SOBRE O VOTO DE 27 DE SETEMBRO
Já aqui não vinha há muito tempo. Hoje acho que podem ter algum interesse estas reflexões que publiquei no i , na minha coluna das terças feiras
Da utilidade do Voto
O fundamentalismo não só é religioso ou islâmico. Há também um fundamentalismo democrático, ou dos "democratas", e bem passámos por ele, desde a I República, de saudosa memória e próximo centenário, ao glorioso PREC. Este fundamentalismo persiste na tradição do "aprofundamento democrático" de que os bloquistas são exemplo e da unidade antifascista, que acorda em certas ocasiões.
Mas também se vê no olhar para a democracia como uma espécie de religião laica, de rousseauniana transcendência, com solenes símbolos e rituais, sacralizados e venerados, através dos quais a vontade popular se revela aos homens. Assim, o voto será um acto de fé e de devoção inabaláveis num partido e num líder. Atributo que, considerada a oferta, aqui e agora, é manifestamente exagerado e despropositado.
Os fundamentalistas condenam o voto útil como uma profanação. Ora, para a maioria dos eleitores, o voto é útil. Sobretudo à medida que melhor compreendem os mecanismos da representação e da vida política e percebem que tinha alguma razão quem dizia que a política era escolha entre dois inconvenientes.
Por isso, muito mais que votar-se pró, vota-se contra, num voto defensivo contra um mal maior. Foi o que tivemos e temos de fazer, as pessoas de direita deste país em que o "partido mais à direita se chama "centro" e onde ainda se usa o Salazar como fantasma graças à esquerda. E em que uma referência à "questão nacional" a propósito do TGV causa uma onda de histeria jornalística.
O voto útil é simples e prático, sem estados de alma complicados.
Quem tiver como desiderato principal afastar o eng. Sócrates e o PS do poder, goste muito ou nada do PSD, ache a dra. Ferreira Leite pouco simpática ou destituída de "carisma", vota no PSD e na "doutora".
Quem tiver como objectivo essencial cortar o caminho "à direita" e à "doutora", mesmo que ache Sócrates "vendido ao capitalismo" e o PS um bando de burgueses sem ponta de chique, tem de votar no PS e no "engenheiro".
Esta é a filosofia do voto útil como voto contra. Voto ideológico da direita não há, pois nem o CDS nem o PSD se assumem como tal. Voto ideológico de esquerda - há o tradicionalista no PCP, e o pós-moderno no BE. Este voto no BE vai servir aos bloquistas para o seu cenário-maravilha - serem poder, sem as responsabilidades de poder. Depois do que disseram e fizeram ao PS e a Sócrates, não teriam lata (é o termo) de se coligar. Mas - se o PS fizer governo - adorarão ficar como uma minoria de pressão e controlo, chantageando o PS no sentido da sua agenda, obrigando-o às recusas que comprometem e às transigências que rebaixam. Este é um cenário que repugna a muitos dirigentes socialistas e também a muitos eleitores. Mas ouvido o dr. Soares há ainda uma "ala esquerda" saudosista da aliança antifascista a dar a sua ajuda.
Da utilidade do Voto
O fundamentalismo não só é religioso ou islâmico. Há também um fundamentalismo democrático, ou dos "democratas", e bem passámos por ele, desde a I República, de saudosa memória e próximo centenário, ao glorioso PREC. Este fundamentalismo persiste na tradição do "aprofundamento democrático" de que os bloquistas são exemplo e da unidade antifascista, que acorda em certas ocasiões.
Mas também se vê no olhar para a democracia como uma espécie de religião laica, de rousseauniana transcendência, com solenes símbolos e rituais, sacralizados e venerados, através dos quais a vontade popular se revela aos homens. Assim, o voto será um acto de fé e de devoção inabaláveis num partido e num líder. Atributo que, considerada a oferta, aqui e agora, é manifestamente exagerado e despropositado.
Os fundamentalistas condenam o voto útil como uma profanação. Ora, para a maioria dos eleitores, o voto é útil. Sobretudo à medida que melhor compreendem os mecanismos da representação e da vida política e percebem que tinha alguma razão quem dizia que a política era escolha entre dois inconvenientes.
Por isso, muito mais que votar-se pró, vota-se contra, num voto defensivo contra um mal maior. Foi o que tivemos e temos de fazer, as pessoas de direita deste país em que o "partido mais à direita se chama "centro" e onde ainda se usa o Salazar como fantasma graças à esquerda. E em que uma referência à "questão nacional" a propósito do TGV causa uma onda de histeria jornalística.
O voto útil é simples e prático, sem estados de alma complicados.
Quem tiver como desiderato principal afastar o eng. Sócrates e o PS do poder, goste muito ou nada do PSD, ache a dra. Ferreira Leite pouco simpática ou destituída de "carisma", vota no PSD e na "doutora".
Quem tiver como objectivo essencial cortar o caminho "à direita" e à "doutora", mesmo que ache Sócrates "vendido ao capitalismo" e o PS um bando de burgueses sem ponta de chique, tem de votar no PS e no "engenheiro".
Esta é a filosofia do voto útil como voto contra. Voto ideológico da direita não há, pois nem o CDS nem o PSD se assumem como tal. Voto ideológico de esquerda - há o tradicionalista no PCP, e o pós-moderno no BE. Este voto no BE vai servir aos bloquistas para o seu cenário-maravilha - serem poder, sem as responsabilidades de poder. Depois do que disseram e fizeram ao PS e a Sócrates, não teriam lata (é o termo) de se coligar. Mas - se o PS fizer governo - adorarão ficar como uma minoria de pressão e controlo, chantageando o PS no sentido da sua agenda, obrigando-o às recusas que comprometem e às transigências que rebaixam. Este é um cenário que repugna a muitos dirigentes socialistas e também a muitos eleitores. Mas ouvido o dr. Soares há ainda uma "ala esquerda" saudosista da aliança antifascista a dar a sua ajuda.
2 Comentários:
Discordo. Voto útil poderá ser, por exemplo, o que impede maiorias absolutas. Uma coligação dá trabalho, pode ser menos estável do que uma maioria absoluta, mas gera possibilidades de auto-controlo e a necessidade de gerar consensos antes de legislar. Será menos expedito, mas será de melhor qualidade, e permitirá um maior respeito dos direitos dos cidadãos. Logo, o voto menos útil seria exactamente o voto no PS ou no PSD. Deve-se, pelo contrário, votar no CDS, no BE, no PCP e, até, nos partidos até agora sem representação parlamentar, para melhor controlar a acção governativa. Um deputado do PCTP/MRPP, outro do MEP e outro do MPT, fariam maravilhas no sentido de controlar os abusos do poder.
Por outro lado, e ao contrário do Jaime, acho que vamos ter facilmente uma coligação do PS, do BE e do PCP, mas sem Sócrates como Primeiro-Ministro.
Sou Ednei José Dutra de Freitas, psiquiatra e psicanalista na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, e gostaria de enviar uma mensagem pessoal ao Prof. Dr. Jaime Nogueira Pinto. A matéria é de urgência e meu endereço electrônico é freitas.ednei@gmail.com
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