ROMANCES E LIVROS DE BOLSO
Tenho pouca paciência para romances hoje em dia - fora os que já conheço e os romances policiais ou de espionagem de meia dúzia de autores, que ainda abro com alguma trepidação, como os de John le Carré, apesar de tudo, de Martin Cruz Smith (a série do polícia russo Arkady Renko, do Gorky Park ao Stalin's Ghost), ou o William Gibson que acaba de publicar Spook Country. De preferência e quase só em edições de bolso. (E fora algumas descobertas casuais, como Irène Nemirovsky, uma judia francesa cuja obra está agora a ter um grande êxito, vastamente póstumo, depois da saída do seu notável romance inédito Suite Française.) Mas por estes dias deu-me para pegar num velho e célebre - e brevíssimo - romance de André Gide, que nunca me tinha despertado mais do que uma vaga curiosidade:La Symphonie pastorale. Um livro lacónico, bem escrito e curioso, sobre o esplendor da Fé e a cegueira dos homens (não incluindo aqui as mulheres). O exemplar que tenho é velhinho e não aguentará inteiro muitas mais leituras. É o número 6 da colecção "Le Livre de Poche", editado em 1952. Diz a Wikipedia que o formato "de bolso" foi "inventado" no princípio dos anos 30 pelo alemão Kurt Enoch cuja carreira como editor continuaria nos Estados Unidos, onde acabou por ser um dos proprietários dos Pocket Books. Os primeiros "livros de bolso" americanos apareceram em fins dos anos 30, depois da ideia nascida na Alemanha pré-hitleriana já se ter vulgarizado em Inglaterra. Em França, o "livre de poche" por antonomásia apareceu depois da guerra: "uma notável selecção de obras de primeira linha apresentadas de uma forma elegante e prática", diz o reclame. A colecção "Le Livre de poche" continua a existir e em francês ainda se usa a designação de poche para estas edições, mas "pocket book" já não é senão uma chancela editorial: no idioma livreiro anglo-saxónico designam-se as edições deste género por "mass market paperbacks", para as distinguir dos livros não encadernados mas de formato maior (a que se dá o nome de "trade paperbacks"), como toda gente provavelmente sabe, ou não lhe interessa muito, provavelmente, ficar a saber. A edição do romance de Gide na colecção "Le Livre de Poche" usa na capa uma imagem da actriz Michèle Morgan, na sua interpretação de uma das personagens principais da história no filme de Pierre Aurenche e Jean Delannoy que foi um grande êxito da época. É uma forma rudimentar e precoce do movie tie-in, uma coisa que hoje é vulgar no mundo editorial.
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