A qualidade do ensino ou a qualidade da aprendizagem?
É hoje comum no discurso oficial falar-se muito na qualidade de ensino. Trata-se de um tema que interessa aos políticos e ao Ministério da Educação porque ele é muito relevante para os estudantes. Pode-se dizer até que à custa da qualidade de ensino se tem insinuado a falta de qualidade dos professores, a falta de qualidade das instalações e equipamentos e com estes ingredientes justificar o insucesso escolar. O atraso dos portugueses em Matemática, Física, Química, estaria explicado, a gosto de todos. A culpa caberia aos professores e às instalações deficientes. Com este simplismo se tem trabalhado na compreensão das dificuldades dos estudantes e na sua explicação lógica. Ora é impossível vir a compreender o fenómeno do insucesso com estes dados. Torna-se necessário visitar algumas cidades universitárias, ver os campus, falar com os professores e sobretudo, à noite,passar pelas boîtes e pelos bares e ainda permanecer nestes equipamentos sociais das cidades com universidades até às 4 horas da manhã. Tomemos por exemplo a Universidade do Algarve de que tenho um conhecimento razoável. O campus de Gambelas é excelente, os professores foram sendo recrutados segundo critérios de qualidade e todo o ambiente convida ao estudo e ao trabalho. A sua biblioteca é moderna e o contacto com os instrumentos de trabalho muito facilitado. Que verificamos? Taxas incompreensíveis de insucesso! Serão então os professores masoquistas ou maníacos? Reprovarão por gostarem de fazer sofrer o jovem aluno? Há outra explicação. Faro está cheia de boîtes e bares para os estudantes. A quinta-feira à noite é o dia da farra a sério. Vi as casas de diversão nocturna cheias de estudantes e não a beber água. A cultura estudantil implica hoje uma grande dose de resistência ao álcool e ao sono. Sexta feira de manhã as salas da Universidade estão quase vazias porque os estudantes fizeram noitada e à sexta dormem ou querem regressar às suas terras de origem. Se comparecessem às 8 horas da manhã teriam aulas normais e exigentes, ministradas como está no horário afixado. Mas não é só na quinta que a noite regurgita de alunos e alunas vindos dos quatro cantos do país. São todas as noites. O berreiro daquilo que se toma por música, arruina qualquer ouvido; a dança, ajudada por drogas leves, faz os seus destroços. Uma parte considerável dos estudantes aplica-se vigorosamente a estupidificar-se. Conclui-se facilmente que os estudantes não colocam a aprendizagem em primeiro lugar. Colocam o divertimento e elementos de uma cultura académica que instiga à secundarização da aprendizagem em primeiro lugar. Estas boîtes e bares e outros centros de divertimento nocturno não existiriam na cidade se não existisse a Universidade. O seu público são os universitários. E isto é um facto.
A cultura da convivência
O segundo problema traduz-se naquilo a que eu chamo a cultura da convivência juvenil. Ela derivou para áreas que nada têm a ver com o ensino sério e a aprendizagem. Foi por água abaixo e não passa de uma caricatura de um modelo inexistente e inatingível que no seu limite é o ignorante sábio, o "copo" divertido, o garanhão de serviço, mais o velho "pateta alegre".Tomemos a Universidade de Évora. Passa-se o mesmo. A cidade tem os seus encantos e todos os estudantes sabem onde devem ir. Se se analisarem nesta óptica outras Universidades, mesmo as mais interiores como a UBI, a Universidade de Trás os Montes, a Universidade de Aveiro, e as respectivas cidades, chegar-se-á à mesma conclusão. O problema não parece assentar na falta de qualidade da universidade, mas na falta de interesse em aprender na Universidade. Se no universitário é assim, no secundário vai-se pelo mesmo caminho. O que se passa nas cidades universitárias é bem conhecido. Mas prefere-se ignorar o rumo que está a tomar a vida do universitário. É preferível falar da falta de qualidade do ensino. Mas em Portugal é sabido que nunca se vai ao fundo das questões. Uma cultura superficial que suporta uma explicação superficial é mais do que suficiente. Provavelmente os responsáveis políticos, no seu tempo, aprenderam o pouco que sabem do mesmo modo: a frequentar boîtes e a beber copos até às 5 da manhã. Compreende-se, assim, que gostem de falar da falta de qualidade da Universidade e que a submetam ao escrutínio de ignorantes iguais a eles.
A cultura da convivência
O segundo problema traduz-se naquilo a que eu chamo a cultura da convivência juvenil. Ela derivou para áreas que nada têm a ver com o ensino sério e a aprendizagem. Foi por água abaixo e não passa de uma caricatura de um modelo inexistente e inatingível que no seu limite é o ignorante sábio, o "copo" divertido, o garanhão de serviço, mais o velho "pateta alegre".Tomemos a Universidade de Évora. Passa-se o mesmo. A cidade tem os seus encantos e todos os estudantes sabem onde devem ir. Se se analisarem nesta óptica outras Universidades, mesmo as mais interiores como a UBI, a Universidade de Trás os Montes, a Universidade de Aveiro, e as respectivas cidades, chegar-se-á à mesma conclusão. O problema não parece assentar na falta de qualidade da universidade, mas na falta de interesse em aprender na Universidade. Se no universitário é assim, no secundário vai-se pelo mesmo caminho. O que se passa nas cidades universitárias é bem conhecido. Mas prefere-se ignorar o rumo que está a tomar a vida do universitário. É preferível falar da falta de qualidade do ensino. Mas em Portugal é sabido que nunca se vai ao fundo das questões. Uma cultura superficial que suporta uma explicação superficial é mais do que suficiente. Provavelmente os responsáveis políticos, no seu tempo, aprenderam o pouco que sabem do mesmo modo: a frequentar boîtes e a beber copos até às 5 da manhã. Compreende-se, assim, que gostem de falar da falta de qualidade da Universidade e que a submetam ao escrutínio de ignorantes iguais a eles.
1 Comentários:
Caro António, há umas duas décadas atrás, um estudante do secundário (ou ainda antes)sabia o que queria e estava verdadeiramente disposto a trabalhar para alcança-lo. As famílias não tinham os meios que têm hoje, os preceitos morais e o respeito pelo trabalho dos pais era a regra. Desde muito novos, os jovens eram educados para esse respeito e para uma conduta adequada.
Bem vê que hoje tudo se adulterou...! Os pais trabalham e proporcionam cada vez mais (e mais cedo) aos filhos. Estes tornam-se levianos, mal-agradecidos, negligentes e quantas vezes insolentes.
Não estou aqui a abordar as causas desta deriva, que passam desde a permissividade dos pais, até à desautorização da Escola, passando pelos ricos exemplos dados pelo próprio Estado. O que quero sublinhar, é que, por tudo isto, enquanto as antigas gerações de estudantes, que entre o trabalho, o sacrifício e uma cultura de excelência, encontravam tempo para a borga, as actuais gerações (com tendência para agravamento), por entre a borga, o sexo e um materialismo imediatista e irracional, já não encontram tempo para estudar.
Logo, a culpa não estará de facto no ensino, mas pergunto-me se estará nestas mentes desorientadas e cheias de si próprias... Não são só as crianças que se educam, e os actos continuados moldam os impulsos naturais em qualquer idade.
Creio, pois, que é já tempo de refrear o afã libertário com que, no pós revolução, se fez questão de reagir contra valores antigos estruturantes de uma nação saudável, a disciplina, o trabalho, o respeito, a excelência. Essa obra deverá começar em casa, mas contando com um Estado que reveja o seu conceito de orientação social no âmbito de um plano educativo.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial