SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO - 2: O QUE É SER GRANDE
A seguir, o primeiro dos vários trechos deste ensaio do Nuno que anunciámos há uns dias:
"Deve observar-se, em primeiro lugar, que a pergunta “foi Salazar um grande português?” nunca terá uma resposta universalmente válida.
Desde logo, porque não existe, codificada ou comungada por um grupo suficientemente vasto (na história, ou na mesma época), a definição de “grande português”, a não ser que se confunda com a de “Português notável”. Agigantado no seu tempo, Salazar foi um português notado, mas essa é uma observação banal.
Depois porque a pergunta envolve, mal ou bem, um julgamento político-moral, que divide, mais do que une.
Salazar devia ter encerrado a colónia penal do Tarrafal, evitando o regresso aos processos expeditos de alguns figurões da Primeira República? E seria isso uma prioridade? Devia ter “descolonizado” antes ou depois de 1945? Devia ter autorizado partidos, e restaurado os de 1911? Devia ter declarado o regime monárquico, quando da chegada, com honras de estado, dos restos mortais de D. Manuel II? Devia ter viajado mais, ou menos? E dentro, ou fora?
Devia ter-se casado? Apegou-se demasiado, ou de menos, ao poder? E a quê: à sua capacidade de transformação, ou aos seus benefícios?
Há, no julgamento, centenas de tópicos de inquirição, em diversos modelos e situações. Mas convém dizer que, se tratássemos de um mero juízo técnico, por exemplo em torno do reconhecido saneamento financeiro do país, entre 1932 e 1945, talvez se pudesse dizer, sem dificuldade, que Salazar foi um “grande português”.
Mas, como sabemos, não é um juízo técnico que se pretende, nem ele é possível.
Em último lugar, a pergunta perde-se, porque “grande português” corresponde a uma visão global, sobre-humana, cientista e impossível do passado. Em boa verdade, entendendo-se que o processo da independência nacional é um todo coerente, só se pode passar juízo, e estabelecer balanço e contas...no fim da história.
Não estamos ainda na sua antevéspera, salvo melhor opinião."
"Deve observar-se, em primeiro lugar, que a pergunta “foi Salazar um grande português?” nunca terá uma resposta universalmente válida.
Desde logo, porque não existe, codificada ou comungada por um grupo suficientemente vasto (na história, ou na mesma época), a definição de “grande português”, a não ser que se confunda com a de “Português notável”. Agigantado no seu tempo, Salazar foi um português notado, mas essa é uma observação banal.
Depois porque a pergunta envolve, mal ou bem, um julgamento político-moral, que divide, mais do que une.
Salazar devia ter encerrado a colónia penal do Tarrafal, evitando o regresso aos processos expeditos de alguns figurões da Primeira República? E seria isso uma prioridade? Devia ter “descolonizado” antes ou depois de 1945? Devia ter autorizado partidos, e restaurado os de 1911? Devia ter declarado o regime monárquico, quando da chegada, com honras de estado, dos restos mortais de D. Manuel II? Devia ter viajado mais, ou menos? E dentro, ou fora?
Devia ter-se casado? Apegou-se demasiado, ou de menos, ao poder? E a quê: à sua capacidade de transformação, ou aos seus benefícios?
Há, no julgamento, centenas de tópicos de inquirição, em diversos modelos e situações. Mas convém dizer que, se tratássemos de um mero juízo técnico, por exemplo em torno do reconhecido saneamento financeiro do país, entre 1932 e 1945, talvez se pudesse dizer, sem dificuldade, que Salazar foi um “grande português”.
Mas, como sabemos, não é um juízo técnico que se pretende, nem ele é possível.
Em último lugar, a pergunta perde-se, porque “grande português” corresponde a uma visão global, sobre-humana, cientista e impossível do passado. Em boa verdade, entendendo-se que o processo da independência nacional é um todo coerente, só se pode passar juízo, e estabelecer balanço e contas...no fim da história.
Não estamos ainda na sua antevéspera, salvo melhor opinião."
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