terça-feira, fevereiro 28, 2006

Sobre as Imagens



«A aceitação aristotélica das imagens, por um lado, e a sua rejeição platónica e judaica, por outro, correspondem a uma velha oposição entre conhecimento e sentimento, lógica e intuição, mente e coração. Aristóteles inclina-se a colocar as imagens de um lado dessa oposição: fazer imagens corresponde ao desejo que os homens têm de conhecimento. Para Platão, por outro lado, são produtos da nossa auto-complacência, destinados a satisfazer desejos vãos.

A batalha entre estes dois pontos de vista chegou aos nossos dias. Algúns séculos após os Judeus expurgarem as imagens da sua cultura, também os muçulmanos impuseram um ethos semelhante ao seu império. Os imperadores Leão III e Constantino V concertaram esforços para fazer o mesmo na Bisâncio do século VIII, e os puritanos pós-reformistas practicamente deixaram a Inglaterra "limpa" de imagens. Em 1996 os Taliban do Afeganistão, após a tomada de Herat, recolheram todos os aparelhos de televisão da cidade (essas máquinas de fazer imagens), e com elas ergueram, às portas da cidade, gigantescos espantalhos que adornaram com fitas magnéticas de cassetes de video.

Mas não é preciso ir tão longe para encontrar exemplos de iconoclasmo. Qualquer campanha de bairro que protesta a exibição de revisas pornográficas na montra da loja de esquina, evidencía o reconhecimento de que as imagens apelam ao desejo, e tem a capacidade de o "sequestrar".

Enquanto as imagens tiverem esse poder, persistirão também as objecções morais a elas.»

Julien Bell , What is Painting?, Thames and Hudson, Londres 1999

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Iconoclasmo

Não sabia que o termo inclui as duas partes supostamente em confronto no debate em torno das caricaturas:

Iconoclasta adj. - 1 que ou aquele que destroi imagens religiosas ou se opõe à sua adoração 2 que ou aquele que destroi imagens em geral 3 p.ext. que ou aquele que, nas mais diversas circunstâncias, destroi obras de arte, monumentos etc. 4 fig. que ou aquele que ataca crenças estabelecidas ou instituições veneradas ou que é contra qualquer tradição (...)

Definição dada pelo Dicionário Houaiss da Lingua Portuguesa

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Ainda os cartoons

Continua, com grande confusão e asneira, a guerra dos cartoons; que é, como a maior parte das guerras pós-modernas, em Portugal, estúpida, mal alinhada, mal arrumada. Os fundamentalistas "voltairianos" - nestas voltas Voltaire voltou como grande autoridade em matéria de liberdade de consciência - estão assanhados, mais uma vez, confundindo planos e situações.
Porque, em verdade, nenhum governo pensa, na Europa, em impôr a Censura ou intervir na opinião jornalística.
E também, os "voltairianos" liberalíssimos não aplicam o tal princípio voltairiano: na Alemanha são proibidas referências apologéticos do nazismo; na Itália um jogador de futebol foi recentemente multado por ter feito a saudação fascista, no Estádio, perante os adeptos; as hatred laws servem, exactamente, para proibir opiniões que segundo Voltaire não deveriam ser proibidas; nenhumas. Mas os "voltairianos" que temos são assim, batoteiros!
Também os esquerdistas farisaicos, bloquistas e companhia, vêm considerar a provocação aos islâmicos, não porque ofenda os seus sentimentos religiosos, a sua fé, mas porque, coitadinhos, eles são os oprimidos e nós os agressores e agredidos! E também escamoteiam as guerras do passado e a normalidade de luta de Estados e civilizações, em épocas clássicas, de guerras de tecnologia limitada.
Devemos respeitar as crenças e valores religiosos do mundo islâmico, mas não devemos ter complexos de culpa ou de inferioridade perante ele. Devíamos sim, ter o mesmo respeito, no Ocidente, pela religião e pelos valores, mitos e ritos, que implica a vida civilizada.
(A não perder o Inimigo Público de 17.02.6)

José Clementino Pais

Morreu o Ten. Coronel José Clementino Pais, comando, combatente, português, cristão, homem corajoso e bom amigo.
Chegou-me a notícia pelo José Pedro Caçorino que nos vai mantendo em comunidade, juntando as "partículas" desta tribo de companheiros de ideias e de causas, que vai perdendo algumas das suas unidades.
Depois da Guerra da Índia e da Guerra de África, na juventude José Pais estava nas campanhas para o Monumento aos Combatentes, aos Prisioneiros, de 10 de Junho, nesse espaço de continuidade de alinhamento das "partículas". Em 2002 foi publicado o seu livro Histórias de Guerra – dos anos 60 a 1974...
A última foi a guerra com uma doença terrível, na condição humana de todos nós. Foi valente em todas elas
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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Assiduidade

Não temos sido tão assíduos quanto desejaríamos - e quanto alguns nos reclamam. Faremos por melhorar. Também há quem estranhe que não estabeleçamos alguns links que ajudem a "dinamizar" o nosso blog. Tencionamos fazê-lo mas vamos restringi-los a blogs ou sites doutras publicações, nacionais ou estrangeiras.
Está quase completo o nº 60 da revista e já não vai demorar muito a sua publicação. É o último com data de 2005. Em breve publicaremos aqui o respectivo sumário e começaremos a dar notícias do nº 61. Entretanto, como talvez saibam, já está à venda em Lisboa o nº 59, em dois dos locais habituais, que são a Tema, nos Restauradores, nº 9, ao lado do Elevador da Glória e do antigo Café Palladium e na Livraria Ferin, na Rua Nova do Almada, onde já temos alguns "assinantes". Estará também à venda na Livraria Barata da Av. de Roma.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Outra vez Volkoff

Na sequência do meu anterior post sobre Vladimir Volkoff, um amigo fez-me chegar a informação de que este escritor de origem russa tinha falecido em Setembro passado. Perde-se assim uma das vozes que mais lutou contra o conformismo e o politicamente correcto.

Para além de alguns ensaios traduzidos em português, como o excelente "Pequena História da Desinformação", soube também que já havia publicado no nosso País, sob o pseudónimo de Lieutenant X (Tenente X), a série Langelot.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Má Fé


Já não me lembro em que livro de arte vi usar esta caricatura para exemplificar o poder metafórico de uma imagem, de tal maneira que depois de a ver nunca mais conseguimos olhar para o objecto representado sem lha sobrepôr.É uma caricatura feita em 1831 por Charles Philippon, que retrata o Rei Louis Philippe (o Rei cidadão) metamorfoseado numa pera. Tantas gargalhadas devem ter estalado sempre que alguém se lembrava do rei à hora da sobremesa, que em 1835 a censura foi reinstituida em França.

Na edição da Collins Fount Paperbacks, de The Screwtape Letters, de C.S. Lewis, dedicado a J.R.R. Tolkien, vem a seguinte epígrafe:
"The devil...the prowde spirite...cannot endure to be mocked." Thomas More (o diabo, esse espírito orgulhoso, não suporta ser troçado)

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A bolsa e a vida

O caso dos "cartoons" é um exemplo do conflito de visões do mundo, embora não na forma como é maniqueisticamente apresentado: de um lado o "Ocidente", com os valores politicamente correctos da tolerância, do iluminismo , do progresso, da liberdade; do outro o Islão medieval, reaccionário, primitivo e obscurantista.
Esta é a visão à filme de cow-boys, onde os bons são os inteligentes que não acreditam em coisa nenhuma senão na sua própria descrença - e no seu consequente direito a impô-la ou pregá-la aos que acreditam, como forma de os "esclarecer", "doutrinar", "civilizar", etc. Porque os crentes já não forçam os não-crentes a crer...
Esta atitude, que vem no fundo de um "complexo de superioridade" civilizacional, que os politicamente correctos não querem admitir, estende-se, também, no nosso mundo, às agressões rotineiras, na nossa TV, em programas televisivos humorísticos, contra as convicções, os sacramentos e os símbolos dos cristãos.
Os mesmos que exigem um irrepreensível respeito pelas "orientações sexuais" ou as "minorias", desrespeitam, grosseiramente, boçalmente, as convicções religiosas dos seus compatriotas católicos ou cristãos.
A diferença é que o espírito cristão dos "cristãos" na Europa os leva, hoje, a intimidar-se, a não reagir, a não ligar. Os islâmicos, com outra sensibilidade, agravada pela problemática histórico-política de um Ocidente que lhes quis impôr modelos, reagem violentamente, brutalmente, excessivamente, à provocação. Perdendo assim razão e deixando que a "rua árabe" seja manipulada por elementos políticos radicais, interessados no tal conflito de religiões e civilizações.
Já me parece legítimo o boicote económico aos produtos de países donde partam estes insultos gratuitos. Aí, o mercado funcionará e as empresas lesadas, que são capazes de ser anunciantes dos patrocinadores dos media em questão, tratarão de se defender. É a mão invisível, do ilustrado Adam Smith.
(em resposta a um inquérito do DN)

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Terrorismo ambientalista

Uma maneira agradável de ficar a saber mais sobre a literatura impressa ou electrónica que põe em causa cientificamente muito do que está "cientificamente provado" em matéria de ambiente é ler o thriller de Michael Crichton State of Fear: é aquilo a que se costumava chamar um "romance de tese", literariamente mediano mas eficaz, e foi mais um best seller de um escritor a quem a fortuna editorial sempre tem sorrido. Os livros de M. Crichton têm sido adaptados ao cinema em grande número (um dos filmes mais conhecidos é certamente O Parque Jurássico, mas há muitos mais; de todas essas adaptações cinematográficas a minha preferência divide-se entre Sol Nascente, um filme dirigido por Philip Kaufman, com Sean Connery, e O Décimo Terceiro Guerreiro,de John McTiernan, com Antonio Banderas. Michael Crichton também escreve argumentos cinematográficos e dirigiu ou produziu numerosos filmes. Foi o criador da famosa e bem sucedida série de televisão ER, "Serviço de urgência". Em State of Fear, contam-se, entre outras coisas, as malfeitorias de uma ONG ambientalista de sinistros desígnios. O livro tem, como é de esperar, "bons", "maus" e também parvos: um destes, um crente fervoroso na tese dos "bons selvagens", acaba por ser comido por uma tribo de canibais. No próximo número da revista, o 60, apresentamos um artigo que M. Crichton escreveu no Wall Street Journal com uma selecção de Cinco livros que questionam a "sabedoria convencional" em matéria de ambiente.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Doutrina

Ainda não lemos a encíclica de Sua Santidade o Papa Bento XVI "Deus é Amor". Sabemos que cunha mais uma expressão que será tão marcante no debate cultural contemporâneo como a da "cultura da morte" que devemos a João Paulo II: é "a ditadura do relativismo". O filósofo René Girard fala extensamente da nova encíclica, a primeira deste pontificado, numa entrevista concedida à revista New Perspectives Quarterly (NPQ) que talvez possamos publicar - e certamente comentaremos.