sábado, fevereiro 16, 2008

AS DESCULPAS AUSTRALIANAS

O novo Primeiro Ministro australiano apressou-se a apresentar as desculpas da Austrália (ou seja, numa curiosa forma de neo-colonialismo ou neo-paternalismo, dos australianos de origem europeia) à população aborígene daquelas paragens - que tem o seu passado também e não certamente mais imaculado do que o nosso. Para usar a fórmula cunhada noutro contexto por Maria de Fátima Bonifácio, não estamos muito motivados - eu não estou, pelo menos - para esta discussão das "desculpas" que se multiplicam pelos crimes ou abusos do passado, em que prevalecem a má-fé, a "agenda política", as pretensas verdades "científicas", a ignorância ou a pura e simples estupidez. José Pacheco Pereira, com paciência de Job, aborda longamente este assunto no Público de hoje. Ontem ou anteontem, no mesmo jornal, Rui Tavares ditava a sua sentença sobre a matéria, com a falsa bonomia auto-satisfeita que passa à esquerda por humildade. É evidente que as heranças históricas não podem ser aceites a benefício de inventário - mas a questão não é essa, normalmente: é um exercício só aparentemente masoquista (um masoquismo à custa alheia, de uma esquerda que quer ter sempre a consciência tranquila) cujo principal objectivo é deprimir os valores "reaccionários"- sem olhar a meios ou mais propriamente, o que é mais grave, a factos. Uma versão interesseira ou inconsciente da "tentação da derrota", na expressão de Antoine Vitkine no título de um recente livro. Quanto à história australiana, vale a pena visitar o sítio The Sidney Line, do historiador Keith Windschutlle. Windschutlle, autor de The Killing of History, How Literary Critics and Social Theorists are Murdering Our Past, está a publicar (saíu o primeiro volume, que vai até 1847) The Fabrication of Aboriginal History.

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