Nostalgias 27: "Guerra d´'Espanha", ou antes do "desencanto do mundo".
E porque os ânimos estão agressivos, no terreno deste"país" estranho e estrangeiro que é o "passado", e para nós, aborrecidos, irritados ou resignados ao "desencanto do mundo" e à morte da política, sugiro estas "memórias" da última guerra romântica e de dois dos seus heróis em bandos opostos - José António e Durruti.
8 Comentários:
Romântica? As vítimas civis talvez não achassem, nem acham as suas famílias nem os sobreviventes. Talvez pudéssemos banir essa ideia de guerra romântica, ou então recordar que o qualificativo «romântico» tem, desde as suas origens, também uma conotação satânica.
Cumprimentos!
Melhor que os videos, a fórmula do diagnóstico do tempo d'hoje que os justifica.
Hmmm, curiosamente parece-me que o Jansenista (por uma vez) tem razão. E o anúncio da «morte da política» parece-me muito exagerado, como diria o Mark Twain (como diabo é que pode morrer a polis sem morrer a humanidade?). O que pode estar a morrer não me parece que seja a política: é o paradigma da guerra que sempre a acompanhou desde os tempos mais remotos. Daí talvez esse «desencanto do mundo» -- bem compreensível quando se relê a Ilíada ou a Canção dos Nibelungos, com todos os seus encantamentos -- e as continências um tanto exageradas a todos os azimutes pretéritos. Mas o desencanto pode ser o primeiro passo para a libertação e um ainda maior respeito pela verdade do passado, não lhe parece?
Esta guerra foi romântica porque os homens que as fizeram foram guiados por um ideal de sociedade que consideravam superior à sua individualidade e pelo qual deram a vida. Os factos não podem ser banidos, agora claro, as consequências de qualquer guerra, seja ela romântica ou não, são sempre nefastas.
A guerra foi, é e será sempre um instrumento da política. Agora a Guerra do Peloponeso não foi igual à dos 30 anos nem esta à 1ª Guerra Mundial ou esta última à Guerra do Golfo. o paradigma de guerra muda com a evolução das sociedades e da técnica que lhe está intimamente ligada.
Quanto ao desencantamento do mundo. Talvez se possa aqui aplicar a distrinção entre Política como Governo (dominante nas nossas sociedades) e Política enquanto Organização ou Constituição do Poder que as pessoas detêm enquanto elementos que falam em agem em conjunto (obrigado Hannah Arendt). Onde é que está hoje a acção na esfera pública para além do governo e da relação governantes governados?
Quanto à verdade do passado...quem a detém?
Perguntou Pedro Proença: «Quanto à verdade do passado...quem a detém?»
Achei curioso que o autor desta entrada ilustrasse a «morte da política» com duas alusões a bandos em guerra, numa veia nostálgica, como se essa política é que tivesse sido a boa. Daí o meu comentário: por «verdade do passado» queria eu designar os impulsos instintivos que determinam, na esfera social, a Guerra organizada, e que devem ceder o passo a outras considerações de ordem racional e superior, se quisermos talvez chegar colectivamente a algum lado (não faço ideia aonde nem para quê: não sou bruxo, falo apenas do que me parece imediato ou não excessivamente afastado).
Claro que, por exemplo, o poema «Noites Prussianas» de Soljenitsine, onde ele relata o mortícinio e (na primeira pessoa, perante a púdica incredulidade do imbecil tradutor Robert Conquest) o seu próprio estupro de mulheres do inimigo derrotado, tem ainda um formato e um tom épico, como o da Ilíada. E frente a semelhantes alegrias primordias todas as construcções «politológicas», neo- ou paleo-maquiavélicas se esboroam como castelos de cartas, e a imagem da guerra romântica, essa então cede mesmo o passo a coisas muito mais fortes e verdadeiras. O poema data do imediato pós-guerra, mas por quanto tempo mais poderemos continuar a conciliar a verdade do passado com a verdade do futuro?
Caro Botelho,
quanto a noites, para além da mencionada, temos entre as mais conhecidas as de São Batolomeu, a das Facas Longas e a De Cristal. Portanto...a noite nunca foi boa conselheira.
Depois, em nome da racionalidade já se cometeram os mais hediondos crimes (nem vou voltar a falar disso..), parece que nem sempre foi a melhor conselheira.
Quando fala de impulsos instintivos, fala de impulsos humanos, pelo que, para acabar com eles teria que acabar com o homem. Não será por acaso que em 2006 ainda há guerras.
cito alguém que de guerra sabe, porque a viveu: " Cada pessoa é um afluente da longa memória do mundo. Insubstituível como experiência e como testemunho. E ao mesmo tempo sinal da singular comunhão que a todos integra, para além do sofrimento e do ruído dos combates que tantas vezes nos dilaceram, na alegria e na tragédia da muito frágil condição humana"
Esta é a minha verdade
PP: «Quando fala de impulsos instintivos, fala de impulsos humanos, pelo que, para acabar com eles teria que acabar com o homem».
Pois. Uma proposição temível, daquelas que dão origem às distopias do tipo «Laranja Mecânica», mas acontece que a coisa humana não é só impulso instintivo. Calcule que, desesperado para encontrar uma resposta à sua observação, dei comigo na Wikipedia, essa espécie de repositório do julga-saber colectivo, e o que lá está é isto: "Instinct provides a response to external stimuli, which moves an organism to action, unless overridden by intelligence, which is creative and more versatile."
PP: «Não será por acaso que em 2006 ainda há guerras».
Também não será por acaso que escreveu «ainda».
Caro Botelho,
Não desespere para responder às minhas observações. Lamento que tenha tido que recorrer à wikipedia! Onde é que eu lhe disse que a coisa humana era só instinto?
Depois, não foi por acaso que escrevi ainda que é o mesmo que dizer até agora que é o mesmo que dizer que, com grande probabilidade, no futuro será assim mas como diria uma das personagens da citada "laranja mecância", "if a man cannot choose, he ceases to be a man"
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