segunda-feira, dezembro 31, 2007

"CAÇADORES NA NEVE"

(Peter Breughel,1565)
Sempre me fascinou este quadro de Breughel. Foi pintado em 1565, e tem aquele poder misterioso e sedutor da realidade que nos surpreende e nos faz sonhar ao mesmo tempo; como escreveu um historiador de Arte a propósito é "tranquilizante" enquanto podemos ver as coisas como são, mas é também"deliciosamente surpreendente". Como gostamos, no fundo, que sejam as pessoas e as coisas que mais amamos.
O que vejo aqui é uma cena na Europa do século XVI, "século de Ferro", de guerras religiosas e razão de Estado, de Carlos V e de Filipe II, dos Valois e de Henrique IV, de Henrique VIII e de Isabel I, de D.Manuel I, D.João III e D.Sebastião. Dos últimos condottieri e dos primeiros grandes generais profissionais. Mas também de Holbein, de Dürer, de Lutero, de Santo Inácio, de Erasmo, de Brantôme, de Montaigne, de Camões , de Cervantes e já de Shakespeare-"inventor do humano".
Dentro e longe de tudo isto, indiferentes e diferentes, mais da Natureza que da História, os três caçadores de Breughel voltam com os seus cães da caça, numa paisagem realista e mágica, como se todo esse mundo da política , da força, da guerra, tivesse muito para lá dessa linha do horizonte, pintada com cores tão iguais às que pomos, dentro de nós , à nostalgia desse e de outros dias em que como os Caçadores da Neve voltámos para uma Ítaca qualquer donde tínhamos partido outro dia para Tróia ou Pérsagada.
Um Ano de 2008 com de manhãs de partida para o vasto Mundo, é o melhor que posso desejar aos que por aqui passam.

domingo, dezembro 30, 2007

PROSSEGUINDO NO INVERNO COM OS BREUGHEL (2)

Este outro quadro invernoso dos Breughel é também do Peter-o Velho(Estas famílias dotadas têm que recorrer às designações deste género, para fugir à confusão,em que eu também entrei e espalhei...Aqui é uma paisagem mais rural e a alegria do Inverno está também no modo como os personagens se parecem divertir no gelo. E na luz é claro!

sábado, dezembro 29, 2007

CLÁSSICOS POLÍTICOS DO SÉCULO PASSADO

E.H.Carr(1892-1982)
Arthur Koestler(1905-1983)


Na edição de hoje do WSJ, Ernest Lefever recorda alguns dos clássicos da política do século XX. Eis alguns:

1. The Twenty Years' Crisis: 1919-1939
By E.H. Carr
Macmillan, 1939

Published in 1939 just before Hitler invaded Poland, "The Twenty Years' Crisis: 1919-1939" was one of the first modern books on world politics in the classic tradition of Thucydides and Machiavelli. During the long weekend between the two world wars, says British scholar E.H. Carr (1892-1982), there was in the English-speaking world an almost "total neglect of the factor of power." Like Reinhold Niebuhr, whom he often quotes, Carr believes that a balance of power among states is the starting point in foreign policy but that morality is an essential consideration. Utopian "superstructures such as the League of Nations," he said, were not the answer. Carr's critics point to his early pro-Nazi stance and his muddled thinking about communist Russia. He once wrote that "the Russian Revolution gave me a sense of history" and it "turned me into a historian." That said, this book remains a seminal work on the realism that instructed U.S. and British Cold War statesmen.

2. Darkness at Noon
By Arthur Koestler
Macmillan, 1941

Born into a learned Jewish family in Budapest, Arthur Koestler (1905-83) was educated in pre-Nazi Germany. He became a Communist, served as a journalist in the Spanish Civil War and later visited the Soviet Union -- experiences that led him to conclude that both fascism and Marxism were evil political religions. Fluent in five languages, he wrote the novel "Darkness at Noon," one of the 20th century's most stirring anticommunist works, in English. He said that his characters in "Darkness at Noon" were fictitious but that "their actions are real," a composite of Stalin's "so-called Moscow Trials" and its victims, several of whom he knew personally. This intimacy with real victims enabled Koestler to make vivid the torture, brainwashing and forced confessions of uncommitted crimes. With consummate skill he underscored the vital moral issues of the Cold War, indeed of the human d

PASSEIO DE DOMINGO - NO INVERNO COM OS BREUGHEL (1)

Um certo mistério e alegria do Inverno, igual ao que na minha infância encontrava nos calendários suiços ou nos desenhos animados de Walt Disney, com famílias de ursos a dormir em casinhas de madeira nos bosques da Nova Inglaterra, encontro agora nestes quadros dos Breughel, que não deixam de sugerir as artes das histórias aos quadradinhos: é uma vida privada, burguesa, com propósito, reagindo a uma pintura de Corte com temas de Reis e famílias aristocráticas, posando arrogantes, ou a santos a santas da narrativa bíblica. Aqui é todo o oposto. E estou mesmo a encontrar semelhanças com uma tempestade de neve que apanhei no último Inverno, em Washington, quando fui ali levar a Teresinha para um estágio de três meses.

domingo, dezembro 23, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - LONDRES NO NATAL

Li, mínimo, "Um Conto de Natal" de Dickens. Foi uma das impressões fundas da infância esse Natal, ou os vários natais e espíritos de natais ali contados. Era um livro ilustrado e por isso entre os pobres e os ricos apareciam essas famílias numerosas, as casas, as luzes, as cores.Mas aparecia sobretudo a propria cidade de Londres, na manhã da redenção do Velho Avarento. Era também o tempo em que "O Cavaleiro Andante" publicava a "Marca Amarela"-Londres dos anos 50. Estava agora a lembrar-me de tudo isso e apeteceu-me, de súbito, ser um personagem do Dickens nesta história (talvez o sobrinho bondoso do Scourge) e ir até Londres neste Natal.

sábado, dezembro 22, 2007

NOVO E VELHO ATEÍSMO

De The New Republic:

"In the penultimate chapter of his best-selling book The God Delusion, biologist and world-renowned atheist Richard Dawkins presents his view of religious education, which he explains by way of an anecdote. Following a lecture in Dublin, he recalls, "I was asked what I thought about the widely publicized cases of sexual abuse by Catholic priests in Ireland. I replied that, horrible as sexual abuse no doubt was, the damage was arguably less than the long-term psychological damage inflicted by bringing the child up Catholic in the first place." Lest his readers misunderstand him, or dismiss this rather shocking statement as mere off-the-cuff hyperbole, Dawkins goes on to clarify his position. "I am persuaded," he explains, "that the phrase 'child abuse' is no exaggeration when used to describe what teachers and priests are doing to children whom they encourage to believe in something like the punishment of unshriven mortal sins in an eternal hell."

Why Dawkins refuses to take this idea to its logical conclusion--to say that raising a child in a religious tradition, like other forms of child abuse, should be considered a crime punishable by the state--is a mystery, for it follows directly from the character of his atheism. And not just his. Over the past four years, several prominent atheists have made similarly inflammatory claims in a series of best-selling books. Philosopher Daniel Dennett shares Dawkins's hostility to religious education, warning ominously in Breaking the Spell that "under the protective umbrellas of personal privacy and religious freedom there are widespread practices in which parents" harm their children by teaching them ignoble lies. In The End of Faith, writer Sam Harris argues that "the very ideal of religious tolerance--born of the notion that every human being should be free to believe whatever he wants about God--is one of the principal forces driving us toward the abyss." And then there is polemicist Christopher Hitchens, whose manifesto God is Not Great culminates in a call for humanity to "escape the gnarled hands which reach out to drag us back to the catacombs and the reeking altars and the guilty pleasures of subjection and abjection ... to know the enemy, and to prepare to fight it."

Journalists have dubbed this combative style of challenging religious belief "the new atheism." To the extent that the appellation is meant to highlight the novelty of virulently anti-religious ideas finding a mass audience in the United States, it is certainly fitting. But, as a description of the style of unbelief itself, it demonstrates a striking lack of historical awareness. That's because "the new atheism" is not particularly new. It belongs to an intellectual genealogy stretching back hundreds of years, to a moment when atheist thought split into two traditions: one primarily concerned with the dispassionate pursuit of truth, the other driven by a visceral contempt for the personal faith of others."

quinta-feira, dezembro 20, 2007

NÃO APAGUEM A MEMÓRIA 1

Faz hoje 90 anos a criação da Tcheka, a "polícia política" ou "polícia secreta" do regime comunista russo - uma das mais duradouras instituições soviéticas e certamente a mais perfeita e mais eficiente. Foi criada por Lenine e continuada e aprimorada por sucessivas gerações de humanistas soviéticos. O nome foi mudando: GPU, NKVD, KGB. As siglas são acrónimos de nomes como "Comissão extraordinária pan-russa para a repressão da contra-revolução e da sabotagem" (versão inicial) ou, mais discretamente, "Comité de Segurança do Estado" (a última versão, que durou até ao fim do regime soviético russo). O modelo deu tão bons resultados que foi exportado para todos os países ou zonas do mundo em que o poder soviético se estabeleceu ou quis estabelecer. À medida das ambições do Partido Comunista e da dimensão do primeiro país que conquistou, as suas vítimas contam-se por muitos milhões no mundo inteiro, a começar pela Rússia dos primórdios da Revolução. O nome original figura no título de um dos grandes romances do século XX, o Madrid de Corte a Checa do falangista Agustín de Foxá, cuja acção decorre na Espanha que vai da proclamação da República à Guerra Civil. Um dos criadores da Tcheka instruia assim os membros da organização, em 1918: "Não interessa procurar provas de que o vosso prisioneiro se opõs ao poder soviético por palavras ou acções. O vosso primeiro dever é perguntar-lhe a que classe pertence, quais as suas origens,, qual o seu grau de instrução e qual a sua profissão". Como lapidarmente escreveria mais tarde o revolucionário Victor Serge, que a Revolução não poupou, o que distingue a justiça revolucionária da justiça burguesa é que julga as pessoas pelo que são e não pelo que fizeram. Eram tempos sinceros em que contribuir para implantar o "Terror Vermelho" era um título de glória. Quem procurar "Tcheka" na Internet encontra em primeiro lugar duas ou três páginas de referências ao cantor cabo-verdiano que tem esta palavra como nome artístico e, ao que parece, é uma celebridade internacional. O emblema da Tcheka, que se manteve igual através de todas as suas encarnações, é constituido por um gládio e um escudo, com a foice e o martelo no centro de uma estrela de cinco pontas.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

REVER CHARLOT

A RTP 2 tem estado a dar-nos a oportunidade de ver ou rever alguns dos filmes de Charles Chaplin. No programa dos sábados "Sessão dupla", a segunda parte está a ser dedicada por umas semanas a várias das suas longas metragens, sendo a próxima um dos últimos filmes da sua melhor fase: "Luzes da cidade" (1931), ainda mudo, já em pleno cinema falado (sonoro, o cinema sempre foi, mesmo quando a música tinha de ser providenciada "ao vivo"). A favor de mais uma daquelas efemérides que nos servem agora de muleta quase obrigatória para falar seja do que fôr (neste caso, o trigésimo aniversário da morte do criador de "Charlot") o mesmo canal da televisão tem passado também todos os dias os episódios de uma série dedicada aos filmes de Chaplin. Em unidades de mais ou menos meia-hora um artista convidado faz um comentário ilustrado de um dos filmes do autor. A série foi orientada pelo Director da Cinemateca Francesa, Serge Toubiana, e inclui muito material "extra", além de sequências ou cenas do filme em cada caso escolhido. Entre os comentadores convidados contam-se oficiais do mesmo ofício, como os realizadores Claude Chabrol, Emir Kusturica ou os irmãos Dardenne. Melhores ou piores, vale sempre a pena ver esses programas. (O meu preferido, dos que vi, foi aquele em que Claude Chabrol comentou M.Verdoux, um filme de 1947 em que Charles Chaplin já não é "Charlot"). Nos Estados Unidos a grande criação de Chaplin que o tornou um ídolo universal era "Charlie" - no Brasil "Carlitos". Em Portugal sempre lhe chamámos sem sequer nos preocuparmos em traduzir do francês, "Charlot". O Charlot pobre, mau e vingativo das curtas metragens dos primórdios ainda nos faz rir. "A Quimera do Ouro" ou "Luzes da Cidade" ainda nos divertem e abundam em bons gags e grandes números de "pantominice", em que a graciosidade acrobática de Chaplin e o seu génio cómico e cinematográfico nos compensa do sentimentalismo que já os contamina. O Chaplin mais consciente e organizado dos filmes posteriores não é muito interessante: Tempos Modernos (Modern Times, 1936), já é muito forçado e revisto agora perde muito do seu lustre mal recordado; O Grande Ditador, de 1941 (a famosa sátira de Hitler e do nacional-socialismo) é menos do que menor, sem agudeza, sem graça e, até, sem virulência, sem a ferocidade que se poderia esperar do autor e do assunto. Em contrapartida, A Woman of Paris, de 1923, um drama muito anterior, sobrevive muito bem - é um excelente filme: esquecemo-nos de que é mudo. E o que pudemos ver do M. Verdoux confirma o bem que se tem dito dessa sátira - essa realmente desapiedada. A visão de Chaplin é o contrário de uma visão cristã: nunca lhe assentou bem a versão incompreensível dos sentimentos cristãos a que se costuma chamar "humanismo".

CONSIDERAÇÕES INTEMPORAIS

Uma característica das correcções políticas é a recusa do real, das coisas como são e das suas consequências. O optimismo antropológico é também uma negação obstinada e continuada do real, inspirada nas mundivisões do Século das Luzes.
A Literatura desse período é uma literatura de salão, para cortesãos, literatos e literatas; são utopias positivas, em que as sociedades pensadas racionalmente e construídas por processos de engenharia mental, são sempre superiores às sociedades existentes; como os “outros”, os antípodas civilizacionais – persas, chineses, índios, primitivos - são superiores aos europeus; e as suas religiões, superiores à nossa; e os seus costumes e instituições melhores, que os nossos. Isto em relação a povos e culturas que praticavam regularmente a antropofagia, a tortura, o massacre.
Esta tradição utópica desenvolvida naquilo a que George Sorel chamou as “ilusões do progresso” – teve um destino conhecido. Com Marx e Engels, e por obra de Lenine e Mao, veio a engendrar e a inspirar os socialismos reais. A sua base de legitimidade era o vício, o erro, das sociedades reais – capitalistas, tradicionais, hierárquicas, religiosas, nacionais. Por isso procuraram essa construção racional do melhor dos mundos. Acabaram produzindo sociedades policiais, desiguais, tirânicas, oligárquicas e os mais sanguinários regimes da História.
Esta foi a linha da democracia totalitária, convencional, francesa, robespierrista, que abriu caminho para a esquerda sistémica e vanguardista. Marx daria uma base filosófica materialista e uma teoria geral de História Económica, como História da Economia Política, para legitimar e sofisticar o modelo. Os “desastres” do capitalismo trariam o resto. A História do século XX ilustrou o destino desta construção.
A outra linha deste optimismo tem a ver com o individualismo anglo-saxónico, entre Hobbes, Locke e Stuart Mill. E com a Revolução Inglesa que resultou num empate a que os Ingleses conseguiram dar uma forma dinâmica e de síntese com as suas instituições do século XVIII que permitiram essa mistura única de comércio e império, de filantropia e poder naval, de indústria e poder, de tecnologia e religião. E a América, filha dilecta da Revolução Atlântica, manteve esta simbiose e estas características, dentro de uma dialéctica liberais-conservadores que chegou até nós.
Hoje o modelo convencional marxista morreu. Com a contra-revolução capitalista na RPC e o fim da União Soviética, ficou reduzido às microtiranias cubana e norte-coreana. Restos patéticos. A China e a Rússia são hoje regimes nacionais autoritários: o chinês, de capitalismo de Estado, em que a política comanda a economia, que procura o fortalecimento da nação; a Rússia, de capitalismo vigiado em que o poder político (Putin) mostrou aos poderes económicos que podem ganhar dinheiro, desde que não se metam no seu caminho.
Em certo sentido, embora a linguagem mantenha essas “ilusões do progresso” – e hoje uns custos visíveis e ocultos da sua ficção, fomos aprendendo a viver com elas e a sobreviver-lhes. Mas às vezes, mesmo só na forma, podia haver mais verdade.

P.S. Despeço-me hoje dos leitores do Expresso. Foi interessante, para mim, esta coluna mensal. Espero que também tenha sido para vós.
Jaime Nogueira Pinto
Expresso, 15 de Dezembro de 2007

domingo, dezembro 16, 2007

PASSEIO (MELHORADO) DE DOMINGO - COM (OUTRAS) VALQUÍRIAS

Pensando melhor, as anteriores "Valquírias" , do Frank Frazzeta, eram um bocado cafonas, tipo cantoras gordas de ópera do final do Século XIX. Ora para uma cavalgada heróica, não fazia muito sentido. Assim fui ao Boris Valejo e descobri estas !It's an improvement...

sábado, dezembro 15, 2007

MULHER-DRAGÃO (LUIS ROYO)

O Luís Royo de quem estão vários albuns na FNAC também desenha umas miúdas de Fantasia(H) erói(ti)ca, que não são nada de passar despercebidas...

PASSEIO DE DOMINGO - CAVALGAR COM AS VALQUÍRIAS

Encontrei esta versão da "Cavalgada das Valquírias" no Frank Frazzeta, um dos meus artistas preferidos de Fantasia Heróica. Com o Valejo, o Vargas e o Luís Royo. Curioso, todos hispânicos a avaliar pelos nomes. Se encontrar outras sugestões de passeios de Fantasia Heróica vou pô-las aqui, pois acho que é do que estamos a precisar.

terça-feira, dezembro 11, 2007

QUARTA FEIRA, 12 DE DEZEMBRO: FUTURO PRESENTE - LIVRARIAS BULHOSA

Sessão Futuro Presente - Bulhosa em Lisboa no próximo dia 12 de Dezembro, quarta-feira, às 18.30, na Livraria Bulhosa de Entrecampos. Em data a determinar realizar-se-á uma sessão equivalente no Porto.
Como já anunciámos, desde o número 62 que as Livrarias Bulhosa se encarregam da distribuição do Futuro Presente. Para assinalar esta associação realiza-se quarta-feira que vem uma sessão de apresentação da revista (com o número 63 - cujo tema de capa é Salazar), em que estarão presentes, além de mim e do Jaime Nogueira Pinto, Luis Salgado Matos e Nuno Rogeiro.
Haverá também uma sessão de assinaturas do livro de Jaime Nogueira Pinto, Salazar- O outro retrato, 5ª edição.
A entrada é livre, claro.

A TRADIÇÃO JÁ NÃO É O QUE ERA

"A insistência dos conservadores sulistas na importância da poesia para a luta por uma sociedade justa nada tem a ver, apesar de repetidos equívocos, com a exigência de uma poesia política. Voltaram-se para a poesia em busca de uma visão estética de uma mais antiga visão cristã do florescimento da personalidade no seio de uma estrutura colectiva. e contrapuseram essa visão ao personalismo da ideologia individualista burguesa moderna. Allen Tate, John Crowe Ransom, Robert Penn Warren e os seus colegas partilhavam com William Butler Yeats, T.S. Eliot, W. H. Auden e outros grandes poetas do nosso século um apaixonado desejo de pôr de novo o mito no lugar que lhe pertence na literatura. Concordavam com Auden na necessidade do mito numa sociedade moderna em que 'os homens já não são apoiados pela tradição sem se darem conta disso'. E concordavam também com ele em que os homens têm agora que fazer conscientemente o que antes faziam por eles 'a família, o costume, a igreja e o estado'."

Eugene D. Genovese, The Southern Tradition - The Achievement and Limitations of an American Conservatism, Harvard University Press, 1994

domingo, dezembro 09, 2007

UM POEMA DE DYLAN THOMAS (1914-1953)

Dylan and Nancy-Retrato do poeta quando jovem


A Letter to My Aunt


A Letter To My Aunt Discussing The Correct Approach To Modern Poetry


To you, my aunt, who would explore
The literary Chankley Bore,
The paths are hard, for you are not
A literary Hottentot
But just a kind and cultured dame
Who knows not Eliot (to her shame).
Fie on you, aunt, that you should see
No genius in David G.,
No elemental form and sound
In T.S.E. and Ezra Pound.
Fie on you, aunt! I'll show you how
To elevate your middle brow,
And how to scale and see the sights
From modernist Parnassian heights.

First buy a hat, no Paris model
But one the Swiss wear when they yodel,
A bowler thing with one or two
Feathers to conceal the view;
And then in sandals walk the street
(All modern painters use their feet
For painting, on their canvas strips,
Their wives or mothers, minus hips).

Perhaps it would be best if you
Created something very new,
A dirty novel done in Erse
Or written backwards in Welsh verse,
Or paintings on the backs of vests,
Or Sanskrit psalms on lepers' chests.
But if this proved imposs-i-ble
Perhaps it would be just as well,
For you could then write what you please,
And modern verse is done with ease.

Do not forget that 'limpet' rhymes
With 'strumpet' in these troubled times,
And commas are the worst of crimes;
Few understand the works of Cummings,
And few James Joyce's mental slummings,
And few young Auden's coded chatter;
But then it is the few that matter.
Never be lucid, never state,
If you would be regarded great,
The simplest thought or sentiment,
(For thought, we know, is decadent);
Never omit such vital words
As belly, genitals and -----,
For these are things that play a part
(And what a part) in all good art.
Remember this: each rose is wormy,
And every lovely woman's germy;
Remember this: that love depends
On how the Gallic letter bends;
Remember, too, that life is hell
And even heaven has a smell
Of putrefying angels who
Make deadly whoopee in the blue.
These things remembered, what can stop
A poet going to the top?

A final word: before you start
The convulsions of your art,
Remove your brains, take out your heart;
Minus these curses, you can be
A genius like David G.

Take courage, aunt, and send your stuff
To Geoffrey Grigson with my luff,
And may I yet live to admire
How well your poems light the fire.

Dylan Thomas

PASSEIO DE DOMINGO - SANDTON - RAS


Vim aqui com alguma frequência a partir do final dos anos 80 e até meados de 90. Aliás a primeira vez tinha sido em Outubro de 1974, quando cá cheguei como refugiado político. Este Centro residencial e comercial era então o que havia de mais sofisticado na África do Sul e completamente inacessível para nós.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

SOCIALISTAS

O Público traz hoje na sua secção de efemérides uma fotografia da mesa do primeiro congresso do PSOE realizado legalmente em Espanha, na transición, com o Felipe González e o seu traje de pana de antes do marxismo ter sido metido na gaveta - e o Partido no Governo. Lembrou-me uma anedota espanhola, que não sei se já aqui contei, publicada dois anos e numerosos escândalos depois da primeira grande vitória eleitoral do PSOE na Espanha pós-franquista, numas eleições autárquicas. O ano dessas eleições (1979) tinha sido o do centenário da fundação do Partido e Madrid estivera cheio de cartazes com a severa efígie de Pablo Iglesias e o slogan: Cien Años de Honradez. O chiste era uma reprodução do cartaz onde se via acrescentado à mão "y dos en los Ayuntamientos". Lamento informar que isso não impediu o PSOE de ganhar as legislativas de 1982. No dia 1 de Dezembro desse ano Felipe foi investido como Presidente do primeiro governo socialista da história de Espanha.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

FIN DE SIÈCLE 2 - ZEITGEIST

"As ideias não se formam na cabeça do homem; voejam na athmosphera, respiram-se no ar, bebem-se na água, coam-se no sangue, entram nas moléculas, e refundem, reformam e renovam a compleição do homem.
-Segue-se que está liberal? - perguntou o pávido abbade-
-Estou português do século XIX."

(Calisto Eloy de Silos e Benevides de Barbuda, ex-deputado legitimista, A Queda de um Anjo, Camillo Castelo Branco, 1865 - grafia da quarta edição, s/d)

domingo, dezembro 02, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - PARIS, VARANDA DO HOTEL RAPHAEL

Era onde iria hoje, se pudesse. O "Raphael" é um hotel magnífico na Avenue Kléber, perto do Arco do Triunfo. Para mim tem várias referências importantes: o Ernst Jünger viveu lá os seus anos de ocupação e conheci lá o Jonas Savimbi, fez há pouco vinte anos. E tive saudades de Paris no Outono ou em muitos Outonos que por lá passei. Au revoir.

sábado, dezembro 01, 2007

O 1º DE DEZEMBRO

Quase acabava o dia sem menção aqui da Restauração da Independência de 1640. Já não passa sem ela. É o dia também em que faz hoje cem anos nasceu Francisco da Cunha Leão, o grande ensaísta de O Enigma Português e Ensaio de Psicologia Portuguesa, duas obras que deviam estar menos esquecidas e ser mais lidas ou relidas. A Guimarães Editores publica por estes dias Do homem português, uma colectânea de trabalhos dispersos do autor, com uma "introdução à sua obra por António Quadros, António Braz Teixeira, Pinharanda Gomes e Artur Anselmo". A restauração da inteligência portuguesa também é importante - e talvez prioritária enquanto ainda não está tudo perdido quanto à independência política.

IAN SMITH NA "NATIONAL REVIEW"

Ian Smith (1919-2007)
"Ian Smith, who died, age 88, was suited by birth and temperament to maintain the British Empire in Africa. Born in what was then Rhodesia in 1919, he served gallantly with the RAF in World War II (a crash permanently disfigured his face). After the war, he bought a cattle ranch and entered parliament. Britain was shedding its empire, however, to black successor states, which Smith could not accept. In 1965, as prime minister, he declared independence in order to maintain white power, and arrested, then fought, black nationalists. Pressured by his South African allies, he finally accepted an expanded franchise which in 1979 replaced him with a black Methodist bishop. But this did not satisfy world opinion. A 1980 election overseen by Britain put guerilla leader Robert Mugabe in power, where he remains today. Smith rejected majority rule; Mugabe's incompetence and crimes have defamed it. R.I.P."

The National Review