terça-feira, outubro 16, 2007

MENEZES, O PSD E O POPULISMO

A eleição do Dr. Luís Filipe Menezes foi apresentada como um triunfo do "populismo", sendo este uma espécie de insulto ou anátema óbvio – com um "populista" os notáveis partem, e o PSD fica no mato.

A maioria das criaturas que falam disto não sabem o que é "populismo". Nas salas, o "populismo" é visto como uma coisa de gente pouco fina, de baixa condição. Raciocínio mais sofisticado, veio de alguém dado a sínteses que adiantou que "isto" (no PSD) era uma luta entre tótós (os barões) e gabirús (os populistas).

No meio da confusão, houve a definição sibilina do Eng. Ângelo Correia: "Populismo é tomar banho no Tejo e disfarçar-se de taxista".
Não sei para onde vai o PSD com Menezes mas com o Dr. Marques Mendes – aliás varão probo e excelente – e o seu discurso asséptico e rigorosamente ao centro, não ia a lado nenhum.

O que é populista? Os populistas russos do século XIX, os narodniki, não se disfarçavam de taxistas nem nadavam, mas pregavam a imensa bondade e sabedoria do povo, (narod), com quem os intelectuais e as elites deviam aprender. Os populistas americanos da era da "Reconstrução" apoiavam-se nos agricultores, desconfiavam dos barões do capitalismo e nadavam, mas nas teorias da conspiração... Um livro, Seven Financial Conspiracies Which Have Enslaved the American People, marca o espírito do tempo. Como panfletos contra os Rotschild - banqueiros, judeus e europeus. E na França, da mesma época, o populismo aparece com Déroulède e com Drumont, exalta o povo ("Les petits gens") e grita "à bas les voleurs", contra os políticos e os financeiros do beau monde da belle époque.
O fascismo – mas sobretudo o nacional-socialismo – têm um lado populista, na exaltação dessa entidade mítica, intrinsecamente boa, saída das florestas de Armínio para os Volkswagen e os paquetes da Alegria no Trabalho – o "povo alemão".

Le Pen, Berlusconi, Chavez são populistas. O populismo sul-americano apesar de Peron, foi sempre mais "à esquerda"; o europeu, desde Poujade, aos movimentos de "terceira via" do tipo gémeos polacos, mais "à direita".

Por cá, o "franquismo" e o "sidonismo" tiveram laivos populistas. Salazar, cerebral, ordeiro, conservador, com o seu azar à multidão e à retórica, não foi por aí. A ANP ensaiou um populismo "nacional" e muitas das suas bases fundaram o PSD, pela província. E em 1975 o que parou o PREC foi um movimento populista – caudilhos locais que, com muitos Padres-nossos e Avé-marias, se foram às sedes do PCP e as queimaram!

O povo não vale mais nem menos que as elites, mas tem mais gente que elas. O que conta em democracia. O PS, com as suas políticas financeiras "esclarecidas" garantiu o apoio das elites financeiras. Que aliás estão com os governos, sejam eles quais forem. Nem podem fazer outra coisa. Nem os governos.

Assim, se se livrar de más companhias, moderar regionalismos e europeísmos e for "popular" só e quanto baste, Menezes pode vir animar as coisas.

Jaime Nogueira Pinto

Publicado no Expresso a 13 de Outubro de 2007

3 Comentários:

Blogger Diogo disse...

A corrida dos Republicanos à Casa Branca passa por um namoro descarado ao National Rifle Association (NRA), um dos lobbies políticos mais poderosos de Washington. A NRA é uma organização conservadora que defende o direito dos americanos usarem armas sem restrições.

Mas alguns senadores meteram o pé na argola. Jon Stewart tem os hilariantes pormenores:

Vídeo – 4:37m (legendado em português)

terça-feira, outubro 16, 2007 7:14:00 da tarde  
Blogger Ze do Telhado disse...

Hoje chamar populista a alguém é quase moda. Então se se fugir ao politicamente correcto , não há hioótese.
Não creio que esse seja o caso de Menezes. É mais uma cara, mais um só.
Duvido que esse sr. faça a diferença. Portugal não terá muita história enquanto pertencer a estes jogos. Sem ideologias definidas, sem respeito pelo país, não pode haver democracia.
Julgo poder concluir que Menezes será mais um demagogo. Mas não é o único. Infeliz se fosse. Assim ao menos não corre o perigo de se destacar e ser imediatamente apelidado de ditador.

Cumprimentos a todos, em especial ao Dr. Jaime Nogueira Pinto, que embora só o conheça da televisão e dos livros, admiro bastante.

Bom trabalho

terça-feira, outubro 16, 2007 9:54:00 da tarde  
Blogger Diogo disse...

Simon Wiesenthal – onze milhões de mortos no Holocausto

Portanto onde é que Wiesenthal foi buscar o número onze milhões, incluindo cinco milhões de não-judeus?

Numa conversa privada, Bauer colocou-lhe essa questão. E Wiesenthal contou a Bauer onde fora buscar esse número. Wiesenthal contou-lhe que o tinha inventado. É verdade, ele tinha-o fabricado! E porque o tinha ele inventado? Wiesenthal inventou-o, escreveu Bauer em 1989, "para fazer com que os não-judeus se sentissem como se fizessem parte de nós." Wiesenthal já tinha manifestado a um repórter do Washington Post em 1979, quando lhe disse que "Desde 1948 eu procurei com outros líderes judeus não falar dos aproximadamente seis milhões de judeus mortos, mas antes de onze milhões de civis mortos, incluindo seis milhões de judeus."

http://citadino.blogspot.com/2007/10/simon-wiesenthal-onze-milhes-de-mortos.html

quinta-feira, outubro 18, 2007 10:25:00 da tarde  

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