sábado, fevereiro 23, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - SEGUNDO INTERVALO:"A VIDA É UM JOGO"

Há cinquenta anos que Paul Newman faz parte da minha vida no cinema. Lembro-me perfeitamente do primeiro filme que vi com ele. Foi O Cálice de Prata (The Silver Chalice, Victor Saville, 1954). Fui vê-lo ao "Atlântico", um cinema ao ar livre, com cadeiras de verga, que existia no Cascais das minhas férias de Verão. Das traseiras de uma das casas em que passei esses verões antiquíssimos, na Rua Direita, via-se um bocado do écran. Esse filme foi também o primeiro em que ele entrou. Passava-se na antiga Roma e o Paul Newman ficava um bocadinho ridículo com o seu saiote romano. Newman pertence a um grupo de intérpretes que se costuma designar, com mais ou menos exactidão, como "Method actors", actores que passaram pela escola de interpretação fundada em Nova Iorque por Cheryl Crawford, Elia Kazan e Robert Lewis no fim dos anos 40 e dirigida desde 1951 por Lee Strasberg que se manteve no seu posto até morrer, em 1982. Era um "expressionismo" interpretativo que não servia para tudo e se ajustou sobretudo a uma dramaturgia e a um tipo de papéis que hoje resultam muitas vezes datados. No princípio da sua carreira Newman foi muitas vezes comparado ao grande expoente dessa escola de interpretação que foi Marlon Brando: chamaram-lhe o "novo Brando". Mas a sua persona teve sempre um elemento fundamental de "decência" que o separou do resto do grupo - e lhe permitiu, também, outros voos interpretativos. Dos tempos de Madrid, muito depois desses longínquos tempos do velho Cascais - outro século, uma vida - o Paul Newman de que me lembro mais vivamente é o de O Veredicto, uma das suas grandes interpretações. A carreira de Newman (que nasceu em 1925) é longuíssima - ainda não acabou - e vastíssima. Nem a noite toda chegava para a percorrer sumariamente. A Vida é um Jogo (The Hustler, Robert Rossen, 1961) é um dos seus marcos importantes - embora não seja ele o que há de mais importante num filme que é certamente o melhor do seu realizador, tem como director de fotografia o grande Eugene Shuftan e é a revelação de George C. Scott, tem como montadora Dede Allen e como quase figurante o boxeur Jake La Motta, o Raging Bull de Scorsese - o mesmo Scorsese que filmaria os "25 anos depois" do protagonista de The Hustler, o "Fast" Eddie Felson que voltou àss salas de bilhar em A Cor do Dinheiro (The Color of Money, 1986). A vida é breve e a arte longa. Para já, ficamos por aqui.

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