sexta-feira, fevereiro 29, 2008

QUE FITA VAI HOJE?

Nem só de cinema vive o homem - e esta série de posts arrisca-se (too late!) a parecer uma monomania prolixa e maçadora. Vou por isso fazer mesmo um intervalo - para descanso do pessoal. Interrompo num dia que se apresenta venturoso para os cinéfilos. Como isto é por revoadas, temos hoje, à o1.00, na RTP1, um novo filme de Sidney Lumet, um filme bem feitinho que não adianta nada. Gloria (1999) não se compara com o original que com o mesmo título realizou em 1980 John Cassavetes, num dos seus momentos mais convencionais: os primeiros dez minutos do filme de Cassavetes são um extraordinário pedaço de cinema, em que a angústia e o medo dos que vão morrer num assassinato mafioso incomoda fisicamente; o resto - é o resto. Na TVI (00.15) regressa A Fúria do Herói (First Blood, 1982), de Ted Kotcheff, um realizador veterano, inócuo mas geralmente competente. Estreado dois anos depois da ascensão à Presidência dos Estados Unidos de Ronald Reagan a primeira "aventura" de John Rambo é um filme que reflecte um novo clima quanto à guerra do Vietname, ao "herói de guerra" e ao orgulho americano. Bem ou mal, seguiram-se-lhe mais dois ou três, cada vez de pior qualidade. Está nos cinemas o quinto da série, que se intitula, simplesmente, Rambo (2008). No canal TCM, há o que se pode considerar um programa duplo dedicado ao filme de gangsters americano: primeiro A Última Fuga, de Richard Fleischer, um thriller bastante soporífero mas que tem como protagonista George C. Scott e a curiosidade de se passar parcialmente em Portugal. Não vou alargar-me agora sobre R. Fleischer, por muito que me apetecesse. A seguir, às 23.30, A Selva de Asfalto, o clássico de John Huston (The Asphalt Jungle, 1950), um filme que serve de modelo a todos os filmes de assaltos que acabam mal. Grandes interpretações de Sterling Hayden, Louis Calhern, Sam Jaffe, etc., incluindo num pequeno papel Marc Lawrence (1910-2005), que entrou em literalmente centenas de filmes e cuja autobiografia Long time no see: Confessions of a Movie Gangster é muito gabada, mas não se consegue arranjar senão em segunda mão e por não poucos dólares.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DÉCIMO TERCEIRO DIA (PARAMOS DE CONTAR?)

Esta noite (Canal Hollywood, 23.45) é exibido Dragão Vermelho, de Brett Ratner (Red Dragon, 2002). Foi a segunda adaptação do livro de Thomas Harris em que apareceu pela primeira vez Hannibal Lecter, o personagem que Jonathan Demme tornou famoso com O Silêncio dos Inocentes, interpretado por Anthony Hopkins (The Silence of the Lambs, 1991), adaptação do segundo romance da série. Esse filme prenunciou aquilo a que podemos chamar "a banalização do mal", que é o reverso da "banalidade do mal" de que falava Hannah Arendt a respeito do insignificante Adolf Eichman. O florescimento recente dessa tendência cinematográfica esteve bem patente na colecção de filmes que vimos na passerelle dos Oscars, com uma considerável galeria de monstros. E o resto, salvas raras excepções, é só desencanto e desapontamento. Vivemos tempos de grande amargura, ou o cinema que vemos não fosse o espelho da nossa alma colectiva. Red Dragon teve uma primeira adaptação cinematográfica uns anos antes de que Hannibal Lecter fosse uma celebridade. Foi Manhunter, que tem passado algumas vezes na televisão (Caçada ao Amanhecer, 1986). Essa primeira cinematização não teve muito êxito, embora a opinião geral hoje em dia, e a minha, é a de que é um filme mais interessante do que a versão recente. Foi realizado por Michael Mann, um realizador que há dias aqui referimos. Mann, hoje muito conceituado como cineasta, passou uma boa parte da sua carreira no limbo das produções de televisão, onde foi responsável pelas séries Miami Vice e Crime Story (alguém se lembra desta? - um exercício cromático que fazia para Las Vegas o que Miami Vice fez para Miami, com Dennis Farina e a canção de Del Shannon "Runaway"). Nascido em Chicago (1943), estudou cinema em Londres e foi contemporãneo e colega no cinema publicitário de Ridley Scott, Alan Parker e Adrian Lynne (comparem-se os filmes de um e outros - guardadas as devidas proporções artísticas). Registo a seguir os títulos em português dos filmes mencionados então e de outros do mesmo realizador: Thief (1981) chama-se em português O ladrão profissional; Heat (1995), Cidade sob Pressão (Al Pacino e Robert de Niro), Collateral (2004), com Tom Cruise, Colateral; The insider (1999), O informador. E hoje cumpro uma das minhas promessas: o título dado em Portugal a The Sheepman, de George Marshall, foi O irresistível forasteiro.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DÉCIMO SEGUNDO DIA

Presente em dois dos filmes que concorriam aos Oscars deste ano (Este país não é para velhos, que ganhou o prémio para o melhor filme, e No Vale de Elah), Tommy Lee Jones não é propriamente um desconhecido - mas talvez se possa dizer que não tem - ou não teve até há pouco - todo o reconhecimento que merecia. Não sendo um "galã" no sentido mais comum do termo, até pelo seu físico "rugoso", muitos filmes têm vivido em parte importante da energia e do talento das suas interpretações. É um actor que nos apetece sempre ver: como se dizia antigamente, em linguagem cinéfila popular, trabalha muito bem. A carreira de Tommy Lee Jones remonta ao princípio dos anos 70. Inclui muitos filmes produzidos para a televisão, entre os quais aquele em que obteve o seu primeiro grande prémio, o Emmy que lhe foi atribuído em 1983 pelo seu papel em The Executioner's Song (1982), adaptação do livro de Norman Mailer (1979), que foi de certo modo uma réplica do In Cold Blood (1966) de Capote. Foi só nos anos noventa que se começou a impôr no cinema. O ladrão tresloucado de Under Siege (Andrew Davis, 1992) ou o polícia de The Fugitive (Andrew Davis, 1992), em que ganhou o Oscar para papéis secundários, o militar do comovente Blue Sky (Tony Richardson, 1994) ou o assassino profissional de The Package (Andrew Davis, 1989 - este realizador indiscutivelmente menor de tantos filmes indiscutivelmente tão bem feitos merece que reparemos nele) - o Clay Shaw efeminado de JFK (Oliver Stone, 1991), são outros tantos papéis inesquecíveis. E há muitos mais. Já realizou dois filmes, o segundo dos quais se estreou não há muito: Os três enterros de Melquiades Estrada (2005). É uma vedeta (entre 1997 e 2002 os seus honorários em Men in Black 1 e MIB 2 passaram de 7.000.000 de dólares para 20, mais uma percentagem das receitas brutas, o que é a verdadeira marca do estrelato). Podemos vê-lo hoje na RTP 1 em Desaparecidas (The Missing, Ron Howard, 2003). Na TCM está a passar A gata em telhado de zinco quente (tem cinquenta anos, Cat on a Hot Tin Roof, 1958): mais um filme com Paul Newman, mais uma peça de Tennessee Williams e mais um filme do realizador Richard Brooks (a propósito de Newman, o título português de The Left-Handed Gun é Vício de matar).

FUTURO PRESENTE

Temos descurado, de certa maneira, a função primeira deste blog, que nasceu para ser o "diário de bordo" da nossa revista e tem sido desviado quase sempre dessa rota inicial. Temos uma desculpa: os gostos e desgostos e opiniões que, com maior ou menor regularidade, os colaboradores do blog e da revista aqui vão manifestando, os livros de que falamos, os filmes, os assuntos a que nos vamos referindo - são parte, evidentemente, desse "diário de bordo"; algumas vezes têm sido postos "por escrito" nas páginas da revista; mesmo quando lá não aparecem estão sempre presentes na medida em que correspondem a certos interesses, a certas curiosidades ou a certas preocupações. Ambicionávamos dar uma ideia mais "quotidiana" dos nossos trabalhos (em todos os sentidos!) mas não encontrámos o ritmo propício a essa tarefa, que em muito depende também do modo de redacção e preparação da própria revista, que ainda não é, como estamos a tentar que seja, o de um grupo de pessoas que regularmente se encontra, conversa e distila o conteúdo dela e o seu estilo. Sobre isto daremos notícias, se pudermos, quando pudermos.
Como muitos saberão o número 63 da revista Futuro Presente, o primeiro de cuja distribuição já totalmente se encarregou o grupo Civilização-Livrarias Bulhosa, tem estado nas livrarias e outros pontos de venda. O número 64, que tem estado em preparação, incluirá provavelmente uma maior variedade de temas, em contraste com o aspecto imperfeitamente monográfico de muitos dos últimos números. Contamos publicar um estudo sobre a obra diplomática de Franco Nogueira, lembrar Joaquim Paço d'Arcos (que nasceu faz este ano cem anos) e o poeta Guilherme de Faria, a quem dedicou uma conferência que poucos recordarão, assinalar o cinquentenário da morte de dois grandes escritores italianos, Giovanni Papini (1956) e Curzio Malaparte (1957), etc. Lembrar Manuel Gama, morto em 2007, e a sua obra de crítico de cinema e de malogrado escritor. Também sobre isto daremos mais notícias. Até breve.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

THE LAST TYCOON - IMAGENS


Aqui vão mais umas imagens para as crónicas de cinema do Miguel. Estas são de The Last Tycoon, um (o último) filme de Elia Kazan, com argumento de Harold Pinter, inspirado na obra de F.Scott Fitzgerald, sobre os últimos anos de Irving Thalberg, um produtor de Hollywood. Com, entre outras celebridades, Robert de Niro ! Ufa!

QUE FITA VAI HOJE? - DÉCIMO PRIMEIRO DIA

É outra vez a vez da RTP Memória: hoje, às 22.05 dá-nos a oportunidade de rever O compromisso (The Arrangement, 1969), ante-penúltimo filme de Elia Kazan, salvo erro. Tenho de o tornar a ver (só o vi quando se estreou em Portugal) - mas suspeito que continuará a não ser um dos meus preferidos, embora haja quem diga que ganha em ser visto agora. Faye Dunaway, ainda em todo o seu esplendor, é uma das intérpretes, "contra" a senhora Deborah Kerr: FD tinha sido uma revelação dois anos antes, em Bonnie and Clyde, de Arthur Penn, mais um membro da geração da televisão - que dirigiu precocemente um Billy the Kid intelectual, The Left- Handed Gun, 1956, com o jovem e ainda muito "metódico" Paul Newman; houve também The Thomas Crown Affair, 1968, cujo tema era o "The Windmills of Your Mind", dos Bergman, Alan e Marylin, e de Michel Legrand, que ainda se ouve (foi a primeira versão de O caso Thomas Crown; na segunda, relativamente recente, com Pierce Brosnan no papel antes desempenhado por Steve McQueen, e Rene Russo, no de FD, deram-lhe um pequeno papel), o imortal Chinatown, de Roman Polanski, Os três dias do Condor, e muitos outros papéis, quase todos menos memoráveis, ou talvez a memória já não seja o que era.
Kazan, para mim, continua a ser o de Há lodo no cais (On the waterfront, 1954), A Leste do Paraíso (East of Eden, 1955), e Esplendor na relva (Splendour in the Grass, 1961), um magnífico filme "histérico", magnificamente fotografado por Boris Kaufman, com uma magnífica Natalie Wood, e um dos filmes mais melancólicos de sempre (é mais um texto de William Inge). E também, um bocadinho, o de A Face in The Crowd (Um rosto na multidão, 1957) e The Last Tycoon (1976) adaptação de um dos meus romances preferidos, o romance inacabado de F. Scott Fitzgerald que tem o mesmo título, com um Robert de Niro ainda não cristalizado.
Para os realmente noctívagos, duas notas: às 04.30 de amanhã o Canal Hollywood exibe A sangue frio, do nosso já várias vezes mencionado Richard Brooks, adaptação muito honrosa da obra prima de Truman Capote In Cold Blood (porque é que a melhor literatura em inglês, de há muitos anos a esta parte, se encontra no jornalismo?); às 02.45, no TCM, pasa um dos filmes menos interessantes de Sidney Lumet, The Hill; uma consulta ao Biographical Dictionary of Film de David Thomson serviu para me lembrar de um filme pouco falado de Lumet, Q&A, e da notabilíssima interpretação que nele tem Nick Nolte, provavelmente o melhor desempenho de toda a sua carreira.

MY BEAUTIFUL LUNCHEONETTE

Fica na esquina da Rua de S.Julião e da Rua Augusta. A gerência abriu um balcão para a rua - um dos poucos sítios onde se pode tomar café e fumar ao mesmo tempo - o único sítio, fora as esplanadas, num raio de 100 metros. Tem um alpendre ou toldo que nos protege da chuva ou do sol. Há gauffres.

ELEIÇÕES AMERICANAS: UM MUNDO SEM MELODIA

Também torço até certo ponto pelo Senador McCain. What else? Mas estas eleições americanas são eleições sem alma: está-se sempre à espera que os bonecos se desmanchem e apareçam os mecanismos que os fazem viver. McCain acabou por sucumbir à tentação de puxar dos seus galões militares e mostrou-se mesquinho e desastrado no último debate com Romney - mas, de facto, eliminou-o da corrida, e Romney (Romney!) era quem estava melhor colocado para lhe disputar a nomeação: os assessores é que devem ter razão; nós, treinadores de bancada, não percebemos nada. Estes candidatos à liderança dos US of A, e do mundo, talvez não sejam piores do que muitos dos outros que os antecederam - mas havia uma certa frescura e um certo entusiasmo na política americana, mesmo nos seus aspectos mais sórdidos, manipulativos e brutais, que parecem ter desaparecido para sempre.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DÉCIMO DIA

Em primeiro lugar, as minhas desculpas: primeiro, por ainda não ter postado os títulos em português de alguns dos filmes aqui mencionados (os meus arquivos têm estado temporariamente fora do meu alcance), em particular o de The Sheepman, de George Marshall, como especificamente prometi e, mais tarde ou mais cedo, cumprirei ; segundo, por um erro que já corrigi: - embora continue a ser eminentemente esquecível como realizador, Glenn Gordon Caron não foi responsável por nenhuma das transmissões dos Oscars, confundi-o com outro realizador ainda mais esquecível, Gilbert Cates, que este ano pela décima quinta vez tornou a produzir o espectáculo. A propósito, não me pareceu necessário lembrar que a noite passada foi justamente a noite dos Oscars, octogésima edição. Foi transmitida em directo, como tem sido hábito, pela TVI - e às três da manhã ainda ia em menos de meio... Hoje, já entrado o dia de amanhã (01.20) é exibida a versão reduzida da cerimónia.
Para fazer horas, sugiro o filme de Sidney Lumet O assassino está entre nós, (A Stranger Among Us, 1992), às 21.30, no Canal Hollywood. Sidney Lumet é mais um octogenário ainda em actividade no cinema (há vários, embora com quase cem anos só o nosso Manuel de Oliveira, que nasceu em Dezembro de 1908, o mesmo ano de nascimento de outro dos nossos mais importantes cineastas e cinéfilos, António Lopes Ribeiro, centenário devidamente assinalado na versão on line da Annualia da Verbo - full disclosure: sou colaborador da Enciclopédia Verbo). Sidney Lumet nasceu um ano antes de Paul Newman. Pertence àquela geração de cineastas americanos que fizeram o seu tirocínio na televisão que referi a propósito de John Frankenheimer. O primeiro filme de Lumet foi o célebre Twelve Angry Men, em português Doze Homens em Fúria, 1954, um tour de force dramático e cinematográfico, passado todo dentro de uma sala em que estão reunidos os membros de um júri. Henry Fonda, todo de branco, claro, é "a voz da razão" que consegue levar os outros jurados a declarar o acusado "not guilty". É um daqueles filmes cheios de boas intenções e maus argumentos que, no entanto, é um espectáculo excelentemente realizado e um mostruário de bons actores e boa escrita dramática. O autor do original televisivo e do argumento para cinema foi Reginald Rose. Numa revisão recente, Leo McKinstry diz que é "a movie classic (but) also liberal nonsense" ("Why the kid should have gone to the chair", The Spectator, 15 de Setembro de 2007). De Lumet, que realizou dezenas de filmes, lembro só mais dois: o notável The Deadly Affair (Duas plateias para a morte, 1966, uma das primeiras adaptações cinematográficas do John Le Carré cuja celebridade estava a despontar; o livro é Call for the dead e George Smiley ainda é quase uma figura secundária) e O Veredicto, outro filme que apetece ver mais do que uma vez e que já mencionei a propósito de Paul Newman e do grande papel que tem (The Verdict, 1982, que é uma consoladora fantasia judicial, foi escrito por David Mamet).

AINDA AZNAVOUR

Só a lembrar "les bons vieux temps"... do C.A.

domingo, fevereiro 24, 2008

BONECO(A)S - MIGHTY APHRODITE


Aqui vão os boneco(a)s Woody Allen e Mira Sorvino para o filme comentado hoje pelo Miguel. É óptimo, aliás.

QUE FITA VAI HOJE? - NONO DIA (SEM CONTAR OS INTERVALOS)

Telegraficamente: a RTP1, depois de ter dado à tarde Master and Commander (uma bela versão cinematográfuca da saga naval escrita por Patrick O'Brian, O lado longínquo do mundo, 2003, Peter Weir), um filme que se adapta mal à televisão, exibe esta noite, 00.40, Poderosa Afrodite, de Woody Allen. É o filme em que Mira Sorvino, mulher de má vida e bom coração, diz ao seu suposto cliente, Allen, quando lhe abre a porta: Are you my three o'clock?

PASSEIO DE DOMINGO - PARIS, ANNÉES 60 (3)


Uma das mulheres mais lindas do mundo ao tempo era (ainda é) a Catherine Deneuve, que em 1967, precisamente, tinha feito, com o Buñuel, Belle de Jour. Fica aqui para a turma dos "nostálgicos", que ontem estava em força no Aznavour.

PASSEIO DE DOMINGO - PARIS, ANNÉES 60 (2)

Assim vê-se melhor - eram mesmo estas ruas, embora como é evidente a senhora com sacos em primeiro plano não seja "a mulher mais bonita do mundo"...

PASSEIO DE DOMINGO - PARIS, ANNÉES 60



"Et Nous avions 20 ans!" Isso era o principal, embora eu me tenha convencido que aprendi - fui aprendendo - a viver com a idade que Deus me vai dando. Mas ontem lá fui ouvir o Aznavour, em "la dernière tournée". Casa cheia, um bocado "pró idoso"- o público - e muito em revival, mesmo nos trajes. O Aznavour, nos 84, lá se aguentou em palco hora e meia, e tirando "um fadô" e uma cantiga ecológica que decidiu incluir no repertório, muito bem!

Com essas nostalgias todas, achei que não havia hoje melhor para ir que a Paris. No (fim) dos anos 60, quando lá fui pela primeira vez. Paris era então a cidade-santa da nossa geração - dos livros da "droite buissonière", das memórias do Notre avant-guerre, da"Algérie Française", da "OAS Metropole", e donde partiam para o fim do Império os heróis do Lartéguy. Isto pelo que tinha a ver só com a nossa "tribo" ideolgicamente territorializada.

De resto, como para todos os mortais, Paris era as ruas do Quartier Latin, era os pintores de Montmartre (o Utrillo do"Montmartre sous la Neige"), era a Brigitte Bardot, os "films noirs" e policiais do Jean-Pierre Melville, com o Alain Delon e o Lino Ventura. Mas era sobretudo as ruas, a chuva miúda, os "Dauphine", os"livres de poche", os cigarros Caporal. E aquela expectativa de que a mulher mais bonita do mundo podia de repente sair de uma "boutique" da Avenue Montaigne ou do Faubourg Saint-Honoré e deixar-nos olhar para ela, como se nos fosse ligar alguma coisa.

O Aznavour (ainda) tem a ver com isto, pelo que fez sentido ir lá ontem.

BALCANIZAÇÃO - 2

"A Agência Havas, só tagarelava sobre a Herzegovina, a Bósnia, a Bulgária e outras curiosidades bárbaras..."

(Eça de Queirós, O Mandarim, 1880)

sábado, fevereiro 23, 2008

BALCANIZAÇÃO

A palavra existe por alguma razão.

QUE FITA VAI HOJE? - SEGUNDO INTERVALO:"A VIDA É UM JOGO"

Há cinquenta anos que Paul Newman faz parte da minha vida no cinema. Lembro-me perfeitamente do primeiro filme que vi com ele. Foi O Cálice de Prata (The Silver Chalice, Victor Saville, 1954). Fui vê-lo ao "Atlântico", um cinema ao ar livre, com cadeiras de verga, que existia no Cascais das minhas férias de Verão. Das traseiras de uma das casas em que passei esses verões antiquíssimos, na Rua Direita, via-se um bocado do écran. Esse filme foi também o primeiro em que ele entrou. Passava-se na antiga Roma e o Paul Newman ficava um bocadinho ridículo com o seu saiote romano. Newman pertence a um grupo de intérpretes que se costuma designar, com mais ou menos exactidão, como "Method actors", actores que passaram pela escola de interpretação fundada em Nova Iorque por Cheryl Crawford, Elia Kazan e Robert Lewis no fim dos anos 40 e dirigida desde 1951 por Lee Strasberg que se manteve no seu posto até morrer, em 1982. Era um "expressionismo" interpretativo que não servia para tudo e se ajustou sobretudo a uma dramaturgia e a um tipo de papéis que hoje resultam muitas vezes datados. No princípio da sua carreira Newman foi muitas vezes comparado ao grande expoente dessa escola de interpretação que foi Marlon Brando: chamaram-lhe o "novo Brando". Mas a sua persona teve sempre um elemento fundamental de "decência" que o separou do resto do grupo - e lhe permitiu, também, outros voos interpretativos. Dos tempos de Madrid, muito depois desses longínquos tempos do velho Cascais - outro século, uma vida - o Paul Newman de que me lembro mais vivamente é o de O Veredicto, uma das suas grandes interpretações. A carreira de Newman (que nasceu em 1925) é longuíssima - ainda não acabou - e vastíssima. Nem a noite toda chegava para a percorrer sumariamente. A Vida é um Jogo (The Hustler, Robert Rossen, 1961) é um dos seus marcos importantes - embora não seja ele o que há de mais importante num filme que é certamente o melhor do seu realizador, tem como director de fotografia o grande Eugene Shuftan e é a revelação de George C. Scott, tem como montadora Dede Allen e como quase figurante o boxeur Jake La Motta, o Raging Bull de Scorsese - o mesmo Scorsese que filmaria os "25 anos depois" do protagonista de The Hustler, o "Fast" Eddie Felson que voltou àss salas de bilhar em A Cor do Dinheiro (The Color of Money, 1986). A vida é breve e a arte longa. Para já, ficamos por aqui.

THE SWEET BIRD OF YOUTH



Com Paul Newman e Geraldine Page e realizado por Richard Brooks (a partir de uma peça de Tennessee Williams). Bom, tenho aqui o Paul Newman e a Geraldine Page e não resisti a este "poster" do filme da autoria de Jack Vetriano.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

A ERA DA FRAGMENTAÇÃO - KOSOVO (1)


O maior risco para a estabilidade e a paz, maior mesmo que o macroterrorismo, é o princípio voluntarista de que deve ser comunidade política independente qualquer entidade, com população e território, que decida por metade mais um dos seus membros, passar a sê-lo.
De há 50 anos para cá a correcção política manda que assim seja. Daí, e não por quaisquer conspirações ou maquinações imperialistas e capitalistas, uma enorme quantidade de Estados falhados, consagrados e admitidos na ONU, mas incapazes de se defender, de alimentar e cuidar da sua população, mesmo de ter a lealdade política primeira dos seus habitantes.
O Kosovo parece-me ser mais um desses Estados. Os que os fabricaram e fabricam - a virtual "comunidade internacional" - mexem na História e na Geografia, ao gosto caprichoso do parecer bem político-mediático, em nome de grandes frases redondas e simpáticas.
Não admiram os resultados. E o pior ainda está para vir,.

QUE FITA VAI HOJE? - OITAVO DIA (SEM CONTAR COM DOIS DE INTERVALO)

Confesso que me passou desapercebida a exibição à uma da manhã de hoje de The Sheepman (1958, amanhã dou o título em português), um filme do prolífico George Marshall, que morreu em 1975, com 84 anos (quantos filmes - numa carreira que foi de 1917 a 1969 ?). É um muito bem sucedido western em tom de comédia, com Glenn Ford (e Shirley Mac Laine), que o crítico David Thomson muito justamente destaca como um dos seus filmes "mais cativantes e característicos". Marshall, entre muitas outras coisas, dirigiu o primeiro filme da parelha Dean Martin-Jerry Lewis. Se aparecer outra vez não o percam. Tarde demais, também: o Hollywood deu esta tarde o relativamente recente e "agradável" Almost Famous, um filme auto-biográfico de Cameron Crowe (Quase Famosos, 2000), um realizador não excessivamente notável mas simpático e cinéfilo: publicou um bom livro sobre o grande Billy Wilder (Quanto mais Quente Melhor, Sunset Boulevard, Double Indemnity e por aí fora).
A noite de hoje não é famosa, a propósito, mas merece pelo menos uma ou duas notas: o TCM passa dois filmes (um já vai a meio, peço desculpa) de Richard Brooks, Sweet Bird of Youth (O doce pássaro da juventude, 1962, 20.00 horas), com Paul Newman, uma adaptação de uma peça de Tennesse Williams, um dramaturgo cujo contributo para o cinema americano do pós-guerra longo é fundamental, e Take the High Ground (1953), muito de madrugada (03.20)um filme da guerra da Coreia, que foi um dos primeiros do realizador. Um bocadinho mais cedo, também no TCM (o1.20) pode ver-se The Loved One, uma adaptação do romance de Evelyn Waugh, dirigida por Tony Richardson: dois ingleses de quem tornaremos a falar, que bem merecem, embora neste caso nenhum deles esteja no seu melhor.
Não me demoro mais. Só um aviso, Amanhã à tarde (Hollywood, 17.00), há mais uma exibição de A Vida é um Jogo, de Robert Rossen (outra vez Paul Newman, além de George C. Scott), em inglês The Hustler (1961).

A CLASSE POLÍTICA

Peter Osborne, contributing editor de The Spectator de Londres, tornou-se o grande especialista inglês da actual "classe política" da Grã-Bretanha. Saíu, de resto, em 2007, o seu tratado sobre a matéria, The Triumph of the Political Class. Segundo Osborne a "classe política" ocupa actualmente o lugar que pertencia à elite dirigente que era conhecida por "Establishment", um termo e um conceito cuja criação é atribuída, aliás, a outro colaborador da Spectator, Henry Fairlie, e datada dos anos 50 ("How The Spectator invented the Establishment", The Spectator, 15 de Setembro 2007). O 20th Century Words da Oxford University Press (1999) indica usos mais antigos do termo mas reconhece que foram os artigos de Fairlie que realmente generalizaram a sua utilização.

A descrição da "classe política" não é muito lisonjeira: "uma elite dirigente estreita, interesseira e cada vez mais corrupta", que despreza o "povo" e atravessa as linhas partidárias e ideológicas. Para mais pormenores, e como introdução, pode ler-se o artigo de Osborne publicado no número da revista acima citado.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

CUBA NO

Já é politicamente quase correcto criticar Fidel Castro ( Mas com cuidado. “Please note - recomenda a CNN aos seus jornalistas, numa recente nota interna - that Fidel did bring social reforms to Cuba – namely free education and universal health care, and racial integration [sic] in addition to being criticized for oppressing human rights and freedom of speech.” A informação, intitulada RULES OF JOURNALISM, e com o respectivo link, está no blog http://www.instapundit.com/.) Mesmo assim, o momento em que o ditador de Cuba se despoja das vestes do poder que exerce implacavelmente há 50 anos servirá para novas doses de mistificação. É uma boa altura para lembrar o hilariante panegírico de Alexandre Cabral Um Português em Cuba (Publicações D. Quixote, 1969), um impagável case study de desmistificação involuntária. Também se recomenda o documentado estudo de Julia E. Sweig Inside the Cuban Revolution (2002), um dos muitos livros publicados nos últimos tempos que retratam a revolução cubana sem a habitual e obrigatória reverência. É especialmente interessante a história do jornalista pró-castrista do "New York Times" Herbert Mathews, um livro que saíu há já dois anos, The Man Who Invented Fidel (Anthony DePalma, "Public Affairs", 2006), e que um crítico sintetizava assim no FT: "Os abjectos resultados da perda de objectividade". Os romances negros e brutais de Pedro Juan Gutiérrez, o filme de Julian Schnabel sobre Reinaldo Arenas Before the Night Falls (2000), em português Antes que anoiteça, ou o Havana - Cidade Perdida, de Andy Garcia, são bons antídotos para a visão rósea do regime castrista que resiste a desvanecer-se de vez - et pour cause. Chris Marker, um cineasta de esquerda, realizou em 1961 um documentário sobre os primeiros tempos da revolução cubana em que achava que estava a guardar para a posteridade aquilo "que um dia talvez seja considerado o momento decisivo de toda uma era da história contemporânea". Chamou a esse filme Cuba Sí! Mas não, Cuba No.

QUE FITA VAI HOJE? - INTERVALO, AGORA A SÉRIO


Hoje fazemos mesmo intervalo. E com a ajuda do Jaime que se tem interessado benevolamente por este "cineclube", aqui fica uma "boneca" de que falámos ontem: Tuesday Weld Tribute.

Mesmo assim, não resisto a acrescentar uma rápida referência a um dos filmes de hoje, All Fall Down, no TCM, 23.05: realizador John Frankenheimer - 1930-2002 (Dois bons filmes do fim da carreira: Ronin e Reindeer Games, um "clássico" dos princípios da sua carreira de realizador dos anos 60 da geração que começou na televisão, O Candidato da Manchúria, etc.), um argumentista especializado em psicologias torturadas, o dramaturgo William Inge, os começos de Warren Beatty, Brandon de Wilde, um adolescente que conhecíamos do seu papel infantil no mítico Shane...

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

THE CINCINNATI KID OU - A VIDA É UM POKER

Bom,ao ler estas crónicas de cinema do Miguel não resisto a ir buscar uns "bonecos"(e já agora, piada machista e óbvia, de vez em quando umas bonecas) para as ilustrar e matar saudades destes grandes filmes. Joguei "poker" em duas ou três fases da minha vida: nos últimos anos da Faculdade , em que tínhamos - eu, o Angelo César, o João Nuno Magalhães uma "mesa" certa; em Carmona(Uige) na tropa. E e às vezes na caça ou na quinta,...
Uma conclusão e um conselho: jogando regularmente numa mesma "mesa",fica-se em casa; e se se tiver a a autodisciplina de ir a jogo só quando se tem (algum) jogo, é difícil não ganhar. Falo do "sintético", que é o que gosto de jogar.

QUE FITA VAI HOJE? - INTERVALO

Não é que hoje não houvesse nada que dizer. Em matéria de cinema na televisão, mesmo nos piores dias há sempre que ver - ou de que falar. Hoje, a propósito de The Cincinnati Kid (Norman Jewison, 1965), que passa às 20.00 no TCM, podíamos falar de póquer, um assunto que está na moda e cujo campeonato mundial em Las Vegas tem prémios que ombreiam com os de todos os campeonatos do mundo de qualquer modalidade, de Steve McQueen, de Edward G. Robinson (duas grandes figuras do cinema americano), de Tuesday Weld - uma rapariga da minha idade que ganhou muito com a passagem do tempo, pelo menos até 1981, ano em que teve uma curta mas inesquecível participação em Thief, um filme interessante de Michael Mann antes de ser o Michael Mann festejado de Heat (Al Pacino e Robert de Niro) ou Collateral (Tom Cruise e Jamie Foxx) e antes de ter tido a tristíssima ideia de fazer um filme de Miami Vice, a série de televisão que criara com êxito nos anos 80 (não me lembro nem tenho à mão os títulos em português de todos estes filmes). Podíamos falar do remake americano do Rashomon de Akira Kurosawa (The outrage, Martin Ritt, 1965, TCM - 23.30), com um Paul Newman mexicano! Podíamos falar de Guillermo del Toro (Blade II, RTP1, 23.50, é só para saberem, não vale realmente a pena) ou James L. Brooks e Jack Nicholson (Melhor é Impossível, TVI, As good as It Gets, 1997, uma da manhã). Podíamos falar... Mas não. É intervalo.
Só duas observações: uma, que é uma pena que os filmes em cinemascope sejam quase todos trucidados com a passagem em formato "normal", outra que há certos filmes que, mais do que outros, sejam assassinados pelo "pequeno écran" - pelo menos nas condições em que os vêem os cinéfilos televisivos básicos como eu, que não têm home movie centers como deve ser (foi o caso, ontem, de Uma História de Violência, e é o caso de um The searchers, um dos meus filmes preferidos e um dos grandes filmes de todos os tempos, A desaparecida, de John Ford, 1956.

PORTUGAL

O Público apurou quais são as palavras que o senhor Engº José Sócrates mais tem usado nos seus discursos como Primeiro Ministro. Um exercício que teria sido bastante mais trabalhoso se não tivéssemos os recursos informáticos à nossa disposição. O jornal publica a "ficha técnica" desta investigação, realizada por dois beneméritos da Universidade Nova e remete também para dois sítios em que se podem ler, num, "a lista completa" e, noutro, um outro exercício do mesmo género da autoria do jornalista Paulo Querido. As três palavras mais frequentes no universo analisado são "Portugal", "Europa" e "Governo". Miguel Gaspar tenta tirar algumas conclusões dos resultados - que não vamos aqui discutir. Mas "Portugal" - como sublinha o diário - "é a palavra de que Sócrates mais gosta". Amores que matam.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - SÉTIMO DIA

Não há fome que não dê em fartura. Depois da escassez de ontem - hoje só temos o embaraço da escolha. Na RTP Memória, onde passam - quase sempre desapercebidos - filmes interessantes, é exibido esta noite (22.o5) The Sun Also Rises, adaptação do romance de Hemingway. É mais um cinquentenário: o filme foi produzido em 1957, por Darryl F. Zanuck para a Twentieth Century Fox (tema de The Studio, um esplêndido livro de jornalismo cinematográfico do falecido escritor John Gregory Dunne). É - a vida tem destas coisas - um dos últimos filmes em que entrou o Errol Flynn, muito gabado num papel que pouco tem a ver com sua figura de galã atlético e mais a ver com a sua reputação de estróina e bêbado. Realizou Henry King, um realizador de segunda linha, pouco falado, que no entanto tem alguns filmes que não são para desprezar. O argumento foi escrito por Peter Viertel, argumentista que trabalhou com muitos dos maiores realizadores de Hollywood e morreu com 85 anos, em Novembro do ano passado, duas semanas depois de sua mulher - Deborah Kerr ("vimo-la" há dias em O Grande Amor da Minha Vida e quero acreditar que muita gente ainda se lembre dela - e esta madrugada aparece outra vez no melodrama, "adulto" para a época, Chá e Simpatia - 1956, Vincent Minnelli, no TCM). O título do livro de Hemingway serviu para uma gracinha que correu Hollywood nos tempos de glória de David Selznick, outro grande produtor de cinema - o de E tudo o vento levou, por exemplo - que era genro de Louis B. Mayer: The Son-In-Law Also Rises. Na RTP1, um bocado mais tarde, pode ver-se o terceiro filme da série Dirty Harry, com Clint Eastwood; o primeiro, de Don Siegel, nunca foi igualado, mas a série é uma curiosidade com algum interesse "sócio-psicológico". O Biography Channel, por acaso, dá às nove da noite e às três da manhã uma biografia de Clint Eastwood. E falando de relações entre comics, novelas gráficas, etc., e cinema, tem de ver-se Uma História de Violência, de David Cronenberg (TVI, marcado para a meia noite e vinte). Já chega.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

ERROL FLYNN - O HERÓI COMO OFICIAL E PIRATA (1)



O Miguel, ao falar hoje de dois filmes com o Errol Flynn, nas suas magníficas notas de cinema, tem trazido para aqui algumas memórias importantíssimas. Deixo aqui dois "bonecos" do actor no "Gavião dos Mares" e em "A Carga da Brigada Ligeira".
O herói como pirata, pirata-cavalheiro, entenda-se. E como protagonista de um gesto heroicamente inútil, à Cyrano. Já não nos podemos dar muito a tais luxos - passamos por eles há 30 anos,mas ainda nos podemos dar ao luxo de os admirar. E dizê-lo.

QUE FITA VAI HOJE? - SEXTO DIA

Pela boca morre o peixe. O domingo não é bom? Que dizer então da segunda-feira...Mais uma vez temos de nos remeter ao TCM (Turner Classic Movies), que tem para muita gente o inconveniente de passar os filmes sem legendas - que mesmo más, como é costume, sempre ajudam quem conhece patrioticamente mal as línguas estrangeiras. O canal que pertenceu ao ex-marido de Jane Fonda exibe esta noite um mini retrospectiva de Errol Flynn: The Sea Hawk, 1940 (O Gavião dos Mares) e The Charge of the Light Brigade, 1936 (A Carga da Brigada Ligeira), ambos dirigidos por Michael Curtiz, um realizador que fez de tudo - e bem. O Gavião dos Mares é, evidentemente, um filme de "capa e espada", baseado num romance de Rafael Sabatini, que também escreveu os livros em que se basearam O Capitão Blood, 1935 (outro filme de Errol Flynn e...Michael Curtiz) e o grande Scaramouche. Sabatini emparelha com Emilio Salgari, os dois autores italianos que marcaram a infância de muitos portugueses da minha geração. Teremos que voltar a Errol Flynn, a Sabatini e a Michael Curtiz. A "carga da Brigada Ligeira" foi uma desafortunada carga de cavalaria que Alfred (Lord) Tennyson imortalizou numa famoso poema. No genérico do filme indica-se que o Argumento é de Tennyson (poema) e mais não sei quem. Lembra a história de uma adaptação cinematográfica de uma peça de Shakespeare em cujo genérico se podia ler que o argumento era de William Shakespeare, com "diálogos adicionais" de um qualquer argumentista de serviço. Até amanhã.

O DIABO DA DEMOCRACIA

Os encantos do mundo "desencantado" da democracia e da modernidade perderam muita da sua frescura: são como os de uma velha cocotte cuja decadência nem pinturas nem cirurgias conseguem disfarçar. Vivemos "tempos difíceis para a democracia", escreve o historiador Niall Ferguson, embora sem perder o optimismo democrático (Ferguson é o autor de A Guerra do Mundo, Civilização, 2007). Don't panic - diz ele, nesse recente artigo sobre o "inverno da liberdade" - the democratic tortoise can still win in the long run.
Tem havido reflexões muito sérias e muito profundas sobre a "crise" da democracia como as de Fareed Zakaria sobre a "democracia iliberal" - ou as de Marcel Gauchet, autor de La Démocratie contre elle même, para só falar dos tempos mais recentes e de autores "integrados". Mas o que é mais notável é que são cada vez mais os democratas que não encontram palavras suficientemente fortes para classificar certas situações e certas "derivas" dos regimes democráticos, mesmo os aparentemente mais sólidos. Faz cinco anos Luciano Canfora falava da "impostura democrática" - há dias Regis Debray espraiou-se em cento e tal páginas sobre vários aspectos da "obscenidade democrática". De caminho, tivémos a "ilusão democrática" glosada em vários tons por outros ensaistas europeus, "a ilusão populista", os vários "défices democráticos", etc., etc., incluindo dois recentes ensaios anglo-saxónicos, The Myth of the Rational Voter, Why Democracies Choose Bad Policies, de Bryan Caplan, e The Rise of the Unelected: Democracy and the New Separation of Power, de Frank Vibert, comentados por Samuel Brittan, há uns meses, sob o título "The devil in Democracy - Majorities and Pluralities Can Often Be Misleading" (Financial Times Magazine, Julho 2007).
Deixo aqui para futuras discussões uma declaração de voto de C.S.Lewis (citado por Eugene Genovese): "Sou democrata porque acredito na Queda do Homem. Acho que a maior parte das pessoas são democratas pela razão oposta. Uma boa porção do entusiasmo democrático provém das ideias de gente como Rousseau que acreditava na democracia porque pensava que a humanidade é tão boa e tão sábia que toda a gente merece participar no governo. A verdadeira razão para a democracia é exactamente a contrária. A humanidade é tão pecadora que não se pode confiar a nenhum homem um poder ilimitado sobre os outros. Aristóteles dizia que havia homens que não serviam senão para ser escravos. Não digo o contrário. Mas rejeito a escravatura porque não vejo homens dignos de ser senhores."

domingo, fevereiro 17, 2008

AFINAL A ALETA ESTÁ

E está muitíssimo bem, com o seu Príncipe Valente.

QUE FITA VAI HOJE? - QUINTO DIA

Nos canais ditos generalistas, o domingo não é um grande dia de cinema, apesar de tardes cheias de filmes. À noite, os que há são ainda mais tarde do que o costume - e muitas vezes não só a más horas mas em má hora. Para hoje optei por me referir a dois filmes que são exibidos um atrás do outro no TCM a partir das 20.00: Intriga Internacional (um daqueles que estão sempre a ser repetidos), de Alfred Hitchcock (North By Northwest, 1959) e This Could Be the Night (mais um filme cinquentenário, 1957-1958), que é, tanto quanto me lembro e consegui verificar, a única comédia da carreira de Robert Wise (se descontarmos os lados humorísticos de West Side Story e The Sound of Music, os filmes mais conhecidos deste realizador). Robert Wise. que morreu em 2005, foi montador, em, por exemplo, Citizen Kane (O Mundo a Seus Pés, de Orson Welles), antes de passar à realização. Como realizador, assinou dois filmes de boxe que se destacam no género: The Set-Up ("Punhos de Campeão" - ? -1949, incluído geralmente no canon do chamado film noir) e Somebody Up There Likes Me, (Marcado pelo Ódio, a biografia de Rocky Graziano, com Paul Newman, 1956). Quanto a Intriga Internacional e ao seu realizador, não carecem, como se costuma dizer, de apresentação. Dá-se o caso que Manuel Gama, que fui buscar para patrono desta série de posts, escreveu sobre este filme no nº11 da revista Tempo Presente, uma grande revista cultural dos anos sessenta (o número um tem a data de Maio de 1959, outro cinquentenário a assinalar a seu devido tempo). O artigo tinha por título "Noves fora nada ou Hitchcock em corpo inteiro". Era um texto a contra-corrente da moda crítica do tempo e de que vou dar uma amostra: "Julgo que o grande estardalhaço internacional provocado pelos filmes de Alfred Hitchcock se deve ao facto de não terem os filmes de Hitchcock nada lá dentro. (...) Todo o crítico de cinema é um criador frustrado. A um crítico de cinema uma obra acabada por dentro e por fora, cheia de forma e de conteúdo, sem rarefacções por onde se possa insinuar a colherada criadora das ideias próprias, aparece sempre como uma coisa intrusa, desvirtuadora, sem receptividade. O que o crítico quer é uma fita que seja uma página onde se possa escrever, uma página branca onde se possam inserir todos os coteúdos". Eu continuo a divertir-me com Intriga Internacional e com outros destes perfeitos "espectáculos escorrentes como manteiga derretida". Mas acho graça à tese do Manuel - e ao facto de que muitos anos depois foi a tese de Tom Wolfe sobre a pintura moderna, no texto intitulado justamente The Painted Word, "A Palavra Pintada"...

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PASSEIO DE DOMINGO - CAMELOT

Como tenho andado em evocações e memórias da Aleta e do Príncipe Valente, achei que fazia algum sentido ir até Camelot, a capital do Rei Artur, que nos anos 60 se popularizou na gíria jornalística também como a Casa Branca dos Kennedy. Vejo ali o Valente, o barbudo coroado da direita deve ser o Rei Artur e a dama ao seu lado a Guinevere.
Tudo isto abre novas e interessantes possibilidades às imaginações para aí viradas...Só lá não está a Aleta. Pena.

sábado, fevereiro 16, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - QUARTO DIA

Outra vez a RTP: esta noite, às 23.40, a RTP2 passa O GrandeAmor da Minha Vida, "um dos filmes mais românticos de todos os tempos" segundo o American Film Institute (ver a referência na Wikipedia). Foi realizado, fez o ano passado 50 anos, por Leo McCarey, que era o autor de uma primeira versão, Love Affair, com Charles Boyer e Irene Dunne. Não vi o primeiro filme, mas o segundo é de ver e - é o caso de dizer - chorar por mais. Nora Ephron prestou homenagem a este clássico do género "melodrama" ou, como dizem na gíria americana, tear jerker, em Sleepless in Seattle (Sinfonia de Amor), com Tom Hanks e Meg Ryan. Warren Beatty prestou-lhe um mau serviço com um remake de 1994, em que ele próprio interpretava sem grande entusiasmo o principal papel masculino e a protagonista feminina era a sua mulher Annette Bening. Para este filme, Beatty recuperou o título original, Love Affair, mas escreveu um novo argumento. A principal distinção do esforço é ter sido o último filme em que entrou Katherine Hepburn. O realizador foi Glenn Gordon Caron, um nome eminentemente esquecível na história do cinema (assina muitos telefilmes e foi o criador da série de televisão Moonlighting, a da agência de detectives de Cybill Shepperd e Bruce Willis). Um dos autores do argumento original foi Delmer Daves (1904-1977), que em parte da sua carreira se dedicou aos filmes "sentimentais" (escreveu e realizou nos últimos anos de actividade vários filmes com Troy Donahue, um bonitão jovem e um bocadinho leitoso dos anos 60 que tem no segundo filme da série O Padrinho o melhor papel da sua carreira, como marido comprado da irmã de Michael Corleone). Notabilizou-se como realizador de vários filmes de cow-boys de primeira água, como o excelente O combóio das 3 e 1o (recentemente refeito), do mesmo ano que a versão de Love Affair que é hoje exibida, 1957, Jubal, Broken Arrow (A Flecha Quebrada), Cowboy, etc., vários deles com um Glenn Ford mais notável do que normalmente se reconhece.

AS DESCULPAS AUSTRALIANAS

O novo Primeiro Ministro australiano apressou-se a apresentar as desculpas da Austrália (ou seja, numa curiosa forma de neo-colonialismo ou neo-paternalismo, dos australianos de origem europeia) à população aborígene daquelas paragens - que tem o seu passado também e não certamente mais imaculado do que o nosso. Para usar a fórmula cunhada noutro contexto por Maria de Fátima Bonifácio, não estamos muito motivados - eu não estou, pelo menos - para esta discussão das "desculpas" que se multiplicam pelos crimes ou abusos do passado, em que prevalecem a má-fé, a "agenda política", as pretensas verdades "científicas", a ignorância ou a pura e simples estupidez. José Pacheco Pereira, com paciência de Job, aborda longamente este assunto no Público de hoje. Ontem ou anteontem, no mesmo jornal, Rui Tavares ditava a sua sentença sobre a matéria, com a falsa bonomia auto-satisfeita que passa à esquerda por humildade. É evidente que as heranças históricas não podem ser aceites a benefício de inventário - mas a questão não é essa, normalmente: é um exercício só aparentemente masoquista (um masoquismo à custa alheia, de uma esquerda que quer ter sempre a consciência tranquila) cujo principal objectivo é deprimir os valores "reaccionários"- sem olhar a meios ou mais propriamente, o que é mais grave, a factos. Uma versão interesseira ou inconsciente da "tentação da derrota", na expressão de Antoine Vitkine no título de um recente livro. Quanto à história australiana, vale a pena visitar o sítio The Sidney Line, do historiador Keith Windschutlle. Windschutlle, autor de The Killing of History, How Literary Critics and Social Theorists are Murdering Our Past, está a publicar (saíu o primeiro volume, que vai até 1847) The Fabrication of Aboriginal History.

VALENTE TENTAÇÃO DE VALENTE

Não sei quem será exactamente esta criatura que vem perturbar o tão direito Príncipe Valente...mas a Aleta chegou just in time...

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

À PROCURA DO REI ARTUR 2


Bom, o trailer de ontem da procura do Rei Artur era super-kitsch. Nada a ver com Excalibur do John Boorman nem sequer com os desenhos românticos do Harold Foster no "Príncipe Valente"! O que eu gostava da Aleta quando tinha sete anos...E hoje continuo a achar-lhe imensa graça.

À PROCURA DO REI ARTUR

QUE FITA VAI HOJE? - TERCEIRO DIA

Constantine é o filme da noite de hoje, na RTP1. Para a minha geração, Constantine é o Eddie Constantine, um "duro" francês à americana, que entre outros desempenhos (incluindo o de protagonista de Alphaville, de Jean Luc Godard) personificou no cinema o detective Lemmy Caution, uma criação do escritor Peter Cheyney, pulp fiction inglesa. Neste caso é o nome de uma espécie de detective privado nascido nas páginas de uma revista de histórias em quadradinhos. Também protagoniza um jogo de video. O filme, que é de 2005, é mais um exemplo da relação entre comics, jogos, novelas gráficas, que tem sido uma marca do cinema recente - de Sin City aos derivados da iraniana Marjane Satrapi, num registo um tanto diferente. No IMDB, uma base de dados cinematográficos, informam-nos que a Motion Picture American Association deu ao filme a classificação R, pela violência e imagens demoníacas. Também não é fora do normal para muitos destes exercícios. A RTP Memória passa às dez da noite um meio-western de Richard Brooks, o realizador de Os profissionais e, salvo erro ou omissão, a única outra incursão do realizador no Faroeste, onde não se saíu mal de todo. Embora mais fora de mão, lembro que o canal FX exibe também esta noite O Exorcista de William Friedkin - não o digo só por este filme mas principalmente porque devemos a este realizador o excelente French Connection (o primeiro) - e a consagração de um dos grandes actores de cinema dos últimos trinta anos, Gene Hackman.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - SEGUNDO DIA

O canal de cabo Turner Classic Movies (TCM) exibe hoje às 20.00 (pela tricentésima vez?) o clássico Casablanca, um dos resultados mais perfeitos do sistema de produção
conhecido por studio system, o infame sistema dos grandes estúdios de Hollywood que morreu há já muitos anos às mãos de vários assassinos de que não vamos aqui falar hoje. Na altura não deixou muitas saudades - e só depois veio a ser lamentado, até por muitos dos seus mais ferozes críticos. É dos filmes mais citados (às vezes incorrectamente, como no caso do famoso "Play it again, Sam", que Woody Allen usou como título de uma peça, depois adaptada ao cinema num filme com o mesmo título que Allen escreveu e interpretou mas não dirigiu). Toda a gente se lembra de ter ouvido alguma das mais célebres réplicas de Casablanca, como por exemplo "Louis, I think this is the beginning of a beautiful friendship" (H. Bogart - Rick - para Claude Rains -o Capitão Renaud), "The only cause I'm interested in is me" (Rick - o falso anti-herói que é uma marca registada do falso cinismo americano), "You played it for her, you can play it for me." (Rick para o pianista Sam, que não quer tocar As Time Goes By, a canção que o filme imortalizou), "If she can stand it, I can! Play it! (continuação da mesma cena, em que nunca ninguém diz "Play it again; Sam"), "Remember, this gun is pointed at your heart." - "That is my least vulnerable spot" (Rick-Capitão Renaud), etc., etc. incluindo a réplica do Capitão Renaud, o capitão "vichysta" que tem um coração de ouro, "Major Strasser has been killed. Round up the usual suspects.", usada por Aljean Harmetz no título de um exaustivo estudo da génese e rodagem do filme, Round up the usual suspects, The making of Casablanca. Em 2002, Bryan Singer rodou um divertido "divertimento" pós-moderno, em cujo título também foi usada esta réplica, The Usual Suspects.
No canal Hollywood passa ás 21.00 A Paixão de Shakespeare, Shakespeare in Love, um filme de John Madden muito premiado mas que vale a pena ver, para já. Fica para outro dia um comentário mais abundante sobre Shakespeare e o cinema, uma relação que tem pano para mangas.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

QUE FITA VAI HOJE?

"Críticos, críticos! Pobres deles, pobre de mim. Não obstante os críticos, todas as noites se enchem os cinemas. Amáveis comédias, farsas destruidoras da lógica convencional, amplas gestas dos vaqueiros de novecentos, dramas psicológicos, choques de sentimentos simples em situações invulgares, sombrias pesquisas nos degraus mais baixos de uma sociedade irregular e difícil, poemas e dramas. 'Que fita vai hoje?'. Como eu vos amo e vos admiro, e vos invejo, espectadores do 'que fita vai hoje?'. Que fita vai hoje, que fita vai hoje?"

O mote é do saudoso Manuel Gama, num livro brilhante e inolvidável intitulado Cinema e Público em Portugal (Ática, Lisboa-1959). Passados quase cinquenta anos, os cinemas já não são os mesmos e cada vez menos se enchem todas as noites ("no total, em 2007, passaram pelos cinemas nacionais menos 49.000 pessoas do que no ano anterior", informava o Público de ontem); já não há, só é preciso dizê-lo porque cada vez menos gente se lembrará ainda disso, aquelas solenes estreias em enormes salas onde se encontrava "toda a gente", as senhoras faziam "toilette" e os homens iam de gravata, como para toda a parte. O cinema está longe de ter morrido, ao contrário do que têm noticiado com notório exagero alguns profetas mais precipitados. Mas mudou; e mudou muito mais ainda a maneira como o vemos.

As casas de todos nós tornaram-se na maior sala de cinema do mundo. Os que todas as noites, sem filmes alugados ou comprados, sem mais do que os canais chamados generalistas ou, quando muito, o "pacote básico", se sentam diante de um móvel iluminado para ver o que dá - são, hoje, os irmãos actualizados desses espectadores do "que fita vai hoje?" de que falava M. Gama. Tentarei todos os dias escolher alguma ou algumas dessas fitas que todos os dias são oferecidas aos mais humildes de entre nós - e falar delas e de alhos e bugalhos. Assim Deus me dê vida e saúde.

ELEIÇÕES AMERICANAS, HOJE DE MADRUGADA - DÉJÀ VU

Primeira página do Financial Times de 5 de Janeiro deste ano:

"Clinton on the attack as Obama takes the lead" ....

domingo, fevereiro 10, 2008

PASSEIO DE DOMINGO - GREENWICH (CONN.,USA)

Há dois anos passei uns dias de férias aqui em Greenwich, no Sul de Connecticut, em frente a Long Island. Já tinham passado muitos anos sobre esta cena de praia, contemporânea da Zelda e do Scott Fitzgerald, personagens por quem sempre tive o maior interesse e que devem ter frequentado o local. Pelo menos, Long Island que fica em frente.
Além disso Connecticut votou John McCain nas "primárias" republicanas.
Este Verão talvez lá volte...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

"O meu livro, disseram [os críticos jacobinos ou liberais], é um quadro pitoresco, mas falta-lhe o princípio orgânico, a 'linha lógica', porque eu não a soube ou não quis ver na tradição revolucionária de 20, esse movimento 'em que pela primeira vez se revelou a classe média de advogados, jurisconsultos e coronéis.' - ' Pinta com cores verdadeiras, prossegue o meu crítico (T. Braga), esta dissolução do regime monárquico parlamentar, mas é injusto lançando à conta do organismo da Nação o que é produzido pelo corpo estranho da realeza e dos políticos vendidos'. (...) Se pretendi mostrar por quanto entrava nas misérias da nossa História contemporânea a fraqueza dos caracteres, a apatia ou loucura das populações, o desvairamento dos chefes: patenteei, parece-me, quanto esses males sociais provinham, não só dos legados da História, como da influência deprimente e desorganizadora das teorias do naturalismo individualista, herdado da filosofia do séc. XVIII e popularizado pela Revolução Francesa. Sob o nome indefinível de liberalismo, essas doutrinas, nos seus aspectos sucessivos, vieram terminar afinal no materialismo prático, fazendo dos 'melhoramentos materiais' o pensamento exclusivo do povo, e do Governo uma agência de caminhos de ferro. Como se nós valêssemos absolutamente mais por andarmos em doze horas em vez de trinta ou trinta e seis, a distância de Lisboa ao Porto!
Mas o que ofendeu sobretudo liberais e jacobinos foi o tom pessimista - ao que dizem - da obra. Eu tinha-a por justiceira apenas, e até às vezes caridosa. 'Fica-se com a cara a uma banda'. Pois fique-se. Concordo que a atitude é desagradável, mas, na minha missão de crítico, não posso alterar a significação dos factos, sem poder também acreditar que tamanhos males venham apenas da circunstância de haver sobre um estrado de alguns degraus um homem de manto e coroa com as mãos atadas pelos políticos de espadim e farda. Eles governarão o rei, mas quem os escolhe a eles é o povo; se são maus, por que os prefere? Não. A culpa é portanto nossa, de todos nós, que não valemos grande coisa - fique-se embora com a cara a uma banda!"

Oliveira Martins, "Explicações" na segunda edição de Portugal Contemporâneo, 1883.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

PASSEIO DE DOMINGO - (ATRASADO) - URBINO


Viajei de Maputo pra Lisboa no Domingo e estive até agora sem INTERNET. Por isso falhei o costumado longo passeio... Mas hoje, falando com a G. de cidades bonitas de Itália, apareceu Urbino onde nunca fui. Fui agora mesmo ver "imagens"e acho que vou lá ir logo que possa.

OS LIVROS DA "TRETA"

O inglês Terry Arthur acaba de publicar um segundo volume do seu já desactualizado "guia da política", de 1975. Esse primeiro intitulava-se 95 per cent is crap, o segundo simplesmente Crap, um plebeísmo que se pode traduzir por "treta". São livros dedicados à inventariação e crítica dos modos como na política do Reino Unido se fala uma linguagem destinada, como diz um comentador, a "mentir, confundir e prevaricar". Em cada capítulo ilustra-se uma modalidade desse idioma praticado pela generalidade dos políticos - e não só: é citada uma professora de liceu que propôs acabar com os "reprovações" e chamar-lhes antes "aprovações diferidas". Um dos melhores capítulos é o do "Illogical crap", em que se destaca o que diz respeito ao "aquecimento global" e ofícios correlativos.

sábado, fevereiro 02, 2008

REALISMO FANTÁSTICO - MULHER PÓS-CATÁSTROFE


As tendências românticas primitivas tendem a evoluir ou regredir para formas superores ou inferiores que incorporam outra sensibilidade e experiência. Pelos anos 70 estávamos a chegar ao realismo fantástico. Esta" heroína" ou "miúda" do Luís Royo é representativa dessa mudança. Do tempo e nossa.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

ALETA E O PRÍNCIPE II


Aleta, a Princesa Aleta do "Príncipe Valente" de Hal Foster, deve mesmo ter sido a primeira paixão da minha vida. Era loira, era linda, era princesa, era calmíssima. E era muito corajosa. Aparecia nas histórias nas revistas de quadradinhos que lia.
Hoje encontrei-a, por acaso, na NET e morri de saudades. Que partilho aqui.

O REGICÍDIO

Faz hoje cem anos que foi assassinado El Rei D.Carlos. Matámo-lo. Pagámos esse crime com juros - continuamos a pagá-lo. O centenário é assinalado por diversas iniciativas e homenagens ao Rei: http://www.dcarlos100anos.pt/. Para já, a efeméride tem suscitado um benfazejo interesse pela sua figura, pela sua obra e pela sua época.

ROMANTISMOS - ALETA E O PRÍNCIPE