segunda-feira, junho 18, 2007

O FRACASSO DAS ILUSÕES

Existe em Budapeste um "Instituto 1956" dedicado à investigação e história do levantamento húngaro de 1956. Em toda a parte, mas em especial nos Estados Unidos, têm proliferado nos últimos tempos os estudos sobre o período da Guerra Fria, em geral. A abertura de muitos arquivos soviéticos e outros tem permitido aquilo que se costuma designar por história "internacional" desse período, cujo estudo estivera até há relativamente pouco tempo confinado ao ponto de vista "ocidental" e quase exclusivamente americano. Era o único documentado enquanto não houve acesso a outra documentação e outros testemunhos, que só a dissolução da União Soviética e do Pacto de Varsóvia permitiu. Um dos mais recentes volumes publicados sobre a revolta da Hungria é Failed Illusions, da autoria de Charles Gati, um estudioso norte-americano de origem húngara (foi para os Estados Unidos depois dos acontecimentos de 56, já com vinte e tal anos, e hoje lecciona na Johns Hopkins University).
Uma das questões mais espinhosas das novas revelações sobre os países da chamada Europa de Leste sob domínio soviético tem sido a da relação dos respectivos cidadãos - dos mais altos responsáveis comunistas aos mais vulgares "homens da rua" - com as polícias políticas locais ou do Centro. É uma questão que nalguns países como a Hungria ou a Polónia se tem tornado numa questão política de muita relevância actual. A simples consideração da quantidade de gente envolvida torna o tema "incontornável": foram pioneiras as informações dadas a público sobre a actuação da Stasi na Alemanha de Leste (como The File, A Personal History, publicada em 1998 por Timothy Garton Ash). Na Stasiland e no resto dos países sob controle de Moscovo os informadores das variadas polícias eram às centenas de milhares, sem falar do número de funcionários (na Alemanha de Leste eram um múltiplo considerável dos que a Gestapo teve em toda a Alemanha e territórios ocupados). Na Hungria eram 40.000, na Polónia muitas dezenas de milhar também, em percentagens das populações que chegavam aos 2% (o que em Portugal, incluindo territórios do Ultramar, daria um número da ordem dos 400.000). Mas o que torna tudo mais doloroso é a qualidade desses informadores: irmãos, amigos, colegas, amantes e por aí fora.
O livro de Gati, publicado na América, também não é amável para o Ocidente e os Estados Unidos e uma NATO cujas iniciais, dizia-se sarcasticamente nesses tempos, correspondiam a No Action, Talk Only. Mas isso é outra história.

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