sábado, março 24, 2007

A ESTRATÉGIA PORTUGUESA (SEIS MÁXIMAS)

É fácil aos não iniciados falar sobre estratégia. Em todo o caso, trata-se de um tema recorrente na literatura militar e muito desenvolvido nos inúmeros debates que se travam nas academias americanas e russas. É compreensível pensar Portugal e as suas opções num vínculo geográfico, mas tal raramente foi feito. Exceptuando alguns ilustres pensadores onde incluo Políbio Valente de Almeida, Loureiro do Santos, François Martins, Vice-Almirante Sachetti, Lopo Cajarabile, as incursões andam pelo domínio do comum, planam sobre um assunto que vale a pena pensar com coragem. Enquanto o USA desenvolveram uma escola de geopolítica, como os italianos e franceses, nós ficámos pela superfície com observações distanciadas, sem ter a iniciativa de pensar Portugal neste meio Global. Na realidade, não só importa sumariar o que se sabe, como explorar as possibilidades que se oferecem. Normalmente, as entidades governantes são formadas em disciplinas que nade devem ao pensamento estratégico e geopolítico e provavelmente foi isso que ditou a sentença para o país desde a Invencível Armada, um país vítima do pensamento cultivado na Teologia e no Direito da Universidade reformada de Coimbra, para onde Dom João, o Piedoso, resolveu interiorizar o saber de experiência feito.

1 - O facto indesmentível é que o país tem dez milhões de habitantes com demografia pobre e envelhecimento. Acaba de aprovar uma lei em que o bebé necessário vai para o crematório. Os poucos milhões de habitantes cabem em São Paulo e sobram casas, para não dizer que uma grande cidade absorveria toda a população sem problema. A mania das grandezas e do protagonismo universal devia acabar nesta verificação: não há população para nada, nem para ganhar o Guinness no mergulho.

2 - Mas esta pequena população é discriminada pela sua elite política, que é excessiva e predadora. Aliás as elites tendem a ser predadoras sobre a classe média e o proletariado mal ensinado, que descansa no poder ridículo de um sindicalismo parasita. Tenham sido ensinadas em Argel, em Moscovo ou aqui, o resultado é o mesmo: a predatoriedade como máxima. A funcionalidade de pequeno secretário de albergue como mínima . A teoria do burro e das moscas, bem explicada por Ramalho Ortigão, é muito actual. Quem não teve uma tradição de combate não a adquire através de uma burocracia oficiosa e de representação. Assim, o proletariado não está treinado, no seu analfabetismo, para criar de si mesmo dirigentes genuínos e tem que se contentar com os imbecis de classe média que o chefiam há longo tempo e que já abandonaram o trabalho efectivo e duro há muitos anos. Envergaram a gravata e os colarinhos brancos e vão comer à mesa do rei. A classe média, apesar das inúmeras provas em contrario, sem experiência de choque, ainda sonha com alguma protecção enquanto lhe retiram o poder de compra, a roubam e a inviabilizam. Continua a jogar indiferenciadamente porque não percebe o que é aquilo que conta: a violência instrumental.

3 - Internamente abafados, viramo-nos para fora. E aí o panorama é desastroso. O que se devia fazer não se faz, e faz-se o que não se devia fazer. As posições adquiridas pela política externa indiciam que a primeira ordenação é ter atenção à UE. É nesse espaço que nos movemos e quisemos estar. A EU não dará nada a Lisboa e fará com que atabafemos aqui. Nem crescer, nem diminuir. O resto é conversa para imbecis. OS USA encontram-se nesta definição por causa do mar, do meio da ligação transatlântica, mas isso interessa mais a uns do que a outros. Menos à Alemanha e França do que à Grã-Bretanha, sempre entendida como o porta-aviões da superpotência transatlântica. Destes dois espaços o país obteve pouco pelos seus encartados embaixadores e comissões. Isso indicia bem a classe dos indivíduos escolhidos para esta tarefa: um bando de estrangeirados em busca de bifes. Em vez de explorar a EU fomos explorados e reduzidos a um lugar vigiado de "melhor aluno" e , finalmente, de quase último na escala, destacado pelos índices de horror e de pavor, como costuma dizer a minha mulher.

4 - A segunda orientação seria o mar, explorando o triângulo estratégico, em matéria de pescas e em assuntos estratégicos. Se Lisboa fosse forte, o mar até aos Açores daria trabalho, peixe e uma frota de se tirar o chapéu. Mas essa parece que ainda não é a via compreendida pela tal elite política que se vende regularmente a interesses que nós não percebemos desde que as suas contas não sejam vistoriadas e a sua vida vigiada como se vigiam os ladrões. Na realidade trata-se de um espaço marítimo desguarnecido que vale várias vezes o território emerso aqui deste lado e nas ilhas. O peixe passa por baixo das nossas redes não existentes, mas cai nas dos outros. É bom abater navios. Recebe-se. Mas depois quem pesca? Não é bom pensar a curto prazo porque os países e as gerações têm uma vida longa.

5 - A terceira orientação inclinar-se-ia para onde o país conta com o peso linguístico: o Brasil. Isso significa passar das palavras aos actos. Negócios. O Brasil não nos vai dar nada e nós não devemos dar nada ao Brasil. Negócios devem interessar a ambos : ao Planalto e a Lisboa. Mas teremos gente que compreenda isto? Que não se tratará de festa do linguarejar em português, mas de fazer negócios reais em tempo útil para ambos? É difícil perceber que os homens do poder não entendam o que são e representam Brasília e São Paulo. Estão habituados a ir ao Rio de Janeiro e isso não é nada para o Planalto. Torna-se necessário perceber a questão. Porque é que a Universidade de Salamanca tem o melhor Centro de Estudos Hispano-Brasileiros ? Porque é que, paulatinamente o espanhol ( castellano) se está a transformar na segunda língua no Brasil , depois de ter tomado os territórios do sul dos Estados Unidos? Ninguém pensa uma geopolítica do português e isso recai nesses institutos fantasmáticos dedicados ao tema como o Instituto Camões e quejandas criações, sem dinheiro, sem projecto, sem indicação e sem fundos. Pois bem: assim não há pais que aguente. Deixem passar a procissão. E os Palop dirão. Uma última atenção de um país que não tem culpas, senão pelos massacres dos seus, e que tem dado demasiada atenção a esse assunto fora de toda a lógica. O interesses são explorados por companhias estrangeiras. O amorzinho é dos portugueses. Quando é que vamos aprender com as experiências de Afonso de Albuquerque. Quem não tem poder não tem vícios.

6 - São precisas prioridades e elas tem que ser definidas e conhecidas. Que estamos a fazer: tudo ao contrário.

4 Comentários:

Blogger Capitão-Mor disse...

Parabéns pelo magnífico texto! As aulas consigo nunca foram tempo perdido...
Abraço ultramarino!

sábado, março 24, 2007 9:48:00 da tarde  
Blogger jaime nogueira pinto disse...

Gosto muito de te ver de volta aqui "a casa".Fazes falta a nós todos.Abraço.

sábado, março 24, 2007 11:18:00 da tarde  
Blogger Vítor Luís disse...

Bravo!

domingo, março 25, 2007 3:41:00 da manhã  
Blogger Marco Alexandre Saias disse...

Gostei.

quarta-feira, março 28, 2007 5:43:00 da manhã  

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