dos dias mais especiais da minha vida, pareceu-me, neste Domingo, uma sugestão certa. Ou, pelo menos, próxima ...

sábado, maio 17, 2008

RETRATOS - 2: "A CONDIÇÃO HUMANA"



"La Condition Humaine", René Magritte, 1935.

RETRATOS-1: "TIRANOS"

E depois deste desabafo sobre a política doméstica, pobrezinha mas democrática, lá isso é, este poema de W.H.AUDEN.


Epitaph on a Tyrant
by W. H. Auden

Perfection, of a kind, was what he was after,

And the poetry he invented was easy to understand;

He knew human folly like the back of his hand,

And was greatly interested in armies and fleets;

When he laughed, respectable senators burst with laughter,

And when he cried the little children died in the streets.

DA INDIGÊNCIA MENTAL

Estava a ler - por uma vez - a política local. Não tem política, não tem ideias políticas, tem faits-divers, como a extraordinária importância dada ao "fumo" do PM no voo para a Venezuela, e o fundamentalismo anti-tabagista à solta. Como ex-fumador (dois maços e meio até 1990, quando parei de vez) sou insuspeito, mas acho que o antitabagismo é uma obsessão de uma sociedade sem valores de orientação, logo incapaz de proibir qualquer coisa e que concentra a sua energia persecutória nesta questão...

Também estive a ver algumas entrevistas dos candidatos à liderança do PSD, procurando aí ideias políticas, contraposição ideológica ao PS e à esquerda, referências a Portugal, às condições da identidade e continuidade nacionais. Não vi nada disso. Só as habituais e politicamente inócuas referências à "sociedade civil", que para alguns mais parece uma sociedade comercial, já que só falam e com pouco brilho das suas contas. E o IVA, é verdade, parece ocupar o lugar central na reflexão destes candidatos a líderes do PSD e do país.
Valha-nos Deus!

sexta-feira, maio 16, 2008

O MOVIMENTO CONSERVADOR AMERICANO

A política americana desperta natural interesse em todos os cantos do mundo. Particularmente nos últimos tempos, seja para criticar a política do Presidente Bush, seja para comentar as eleições ou prever o futuro. O mundo está cheio de especialistas sobre os EUA e, no entanto, conhece-se muito melhor um dos lados do espectro político. De facto, é quase certo que, quando ouvirmos falar do Partido Republicano ou do movimento conservador do outro lado do Atlântico, ouviremos falar do neoconservadorismo. E, no entanto, este é uma forma particularmente atípica dentro do movimento conservador americano, já que nasce pela mão de intelectuais vindos da esquerda (e até da extrema-esquerda), é idealista, wilsoniano e não particularmente liberal em economia. Contrariamente, a tradição conservadora é ali basicamente realista, isolacionista, cristã e muito liberal no sentido europeu do termo.
Talvez pelo que antecede e numa altura em que o candidato republicano, John MacCain, volta a ser apontado como um possível vencedor das eleições, se torne importante o aparecimento de livros como Upstream. The Ascendance of American Conservatism, de Alfred S. Regnery (Threshold Editions). O autor, que é assumidamente conservador, editor da The American Spectator e antigo proprietário de uma das principais casas editoras da direita americana, dá-nos aqui a oportunidade de perceber como aparece e se desenvolve o conservadorismo americano, as diversas tendências - os libertários, os anti-comunistas e os tradicionalistas (e ainda a direita cristã e os neoconservadores)- e os vários momentos, a ascenção com Barry Goldwater, o apogeu com Ronald Reagan, a fase descendente com Bush pai e filho.
A leitura deste livro é interessante do princípio ao fim, embora não seja particularmente exaustivo no que se refere a publicações e think tanks (falta, por exemplo, uma boa análise sobre a Heritage Foundation). É, pois, uma obra muito oportuna e que deveria ser lida e estudada, sobretudo deste lado do oceano.

terça-feira, maio 13, 2008

NOSTALGIAS - NOVA IORQUE POR STIEGLITZ



Stieglitz é para mim muito importante, por muitas razões. Viu, seguiu, captou, capturou, na sua
câmara o Zeitgeist da cidade. E mais ainda o espírito do tempo com que olhamos essa sua cidade para sempre.
Nova Iorque a tribal, dessas tribos vindas de cá deste lado do mundo e transplantadas com os seus sonhos deixados para trás e os novos sonhos do novo mundo reaparecidos ali nas torres de Manhattan, na neve do Central Park antes do Natal, nos fumos do porto e dos navios como o "Mauretania".
E nesses jardins também de Inverno, de todo o ano onde sempre esperamos que alguém muito especial apareça ou volte...

segunda-feira, maio 12, 2008

A MISSA ORTODOXA

Estava ontem na Missa e não pude deixar de reflectir e de comparar com uma experiência recente que tive durante uma visita a Bucareste. De facto, há escassos dias tive a oportunidade, que nunca até agora me surgira, de assistir a uma Missa da Igreja Ortodoxa romena. Pude aí ver a Fé extraordinária que têm os seus fiéis e a forma como, com grande humildade e respeito, assistem à Missa. Mas a questão não é essa.
Que me perdoem os que se sentirem incomodados com o que vou dizer, e sei que os haverá, até entre amigos. Contudo, ali meio escondido, à sombra de uma coluna, não pude deixar de reparar num aspecto que me impressionou muito. O Padre diz a Missa virado para o Altar, na mesma direcção que os fiéis rezam, sentindo-se no ar uma total comunhão entre todos. Já sentira isto, há uns anos, numa Missa na Fraternidade São Pio X, a que fora convidado por um amigo que já não vejo há muito tempo.
Ouço por vezes expressões, referindo-se aos tradicionalistas católicos, como "é incrível, de costas voltadas para os fiéis!!!" Não quero entrar em nenhuma polémica de cariz teológica, para a qual infelizmente nem estaria preparado, mas queria apenas deixar aqui uma nota sobre a forma como me senti integrado naquela oração, mesmo tratando-se de uma Igreja que não é a minha. Penso, cada vez mais, que o Papa Bento XVI teve toda a razão em acabar com as restrições à Missa Tradicional. Pudesse eu ir lá todos os Domingos...

MUSEU DO ORIENTE

Confesso que tenho andado por fora e ainda não me tinha apercebido que já fora inaugurado o Museu do Oriente. Parece impossível que isto tenha acontecido, pois tenho seguido o projecto com grande interesse e andava exasperado com os sucessivos adiamentos.
Este projecto, da Fundação do Oriente e de Carlos Monjardino, parece-me um dos mais importantes, ao nível cultural, dos últimos anos. É que em Portugal fazia mesmo falta um museu deste tipo, que mostrasse a nossa passagem por terras do Oriente e, sobretudo, que nos desse a conhecer as fabulosas colecções da Fundação.
Muito embora não tenha ainda tido a oportunidade de o visitar, desde já aplaudo o riquíssimo e variadíssimo programa da sua inauguração, que infelizmente só vi anunciado no respectivo site. Logo que o vá visitar - espero que em breve - deixarei aqui as minhas impressões. Entretanto, muito se agradeceria se alguém que lá tenha estado quiser contar.

domingo, maio 11, 2008

"OS CONTEMPORÂNEOS" NA RTP: QUE GRANDES BESTAS

Acabar com este programa era já uma obra de misericórdia. Agora é uma necessidade de saúde pública. Bruno Nogueira, e os outros autores, à falta de melhor inspiração - como se vê pelo resto de um dos mais tristes programas de humor da história da televisão portuguesa, onde não falta concorrência - aproveitaram a proximidade do 13 de Maio para fazer troça das aparições de Fátima e da irmã Lúcia. Não tinha piada - mesmo que tivesse piada. Mas não teve. O programa que a RTP decidiu inexplicavelmente passar a exibir no horário nobre de domingo é soez, alarve e ignorante - quando não é só uma deprimente chatice. Para citar outro humorista da nossa televisão é um programa de perfeitos anormais. Eles não sabem o que fazem, mas é preciso pôr fim ao sofrimento dos animais - e ao nosso.

PASSEIO DE DOMINGO - LUBECK



Lübeck, acabei de ver, foi fundada no mesmo ano de Portugal -1143. Hoje, talvez por um ânimo mais sombrio deste Maio frio e chuvoso, pelo menos aqui no campo do Oeste, e também da leitura corrida e tremenda das Bienveillantes lembrei-me destas margens do Báltico. Lübeck foi uma destas cidades livres ou cidades Estado e por muito tempo capital da Liga Hanseática. Na Segunda Guerra muito bombardeada pelos aliados, mas a avaliar pelo "boneco" também reconstruida.
Uma variante para o imaginário e para o imaginado. Bom passeio.

sábado, maio 10, 2008

VARSÓVIA 1920

Já falámos aqui na Futuro Presente, várias vezes, da epopeia da resistência polaca ao avanço comunista. Esta teve episódios marcantes e muito famosos no passado recente com as revoltas populares de Lech Walesa e dos trabalhadores dos estaleiros de Gdansk, com o papel da Igreja na resistência popular ou com a forma pacífica como lidou com a queda do Muro e a libertação do país.
Igualmente, já por diversas vezes referimos a menos conhecida resistência dos polacos às tentativas de Lenin de dominação do país e de conquista da Europa. Trata-se de um momento decisivo da nossa história e que temos tendência a esquecer. A primeira vez que as tropas comunistas foram vencidas militarmente.
Adam Zamoyski, num recente livro publicado em Londres pela Harper Collins, Warsow 1920. Lenin's failed conquest of Europe, trata justamente de combater o esquecimento a que está votada esta batalha épica que aconteceu no Verão de 1920, às portas de Varsóvia. De facto, "o milagre do Vístula", como ficou conhecida, foi uma batalha que evitou o domínio da Alemanha pela União Soviética e a futura marcha das tropas comunistas sobre todo o continente. Foi obra de muitos patriotas polacos, de lanceiros e de cossacos que, sob a liderança de Pilsudski, derrotaram as ondas de carros blindados que se abateram sobre o país. O livro de Zamoyski, de agradável leitura, é ainda completado por uma série de interessantíssimas e originais fotografias que nos trazem ao conhecimento a cara destes heróis, verdadeiros heróis europeus.

quinta-feira, maio 08, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DIA SIM

Vem mesmo a calhar. Hoje, às 22.15, no TCM, passa um clássico de John Sturges de que falámos há poucos dias: A conspiração do silêncio (Bad Day at Black Rock, 1955). É uma das primeiras grandes lições sobre o uso dramático e cinematográfico do cinemascópio, no mesmo ano feliz em que Elia Kazan também usava magistralmente o novo formato em A Leste do Paraíso (East of Eden), o filme que revelou James Dean. Richard Fleischer também não tinha feito má figura com o seu Vinte mil léguas submarinas (20.000 leagues under the sea, 1954) e haveria de re-explorar as virtualidades o formato em O estrangulador de Boston (The Boston Strangler, 1968). No filme de hoje, protagonizado por Spencer Tracy, podem ser vistos Robert Ryan e Lee Marvin, além de Ernst Borgnine num dos papéis de "besta humana" que à época lhe estavam destinados (outro desses papéis e outro filme em estupendo cinemascope, a preto e branco: Até à eternidade, de Fred Zinneman, 1953). A fotografia de A conspiração do silêncio é de William C. Mellor, director de fotografia, e que fotografia, de Um lugar ao Sol de George Stevens e de vários dos grandes westerns de Anthony Mann. A fotografia é um elemento muito importante na economia dramática deste filme, que é vulgar designar por "um western moderno".

terça-feira, maio 06, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DIA SIM, DIA NÃO

Depois da recente exibição na RTP 2 de O Planeta Proibido, hoje às 22.40, no TCM, passa outro "clássico" da ficção científica cinematográfica: À Beira do Fim (Soylent Green, 1973, Richard Fleischer). Pode adaptar-se à ficção científica o que Ortega y Gasset dizia da História: o futuro é essencialmente presente - e as "distopias" são uma consideração do mundo em que vivemos mais do que uma antecipação do mundo que ninguém sabe e poucos adivinham como será. Vejam este filme de Fleischer, um realizador "versátil", que foi capaz de se distinguir nos mais variados géneros desde o seu gabado filme negro The Narrow Margin (1952). Já aqui me referi a ele, salvo erro, e mencionei, ou talvez não, filmes como Vinte mil léguas submarinas (1954), A Rapariga do Baloiço Vermelho (The Girl in the Red Velvet Swing) ou Violent Saturday (ambos de 1955), Os Vikings (1958), O estrangulador de Boston (1968) e outros mais. A televisão repete com frequência um dos seus piores filmes: The Last Run (1971), que tem a particularidade de se passar em grande parte em Portugal, como tenho ideia de já também ter aqui referido. Nos cinemas, entretanto, está o director's cut de Blade Runner e num dos canais de que por norma não falo passa hoje outra adaptação de uma obra de Philip K. Dick: A Scanner Darkly (2006), o autor original da história deste filme.

MAIO DE 68

Em duas, ou três, palavras:

Les enragés d'aujourd'hui sont les rangés de demain (Jacques Duclos, então Secretário Geral do PCF)

It was inevitable: the protest Generation comes of age as the Generation of the Super-Consumers. (Faith Popcorn, citada por Thomas Frank em The Conquest of Cool)

"Tenho pena de não ser um inconformista como toda a gente." (Tradução livre, de memória, de um cartoon de Jules Feiffer)

Tese: o Maio de 68 é um marco histórico da história da revolução na Europa - mas da revolução capitalista, fase agónica da modernização, americanização ou "libertação" da "velha Europa". (De resto, é assim mais fácil perceber como houve "Maios de 68" do Atlântico aos Urais, tanto em países de "modelo europeu ocidental" como em países sovietizados.)

domingo, maio 04, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - ONTEM E ANTEONTEM

Faltei - e tornei a faltar. E deixei asim de me referir a tempo e horas à maratona disponível no TCM sexta-feira à noite - das 20.00 em diante: primeiro, o conhecido Doze indomáveis patifes (The Dirty Dozen, Robert Aldrich, 1967), um grande regresso, pelo menos como profissional, à primeira forma de um realizador em que a aplicação dos preconceitos da famosa politique des auteurs só cria confusão - pois não se pode confundir o que fez de melhor e de pior numa carreira com três dezenas de filmes que não merecem, acho eu, nem de longe, uma igual consideração. Não me convém agora entrar em pormenores e fico-me pelo melhor, que não é pouco: Aldrich realizou nada mais nada menos que os seguintes filmes: em 1954, Apache (Burt Lancaster, um actor a recordar extensamente, um dia) e Vera Cruz (com Lancaster, também, Gary Cooper e Sara Montiel, com dois nomes também a recordar no argumento: Borden Chase e Roland Kibbee, que explicam muita coisa - os filmes são escritos...), em 1955, Kiss me Deadly (um filme noir tardio que tem um lugar à parte no género e se baseia num romance de Mickey Spillane e tem provavelmente o melhor intérprete para o papel de Mike Hammer, Ralph Meeker) e The Big Knife (de uma peça de Clifford Odets) - depois dou os títulos portugueses, que não tenho à mão. Depois, passavam Shoot the Moon (1982, Alan Parker, um drama "romântico" muito bem construído, filmado e interpretado, com Diane Keaton e Albert Finney), o Dr. Jeckill e Mr. Hyde de Victor Fleming, com Spencer Tracy e Ingrid Bergman e o Dodge City de Michael Curtiz, uma cowbóiada célebre, com Errol Flynn. Ontem. a programação não era tão espectacular, mesmo dando a volta aos nossos canais todos, mas a RTP 2 mostrou O Estado do Mundo, uma curiosidade, em que podíamos ver em acção alguns realizadores "independentes", entre os quais o português Pedro Costa. Para hoje, lembro que no TCM às 20.00, passa outra vez o Fame (1980, outro filme dirigido por Alan Parker) e, sobretudo, Assassinos substitutos (The Replacemente Killers, 1998, com Chow Yun-Fat e Mira Sorvino) um "filme de acção" da minha especial predilecção, um gosto talvez incompreensível para muita gente, realizado por Antoine Fuqua e muito superior, na minha modesta opinião, ao premiado e medíocre Dia de Treino (Training Day, 2001) do mesmo realizador, com um Denzel Washington muito pouco convincente.

CORFU - UM POEMA




Corfu calls

I sit here looking for a place far away
a place with no rules
and no sounds
a place I can be
I've looked to the west, blue water and white rock
I've applied to leave this all behind
The ones that have provided refuse to accept I'm a free spirit
one that has been spoilt by material wealth
one who lost herself in wanting more
I've had enough with being who they can't figure out, yet everyone loves
I will be free
in the blue
just me and maybe my partner in crime
but free

Carolyn Vuletic

PASSEIO DE DOMINGO - CORFU - A CIDADELA



At the end of the day...

CORFU - CIDADE E CIDADELA



Neste domingo de Maio de tempo hesitante, a rever textos académicos, deu-me a nostalgia ou o spleen das cidades velhas do Mediterrâneo. Entre todas de Corfu, onde nunca estive ou onde só estive, como o H.P.Lovecraft em Paris "with Poe in a Dream"...
Estive assim em Corfu, desde o tempo dos Venezianos e dos cercos dos Turcos e vou ver agora se vou lá talvez no fim do Verão deste ano. Para adiantar face hoje este raid exploratório...

quinta-feira, maio 01, 2008

GOYA E O 2 DE MAIO

O 2 DE MAIO, 200 ANOS DEPOIS

As efemérides estão na moda. Aqui tivemos os 34 longos anos do 25 de Abril, em Madrid vão ser os 200 anos do 2 de Maio, comemorados com dezenas de livros -novos e reedições. Para a Espanha e para Madrid é uma grande data, o princípio simbólico do levantamento nacional e popular contra os franceses, tão bem retratado por Goya.
"Guerra da Independência lhe chamaram. Corajosa e vitoriosa. A nossa, por sinal contra eles - os castelhanos - fora 400 anos antes.

QUE FITA VAI HOJE? - UM DIA A MENOS

Nos canais de televisão a que este "diário cinematográfico" se limita havia ontem filmes de que falar, como há sempre, embora nem sempre sejam de recomendar (um deles, no TCM, foi The Gypsy Moths, de John Frankenheimer, 1969, com um Gene Hackman não muito bem dirigido, dois anos depois do Oscar como actor secundário no Bonnie and Clyde de Arthur Penn, e dois anos antes da "explosão" de The French Connection, de William Friedkin - Os incorruptíveis contra a droga, 1971 - que também era exibido, outra vez, no Hollywwod). Hoje, fora o caso de Fargo, 1996, um dos melhores filmes dos irmão Coen, suficientemente recomendado por toda a gente par dispensar especial encómio (Hollywood, 23.40), é mais questão de literatura, como no caso do filme Cannery Row (Bairro de lata, 1982), que nunca vi e é baseado num romance de John Steinbeck, em tempos grande escritor "social", Prémio Nobel, leitura obrigatória nos tempos da minha adolescência. A sua evolução política, como no caso de John Dos Passos (um escritor de ascendência açoreana a que um brilhante jornalista literário da nossa praça chamou num artigo "de los Passos"), tornou-o mais ou menos proscrito das páginas bem pensantes. Está a precisar de uma reavaliação. Por outro lado, um dos filmes desta noite - que tudo indica ser péssimo e começou às 20.00 no TCM, The Appointment (O Rendez-vous, 1969, Sidney Lumet, com um título português que, dado o contexto, parece inspirado por uns famosos versos brejeiros da minha adolescência - "O pai foi para o trabalho, a mãe pró rendez-vous..."), tem no genérico, como argumentista, o nome de um dos grandes prosadores americanos do nosso tempo, James Salter (Burning the Days, "recordações", é um dos livros que mais me impressionaram nos últimos anos - e um bom ponto de partida para o conhecer - ou, para quem prefira começar pela ficção, o romance A Sport and a Pastime. Como dizia, hoje é mais livros.

AS DATAS DA LIBERDADE

A libertação de Itália que é comemorada em 25 de Abril tem como imagem emblemática o açougue a céu aberto em que Mussolini, Clara Petacci e outros "porcos" fascistas depois de "sumariamente executados" - ou seja, assassinados e mutilados pelas milícias comunistas - foram dependurados pelos pés numa praça de Milão, para edificação do povo e educação das futuras gerações - como recordou o "Público" na efeméride do passado dia 28. Não foram as únicas "execuções" da época nem essa meia dúzia de dignitários fascistas as únicas vítimas da guerra civil italiana. Fair enough, como diriam os nossos mais antigos aliados.
É curioso como todas as "libertações" que festejamos encabeçam um cortejo de atrocidades e têm no seu haver centenas de milhares de vítimas, no que o nosso 25 de Abril não é excepção - se quisermos, claro, contar com os "retornados", os "espoliados", os contra-revolucionários torturados ou presos ou, sobretudo, as populações dos territórios africanos "sob administração portuguesa" - mas esses, claro, ou estavam "condenados pela história" ou eram - e são - pretos, ou de qualquer outra tonalidade mais ou menos pardacenta, e portanto não merecem consideração. A história pode ser contada de outra maneira, ou de maneira mais pequenina, que é o que fazem por exemplo Vasco Pulido Valente e Rui Tavares, numa recente troca de palavras sobre o "que fez o 25 de Abril por nós?". E até pode ser convenientemente inventada, como no caso (vou citar Rui Tavares) de umas supostas "mentes retroactivas (?) da direita portuguesa, que ainda lamentam Marcelo Caetano, porque nunca deixaram de acreditar que a única maneira de nos aproximarmos das democracias teria sido sempre dar mais tempo aos nossos regimes autoritários." (A "única" ou a "melhor" ou "uma delas"? Como em Espanha, por exemplo? Os "marcelistas" podem ser estúpidos mas não tão inadvertidamente.) Esta interessante discussão exigiria muito espaço: é extraordinário dizer-se, sem rir, que o notório "desenvolvimento" dos últimos cinquenta anos em Portugal se deve a um 25 de Abril que além de pôr termo a uma das poucas experiências bem sucedidas de "desenvolvimento" no continente africano, levou dez ou quinze anos a alçapremar-nos ao mesmo patamar de progresso material em que estávamos em 1973. E falar de tudo isto como se o resto da Europa e do mundo não tivessem mudado desde 1945. E por aí fora. Mas é difícil "estar motivado" para um debate em geral tão enviesado.