Sobre presentes e leituras: no fecho da Christmas Season
Os meus filhos conhecem-me bem intelectualmente: o Eduardo deu-me o DVD com a serialização televisiva do Dune, do Frank Herbert. O Dune é um dos meus livros "de sempre"; não direi apenas livro de science fiction, mas de todos os géneros. Já não me entusiasmaram as "continuações": Children of Dune, ainda vá, mas depois... A versão do David Lynch (1984) foi das poucas bem sucedidas adaptações de um grande livro de scifi ao cinema. Era, além disso (o livro de Herbert), um tratado sobre o poder, ou melhor sobre os poderes do poder - político, financeiro, religioso, militar, tecnológico. Tudo num mundo "criado" com coerência e inspiração. Aliás, o Herbert era engenheiro de petróleos e tinha vivido na Arábia Saudita. Os Freemen seriam aqueles guerreiros do deserto iguais aos que T. E. Lawrence mobilizou para a sua guerra "privada" contra os Turcos, os últimos árabes decentes que vimos no cinema.
Os grandes autores de scifi e fantástico - Sword and Sorcery, são os que criam "estes mundos": como o Asimov da Fundação (será que alguém pensará e se atreverá a pô-lo no cinema?), a Ursula Le Guin - da trilogia de Terramar; e o A. E. Van Vogt, o Bradbury, o Heinlein.
A Catarina trouxe-me do Brasil uma mini-série - JK - sobre o Juscelino Kubitscheck. É dirigida por Denis Carvalho e o protagonista JK é José Wilker, o "Dr. Mundinho" da Gabriela. Os brasileiros - geralmente a Globo - além das séries populares, para o "povão" (e por isso , curiosamente, no horário nobre) são mestres a produzir estas mini-séries "de qualidade". Fizeram uma versão lindíssima dos Maias. E têm as séries líticas e politizadas - como os Anos Dourados e os Anos Rebeldes - que cobrem a História do Brasil, dos anos 50 e de JK, ao fim do regime militar; ou Agosto, a partir do magnífico romance homónimo de Ruben Fonseca, a história encontrando a História, nos dias do suicídio de Getúlio Vargas. Ou, outra grande série, Desejo, a história da tragédia pessoal de Euclides da Cunha (encarnado pelo Tarcísio Meira) e da sua mulher (Vera Fisher); Euclides foi o autor desse grande clássico-reportagem, Os Sertões, que também foi adaptado ao cinema, num belo filme sobre a utopia dos Canudos e do António Conselheiro, com a Cláudia Abreu.
A Teresinha deu-me o Risk, uma versão do pai dos "jogos de guerra", o War, tão ligado aos tempos de exílio no Rio de Janeiro e em Madrid; no Rio com o Zeca e a Luísa Sollari Allegro, o Zé Lobo do Amaral e a Lena... Em Madrid o António Marques Bessa, o Miguel Champalimaud, o Chico Van Uden - falo dos que jogávamos ao "War"...
É um jogo de estratégia simplicíssimo, para "principiantes", mas é ainda muito divertido e formativo. Depois vieram os War Games mais avançados - o "Maquiavel", a "Guerra dos Trinta Anos", as batalhas da Segunda Guerra Mundial. Aí já estávamos de volta do exílio e tínhamos criado o Futuro Presente; o Nuno Rogeiro, o Victor Luís, o Carlos Blanco, o Tó Castello-Branco, o Abel Morais eram os nossos companheiros de jogos nos primeiros anos 80.
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