O 25 de Novembro (2) - Thermidor Português
O modelo de Brinton - Antigo Regime, Tempo dos Moderados, Terror, Thermidor - pode, a partir da sua original versão "francesa", ser estendido a outras revoluções. Estas revoluções, no livro de Brinton, The Anatomy of Revolution, eram a Revolução Inglesa do século XVII, a Revolução Americana do século XVIII e a Revolução Soviética do século XX. Em todas elas, Brinton identificou estes momentos: o Antigo Regime, os Moderados, o Terror e o Thermidor; na Revolução Inglesa eram os Stuarts, o Parlamento, os Diggers, os Levellers, o interregno pós-Cromwell e outra vez a Restauração. A Revolução Americana é problemática, pois essencialmente foi mais uma Guerra de Independência, uma guerra de criação da comunidade nacional, que uma guerra política ou social. Quanto à Revolução Soviética era fácil identificar o Antigo Regime com o Czar, o Tempo dos Moderados, com Kerensky, o Terror dos bolcheviques e da guerra civil com Lenine e Trotsky. Mas Brinton identificou o Thermidor com a chegada ao poder de Estaline, com a estabilização.
Thermidor como compromisso
Poderíamos aplicar este modelo a Weimar, com a queda da Monarquia, o levantamento dos spartakistas e o terror comunista na Baviera e a intervenção do Exército e dos Corpos Francos, aliados aos Socialistas, para reprimir a revolução esquerdista. Que seria o Thermidor alemão, a República de Weimar até 1933. Este é um modelo aplicável a todos os movimentos "revolucionários" de alta instabilidade social.
Às vezes Thermidor é, como em França, uma paragem a meio da Revolução e Contra-revolução, um compromisso de forças contraditórias. Outras vezes, como na Revolução Russa, a estabilidade do processo é conseguida pela facção maioritária e autoritária da Revolução, que não volta para trás, simplesmente estabiliza o Terror como forma normal do Estado. É a URSS com Estaline.
O modelo de Brinton aplica-se à Revolução Portuguesa de 1974-75, ou PREC. E o 25 de Novembro é o Thermidor português, se compreendermos bem qual foi o seu significado. Expliquemos melhor: o "Antigo Regime", o marcelismo ou "salazarismo tardio", amadureceu até chegar à auto-liquidação, ocorrida em 1974, como sentido de uma longa decadência e apagamento. O rapidíssimo tempo da Primavera-Verão de 1974 foi o nosso tempo dos Moderados; em Inglaterra, foi o Long Parliament, em França a Assembleia Nacional, na Rússia, foi Kerensky até Outubro. Aqui foi a Junta de Salvação Nacional, Spínola, o PS inventado a partir da Alemanha com o grosso da oposição "republicana", o PPD a partir da "ala liberal". E acabou com Palma Carlos, recusando assinar a "via verde" para a Descolonização, referendada pela meioria dos Conselheiros de Estado, inclusive por Azeredo Perdigão e Diogo Freitas do Amaral, e a nomeação de Vasco Gonçalves para PM. E o 28 de Setembro, quando os comunistas anteciparam a jogada, apostando na força, prenderam os seus principais inimigos, que não foram - as coisas eram sérias - os partidários da "sociedade civil". A gente operacional de direita teve os nomes nas listas dos "proscritos", passadas pelo COPCON, pelo "nescio" Otelo (perguntaram-me, a sério, porque lhe chamei "néscio" e não cretino, idiota, imbecil, básico, burro e coisas piores. Achei "néscio" no sentido de "ignorante" e de "ignorante que se ignora" e não percebe, nem os actos nem as consequências, apropriado por descritivo da criatura em questão). Aí no 28 de Setembro de 1974, começou o terror português, um terror em país de "brandos costumes": tivemos um "terror" moderado, com milhares de incidentes - prisões sem culpa formada, despedimentos, saneamentos, ocupações, nacionalizações - mas poucas vítimas mortais. Que foram sobretudo de além-mar...
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