quarta-feira, abril 22, 2009

QUE FITA VAI HOJE? - SÓ UMA?

Esta noite, 00.15, na TVI, passa Jarhead (Máquina zero, 2005). Começou por ser uma notável "crónica da guerra do Golfo e outras batalhas", um livro muito bem escrito pelo ex-marine Anthony Swofford (especialidade: sniper) e depois foi este filme realizado por Sam Mendes, um encenador inglês que entrou de rompante no cinema com American Beauty (Beleza americana, 1999), seu filme de estreia, que o tornou imediatamente célebre. Acho que merece ser visto (não vi) apesar do presumível sesgo "anti-guerra". (Mas, digam o que disserem, todos os filmes de guerra são pró-guerra, comenta Swofford no seu livro,"as imagens fílmicas de morte e carnificina são pornografia para o homem militar", ou se calhar, mais genericamente, para o que há de 'militar' no homem; esquece-se sempre que há quem goste da guerra). Aqui na "velha Europa" jogamos pelo seguro, fora muito limitadas urgências propagandísticas, normalmente a cargo da "oposição": em matéria de filmes ou livros de guerra preferimos em geral, quando muito, ficarmo-nos pela Grande Guerra - que já caminha para o centenário. Nos Estados Unidos anda-se mais depressa: já não chegam os dedos das duas mãos para contar os testemunhos escritos e cinematográficos sobre uma guerra ainda em curso, a do Iraque, e outras aventuras militares bem recentes, como foi o caso da Somália em tempos de Clinton (um excelente livro de jornalismo à décima potência de Mark Bowen e um bom filme que dele tirou Ridley Scott, Black Hawk Down, 2001, em Portugal Cercados).

segunda-feira, abril 20, 2009

QUE FITA VAI HOJE? - O EMBARAÇO DA ESCOLHA

Na sessão de sábado tivemos um pesado testemunho sobre alguns dos aspectos daquilo a que o Santo Padre chamou, com exactidão, "a cultura da morte" (uma sessão consagrada a dois jovens suicidas da música pop). A propósito, foi justamente "O combóio da morte" que um crítico nada suspeito de "papismo" chamou a um artigo publicado - imaginem - em The Village Voice sobre o frenesim da eutanásia e do aborto, há uns anos largos. Hoje segunda-feira, em compensação, temos um programa menos tétrico e excepcionalmente abundante em possibilidades. No canal Hollywood é tudo para ver: às 20.00, O Insustentável Peso do Trabalho (Office Space, 1999), de Mike Judge, criador de Beavis and Butt-head e outros exercícios de humor "seco"; logo a seguir, às 21.30 A Promessa (The Pledge, 2001), a angustiosa versão realizada por Sean Penn do angustioso romance de Dürrenmatt, de que já falámos, bem como da menos angustiosa e excelente versão de Ladislao Vajda, num filme espanhol que teve por título El cebo (1958); depois, às 23.35 o primeiro da série Mad Max - As Motos da Morte (1979), de George Miller, sob certos aspectos o "melhor" de todos, na frescura e desalinho do seu "artesanalismo" periférico e australiano; por fim, às 01.15 Vidas em Jogo (Against All Odds, 1984), do sempre competente Taylor Hackford, nova versão de um velho conhecimento da "série negra", Build My Gallows High, um romance de Geoffrey Homes que esteve na origem do clássico Out of the Past, de Jacques Tourneur (1947, com o improvável título português O arrependido). E já nem falo do que passa no TCM.

SPE - SINDROMA PRÉ-ELEITORAL

"A tensão entre o Presidente da República e o primeiro-ministro aumentou de visibilidade pública este fim-de-semana na mais ou menos directa troca de galhardetes entre Cavaco Silva e José Sócrates." (Público)

sábado, abril 18, 2009

QUE FITA VAI HOJE? - SEX, DRUGS AND ROCK&ROLL

Não me posso demorar mas tomem nota: esta noite a sessão dupla da RTP2 volta a melhores dias com Control (Ian Curtis, Joy Division) e Last Days (de Gus van Sant, os últimos dias de Kurt Cobain). Até breve.

quinta-feira, abril 16, 2009

PRE RAFAELITAS 1


"Roman de la Rose" (Dante Gabriel Rossetti,1864)

domingo, abril 05, 2009

QUE FITA VAI HOJE? - DE LONGE EM LONGE

Só esta semana, deixei passar sem prevenir, por exemplo, entre outros, o filme A noite americana (La nuit américaine, 1973) de François Truffaut, que aliás bem gostava de ter podido tornar a ver e verificar até que ponto a minha opinião pouco entusiástica de há trinta e cinco anos (malgré uma Jacqueline Bisset ainda em todo o seu esplendor) se mantinha ou variava - para melhor ou para pior. "Noite americana" - como todas as letradíssimas leitoras sabem decerto - é o nome que em França se dá à falsa noite filmada de dia com o filtro adequado; em inglês, mais directamente, esse efeito técnico (effetto notte, em italiano, já agora) chama-se - e o foi o título "internacional" do filme - day for night. Hoje ainda estou a tempo de chamar a atenção para The Man from Laramie (O homem que veio de longe, 1955), um western de Anthony Mann dos gloriosos anos 50, na RTP Memória, às 21.15. Quem puder, não perca.

PASSEIO DE DOMINGO - FRONTEIRA

sábado, abril 04, 2009

ELIAS CONTRA BAAL - CONTINUAÇÃO



O Profeta Elias foi um dos inspiradores das comunidades cristãs ascéticas inspiradas na contemplação e na oração. É interessante esta versão para crianças do seu diferendo e luta com os sacerdotes de Baal!

ELIAS CONTRA BAAL



Esta história que li em miúdo na Bíblia, parece-me interessante hoje, pelas ligações que toda a tradição monástica contemplativa cristã teve com o Profeta Elias.

quarta-feira, abril 01, 2009

NUN'ÁLVARES


S. FREI NUNO DE SANTA MARIA-

UMA HISTÓRIA DE PORTUGAL

por JaimeNogueira Pinto


D. Nuno Álvares Pereira vai ser canonizado no próximo dia 26 de Abril pelo Papa Bento XVI. Foi outro Papa Bento, Bento XV, quem beatificou Nun’Álvares, em 1918, no último ano da Grande Guerra, essa imensa carnificina entre as nações da Europa cristã.

A Igreja Católica, portadora do Evangelho das bem aventuranças e do ideal da exaltação dos pacíficos, mas vivendo no mundo real, tinha que dar uma resposta à desolação da Europa das trincheiras. Não podendo acabar com o conflito, procurava humanizá-lo.

Fizera-o na Idade Média, ao criar as tréguas de Deus e ao cristianizar a Cavalaria, com o modelo do cavaleiro cristão. Bento XV reconhecera em Nun’Álvares esse modelo vivo do soldado cristão.

Nascido a 24 de Junho de 1360, em Cernache do Bonjardim, Nun’Álvares morreria frei Nuno de Santa Maria no convento do Carmo em Lisboa, a 1 de Abril de 1431. Quisera ser simples donato no convento que mandara construir, despojando-se de tudo e dedicando-se à oração e aos pobres da cidade.

Fora um grande estratega, mas também um combatente no terreno. Aplicara na guerra peninsular os ensinamentos tácticos da batalha de pé em terra: cavalaria desmontada, archeiros e besteiros nas alas, formação cerrada ao modo da falange antiga, numa carapaça móvel – e impenetrável – de escudos e lanças. Seguro nas convicções da sua luta, cuidava bem da parte técnica - informação, comando e controlo, escolha do terreno, ordem de batalha. E assim vencera os Atoleiros, Aljubarrota e Valverde nos anos decisivos para a independência de 1383-85.

Tive a sorte de o meu pai me ter dado a Vida de Nun’Álvares, de Oliveira Martins, quando fiz nove anos. Li-o nessa idade, no tempo do «mundo encantado», como o era a Idade Média de Nun’Álvares. À semelhança do jovem David do Livro dos Reis e de olhos postos em Galaaz, Nun’Álvares era alegre e livre e não tinha medo de nada porque Deus estava com ele.

Filho – com mais trinta e um rapazes e raparigas – do prior do Hospital, D. Álvaro Gonçalves Pereira, Nuno fora pajem de Leonor Teles e casara aos 16 anos com D. Leonor de Alvim, uma dama nobre, rica, formosa, viúva e virgem de Entre-Douro e Minho. De D. Leonor teve uma filha sobreviva – D. Beatriz –, por quem é antepassado da casa de Bragança e de metade da realeza europeia.

A independência de Portugal levara-o a juntar-se ao Mestre de Aviz. Era uma guerra justa – canonicamente e cristãmente – de defesa da terra e do povo contra os castelhanos, estrangeiros, invasores e predadores. Justa era a causa, mas também, com ele, os meios: ao contrário dos usos do tempo, Nun’Álvares fazia a guerra sem ódio ao inimigo, não permitia o saque selvagem, tratava bem os seus soldados e os prisioneiros, respeitava os não combatentes. E comandava falando, comunicando, explicando. E encomendando-se a Deus antes e até durante as batalhas, como em Valverde.

Foi o soldado da independência, como D. João I foi o chefe e Álvaro Pais e João das Regras foram os políticos. E as gentes das cidades de Lisboa e do Porto, mais a arraia miúda alentejana, os militantes da primeira hora.

Se somos hoje independentes, se há Portugal e há portugueses, é porque estes homens – príncipes, nobres, burgueses, clérigos, povo miúdo – estiveram ali, da revolução de Lisboa de 1383 até à tarde de 14 de Agosto de 1385 em Aljubarrota, com a sua coragem e o seu medo, a sua esperança e a sua cólera, a sua fé e a sua raiva. E com as bandeiras, as espadas, as lanças, os arcos, os escudos.

Nun’Álvares – agora S. Frei Nuno de Santa Maria – esteve com eles, ao seu lado e à sua frente. Como está hoje connosco e com Portugal.

(in EXPRESSO, 28-03-09)