QUE FITA VAI HOJE?
"Críticos, críticos! Pobres deles, pobre de mim. Não obstante os críticos, todas as noites se enchem os cinemas. Amáveis comédias, farsas destruidoras da lógica convencional, amplas gestas dos vaqueiros de novecentos, dramas psicológicos, choques de sentimentos simples em situações invulgares, sombrias pesquisas nos degraus mais baixos de uma sociedade irregular e difícil, poemas e dramas. 'Que fita vai hoje?'. Como eu vos amo e vos admiro, e vos invejo, espectadores do 'que fita vai hoje?'. Que fita vai hoje, que fita vai hoje?"
O mote é do saudoso Manuel Gama, num livro brilhante e inolvidável intitulado Cinema e Público em Portugal (Ática, Lisboa-1959). Passados quase cinquenta anos, os cinemas já não são os mesmos e cada vez menos se enchem todas as noites ("no total, em 2007, passaram pelos cinemas nacionais menos 49.000 pessoas do que no ano anterior", informava o Público de ontem); já não há, só é preciso dizê-lo porque cada vez menos gente se lembrará ainda disso, aquelas solenes estreias em enormes salas onde se encontrava "toda a gente", as senhoras faziam "toilette" e os homens iam de gravata, como para toda a parte. O cinema está longe de ter morrido, ao contrário do que têm noticiado com notório exagero alguns profetas mais precipitados. Mas mudou; e mudou muito mais ainda a maneira como o vemos.
As casas de todos nós tornaram-se na maior sala de cinema do mundo. Os que todas as noites, sem filmes alugados ou comprados, sem mais do que os canais chamados generalistas ou, quando muito, o "pacote básico", se sentam diante de um móvel iluminado para ver o que dá - são, hoje, os irmãos actualizados desses espectadores do "que fita vai hoje?" de que falava M. Gama. Tentarei todos os dias escolher alguma ou algumas dessas fitas que todos os dias são oferecidas aos mais humildes de entre nós - e falar delas e de alhos e bugalhos. Assim Deus me dê vida e saúde.
O mote é do saudoso Manuel Gama, num livro brilhante e inolvidável intitulado Cinema e Público em Portugal (Ática, Lisboa-1959). Passados quase cinquenta anos, os cinemas já não são os mesmos e cada vez menos se enchem todas as noites ("no total, em 2007, passaram pelos cinemas nacionais menos 49.000 pessoas do que no ano anterior", informava o Público de ontem); já não há, só é preciso dizê-lo porque cada vez menos gente se lembrará ainda disso, aquelas solenes estreias em enormes salas onde se encontrava "toda a gente", as senhoras faziam "toilette" e os homens iam de gravata, como para toda a parte. O cinema está longe de ter morrido, ao contrário do que têm noticiado com notório exagero alguns profetas mais precipitados. Mas mudou; e mudou muito mais ainda a maneira como o vemos.
As casas de todos nós tornaram-se na maior sala de cinema do mundo. Os que todas as noites, sem filmes alugados ou comprados, sem mais do que os canais chamados generalistas ou, quando muito, o "pacote básico", se sentam diante de um móvel iluminado para ver o que dá - são, hoje, os irmãos actualizados desses espectadores do "que fita vai hoje?" de que falava M. Gama. Tentarei todos os dias escolher alguma ou algumas dessas fitas que todos os dias são oferecidas aos mais humildes de entre nós - e falar delas e de alhos e bugalhos. Assim Deus me dê vida e saúde.
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