terça-feira, setembro 29, 2009

NO FIM DA FESTA

Nos tempos da autêntica asfixia democrática, os chefes políticos eram reis e reinavam por graça do céu. Depois, ou porque a fé diminuiu ou os homens entenderam não meter Deus nestas trivialidades, foi preciso buscar outras soluções.
Foi uma modernização, como diria o Eng. Sócrates, que trouxe as ideias de soberania nacional e de vontade do povo. Mas como a nação e o povo, respeitabilíssimos entes que eram e são, não passavam de uma entidade histórico-cultural e da soma de criaturas diferentes e dispersas, foi preciso encontrar formas de os ouvir, ou perceber o que queriam.
A história política dos séculos XIX e XX dá conta da polémica entre as correntes interpretativas dessa vontade popular: da guilhotina revolucionária à Shoa e aos Goulags russo e chinês, tais teorias aplicadas pelos seus seguidores mais autênticos, fizeram correr muita tinta e ainda mais sangue.
Duas guerras – a Segunda e a Fria – reduziram, em teoria, tais teorias, à democracia representativa liberal. Que quer combinar a vontade da maioria com a garantia da minoria, uma ideia original das ilhas britânicas que agora procura estender os seus benefícios a lugares remotos, como o pitoresco Afeganistão.
Em vez de prosseguir na senda da busca dos tais “melhores” representantes (aqueles mais iguais que devem mandar nos outros) a teoria democrática assenta tal selecção na soma aritmética das vontades de todos os outros, melhores, iguais ou piores que eles. Passa-se da metafísica ao jogo legal - quem tiver mais votos ganha.
O jogo eleitoral tem como chave convencer – por artes de retórica e de dialéctica, retórica para os eleitores, dialéctica contra os adversários - da bondade e coerência de propostas e propósitos próprios e da maldade dos contraditores. E dada a publicidade do debate e a necessidade de dispor bem o soberano - o povo - faz-se uma festa em que as artes e formas de comunicação contam pelo menos tanto como os conteúdos, e aquilo que, com o relativo valor desde que o céu se retirou destas coisas, se pode chamar a sua verdade ou mentira à luz do bem público. E a simpatia e empatia dos comunicadores profissionais – jornalistas, marqueteiros, comentadores – conta muito.
Assim sendo, os resultados de domingo não admiram: Paulo Portas é um convincente retórico e dialéctico, “tecnicamente o melhor político português”, diz Vasco Pulido Valente; José Sócrates vem a seguir nestas artes; Louçã tem um toque zangado, agressivo que assusta as tias mais idosas; Jerónimo de Sousa é fixe mas de cassete velha. Manuela Ferreira Leite pode ter razão, mas não “é fixe”, não tem retórica, não dá a volta à realidade, não faz da política uma festa. E sobretudo não disfarça isso.
E os festivos – todos – não lhe perdoam. Viu-se.

(Artigo publicado no i, 29-09-09)

sábado, setembro 26, 2009

COMO É QUE FAZEM?

O Bloco de Esquerda tem elevadas preocupações de justiça e equidade e quer fazer um mundo perfeito. A questão é: como?
O conde de Romanones era uma das maiores fortunas de Espanha. Um seu amigo, homem com preocupações sociais, passava o tempo a dizer-lhe que era uma vergonha ser rico assim, havendo tanta miséria em Espanha, que devia fazer alguma coisa.
Um dia, farto, Romanones respondeu-lhe:
- Quanto achas que vale a minha fortuna?
- Não sei, para aí uns cem milhões de pesetas!
- E quantos espanhóis é que há?
- Para aí uns vinte milhões!
- Então quanto calha a cada um?
- Cinco pesetas!
O Conde tirou do bolso uma moeda de um duro e deu-a ao amigo,
- Pois toma lá a tua parte e não me maces mais!
Outra história, da guerra civil de 1936-1939: uns trabalhadores anarquistas ocuparam uma empresa dos arredores de Valência, entraram pelo gabinete do patrão armados e exigiram-lhe o capital social da empresa. O patrão tinha a consciência tranquila, pagava salários justos, tratava bem o pessoal; pedagogicamente, explicou-lhes o conceito de capital social, acrescentando, claro, que não era coisa que tivesse ali com ele.
Mas eles insistiram e mandaram-no abrir o cofre-forte, no qual estariam os cobiçados milhares do capital social. O patrão fez-lhes a vontade e entregou-lhes o dinheiro. Os trabalhadores contaram-no mas verificaram que ainda faltava muito para o capital social. Outra vez o pobre rico, já menos seguro, lhes explicou a teoria geral contabilística e o absurdo de esperar que o capital da empresa estivesse ali, fisicamente, em cash.
Talvez por ser "bom patrão", não o humilharam com um julgamento popular. Mataram-no ali mesmo.
Estas histórias saltaram-me à memória com os planos económicos do BE, nomeadamente com a ideia de pagar a Segurança Social com um imposto sobre as grandes fortunas!
Os dirigentes do BE são como o amigo do Romanones: têm elevadas preocupações de justiça e equidade, exibem um ar superior e enjoado perante tudo o que tem a ver com negócios, empresas, lucros, dinheiro, compromissos. Só eles são éticos, nesta choldra que é a vida pública. E querem trazer um mundo melhor, perfeito.
Só que, como os ricos portugueses - e os pobres e os remediados - , não são perfeitos nem generosos,como aMadre Teresa de Calcutá. E tendo em conta que o capital é móvel e volátil, como vão lá chegar? Com leis? Mas as leis são "de classe", e mudar leis e reformas é o que fazem socialistas e sociais-democratas.
Então como? Os utópicos de outros tempos recorriam a processos expeditos: os jacobinos guilhotinavam os aristocratas; os anarquistas punham bombas nos Grands Magazins; os bolcheviques, os maoístas, os castristas, campo de concentração para aqui, massacre para acolá, fuzilamento q.b., também se esforçaram durante um século por essa perfeição.
Não estou a ver o Dr. Louçã a cortar a cabeça às nossas marquesas; nem o Dr. Fazenda a dar um tiro no Sr. Américo Amorim para ter o capital social da GALP; nem Miguel Portas a pôr bombas nos supermercados para refrear o consumismo. E, de todo, o meu amigo Fernando Rosas a levar agrários para um paredón na charneca alentejana. Nisso não acredito!
Mas então como é que fazem?

(Artigo publicado no i )

QUE FITA VAI HOJE? - DIA PAUL NEWMAN

Já lá vão uns dias de ausência...Vamos a ver se nos organizamos. Para já, em pouco mais do que os 140 caracteres do canon vigente: às 15.00, mais uma reposição de Butch Cassidy and the Sundance Kid (Dois homens e um destino, 1969), era na RTP Memória; à noite, na RTP2, a partir das 22.45, Sweet Bird of Youth (Corações na penumbra, 1962, o Paul Newman um bocadinho louche, mas lavadinho, de uma certa época, encontra Tennessee Williams; quem quiser ver duas vezes a seguir, pode ligar o TCM às 20.00) e Harper, detective privado (1966), primeira e notável adaptação de um dos romances de Russ MacDonald, The moving target, uma das aventuras de Lew Archer, rebaptizado no cinema). Ainda no TCM, às 22.05, Tennessee Williams, Newman e o realizador Richard Brooks, juntos outra vez: Gata em telhado de zinco quente, 1958) Muitos filmes e as palavras são como as cerejas. Já não dava para o twitter, afinal.

P.S.-17.25, Quase não reparava, mas hoje P. Newman também aparece em A torre do Inferno (Towering Inferno, 1974) que o Hollywood começou a passar às 17.15. Assim, acho que está por fim completo o Dia Paul Newman.

SOBRE O VOTO DE 27 DE SETEMBRO

Já aqui não vinha há muito tempo. Hoje acho que podem ter algum interesse estas reflexões que publiquei no i , na minha coluna das terças feiras

Da utilidade do Voto

O fundamentalismo não só é religioso ou islâmico. Há também um fundamentalismo democrático, ou dos "democratas", e bem passámos por ele, desde a I República, de saudosa memória e próximo centenário, ao glorioso PREC. Este fundamentalismo persiste na tradição do "aprofundamento democrático" de que os bloquistas são exemplo e da unidade antifascista, que acorda em certas ocasiões.
Mas também se vê no olhar para a democracia como uma espécie de religião laica, de rousseauniana transcendência, com solenes símbolos e rituais, sacralizados e venerados, através dos quais a vontade popular se revela aos homens. Assim, o voto será um acto de fé e de devoção inabaláveis num partido e num líder. Atributo que, considerada a oferta, aqui e agora, é manifestamente exagerado e despropositado.
Os fundamentalistas condenam o voto útil como uma profanação. Ora, para a maioria dos eleitores, o voto é útil. Sobretudo à medida que melhor compreendem os mecanismos da representação e da vida política e percebem que tinha alguma razão quem dizia que a política era escolha entre dois inconvenientes.
Por isso, muito mais que votar-se pró, vota-se contra, num voto defensivo contra um mal maior. Foi o que tivemos e temos de fazer, as pessoas de direita deste país em que o "partido mais à direita se chama "centro" e onde ainda se usa o Salazar como fantasma graças à esquerda. E em que uma referência à "questão nacional" a propósito do TGV causa uma onda de histeria jornalística.
O voto útil é simples e prático, sem estados de alma complicados.

Quem tiver como desiderato principal afastar o eng. Sócrates e o PS do poder, goste muito ou nada do PSD, ache a dra. Ferreira Leite pouco simpática ou destituída de "carisma", vota no PSD e na "doutora".
Quem tiver como objectivo essencial cortar o caminho "à direita" e à "doutora", mesmo que ache Sócrates "vendido ao capitalismo" e o PS um bando de burgueses sem ponta de chique, tem de votar no PS e no "engenheiro".
Esta é a filosofia do voto útil como voto contra. Voto ideológico da direita não há, pois nem o CDS nem o PSD se assumem como tal. Voto ideológico de esquerda - há o tradicionalista no PCP, e o pós-moderno no BE. Este voto no BE vai servir aos bloquistas para o seu cenário-maravilha - serem poder, sem as responsabilidades de poder. Depois do que disseram e fizeram ao PS e a Sócrates, não teriam lata (é o termo) de se coligar. Mas - se o PS fizer governo - adorarão ficar como uma minoria de pressão e controlo, chantageando o PS no sentido da sua agenda, obrigando-o às recusas que comprometem e às transigências que rebaixam. Este é um cenário que repugna a muitos dirigentes socialistas e também a muitos eleitores. Mas ouvido o dr. Soares há ainda uma "ala esquerda" saudosista da aliança antifascista a dar a sua ajuda.

quinta-feira, setembro 03, 2009

O DISCURSO DE MARCO ANTÓNIO - NÃO ME ESQUECI

O prometido é devido. Não me esqueci, só demorei. Aqui vai "O discurso de Marco António" de Manuel Maria Múrias, escrito para o número 0 do Bandarra, o primeiro dos três que foram publicados, no saudoso verão de 1974. Na primeira página perguntava-se, "Para quê?" - e explicávamos, serenamente. Não nos serviu de muito. O artigo de MMM era ilustrado com um imagem de Marlon Brando no papel de Marco António, do filme Júlio César de Joseph Mankiewickz.


"Frontaria da Assembleia Nacional. Manhã cinzenta e triste. A multidão sussurrante transborda do grande largo. Trazendo nos braços um corpo exangue, Marco António surge no topo das escadarias. Arenga ao povo.

- Amigos, Portugueses, compatriotas:
Trago-vos Portugal nos braços. Venho para os seus funerais - e não para o louvar. O mal das pátrias sustenta-se além da morte. O bem enterra-se com elas. Ninguém se lembra das glórias do Aragão, nem das da Navarra - nem sequer das da Sabóia. Recordam-se, porém, sensivelmente, os seus pecados ... Seja assim com Portugal. Os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro (três honradíssimos cidadãos) permitiram que vos falasse. Disseram eles que a nossa Pátria, em oito séculos de história, quase só se portou mal. Reconheçamo-lo contritamente sem discutir: - os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro são três grandes personalidades que nos restituíram a liberdade. Quem somos nós para os contestar?
Vós tinheis orgulho neste velho Portugal. Julgastes que era honra pertencer-lhe e acompanhar na memória a gesta dos seus santos e heróis, conquistadores e navegadores, que, mares além, nos tempos dantes, por todo o orbe, dilataram a Fé e o Império. Os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro acusam-no agora da maior cobiça. Castigaram-no severamente. São três homens justos, três nobres, e honrados, e incorruptos cidadãos. Veneremo-los. Esqueçamo-nos do que nossos pais nos ensinaram: - depois de Ceuta, largado mundo fora, Portugal, com uma ou outra excepcionalíssima excepção, só cometeu crimes. Paga hoje as suas faltas - faltas do povo e dos chefes. Do Infante, de Vasco da Gama, de Albuquerque, de Camões, de Vieira e de Mouzinho. Penitenciemo-nos. Até a Santa Madre Igreja, pela augusta voz dos nossos bispos, já se penitenciou. Porque não o faremos nós? Construamos humildemente, sem fumos de grandeza, o futuro que merecemos. Reduzamo-nos.
Durante séculos, no silêncio dos corações, rezámos a S. Francisco Xavier, a S. João de Brito e a S. Gonçalo da Silveira. Supusemo-los no céu, sentados à direita de Deus Pai. Sabemos hoje de ciência certa que foram apenas agentes do nosso torpe imperialismo, do nosso orgulhoso amor à guerra, da nossa cupidez mercantilista. Isso, sabiamente, nos ensinam os Drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro - três impolutos cidadãos, três homens sem mancha, honrados e verdadeiros campeões da liberdade. Que podem as nossas memórias contra a sua veracidade munificente?
Imaginámos (durante cinco séculos - imaginámo-lo apaixonadamente) que andávamos pelo mundo a continuar Portugal, cientes de ser essa a sua missão, o seu destino, a sua glória. Reconhecemos hoje pela voz honrada dos drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro - que por esse mundo de Cristo destruímos civilizações, arrazámos metrópoles, cometemos genocídios. Que as cidades, vilas e aldeias que erguemos não são nossas, mas de gente estranha - e que os povos nossos irmãos, trazidos para nós, em nós confiantes, eram traidores à Pátria deles que, em verdade e em boa hora, vai deixar de ser a nossa.
Com infinito orgulho, com altíssima devoção, sentimo-nos, centúria após centúria, o décimo-terceiro apóstolo, povo do Espírito Santo, farol de palavra divina. Oh! O or­gulho dos homens! A petulância das gentes! A hipocrisia paranóica! Fomos uns rapinantes sem escrúpulos, vorazes comerciantes, mercadores astuciosos, criminosos sem perdão, exploradores insensí­veis, bandidos sem coração, ladrões desavergonhados, piratas do alto-mar, canalhas sem remissão. Caridosamente, sem o afirmarem (para não nos chocarem mais) insinuam isso os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Francisco Sá Carneiro - três eminentes senhores, fiadores da nossa liberdade, desta paz democrática, desta prosperidade que vamos a disfrutar. Devemos acreditá-los, e agradecer-lhes, e defendê-los. Reconheceram as nossas culpas - e andam a remi-las. Vão acordar Portugal da longa noite em que o adormecemos.
A partir de 1961, ferozmente dominados por Salazar (parolo seminarista, tortuoso financeiro ... ) vós acompanhastes ao cais os melhores de todos vós - e, em espírito, embrenhastes-vos, com eles, nos matagais africanos. Muitos deles regressaram ou mortos, e povoam inermes os cemitérios do rectângulo, ou estropiados, ou meio doidos. Vós julgastes que eles tinham ido defender Portugal e os Portugueses. Exceptuando os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro - a maior parte de vós supôs que Portugal defendia o seu direito, e que as carnificinas de Angola, da Guiné e de Moçambique tinham sido perpetradas pela UPA, pelo PAIGC e pela FRELIMO. Sabemos agora que não; fomos nós os matadores, fomos nós os assassinos, somos nós os respon­sáveis, somos nós os grandes réus. A UPA, o PAIGC e a FRELIMO limitaram-se, honradamente, a proceder em legítima defesa, a reagir heroicamente aos nossos ataques cavilosos, às nossas agressões mal intencionadas, à nossa fúria colonialista. Não o confessando há treze anos, não abandonando Angola nessa altura - ofendemos a paz, a liberdade e a democracia. Quem quiser continuar Portugal - está contra o mundo inteiro, orgulhosamente só e nós queremos estar acompanhados, e ser cumprimentados, e aplaudidos, e cortejados, e bajulados por todos os grandes deste mundo. Queremos ser Holanda, Suécia, Dinamarca ou Finlândia, gente respeitada, pacíficos produtores de margarinas, ricaços. Para isso nos encaminham gloriosamente os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Francisco Sá Carneiro - três sábios, e prudentes, e sensatos cidadãos.
Quisemos que as gentes achadas pelos mareantes fossem portuguesas. Honrávamo-nos com isso, julgávamos honrá-las. Deixamo-las agora entregues a si próprias, nuclear e financeiramente protegidas pelos Estados Unidos, pela União Soviética e pela China. Deixámos de as explorar; vamos poupar milhões. Seremos prósperos, e bem edu­cados, e respeitados por todo o mundo civilizado e pela moral prevalecente. Vão elas deixar de ser portuguesas - vamos nós humilissimamente esforçar-nos por continuar a sê-lo.
Se eu tivesse as qualidades oratórias do dr. Mário Soares, a capacidade organizativa do dr. Álvaro Cunhal, a distinção aristocrática do dr. Francisco Lumbralles de Sá Carneiro - poderia ambicionar, talvez, conduzir-vos à revolta, mostrando-vos as cicatrizes sangrentas deste velho Portugal vencido. Mas eu sou, apenas, um pobre homem com poucos estudos e pouco pensamento, um desgraçado - e eles, três notáveis, honrados e proeminentes cidadãos. Têm o poder, a força e a vitória; prender-me-ão quando quiserem sem ninguém protestar; ·calar-me-ão. Vós, meus Amigos, meus amados Portugueses, meus queridos compatriotas, sede indulgentes comigo; parece que a alma me vai com o Portugal antigo. Já que não o podemos louvar - choremo-lo com honradez. Quantas vezes o aclamámos e o levámos em triunfo? Alguém nos impedirá de o chorar?
O silêncio aumenta a velha praça. Acolá e além um soluço risca o muro da tristeza. O povo volta as costas à casa da representação nacional. O pano desce lentissimamente. Portugal, arfante, parece morrer devagar."