Sem cura possível?
Toda a gente afecta, agora, preocupar-se com a língua portuguesa – até a RTP tem um programa com Diogo Infante. Há modas que vêm por bem. Os resultados, no entanto, não são visíveis, pelo menos para já, e talvez fosse mais profícuo pregar com o exemplo. Uma forma cada vez mais frequente de atentar contra o português – e das mais subtis – é o uso errado de expressões ou locuções, e mesmo a incapacidade de as reproduzir correctamente, uma forma subtil de "iliteracia" que indicia uma espécie de cancro episódico da memória colectiva, pois muitas vezes custa atribui-lo à pura e simples ignorância: assim, é de crer que um cronista nosso amigo saiba melhor do que ninguém que o terrorismo dos anarquistas do século XIX era considerado por eles uma "propaganda pelos actos", não "propaganda pelo exemplo" (embora, como acima se pode ver, se use "pregar com o exemplo", mas quer dizer uma coisa muito diferente de pregar à bomba). Há bem pouco tempo, na RTP que nos manda ter "Cuidado com a língua!", (bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz), o apresentador de um concurso citou a conhecida expressão "tudo como dantes, quartel general em Abrantes" na versão errada e pouco menos que sem nexo de "nada será como dantes no quartel general em Abrantes"; nesse mesmo programa, foi dado como provérbio "barriga cheia, companhia desfeita" que, como toda gente costumava saber é, na realidade, "comida feita, companhia desfeita", que soa melhor e é um bocadinho menos alarve. Até um literato como EPC escreveu outro dia "cada pedra uma minhoca" quando queria dizer, suponho, "cada cavadela, sua minhoca". Tanta asneira faz do mais despreocupado de nós um pedante.
1 Comentários:
Essa calinada do EPC até é das menos graves. Tem-nas piores, todos os dias.
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