GRANDES PORTUGUESES
Os Grandes Portugueses levantam polémica; o concurso, tratando de seleccionar e ordenar primeiro 100, depois 10 e finalmente uma hierarquia entre os 10 e um 1º, tem uma forte carga político-simbólica. E, nas sociedades pós-políticas como a nossa, onde tirando as questões fracturantes, como o referendo sobre a liberalização do aborto, há consenso ideológico nos principais partidos os símbolos e as batalhas da História são o refúgio da política. Aqui e noutros pequenos Estados do "arco de tranquilidade" da UE.
Uma parte dos escolhidos - os pré-contemporâneos, usando o século XVIII como fronteira - não suscita grande polémica: D. Afonso Henriques fundou Portugal e o Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama e Camões trouxeram a dimensão universal da Expansão e da Viagem, da sua celebração e dimensão universal. A sua escolha mostra a adesão à fundação e defesa da Nação e à sua projecção ultramarina como critérios de grandeza. Faltou aqui D. Nuno Álvares Pereira, o herói da independência em 1385.
Já os modernos, com exclusão de Fernando Pessoa, são controversos, dividem.
Pombal, para uns, é o grande centralizador e modernizador, que subordinou as classes tradicionais ao poder real, procurou criar elites a sério e modernizar o país. Para outros, um tirano que usou o terror para construir o seu poder pessoal.
O problema dos contemporâneos é esse: enquanto dos antigos fica só a obra e o símbolo, estes dividem: porque além de serem "ideológicos" - o século XX de 1917 a 1991 foi um século de grandes conflitos ideológicos - estão próximas as memórias dos "custos humanos" da sua obra. Isto tem a ver com Salazar e Cunhal. Sousa Mendes é uma figura menos polémica, com uma acção humanitária. Sem inimigos.
Salazar e Cunhal dividem, antagonizam, têm admiradores e detractores, apaixonados, simbolizam-se e excluem-se. Um simboliza o Portugal profundo, nacionalista, conservador, último Império europeu e com uma guerra em África, cuja razão de Estado bloqueou mudanças políticas. Um tempo ou mito que empolgou uma parte de Portugal, a minha geração, na continuidade de política ultramarina, da Monarquia e da República. A outra, a parte do país que aderiu ao grande mito da Revolução Comunista - de Lenine a Estaline aos partigiani e resistentes. Passando pelos Goulags soviético e chinês.
Aceitei "defender" Salazar, porque foi um político honesto, competente, inteligente, que governou o país num século de guerras e crises - que o conduziu com mestria internacionalmente, depois encontrar uma solução financeira e institucional para o fracasso do parlamentarismo partidário, o "governo da rua" na I República.
E porque os grandes homens - todos - têm que ser julgados à luz da História e dos desafios do seu tempo. E comparados com os tempos e modos semelhantes, e com as alternativas que se lhes colocaram. E a principal alternativa a Salazar foi como se viu em 1945 e em 1974-75, Cunhal e o PCP.
Jaime Nogueira Pinto
Publicado no Expresso a 20.01.07
Uma parte dos escolhidos - os pré-contemporâneos, usando o século XVIII como fronteira - não suscita grande polémica: D. Afonso Henriques fundou Portugal e o Infante D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama e Camões trouxeram a dimensão universal da Expansão e da Viagem, da sua celebração e dimensão universal. A sua escolha mostra a adesão à fundação e defesa da Nação e à sua projecção ultramarina como critérios de grandeza. Faltou aqui D. Nuno Álvares Pereira, o herói da independência em 1385.
Já os modernos, com exclusão de Fernando Pessoa, são controversos, dividem.
Pombal, para uns, é o grande centralizador e modernizador, que subordinou as classes tradicionais ao poder real, procurou criar elites a sério e modernizar o país. Para outros, um tirano que usou o terror para construir o seu poder pessoal.
O problema dos contemporâneos é esse: enquanto dos antigos fica só a obra e o símbolo, estes dividem: porque além de serem "ideológicos" - o século XX de 1917 a 1991 foi um século de grandes conflitos ideológicos - estão próximas as memórias dos "custos humanos" da sua obra. Isto tem a ver com Salazar e Cunhal. Sousa Mendes é uma figura menos polémica, com uma acção humanitária. Sem inimigos.
Salazar e Cunhal dividem, antagonizam, têm admiradores e detractores, apaixonados, simbolizam-se e excluem-se. Um simboliza o Portugal profundo, nacionalista, conservador, último Império europeu e com uma guerra em África, cuja razão de Estado bloqueou mudanças políticas. Um tempo ou mito que empolgou uma parte de Portugal, a minha geração, na continuidade de política ultramarina, da Monarquia e da República. A outra, a parte do país que aderiu ao grande mito da Revolução Comunista - de Lenine a Estaline aos partigiani e resistentes. Passando pelos Goulags soviético e chinês.
Aceitei "defender" Salazar, porque foi um político honesto, competente, inteligente, que governou o país num século de guerras e crises - que o conduziu com mestria internacionalmente, depois encontrar uma solução financeira e institucional para o fracasso do parlamentarismo partidário, o "governo da rua" na I República.
E porque os grandes homens - todos - têm que ser julgados à luz da História e dos desafios do seu tempo. E comparados com os tempos e modos semelhantes, e com as alternativas que se lhes colocaram. E a principal alternativa a Salazar foi como se viu em 1945 e em 1974-75, Cunhal e o PCP.
Jaime Nogueira Pinto
Publicado no Expresso a 20.01.07
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