Dia a dia...
Domingo. Arrumo livros na Botilheira, onde descubro coisas interessantes, como as obras do Henri de Man: Au-delà du marxisme (1925), Le socialisme constructif (1933), L'idée socialiste (1935) e Au-delà du nationalisme (1946).
Descubro também numa edição da Librairie Académique Perrin, de 1947, um livro de Gustave Lenôtre sobre Les Noyades de Nantes; trata dos afogamentos de realistas levados a cabo pelo grande republicano e esquerdista Carrier, personagem sinistro do terror revolucionário. Um belo espécime de revolucionário e progressista, ainda por cima poupando o dinheiro do Estado, na liquidação dos "inimigos do povo" ao afogá-los! Também encontrei um Marat, de Gérard Walter. Chamo a atenção para o olhar paranóico do personagem, um ultra-esquerdista da época, obcecado com pôr o povo a liquidar, por suas próprias mãos, os "inimigos da revolução". Foi o grande instigador dos "massacres de Setembro", quando os "patriotas" invadiram as prisões. As duas "esquerdas" radicais, os comunistas e os esquerdistas: os primeiros organizados, burocratas disciplinados, sistemáticos: é a guilhotina, full-time, Robespierre, os Jacobinos, as colunas de terror no genocídio da Vendeia; os segundos são os espontâneos, a canalha de Paris - violadores, ladrões, fanáticos - matam a torto e a direito - piores que no Ruanda. É a diferença, em costumes destas" famílias".
Outras leituras redescobertas: Zola, A Derrocada, edição da Guimarães, Lisboa. É a tradução de Chagas Franco, de um dos volumes ou episódios da famosa série dos Rougon-Macquart.
Zola era um dos autores que líamos um pouco clandestinamente; das famílias e não da PIDE, esclareça-se. Sobretudo a Náná e a Faute de l'Abbé Mouret, que havia uns menos eruditos que diziam ser a inspiradora do Crime do Padre Amaro do nosso Eça de Queiróz. Há algum tempo o Miguel F.C., que esteve a reler L'Argent, chamou-me a atenção que era um bom romance. O Zola, na minha adolescência, irritava-me pela sua posição no Affaire Dreyfuss, onde por razões de solidariedade com Maurras, eu tinha decidido que o dito era culpado! Era capaz de não ser...
E encontro também, com grande satisfação, um dos meus autores de cabeceira da adolescência - Jean Anouilh: Pièces Noires: "L'Hermine", "La Sauvage", "Le voyageur sans bagage", "Eurydice". E Pièces Roses: "Le Bal des Voleurs", "Le rendez-vous des Senlis", "Léocadie". São edições da Calmann-Lévy (3, Rue Auber, Paris, 1956). Vale a pena lê-las, ainda hoje, como documentos de uma estética de "romantismo reaccionário", em termos de sentimentos e pensamentos. Mas com um fundo de realismo antropológico a que só os "heróis" - melhor, as heroínas - escapam. Penso que há edições "de bolso" - "Livre de Poche", 10-18, etc.
Descubro também numa edição da Librairie Académique Perrin, de 1947, um livro de Gustave Lenôtre sobre Les Noyades de Nantes; trata dos afogamentos de realistas levados a cabo pelo grande republicano e esquerdista Carrier, personagem sinistro do terror revolucionário. Um belo espécime de revolucionário e progressista, ainda por cima poupando o dinheiro do Estado, na liquidação dos "inimigos do povo" ao afogá-los! Também encontrei um Marat, de Gérard Walter. Chamo a atenção para o olhar paranóico do personagem, um ultra-esquerdista da época, obcecado com pôr o povo a liquidar, por suas próprias mãos, os "inimigos da revolução". Foi o grande instigador dos "massacres de Setembro", quando os "patriotas" invadiram as prisões. As duas "esquerdas" radicais, os comunistas e os esquerdistas: os primeiros organizados, burocratas disciplinados, sistemáticos: é a guilhotina, full-time, Robespierre, os Jacobinos, as colunas de terror no genocídio da Vendeia; os segundos são os espontâneos, a canalha de Paris - violadores, ladrões, fanáticos - matam a torto e a direito - piores que no Ruanda. É a diferença, em costumes destas" famílias".
Outras leituras redescobertas: Zola, A Derrocada, edição da Guimarães, Lisboa. É a tradução de Chagas Franco, de um dos volumes ou episódios da famosa série dos Rougon-Macquart.
Zola era um dos autores que líamos um pouco clandestinamente; das famílias e não da PIDE, esclareça-se. Sobretudo a Náná e a Faute de l'Abbé Mouret, que havia uns menos eruditos que diziam ser a inspiradora do Crime do Padre Amaro do nosso Eça de Queiróz. Há algum tempo o Miguel F.C., que esteve a reler L'Argent, chamou-me a atenção que era um bom romance. O Zola, na minha adolescência, irritava-me pela sua posição no Affaire Dreyfuss, onde por razões de solidariedade com Maurras, eu tinha decidido que o dito era culpado! Era capaz de não ser...
E encontro também, com grande satisfação, um dos meus autores de cabeceira da adolescência - Jean Anouilh: Pièces Noires: "L'Hermine", "La Sauvage", "Le voyageur sans bagage", "Eurydice". E Pièces Roses: "Le Bal des Voleurs", "Le rendez-vous des Senlis", "Léocadie". São edições da Calmann-Lévy (3, Rue Auber, Paris, 1956). Vale a pena lê-las, ainda hoje, como documentos de uma estética de "romantismo reaccionário", em termos de sentimentos e pensamentos. Mas com um fundo de realismo antropológico a que só os "heróis" - melhor, as heroínas - escapam. Penso que há edições "de bolso" - "Livre de Poche", 10-18, etc.
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