Sobre as Imagens
«A aceitação aristotélica das imagens, por um lado, e a sua rejeição platónica e judaica, por outro, correspondem a uma velha oposição entre conhecimento e sentimento, lógica e intuição, mente e coração. Aristóteles inclina-se a colocar as imagens de um lado dessa oposição: fazer imagens corresponde ao desejo que os homens têm de conhecimento. Para Platão, por outro lado, são produtos da nossa auto-complacência, destinados a satisfazer desejos vãos.
A batalha entre estes dois pontos de vista chegou aos nossos dias. Algúns séculos após os Judeus expurgarem as imagens da sua cultura, também os muçulmanos impuseram um ethos semelhante ao seu império. Os imperadores Leão III e Constantino V concertaram esforços para fazer o mesmo na Bisâncio do século VIII, e os puritanos pós-reformistas practicamente deixaram a Inglaterra "limpa" de imagens. Em 1996 os Taliban do Afeganistão, após a tomada de Herat, recolheram todos os aparelhos de televisão da cidade (essas máquinas de fazer imagens), e com elas ergueram, às portas da cidade, gigantescos espantalhos que adornaram com fitas magnéticas de cassetes de video.
Mas não é preciso ir tão longe para encontrar exemplos de iconoclasmo. Qualquer campanha de bairro que protesta a exibição de revisas pornográficas na montra da loja de esquina, evidencía o reconhecimento de que as imagens apelam ao desejo, e tem a capacidade de o "sequestrar".
Enquanto as imagens tiverem esse poder, persistirão também as objecções morais a elas.»
Julien Bell , What is Painting?, Thames and Hudson, Londres 1999
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