Jack Palance, segunda parte
Demorei a responder ao desafio do Jaime. E Palance merece, pelo menos, mais duas ou três palavras. É verdade que foi durante grande parte da sua carreira o "mau" por antonomásia - e mesmo "a encarnação do Mal": ninguém pode esquecer o demoníaco pistoleiro de Shane (1953), de alma tão negra como as suas luvas negras de assassino, uma imagem que tem de fazer parte de qualquer memória do cinema. Mas teve outros empregos. Foi o actor angustiado que não quer vender a alma ao diabo em The Big Knife (No reino da calúnia, 1955), um saboroso melodrama "progressista" de Clifford Odets e Robert Aldrich, em que o mau não é ele mas um produtor personificado por Rod Steiger, numa das mais espectaculares e bem sucedidas aplicações do "Método" no cinema. (Anos mais tarde, invertiam-se os papéis, pois o cinema dá quase tantas voltas como a vida: Jack Palance era o produtor malvado em Le Mépris de Jean-Luc Godard, em que lhe emprestavam a espectacular Villa Malaparte, mandada construir nas falésias de Capri pelo grande jornalista Curzio Malaparte). Perto do fim da sua carreira, fez uma muito sóbria caricatura de si próprio na comédia City Slickers (A vida, o amor e as vacas, 1991), que lhe valeu um Óscar como melhor actor secundário em 1992 – e uma divertida presença na cerimónia de entrega dos prémios. Nos seus primeiros filmes usou o nome de Walter Jack Palance, com que apareceu na sua estreia cinematográfica, o conhecido Pânico nas ruas, também um dos primeiros filmes de Elia Kazan, que conhecia e apreciava Palance do teatro. Podíamos lembrar mais alguns filmes notáveis de uma carreira prolífica e desigual, mas não quero esquecer dois, de que não se fala muito: Os Profissionais, de Richard Brooks, e um grande western "menor" de 1953, Arrowhead (O Apache Branco, acho que se chamava em português), de Charles Marquis Warren, com Charlton Heston.
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