quarta-feira, janeiro 30, 2008

A DENÚNCIA

Dos jornais: "Maioria das multas por fumar resulta de denúncias." "Os não-fumadores não têm hesitado em chamar a polícia..." Bravo!

As palavras às vezes atraiçoam-nos - não no sentido de não exprimirem o que queremos, mas de revelarem o que realmente está no fundo do nosso pensamento. Sempre foi moderadamente divertido (em certos momentos menos do que moderadamente) comparar as intenções supostamente benévolas dos bem-pensantes do século XX e a linguagem que gostavam e continuam a gostar de usar, toda muito bélica quanto mais pacifistas são, toda baseada em "denunciar", "esmagar", proibir", etc., quanto mais atacam os "denunciantes", amam a Humanidade e defendem a "liberdade". Como dizia o outro, "quando oiço vivas à liberdade na rua vou logo à janela ver quem é que levam preso".

Há um conto do escritor Ray Bradbury, talvez menos conhecido do que o famoso e pretencioso Fahrenheit 451 (o dos bombeiros do futuro cuja missão é queimar livros), chamado "The Pedestrian" em que um tipo que gosta de ler à noite e de dar passeios a pé se torna suspeito aos olhos de toda a gente e objecto das atenções da polícia, porque não obedece às regras de comportamento numa Los Angeles do futuro em que a noite é para dormir e toda a gente anda de automóvel.

É muito estudado nas escolas americanas - segundo se fica a saber na internet - mas dá-me impressão de que o seu significado não é muito bem compreendido - se calhar nem pelo autor.

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