REVER CHARLOT
A RTP 2 tem estado a dar-nos a oportunidade de ver ou rever alguns dos filmes de Charles Chaplin. No programa dos sábados "Sessão dupla", a segunda parte está a ser dedicada por umas semanas a várias das suas longas metragens, sendo a próxima um dos últimos filmes da sua melhor fase: "Luzes da cidade" (1931), ainda mudo, já em pleno cinema falado (sonoro, o cinema sempre foi, mesmo quando a música tinha de ser providenciada "ao vivo"). A favor de mais uma daquelas efemérides que nos servem agora de muleta quase obrigatória para falar seja do que fôr (neste caso, o trigésimo aniversário da morte do criador de "Charlot") o mesmo canal da televisão tem passado também todos os dias os episódios de uma série dedicada aos filmes de Chaplin. Em unidades de mais ou menos meia-hora um artista convidado faz um comentário ilustrado de um dos filmes do autor. A série foi orientada pelo Director da Cinemateca Francesa, Serge Toubiana, e inclui muito material "extra", além de sequências ou cenas do filme em cada caso escolhido. Entre os comentadores convidados contam-se oficiais do mesmo ofício, como os realizadores Claude Chabrol, Emir Kusturica ou os irmãos Dardenne. Melhores ou piores, vale sempre a pena ver esses programas. (O meu preferido, dos que vi, foi aquele em que Claude Chabrol comentou M.Verdoux, um filme de 1947 em que Charles Chaplin já não é "Charlot"). Nos Estados Unidos a grande criação de Chaplin que o tornou um ídolo universal era "Charlie" - no Brasil "Carlitos". Em Portugal sempre lhe chamámos sem sequer nos preocuparmos em traduzir do francês, "Charlot". O Charlot pobre, mau e vingativo das curtas metragens dos primórdios ainda nos faz rir. "A Quimera do Ouro" ou "Luzes da Cidade" ainda nos divertem e abundam em bons gags e grandes números de "pantominice", em que a graciosidade acrobática de Chaplin e o seu génio cómico e cinematográfico nos compensa do sentimentalismo que já os contamina. O Chaplin mais consciente e organizado dos filmes posteriores não é muito interessante: Tempos Modernos (Modern Times, 1936), já é muito forçado e revisto agora perde muito do seu lustre mal recordado; O Grande Ditador, de 1941 (a famosa sátira de Hitler e do nacional-socialismo) é menos do que menor, sem agudeza, sem graça e, até, sem virulência, sem a ferocidade que se poderia esperar do autor e do assunto. Em contrapartida, A Woman of Paris, de 1923, um drama muito anterior, sobrevive muito bem - é um excelente filme: esquecemo-nos de que é mudo. E o que pudemos ver do M. Verdoux confirma o bem que se tem dito dessa sátira - essa realmente desapiedada. A visão de Chaplin é o contrário de uma visão cristã: nunca lhe assentou bem a versão incompreensível dos sentimentos cristãos a que se costuma chamar "humanismo".
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