Releitura de Les Justes
Camus, Albert Camus, nascido na Argélia, resistente, Prémio Nobel da Literatura, foi um dos autores mais lidos na minha adolescência, no princípio dos anos sessenta, graças à colecção "Miniatura" que traduziu e editou a preços acessíveis algumas das suas obras mais importantes: O Estrangeiro, A Peste, Calígula, O Exílio e o Reino. Líamos também as edições em francês, nos Livre de Poche. E tínhamos ecos da sua linha política, da Resistência, da polémica com Sartre nos anos 50, dos cafés do Quartier Latin e dos e das "existencialistas" - da Juliette Greco, sobretudo.
Mais tarde, na Faculdade de Direito, no 1º ano, encontrei um colega e amigo que era um "camusiano" entusiasta - o Manuel Jorge Magalhães e Silva - e que fez o meu upgrading no mundo de Camus, no seu humanismo laico.
É interessante reler Les Justes para ver os "anos-luz" que regredimos em matéria de preocupação filosófica. Camus, como antes dele os grandes escritores russos, Dostoievski à cabeça, preocupava-se com a "ética" da acção. Os personagens de Les Justes são um grupo - um comando diríamos hoje - de sociais-revolucionários russos que se preparam para atacar à bomba e assassinar o Grão-Duque Sérgio, tio do Czar Nicolau II. Entre eles há linhas, sensibilidades: desde Kalyev (Serge Reggiani) que no momento do atentado não lança a bomba por haver crianças na carruagem - os sobrinhos do Grão-Duque - até ao radical Stepan que encarna uma linha de leninismo finalista em que os fins (bons) justificam todos os meios. E a Dora (interpretada na première por Maria Casarés, outro ícone do tempo) e Annenkov, que é o chefe.
Hoje, com o terrorismo "macro", apocalíptico, suicida (mas estes russos também eram suicidas, como o Buiça e o Costa que assassinaram D. Carlos e D. Luís Filipe, pois sabiam que seriam capturados ou mortos) podem parecer "filosóficos" ou "florentinos" estes problemas éticos. Que eram os nossos - à direita e à esquerda.
Agora na sociedade unidimensional democrática e de mercado, "boa" e a globalizar, uma única preocupação: a eficácia dentro da legalidade formal. E a reacção da opinião pública.
Os islamo-leninistas, novos iluminados, são também assim.
3 Comentários:
Já tínhamos o "fascisno islâmico", agora temos o "islamo-leninismo" - ora é preciso saber em que ficamos, e se afinal o islamismo é fascista ou social-fascista.
Por falar em terrorismo, como é possível deixar quatro aviões de passageiros sequestrados passear à solta sobre as terras do Tio Sam durante horas? Por sorte só derrubaram as três Torres do WTC e fizeram um minúsculo buraquito no Pentágono. Olha se têm acertado no Lincoln Memorial!
Como diria o saudoso Ary dos Santos: Força Aérea (US Air Force) castrada, não!
Um abraço de um islamo-leninista
Absolutamente de acordo. E que dizer dos neo-cons (Pearl, Wolfowitz, Kristol, etc.)? Intelectuais com bombas atomicas e certos da sua superioridade moral.
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