SALAZAR EN GRANDE E PEQUENO - 4: AS ÉPOCAS DE SALAZAR (II)
Continuação do ensaio de Nuno Rogeiro:
"Entre 1945 e 1961, os desafios são outros: a modernização económica, social e política, a modernização do estado e das suas estruturas, a modernização “ideológica”, a re-centragem do regime. Tudo isto, face às realidades do triunfo das democracias, da debilidade espanhola, da guerra fria, e também a consideração de um movimento contestatário interno mais organizado, e liberto do bode expiatório comunista, culminando na campanha de Humberto Delgado.
Pode perguntar-se, objectivamente, porque é que Salazar não protagonizou ele próprio a “abertura”, antecipando a Primavera Marcellista, porque é que não renovou em profundidade o pessoal dirigente, porque é que não usou o tema da neutralidade face à guerra, e da distância dos totalitarismos, para encontrar novos adeptos e uma nova lógica.
Para os que acham que isto teria sido possível, porque havia paz (e logo capacidade de manobra), as coisas tornaram-se especialmente delicadas, entre 1961 a 1968.
Tratou-se, neste período do ocaso salazarista, de manter uma política ultramarina entre a guerra e o desenvolvimento, entre a emergência e a continuidade, manobrando face a aliados reticentes, e inimigos numerosos.
O potencial para novas ideias existia, porém. Repare-se que, num discurso de 12 de Agosto de 1963, Salazar, então já com 75 anos, nega a necessidade de “dualidade territorial” entre metrópole e ultramar (sugerindo, em abstracto, a possibilidade uma capital em África), explica a necessidade de uma “igualdade jurídica de todas as etnias”, e “o multiracialismo nas leis e na vida”.
A influência de novas gerações, algumas vindas de áreas da oposição (os casos de Franco Nogueira e Adriano Moreira são os mais conhecidos), fazia-se sentir, e até um autor crítico, o politicólogo americano Paul Lewis, reconhecia uma evolução do regime no sentido da “tecnocracia” (3).
Mas era então demasiado tarde. Não para o regime, que continuou, mudado, sob Marcello Caetano, mas para o próprio Salazar, que acabava, politicamente, e que, dois anos depois, morria físicamente, ao mesmo tempo que Almada Negreiros. O mesmo Almada que dissera, um dia:
as pessoas que eu admiro são aquelas que nunca acabam."
"Entre 1945 e 1961, os desafios são outros: a modernização económica, social e política, a modernização do estado e das suas estruturas, a modernização “ideológica”, a re-centragem do regime. Tudo isto, face às realidades do triunfo das democracias, da debilidade espanhola, da guerra fria, e também a consideração de um movimento contestatário interno mais organizado, e liberto do bode expiatório comunista, culminando na campanha de Humberto Delgado.
Pode perguntar-se, objectivamente, porque é que Salazar não protagonizou ele próprio a “abertura”, antecipando a Primavera Marcellista, porque é que não renovou em profundidade o pessoal dirigente, porque é que não usou o tema da neutralidade face à guerra, e da distância dos totalitarismos, para encontrar novos adeptos e uma nova lógica.
Para os que acham que isto teria sido possível, porque havia paz (e logo capacidade de manobra), as coisas tornaram-se especialmente delicadas, entre 1961 a 1968.
Tratou-se, neste período do ocaso salazarista, de manter uma política ultramarina entre a guerra e o desenvolvimento, entre a emergência e a continuidade, manobrando face a aliados reticentes, e inimigos numerosos.
O potencial para novas ideias existia, porém. Repare-se que, num discurso de 12 de Agosto de 1963, Salazar, então já com 75 anos, nega a necessidade de “dualidade territorial” entre metrópole e ultramar (sugerindo, em abstracto, a possibilidade uma capital em África), explica a necessidade de uma “igualdade jurídica de todas as etnias”, e “o multiracialismo nas leis e na vida”.
A influência de novas gerações, algumas vindas de áreas da oposição (os casos de Franco Nogueira e Adriano Moreira são os mais conhecidos), fazia-se sentir, e até um autor crítico, o politicólogo americano Paul Lewis, reconhecia uma evolução do regime no sentido da “tecnocracia” (3).
Mas era então demasiado tarde. Não para o regime, que continuou, mudado, sob Marcello Caetano, mas para o próprio Salazar, que acabava, politicamente, e que, dois anos depois, morria físicamente, ao mesmo tempo que Almada Negreiros. O mesmo Almada que dissera, um dia:
as pessoas que eu admiro são aquelas que nunca acabam."
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