SEGURANÇA ESPIRITUAL
André Brun diverte-nos, num dos seus textos, com a história de um desgraçado que na Lisboa pelintra do primeiro quartel do século passado, enlouquecido pela miséria e pela fome acaba a fritar nuns restos de brilhantina um esquálido peixinho encarnado roubado do aquário da pensão. Na Rússia de hoje - contam seriamente os jornais de uma destas manhãs - muitos dos seus muitos bêbados engulam - à falta de melhor - águas de colónia baratas e outros produtos similares para se abastecerem do necessário módico de álcool, em vez do vodka que não têm dinheiro para comprar. A desgraça - provisória, provavelmente, e talvez inevitável - em que as desgraças da Rússia pós-comunista lançaram muitos milhões de pessoas, não tem graça nenhuma. Ajuda a explicar que a "segurança espiritual" faça parte dos objectivos estratégicos do novo Estado Russo novo dirigido por Putin: uma especialista em asuntos da Rússia contemporânea descreve num dos seus trabalhos o novo "culto do FSB" (o FSB é a organização herdeira do KGB na Rússia nova) e a estreita ligação entre o chamado "chekismo" e a Igreja Ortodoxa, que desde 2002 tem uma Igreja consagrada em terrenos da Lubianka (os antigos cárceres do KGB), e alarma-se com isto, embora admita que "sob certos aspectos estejamos perante manifestações de tradicionalismo semelhantes às que existem noutras partes do mundo". Há muita coisa que parece fácil empurrar porta fora mas acaba por voltar a entrar pela janela.
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