sexta-feira, janeiro 19, 2007

Diário Semanal

Entre 11 e 16 de Janeiro, no Sul de Espanha aqui próximo - falo de um Hotel-GOLF - a cinquenta quilómetros da fronteira do Algarve, com um pequeno "pueblo" de pescadores numa ria encantadora. A cidade mais próxima é Huelva, que conheço dos tempos entre 1975-78 que só podia vir "clandestino" a Portugal e onde me encontrava com a Família e os Amigos nas cidades da raia: Huelva a Sul, Badajoz ao Centro, Puebla de Sanabria no Nordeste (em cima da fronteira de Trás-os-Montes). E na Galiza, um par de vezes, em Caritel em casa do Manuel Boullosa.

Huelva levou, desde esse tempo, uma grande volta. Tem um "centro comercial" a céu aberto, no casco viejo cheio de rebajas; e um Corte Inglés, naquele estilo bunker da casa-mãe; e aqueles hábitos espanhóis tão agradáveis do fim de tarde com toda a gente na rua - famílias, carrinhos de bébé, jovens de todas as classes, velhos, classe média-alta, bem enfarpelada para passear, ir aos restaurantes "bons", encontrarem-se. Os hotéis de luxo em contra-estação têm as suas particularidades: este estava cheio de golfistas - amadores e profissionais - e desportistas vários - uns chineses da Selecção Nacional de Futebol que iam defrontar o Huelva, alemães, etc. Na vilória de El Rompido há restaurantes "pé na praia", como no Nordeste brasileiro, magníficos.

Livros: compro José António: entre odio y amor, Su história como fue de Arnaud Imatz, com prefácio do meu querido amigo e sábio entre os sábios Juan Velarde Fuertes. Conheci o Imatz e o Juan Velarde numa viagem ao Chile, para conferências, em 1986, estava o Pinochet a iniciar voluntariamente a transição do regime, que o levaria a deixar o poder e passar os últimos anos de vida em grande desassossego.

Comprei também José Maria Aresté, Escritores de Cine - Relaciones de amor y odio entre dos autores y el celuloide (Espasa hoy, Madrid 2006), com prólogo de Juan Manuel de Prada; trata de um tema que não pára de interessar-me: a ligação da arte da escrita e da arte do filme; e Ilícito - como traficantes, contrabandistas y piratas están cambiando el mundo (Random House, Mondadori, Barcelona 2006), de Moisés Naím, que foi director do Banco Mundial e é actualmente Director da Foreign Policy, de Washington. Este tema - crime transnacional organizado - também faz parte dos meus temas preferidos.

Chegado a Lisboa a 16 de Janeiro, entrei nesta actividade de "defensor" de Salazar nos Grandes Portugueses: apresentação na Terça 16 e depois os "questionários" jornalísticos da imprensa mais "popular". Transcrevo a seguir:

Questionário do Correio da Manhã:
1. Há quem considere que Salazar não corresponde a um "grande português".Como é que vai fazer a "defesa" de Salazar para convencer algum público do contrário? Que argumentos usará?

2. Se não tivesse sido escolhido para defender a figura de Salazar, quem acha que poderia fazer a "defesa"? Porquê?

3. É verdade que teve uma passagem pela RTP durante o período do EstadoNovo? Poderia especificar em que altura foi? Qual o cargo que exercia e durante quanto tempo? Como entrou na RTP? Em que circunstâncias é que saiu? Foi por deliberação própria ou resultou de alguma decisão por parte da ala mais marcelista?

4. O Professor Francisco Rui Cádima escreveu que "quase 38 anos depois, agora com uma foto retocada de Salazar, um concurso chamado dos 'grandes portugueses' e um ex-realizador do Telejornal do ditador (Jaime Nogueira Pinto) mais alguns promotores empenhados, a RTP "ressalariza" o 'espectáculo abominável' que a 28 de Abril de 1969, em plena ditadura, "dessalarizou". Como é que interpreta esta posição?

As minhas respostas:
1. Também são mais, com certeza, os que consideram que Cunhal não corresponde a "um grande português". São opiniões, que valem o que valem. Para os meus argumentos é melhor ver o programa a 6 de Fevereiro de 2007.

2. Penso que desde antigos ministros e colaboradores, como os Profs. Adriano Moreira e José Hermano Saraiva, havia quem o pudesse fazer com conhecimento e experiência. E outros que me abstenho de mencionar, para não deixar ninguém de fora...

3. Estive no Telejornal, entre Julho de 1968 e Setembro de 1969. Fui jornalista redactor. Entrei a convite do então Presidente do Conselho de Administração, Dr. João Duque. Saí em Setembro de 1969, por minha decisão.

4. Quanto ao Prof. Cádima - que creio ser "especialista" em análise e história dos media - espero que não esteja a arranjar uma teoria conspiratória - Salazar-RTP-myself - ligando a minha passagem pelo Telejornal da RTP, com uma posição histórico-política em relação ao século XX português, que tenho publicamente há várias décadas. O que seria patético, quase imbecil. Para estudioso dos media e apesar do C.V. quilométrico que exibe não estuda muito ao identificar-me como "realizador da TV" em 1968. Aos 22 anos, não estava mal... Quanto a esse episódio de 28 de Abril de 1969, penso tratar-se de uma gravação de Salazar, então um homem muito doente, em manifestas condições de debilidade psíquica e física, feita por razões da mais baixa política, no intuito de mostrar ao país o estado em que estava ele na época. Referi e qualifiquei esse episódio no meu livro Portugal - Os Anos do Fim.

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