domingo, abril 01, 2007

A MINHA CURTA VIDA ENTRE OS "GRANDES PORTUGUESES"

Participei na sessão final do "passatempo" da RTP "Os grandes portugueses". Só vi uma tentativa de resumo da minha brevísima intervenção. Segundo esse sumário telegráfico - que não sei de quem é e vou citar de memória - Salazar seria para mim o maior português de sempre porque "era de origens modestas e fez uma grande política". A referência à extração social de Salazar foi feita no contexto da consideração do seu "génio" - única explicação para uma carreira em que não foi ajudado por uma ancestralidade ilustre, uma posição económica destacada, uma máquina política de apoio (a não ser a que veio a criar ele próprio), etc. Chegou à política e triunfou na política de mãos nuas. Isto é um ponto. Outro ponto, que me importava salientar como lição para o presente, era que Salazar demonstrou como é possível que um Estado que não seja uma grande potência, como não era o Portugal do século XX e ainda menos é o de hoje, consiga pela tenacidade, a inteligência e a visão de um estadista fazer uma política grande (que não quer dizer o mesmo que uma grande política, nem o contrário, de resto).
Continuo a achar caricato, entretanto, que se faça agora a todo o vapor o panegírico de D. Afonso Henriques, do Infante, de D. João II, de Camões, etc. - e se castigue com denodo a "visão salazarista" da história de Portugal, caracterizada pela exaltação de D. Afonso Henriques, do Infante, de D. João II, de Camões, etc. Quanto ao mais, aquela sessão final do programa foi um inenarrável espectáculo de anti-salazarismo pânico: Nuno Artur Silva chegou a dizer que Fernando Pessoa, pobre dele, nasceu e viveu no Portugal cinzento de Salazar e do Estado Novo. Como toda a gente deve saber, Fernando Pessoa nasceu em 1888, viveu quase toda a sua vida adulta no mundo a cores da I República e morreu em 1935, era o Estado Novo uma criança, com dois anos de idade - e Salazar tinha entrado para o governo há menos de dez. Só Fernando Dacosta - como já vem sendo hábito - salvou a honra dos anti-salazaristas (e espero que este reconhecimento que é uma pura questão de justiça intelectual não lhe traga dissabores).

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