QUE FITA VAI HOJE? - PAGADOR DE PROMESSAS
Exumada dos meus arquivos que estão longe de ser implacáveis, infelizmente, transcrevo a seguir a prometida "reedição" da crítica de O homem das pistolas de ouro por Manuel Maria Múrias, que assinava nessa época Manuel Moutinho, M.M.:
"O Homem das Pistolas de Ouro é um western clássico; quer dizer: - é um daqueles filmes de cow-boys cujo conteúdo possui os mil e um ingredientes temáticos que, desde sempre, desde Griffith, fizeram do género a única criação original de dramaturgia cinematográfica.
Dirigido por Edward Dmytryk, o filme estreado, no Politeama, na quinta-feira passada, seguindo porém o revolucionarismo temático que, há já anos, se tem procesado no western, quer ser mais alguma coisa do que simplesmente uma cow-boyada, e tenta intemporalizar determinadas personagens e dar-lhes o valor de símbolos. Henry Fonda, neste caso, será como que a encarnação da Ordem e Richard Widmark pretende-se que seja a Lei. Primeiro chega a Ordem, imposta violentamente, trazendo consigo a paz; depois (depois de haver ordem) vem a Lei que oferece à paz gerada pela Ordem um sentido eticamente superior. A Ordem que pretende justificar-se por si mesma é vencida e permanece a Lei cuja justificação se alicerça no Bem.
Ao público (é claro...) não lhe interessam estes devaneios literários e mais ou menos filosóficos: prende-o a dureza da luta, a violência de alguns momentos da acção e todos os elementos exteriores da história que vê desenrolar-se ante os seus olhos. Repara que o filme é impecavelmente bem feito e repara também nas extraordinárias criações de Henry Fonda, Richard Widmark e Anthony Quinn. Ao fim da projecção, sem se ter preocupado muito com o fundo dos problemas, gostou muito do espectáculo." ("Diário da Manhã", 31 de Outubro de 1959)
Não tenho o programa desta estreia mas tenho vários de outros filmes de Dmytryk em estreia ou reposição, entre os quais o de uma dessas salas de 'reprise', o "Imperial", de que não consigo lembrar-me e onde fui ver, em programa duplo, A Lança Quebrada (Broken Lance, 1954); tem os preços - de 5 a 10 escudos, consoante o dia e a hora, ou seja, mais ou menos, dois cêntimos e meio a cinco cêntimos do actual euro - e muitos anúncios, dos cosméticos Pinaud e Saint Age a casas de penhores e restaurantes (o "Estrela do Chile", p.ex.: "Às donas de casa - não se preocupem com as refeições..."), alfaiates e retrosarias. Se insistem em que fale dos filmes de hoje, só quero lembrar, primeiro, aos noctívagos impenitentes que à 1.50 passa no AXN Isto (não) é um rapto (The Ref, também conhecido por, ou AKA, Hostile Hostages, 1994) uma excelente comédia pouco conhecida, de Ted Demme (irmão do Jonathan Demme de O Silêncio dos Inocentes, etc. e que morreu muito cedo, num court de ténis, salvo erro), com um elenco de luxo: Kevin Spacey, Judy Davis, Denis Leary, Glynis John, num regresso de primeira às lides cinematográficas; no Canal Hollywood, à 1.30, é a vez de American Psycho, do romance de Brett Easton Ellis (2000, Mary Harmon), para espíritos fortes. E sublinhar, depois, que na RTP Memória, se o programa não nos engana, passa às 22.00 O Homem da Máscara de Ferro de 1939, realizado por James Whale (o realizador do famosíssimo Freaks e do primeiro Frankenstein, entre outros, e retratado em Gods and Monsters (1998, Bill Condon, com Ian McKellen, um "sósia" do biografado).
"O Homem das Pistolas de Ouro é um western clássico; quer dizer: - é um daqueles filmes de cow-boys cujo conteúdo possui os mil e um ingredientes temáticos que, desde sempre, desde Griffith, fizeram do género a única criação original de dramaturgia cinematográfica.
Dirigido por Edward Dmytryk, o filme estreado, no Politeama, na quinta-feira passada, seguindo porém o revolucionarismo temático que, há já anos, se tem procesado no western, quer ser mais alguma coisa do que simplesmente uma cow-boyada, e tenta intemporalizar determinadas personagens e dar-lhes o valor de símbolos. Henry Fonda, neste caso, será como que a encarnação da Ordem e Richard Widmark pretende-se que seja a Lei. Primeiro chega a Ordem, imposta violentamente, trazendo consigo a paz; depois (depois de haver ordem) vem a Lei que oferece à paz gerada pela Ordem um sentido eticamente superior. A Ordem que pretende justificar-se por si mesma é vencida e permanece a Lei cuja justificação se alicerça no Bem.
Ao público (é claro...) não lhe interessam estes devaneios literários e mais ou menos filosóficos: prende-o a dureza da luta, a violência de alguns momentos da acção e todos os elementos exteriores da história que vê desenrolar-se ante os seus olhos. Repara que o filme é impecavelmente bem feito e repara também nas extraordinárias criações de Henry Fonda, Richard Widmark e Anthony Quinn. Ao fim da projecção, sem se ter preocupado muito com o fundo dos problemas, gostou muito do espectáculo." ("Diário da Manhã", 31 de Outubro de 1959)
Não tenho o programa desta estreia mas tenho vários de outros filmes de Dmytryk em estreia ou reposição, entre os quais o de uma dessas salas de 'reprise', o "Imperial", de que não consigo lembrar-me e onde fui ver, em programa duplo, A Lança Quebrada (Broken Lance, 1954); tem os preços - de 5 a 10 escudos, consoante o dia e a hora, ou seja, mais ou menos, dois cêntimos e meio a cinco cêntimos do actual euro - e muitos anúncios, dos cosméticos Pinaud e Saint Age a casas de penhores e restaurantes (o "Estrela do Chile", p.ex.: "Às donas de casa - não se preocupem com as refeições..."), alfaiates e retrosarias. Se insistem em que fale dos filmes de hoje, só quero lembrar, primeiro, aos noctívagos impenitentes que à 1.50 passa no AXN Isto (não) é um rapto (The Ref, também conhecido por, ou AKA, Hostile Hostages, 1994) uma excelente comédia pouco conhecida, de Ted Demme (irmão do Jonathan Demme de O Silêncio dos Inocentes, etc. e que morreu muito cedo, num court de ténis, salvo erro), com um elenco de luxo: Kevin Spacey, Judy Davis, Denis Leary, Glynis John, num regresso de primeira às lides cinematográficas; no Canal Hollywood, à 1.30, é a vez de American Psycho, do romance de Brett Easton Ellis (2000, Mary Harmon), para espíritos fortes. E sublinhar, depois, que na RTP Memória, se o programa não nos engana, passa às 22.00 O Homem da Máscara de Ferro de 1939, realizado por James Whale (o realizador do famosíssimo Freaks e do primeiro Frankenstein, entre outros, e retratado em Gods and Monsters (1998, Bill Condon, com Ian McKellen, um "sósia" do biografado).
1 Comentários:
Realmente é um pomenor curioso: em toda a colecção do "Tempo Presente", que vai de 59 a 61, nunca aparece o nome de Manuel Maria Múrias. Julgo que a razão está no facto de estar vivo o pai (este ainda colaborou na revista, e faleceu nessa altura). O famigerado 3Ms assinou toda a sua colaboração como Manuel Moutinho.
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