A necessidade da tolerância
Afirmava frequentemente Karl Popper que ninguém sabia o suficiente para se dar ao luxo de ser intolerante. O pensador austríaco vivera num espaço temporal acossado pelo primarismo nacional-socialista e fragilizado pela ambição totalitária do bolchevismo, poderosas formas de discriminação com máquinas amplamente dotadas para matar. Erguera-se a pulso do facciosismo intelectual da juventude para, com o tempo maduro, pairar acima das cegueiras normais das ideologias e reflectir com lucidez não isenta de algumas simpatias sobre a condição humana e a vida social.
Não pode admirar ninguém que este homem, que num acesso de devoção doutrinal de todo compreensível chegara a exercer o mester de carpinteiro, pela sua inteligência aguda e trabalhos intelectuais inovadores fosse guindado, na estima da colectividade pensante, a mestre do saber contemporâneo. Na sua memória sempre esteve essa experiência pessoal que o tornou tão convincente e o levou a defender com persistência a necessidade de compreender as razões diferentes dos outros, de estabelecer limites funcionais para a autoridade, de criar trincheiras para as instituições na sociedade civil. Ele caminhou activamente de uma posição fideista em termos ideológicos para a compreensão do relativismo político das crenças ideológicas, mas sobretudo deu-se conta, num mundo atacado por formas baixas de pensamento que reivindicavam o monopólio da iluminação que era necessário iniciar um processo transparente de refutação permanente para buscar a verdade com humildade. É possível que não pareça heróico este método a quem cultua a brutalidade das letras do heavy metal, o entontecimento programado pelas palavras de ordem, a exibição dos últimos chavões do pronto a pensar contemporâneo, enfim, a quem já deixou, insensivelmente, de se preocupar com o sentido da velha máxima socrática - conhece-te a ti mesmo, porque já se vendeu de alma e coração ao atordoamento como forma superior de vida ou àquela Simpathy for the Devil, celebrada pelos The Rolling Stones, que cria zombies. Popper recentra o homem, chamando ao método todos os que vivem longe de si mesmos, alienados na realidade virtual. E Sócrates andava cheio de razão ao recomendar aquele difícil caminho de interioridade, pois ele é condição prévia para conhecer e compreender os outros. Popper situa-se neste tempo e nesta época especial como uma inteligência fulgurante que incansavelmente apontou à Verdade com a consciência da fragilidade do conhecimento adquirido pelas culturas humanas, e à Tolerância, com a certeza de que ela era um dos vectores decisivos para o homem viver na plenitude da sua condição. A este propósito, deixou-nos tantos escritos que seria fastidioso enumerá-los, mas não posso deixar de convidar todos, docentes e discentes, a apreciarem a sua lucidez numa colectânea que delicia o espírito: Em Busca de um Mundo Melhor. E se conseguíssemos pensar e fazer assim, com certeza teríamos já, na margem de cá do Paraíso, esse mundo tão procurado pelos corações inquietos e sempre tão perdido para lá da névoa ancestral dos nossos ódios, meticulosamente cultivados.
Não pode admirar ninguém que este homem, que num acesso de devoção doutrinal de todo compreensível chegara a exercer o mester de carpinteiro, pela sua inteligência aguda e trabalhos intelectuais inovadores fosse guindado, na estima da colectividade pensante, a mestre do saber contemporâneo. Na sua memória sempre esteve essa experiência pessoal que o tornou tão convincente e o levou a defender com persistência a necessidade de compreender as razões diferentes dos outros, de estabelecer limites funcionais para a autoridade, de criar trincheiras para as instituições na sociedade civil. Ele caminhou activamente de uma posição fideista em termos ideológicos para a compreensão do relativismo político das crenças ideológicas, mas sobretudo deu-se conta, num mundo atacado por formas baixas de pensamento que reivindicavam o monopólio da iluminação que era necessário iniciar um processo transparente de refutação permanente para buscar a verdade com humildade. É possível que não pareça heróico este método a quem cultua a brutalidade das letras do heavy metal, o entontecimento programado pelas palavras de ordem, a exibição dos últimos chavões do pronto a pensar contemporâneo, enfim, a quem já deixou, insensivelmente, de se preocupar com o sentido da velha máxima socrática - conhece-te a ti mesmo, porque já se vendeu de alma e coração ao atordoamento como forma superior de vida ou àquela Simpathy for the Devil, celebrada pelos The Rolling Stones, que cria zombies. Popper recentra o homem, chamando ao método todos os que vivem longe de si mesmos, alienados na realidade virtual. E Sócrates andava cheio de razão ao recomendar aquele difícil caminho de interioridade, pois ele é condição prévia para conhecer e compreender os outros. Popper situa-se neste tempo e nesta época especial como uma inteligência fulgurante que incansavelmente apontou à Verdade com a consciência da fragilidade do conhecimento adquirido pelas culturas humanas, e à Tolerância, com a certeza de que ela era um dos vectores decisivos para o homem viver na plenitude da sua condição. A este propósito, deixou-nos tantos escritos que seria fastidioso enumerá-los, mas não posso deixar de convidar todos, docentes e discentes, a apreciarem a sua lucidez numa colectânea que delicia o espírito: Em Busca de um Mundo Melhor. E se conseguíssemos pensar e fazer assim, com certeza teríamos já, na margem de cá do Paraíso, esse mundo tão procurado pelos corações inquietos e sempre tão perdido para lá da névoa ancestral dos nossos ódios, meticulosamente cultivados.
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