GRANDES PORTUGUESES - 3: A MINHA VIAGEM NOS "G.P." - DOIS OBJECTIVOS
Bem, isto – "OS GP" – foi um concurso e nada mais que um concurso. Convidaram-me para defender Salazar e eu aceitei.
Aceitei não por saudosismo, não por devoção histórica, nem sequer por qualquer sentimento de anti-esquerdismo.
Aceitei porque pensei ser um interessante ponto de partida para, à volta deste tema, conseguir dois objectivos:
Dar o outro lado de 50 anos de História de Portugal 1926-1974, que, embora a nível académico já vão tendo tratamento sério (é curiosa, entretanto, a atitude de alguns académicos de esquerda – v.g. Fernando Rosas, Costa Pinto, etc), que nos seus trabalho e estudos universitários têm uma certa distância e isenção sobre o período, mas, nestes casos, ficam iguais aos "antifascistas" primários.
Explicar que Salazar foi mais que a "Restauração das Finanças e a PIDE". E que pensou o Estado, em Portugal, que pensou e articulou um processo de consolidação de uma maioria nacional. E também para atacar o mal mais grave da direita portuguesa: que o facto de Salazar ter defendido – de modo autoritário e não democrático certos valores – religiosos, nacionais, sociais, económicos, como Deus, a Pátria, a Família, a Propriedade – não exclui nem deve excluir esses valores, sobretudo a Nação, da agenda política.
Foi esse o meu objectivo, traduzido num documentário, que já vi atacado em abstracto, ou com chalaças sardónicas – o estilo de uma certa "esquerda" (não toda...), quando quer ter graça.
Não vi ainda argumentos no sentido de dizer – este facto está errado, esta interpretação vai contra os factos...
N.B. A propósito: na questão dos refugiados em Portugal na Segunda Guerra Mundial, falei num "milhão", no meu programa. Foi, quero aqui dizê-lo um lapso que derivou da "leitura", por mim, na locução final do programa. O meu guião tinha inicialmente mais de meio milhão.
Posteriormente procurei aprofundar a questão; outro dia na final, voltei a referir um milhão. O número tinha algum sentido, pois em 1940-41, havia registados oficialmente na área de Lisboa, 400.000.
E é natural que houvesse mais noutras localidades e que houvesse alguns por registar. Mas, sendo um detalhe, quero deixar aqui os 600.000 que me parecem mais próximos da verdade.
Aceitei não por saudosismo, não por devoção histórica, nem sequer por qualquer sentimento de anti-esquerdismo.
Aceitei porque pensei ser um interessante ponto de partida para, à volta deste tema, conseguir dois objectivos:
Dar o outro lado de 50 anos de História de Portugal 1926-1974, que, embora a nível académico já vão tendo tratamento sério (é curiosa, entretanto, a atitude de alguns académicos de esquerda – v.g. Fernando Rosas, Costa Pinto, etc), que nos seus trabalho e estudos universitários têm uma certa distância e isenção sobre o período, mas, nestes casos, ficam iguais aos "antifascistas" primários.
Explicar que Salazar foi mais que a "Restauração das Finanças e a PIDE". E que pensou o Estado, em Portugal, que pensou e articulou um processo de consolidação de uma maioria nacional. E também para atacar o mal mais grave da direita portuguesa: que o facto de Salazar ter defendido – de modo autoritário e não democrático certos valores – religiosos, nacionais, sociais, económicos, como Deus, a Pátria, a Família, a Propriedade – não exclui nem deve excluir esses valores, sobretudo a Nação, da agenda política.
Foi esse o meu objectivo, traduzido num documentário, que já vi atacado em abstracto, ou com chalaças sardónicas – o estilo de uma certa "esquerda" (não toda...), quando quer ter graça.
Não vi ainda argumentos no sentido de dizer – este facto está errado, esta interpretação vai contra os factos...
N.B. A propósito: na questão dos refugiados em Portugal na Segunda Guerra Mundial, falei num "milhão", no meu programa. Foi, quero aqui dizê-lo um lapso que derivou da "leitura", por mim, na locução final do programa. O meu guião tinha inicialmente mais de meio milhão.
Posteriormente procurei aprofundar a questão; outro dia na final, voltei a referir um milhão. O número tinha algum sentido, pois em 1940-41, havia registados oficialmente na área de Lisboa, 400.000.
E é natural que houvesse mais noutras localidades e que houvesse alguns por registar. Mas, sendo um detalhe, quero deixar aqui os 600.000 que me parecem mais próximos da verdade.
4 Comentários:
Silêncio
Jaime:
Quero aproveitar para saudar a tua intervenção oportuna, depois de aceitar uma causa que muito poucos poderiam defender com a competência e o equilíbrio com que a defendeste. Foste eficaz, em nome da verdade histórica, que nesta época ainda é, e cada vez mais, revolucionária. Como se vê. Se a tua defesa foi realizada segundo a “arte do possível” parece-me que o Destino se sentiu desafiado e usou os homens, as circunstâncias e a Televisão, para fazer acontecer o impossível.
É admissível tentar compreender com alguma tolerância e explicar aos mais surpreendidos as reacções dos "intelectuais d'esquêrda" subitamente transfigurados em "aparatchiques" zelotas, "antifascistas primários", militantes básicos naturalmente inimigos do contraditório, numa espécie de metamorfose regressiva. Não sei é se vale a pena.
Também alguns 'progressistas independentes', mais moderados, reagiram de forma não menos 'rigorosa' perante as consequências dramáticas da "má" votação, inesperadamente contrária aos dados do seu relativo conhecimento. Se a manipulação ideológica e o reduccionismo metodológico que medram pela Universidade não fossem irmãos da mediocridade, da ignorância e do oportunismo que dominam o Portugal contemporâneo, poderíamos estranhar. Verem assim triunfar esmagadoramente pelo voto livre, inteiramente voluntário, aquele que tornaram o símbolo do 'Mal Absoluto Político' no Século XX português - há décadas permanentemente denunciado, condenado e moralmente 'executado', não só pela 'classe política - da direita neoliberal à extrema esquerda - como pela 'inteligência' e pela Comunicação social, num até agora "indiscutível" consenso alargado sobre o “obvio”, é mesmo demais !... Então a "Verdade do Mundo" não alimentou sempre essas cabeças?
De reter, pelo espectáculo que foi, a repulsiva insolência com que a megera estalinista invocou a Constituição e brandiu pateticamente um látego imaginário de ameaças, pragas e proibições. Esse «take» -que ficará para a (pequena) História - foi o necessário fogo de artifício que, digamos, “alindou” o desfecho...De um “Concurso e nada mais que um concurso”? Não creio.
«Magnânimo», foi o teu gesto de desdramatização. Mas Vicente Jorge Silva, que bem qualificou o gesto no DN de ontem, aí continuou agarrado ao “Nacionalismo ruralista e reaccionário”de Salazar, apesar do teu esforço pedagógico ao estabelecer, logo desde o início, os parâmetros da Grande Política e de um serviço coerente da Razão de Estado na Política externa de Salazar. Podias até recomendar como «texto de apoio» aquele livrinho “Portugal sem Salazar”(*), escrito por Mário Mesquita, para explicar à esquerda que, ao contrário: “provinciano manhoso” era precisamente o que Salazar não era...
A verdade é que as consequências do «simples concurso» ultrapassaram de longe os objectivos pedagógicos que fixaste - e que cumpriste perfeitamente, na minha opinião. Todavia, hoje não é impunemente que se suscita um ‘duelo eleitoral’ entre Cunhal e Salazar e a ‘polarização’ do “voto militante” era inevitável. Os tempos são outros. Houve até quem considerasse a presença de Cunhal um insulto para a memória dos grandes portugueses, como consagrado funcionário comunista do Komintern e agente objectivo que foi do aparelho e dos interesses soviéticos, em Portugal e na esfera internacional, segundo arquivos abertos em Moscovo. Talvez nos “Grandes Comunistas” a sua vitória fosse pacífica. Entre os portugueses nunca. Aceitei e defendi essa fronteira como uma homenagem histórica ao último grande Chanceler de Portugal. Razões pessoais e interiores que aliás, suponho que não serão muito diferentes das tuas.
Por outro lado, creio que o saudosismo não relevou para a maioria – Foi um acto consciente de dissidência. Não uma manifestação voluntarista de ‘acção’. Por falar nisso, nem sequer estou na ‘acção política’.
No blog do ‘Futuro Presente’ devo ainda referir o zeitgeist – o “espírito do tempo” – que naturalmente te condicionou; ele é pouco compatível com uma revisão histórica isenta e ‘objectiva’ de um passado ainda tão recente. Mas foste realista. As supostas “concessões” que terias feito não as considero concessões – são descrições aceitáveis do sistema repressivo de um regime não democrático, como muito bem disseste. Acontece que muitos ‘salazaristas’ não assumem a existência dessa ‘natureza má», não democrática, do Regime, o “Lado Negro da Força”, tão difícil de controlar. Talvez tenha sido por isso que muitos não fossem mesmo antidemocráticos o bastante para perceber a lógica do Poder em regime autoritário... Equívocos perigosos. Há até quem queira fazer um “salazarismo democrático”. Paciência. As coisas são o que são e esse é ‘outro concurso’.
Entretanto, “et pour cause”, a Assembleia da República prepara-se para convocar a Direcção da RTP... No mínimo vai ser acusada de “crimideia”. Por isso, creio que vale a pena fazer a análise política do ‘Dia Seguinte’. Se te recordas ainda de uma conferência-debate em 1989, na Biblioteca Nacional, «Salazar - Memória e Revisão», que ainda à entrada já qualificavas como momento relevante da reabilitação histórica e da reposição da verdade sobre Salazar, atrevo-me a crer que não se justifica, sem outros motivos, ser tão ‘discreto’ sobre as consequências deste «simples concurso»...
VL
(*) MESQUITA, Mário - Portugal sem Salazar. Lisboa: Assírio & Alvim, 1973.
Caro Víctor Luís,como sabes bem,sou a última pessoa da terra a ficar eufórico com sucessos,como também me perturbam pouco as calamidades.E neste caso particular,fiz as coisas sòzinho,ou melhor com uma excelente equipa de profissionais,desde o Manuel Amaral no texto e pesquisa ao Bruno Gonçalves ,realizador ,que não são propriamente "salazaristas".Isto pra concluir que estou muito bem como estou,e que a "exploração do sucesso"por alguns "fascistóides"-os fascistas,os verdadeiros,eram outra
coisa-incomoda-me tanto como esta algarviada dos "antifascistas"incomodados.Quando quizeres ,depois da Páscoa,vamos tomar um café efalar destas coisas.Até porque continuo lentíssimo a escrever no teclado para ter debates na blogosfera.Abc.Jaime.
Jaime: não poderias estar melhor. Eu devia ter acentuado que uma análise política do «Dia seguinte» só se justifica se feita com realismo e independência efectivas perante a 'euforia' ou o 'choque' das facções. Foi apenas uma sugestão séria, apesar do risco de parecer 'ser juíz em causa própria'. Mas não é o que fazem quase todos? O que se vê na Comunicação Social é sempre mais ou menos parcial, mais ou menos ignorante. No fundo, acredito que o 'verdadeiro pluralista' está em ti - como só um pluralista o sabe reconhecer...
Creio ser uma referência de Civilização defender a verdade histórica, e aqui esse é o único 'sucesso' que me importa. Ela apenas se pode transformar numa 'questão política fracturante' quando o erro, a mentira e a manipulação dominam as consciências através da sua eficiente e persistente interacção desfiguradora. Passou demasiado tempo sem que ninguém deitasse areia nessa engrenagem.
Tenho muito gosto em aceitar o teu estimulante convite.
VL
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