JOHN STEINBECK (1902-1968)
Na minha magra biblioteca de romancistas americanos "sérios" só tenho um romance de Steinbeck, o primeiro e, até agora, o último dos seus livros que li de fio a pavio. É uma edição francesa: Des souris et des hommes, Le Livre de Poche (éramos assim nos anos 50, como acaba de lembrar o Jaime). Nunca li A Leste do Paraíso - mas vi o filme, que revelou e consagrou James Dean, dirigido por Elia Kazan, como estão fartos de saber. Robert Gottlieb, num artigo do jornal The New York Review of Books intitulado "The Rescue of John Steinbeck" opina que, com todos os seus defeitos, este é o seu melhor romance; para este crítico, entre muitos romances maus, são East of Eden e The Winter of our Discontent (o último que publicou) os únicos que lhe conferem alguma estatura como romancista e um lugar de relevo na história da ficção norte-americana. Provavelmente tem razão, como a tem certamente em lhe atribuir, sim, um talento acima do normal como "repórter"; não é caso único entre os escritores americanos, grandes jornalistas e romancistas tantas vezes falhados: vejam-se os exemplos de Norman Mailer, Tom Wolfe, mesmo Truman Capote, e alguns outros nomes ilustres. Nos anos juvenis em que muito avaramente gastei algum tempo a tentar lê-lo, eu embirrava um bocado com John Steinbeck, com a sua popularidade entre a juventude com pretensões intelectuais do meu tempo, com o seu suposto "progressismo". E embirrava também com a "mística" do Nobel (que Steinbeck recebeu em 1962), sem saber sequer que ainda haviam de o dar a José Saramago. Congracei-me vagamente com ele, mais tarde, por causa do seu prefácio a um livro de Al Capp (o criador reaccionário dos comics incomparáveis de Lil'Abner, do Shmoo e de Fearless Fosdick ) e porque, nunca muito querido dos críticos do seu país, a sua defesa da intervenção americana no Vietname o tornara finalmente impopular nos círculos do semi-analfabetismo bem pensante. "Tinha-se tornado- escreve o articulista referido - essa coisa embaraçosa e pouco na moda que é um patriota". Não cheguei, confesso, ao ponto de voltar a tentar pegar nos seus romances. Pode ser que tente outra vez lê-lo, nem que seja só o jornalismo de guerra.
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