Palavras
Com palavras se manda matar e morrer, disse – mais ou menos – o Embaixador Franco Nogueira, memoravelmente, numa memorável intervenção na antiga Assembleia Nacional. Não desprezemos a importância das palavras. Numa entrevista concedida à revista electrónica Frontpage Magazine, pouco tempo antes de ser assassinado no Iraque, o jornalista Steven Vincent trocou impressões com o entrevistador Jamie Glazov sobre esta questão, a propósito da guerra em que é quase impossível deixar de falar. Vincent já tinha escrito e publicado In the Red Zone: a Journey into the Soul of Iraq. Ia regressar àquelas paragens onde passaria o que não sabia que eram os seus últimos meses de vida (foi raptado e crivado de balas em Bassorá, em Maio de 2005: há censura e há censura). Vincent, jornalista independente, tinha sido um decidido apoiante da "libertação" ( palavra que achava mais apropriada do que "invasão") do Iraque e visto que já "não tinha idade" para participar como soldado decidiu alistar-se nela como repórter. Na sua conversa com a revista comentava, em fins de 2004: "As palavras contam. As palavras têm um sentido moral. Sem clareza moral não teremos êxito no Iraque. É por isso que são tão cruciais os termos que os media usam na cobertura deste conflito. Os meios de informação de referência como o New York Times usam com frequência as expressões "insurrectos" ou "guerrilhas" para descrever os pistoleiros do Triângulo Sunita (...) mas quando falam dos grupos de assassinos reaccionários embuçados que operam nos países da América Latina chamam-lhes "esquadrões da morte para-militares". (....) Aqueles que apoiam a intervenção do Iraque são responsáveis em grande parte por permitir que a terminologia – e, por extensão, a narrativa – dos acontecimentos nos ter fugido das mãos, para as mãos do campo anti-guerra. As palavras e as ideias contam. (...) A mais desprezível distorção da terminologia, no entanto, dá-se quando a esquerda chama aos sadamitas e aos jihadistas estrangeiros "a resistência". Que exemplo de inversão moral! Pois o facto é que esses esquadrões da morte para-militares quem atacam é o povo iraquiano. São os que se opõem aos assassinos que são a "resistência". "
Sempre as palavras.
Sempre as palavras.
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