terça-feira, julho 31, 2007

TEQUILA SUNRISE

-Não te aflijas. Não a mando matar a não ser que aches bem (diz "Carlos", na posse de vários poderosos argumentos, incluindo uma pistola e uma parelha de matones fortemente armados).
-E se eu não achar bem?
-Conversamos - até achares bem.

(Tequila Sunrise, em português Intriga ao Amanhecer, um filme de Robert Towne. Diálogo entre o menos mau dos "maus", Raul Juliá, e o herói, Mel Gibson. Lembrou-me o processo da "construção europeia" e outros "processos" nossos conhecidos.)

Nº 63
























Está quase a sair o último número da revista. Demorou mais do que é costume, até para nós. Não nos desculparemos com "razões alheias à nossa vontade", mas a demora tão pouco se deve a falta de empenhamento. A verdade é que só ficou pronta agora. Pedimos desculpa a todos os que esperam por ela.

MOMENTOS DE GLÓRIA - O CERCO DE CANDIA



Entre 1647 e 1669, a cidade de Candia, na ilha de Creta, na época pertencente à República de Veneza, aguentou o cerco dos Turcos. A guarnição veneziana de escassos milhares de homens e os cerca de 12,ooo habitantes resistiram, practicamente sòzinhos, aos ataques do Império otomano. Nomes das famílias ilustres de Veneza-Mocenigo,Corner,Morosino-bem como muitos "voluntários" europeus, à revelia por vezes dos seus governos, entraram na defesa da cidade. No final, o comandante veneziano da praça, Francesco Morosini, conseguiu uma capitulação negociada, saindo a guarnição, os sobreviventes, com as armas e as honras militares. Era o dia 6 de Setembro de 1669.

segunda-feira, julho 30, 2007

P. G. WODEHOUSE

Salvo erro ou omissão, foi João Pereira Coutinho quem primeiro chamou a atenção para a recente edição entre nós do romance de P. G. Wodehouse Época de acasalamento, numa tradução luso-brasileira que ainda não abri. Desconfio um bocadinho dela - pois a versão portuguesa do título não me parece muito feliz, embora seja literal: em português tem uma brutalidade naturalista que não corresponde ao inglês The Mating Season. Eduardo Pitta fez-nos o favor de dedicar ao grande humorista inglês um longo artigo (blog Da Literatura e Público, 20 de Julho, 2007) em que lembra as escassas traduções anteriores deste autor, que segundo ele foram as seguintes: nos anos trinta, Isso é Comigo! e Por sua dama; depois da guerra, Um Homem de Visão (tradução das histórias de Ukridge, um personagem que é uma das suas mais notáveis criações); nos anos 60, Dinheiro Molesto, O tio Fred à Solta e O código dos Woosters. Conheço bem as três primeiras, que constituem um trabalho notável de versão para português de um autor que parece impossível de traduzir, em especial no caso de Ukridge. EP não indica os títulos originais. Posso acrescentar à sua informação que Isso é Comigo! (e não, como vem no texto de EP, "Isso é Consigo!") é a tradução de Leave it to Psmith! e Por sua Dama a de A Damsel in Distress. Suponho que Dinheiro Molesto é Uneasy Money, O tio Fred... correponde a Uncle Fred in the Springtime, e O Código dos Woosters, The Code of the Woosters. Alguns destes livros são do primeiro quartel do século XX! Continuam a fazer-nos rir e a deslumbrar-nos com a virtuosidade literária do autor, que escreveu dezenas de romances, contos, artigos, peças de teatro, etc., numa carreira extrordinariamente longa e prolífica. O último romance de P. G. Wodehouse saiu em 1977, cerca de dois anos depois da morte do autor, que o tinha deixado inacabado: o título, muito apropriadamente, é Sunset at Blandings, "Pôr do Sol em Blandings".

LISBOA NA IMAGINAÇÃO EUROPEIA RECENTE - 2

Mais uma referência a Lisboa na literatura contemporânea: em Millenium People (um romance de J. G. Ballard publicado em 2004 mas que só agora estou a ler), uma das heroinas anda de muletas porque foi atropelada por um eléctrico - no Bairro Alto! A referência aos eléctricos do Bairro Alto talvez provenha de uma crónica turística muito simpática que me lembro de ter lido há uns anos num jornal ou revista inglesa. Para inglês ver talvez não faça muita diferença esta confusão entre Bairro Alto, Príncipe Real, Calhariz ou Bica; é tudo muito perto, embora decididamente o Bairro Alto não seja cruzado por eléctricos. Ballard é um dos melhores escritores ingleses de ficção actualmente em exercício, como se pode verificar no extraordinário The Empire of the Sun e nos seus clássicos de "ficção científica" ou "antecipação", que não me deixam mentir. É também um dos mais bizarros: foi ele que escreveu o Crash filmado por David Cronenberg, The Atrocity Exhibition, etc. Temos há algum tempo para comentar as suas Conversations editadas por V. Vale. Talvez esse dia ainda chegue.

sábado, julho 28, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - BASSANO DEL GRAPPA (VICENZA,ITALIA)



Como amanhã não estou por aqui, nem vou poder ter acesso ao Blog, deixo hoje a minha sugestão de "passeio de domingo". Vicenza apareceu-me, como a cidade onde saiu uma edição das "Viagens" de Cadamosto, aquele veneziano(?) que visitou o Infante D.Henrique em Sagres e dele falou com grande admiração e respeito. E realismo, ao contrário do texto cortesão e louvaminhas de Zurara. Depois, também pensei que num passeio é importante a solidão ou então uma companhia muito especial. E pensei que uma pequena cidade do Norte de Itália,carregada de (micro) História vinha a calhar, para este estado de espírito.Vem?

quarta-feira, julho 25, 2007

"ASSIM GOSTAVA EU (TAMBÉM) DE ESCREVER..."

"I had no idea of originating an American flapper when I first began to write. I simply took girls whom I knew very well and, because they interested me as unique human beings, I used them for my heroines."

- F. Scott Fitzgerald in His Own Time: A Miscellany, ed. Matthew J. Bruccoli and Jackson R. Bryer. Kent, OH: Kent State University Press, 1971. p. 265.

OS CAVALOS TAMBÉM SE ABATEM

Horace Mc Coy viveu entre fins do século XIX e meados do século passado. O seu livro mais conhecido é o romance cujo título em português está acima (They Shoot Horses, Don't They?). Pertence à escola do romance "negro" que os americanos (re) inventaram no século passado e teve numerosos cultores mais ou menos ilustres, como o James M. Cain de O carteiro toca sempre duas vezes e Double Indemnitiy (do qual saíu um dos melhores filmes de Billy Wilder e do cinema americano dos anos quarenta). Como Cain e muitos outros dos seus congéneres, esteve ligado ao cinema, como argumentista, entre outras coisas. Por causa de uma recomendação de outro escritor também ligado ao cinema (Barry Gifford, colaborador de David Lynch, autor de Out of the Past - Adventures in film noir), fui reler (ou ler?) um romance de Mc Coy passado no Hollywood dos anos 30 e intitulado I Should Have Stayed Home: não custou muito - e tem duas ou três páginas muito boas, mas não é "o melhor romance alguma vez escrito sobre Hollywood", nem sequer melhor do que os dois ou três a que se refere Gifford: não me parece superior a The Day of the Locust de Nathanael West, ao também famoso e emblemático What Makes Sammy Run? de Budd Sculberg, nem muito menos a The Last Tycoon, de Scott Fitzgerald (o meu preferido, apesar de inacabado).

TRADUTOR, TRAIDOR

Mais um exemplar para a colecção interminável. Foi capturado na versão portuguesa de um texto americano, publicada num grande diário nacional, e logo no respectivo suplemento de artes e letras.

Diz assim um passo do texto português: "Os advogados de acusação alegaram que os procedimentos de uma pequena operação do género [agiotagem], dirigida por Isgro, alimentaram as ofertas da família [da Máfia] Gambino"; o que estava escrito em inglês era: "Prosecutors alleged that proceeds from a tiny loan sharking operation run by Isgro fed the coffers of the Gambino crime family". Era fácil de supôr pelo contexto, mas tive ocasião de verificar o original. Proceeds não é "procedimentos" mas receitas, coffers, a não ser que tenha caído o c, é cofres e não ofertas. Ou seja, "as receitas ... alimentavam os cofres...". Sem falar em que agiotagem não é "agiotismo", como aparece no texto em várias ocasiões, nem em que os "advogados de acusação" deveriam ser, talvez mais propriamente, neste caso, aquilo a que se chama Ministério Público.

Insignificâncias? Sim, de certa maneira. Mas a grande questão é sempre a mesma, dado que neste exemplo, como em muitos outros, a frase em português não faz sentido: entre os alfabetizados produzidos para efeitos estatísticos pela nossas escolas algum aprenderá a ler?

segunda-feira, julho 23, 2007

A POEM FOR TODAY - CINZA

Ash

by Linda Pastan

.....

We fall l­ike leaves,
anonymous as snow,
like ash, like weeds
under some farmer’s hoe.

We fear the dark
and watch the light recede.
We know death smiles
on every child conceived.

domingo, julho 22, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - HAVANA,COM PEDRO JUAN GUTIÉRREZ


Como acabei, ontem, sábado, outro Pedro Juan Gutierrez -El nido de la serpiente-Memorias del hijo del heladero (Anagrama, Barcelona, 2006) - pareceu-me fazer sentido recomendar Havana (a cidade da inesquecível "Trilogia Sucia"...). Embora este último se passe em Matanzas.

quinta-feira, julho 19, 2007

DE JOE DASSIN A SALAZAR - A LUTA CONTINUA !


"Et si tu n'existais pas..." de Joe Dassin e uma estranha revoada de memórias de toda a espécie trazida por estas chamadas estranhas . Tão estranhas. Hoje procurei a "Teoria do Romance" do Lukács por toda Lisboa. Acabei a trazer 5 ou 6 livros do mesmo, e não o que queria. O "Salazar"está a sair bem. Esgotou em várias livrarias, a outras não chegou e vem já aí 2a edição. Que entre outras coisas vai permitir corrigir "gralhas" da primeira. Parecem-me preocupados os "antifascistas" e divertidos os "fascistas"...E a RTP não há meio de pôr à venda os DVDs dos "GRANDES PORTUGUESES". Também será por causa do Salazar?

terça-feira, julho 17, 2007

A HISTÓRIA CADA VEZ MAIS MAL CONTADA

"Guerra colonial parou a fábrica..." - diz em título o Diário Económico (16/07/07), a propósito de um projecto industrial em Angola que não chegou a consumar-se. No texto, o jornalista fala da "explosão brutal da guerra colonial". Estará a referir-se a 1961? Não, o caso passa-se nos últimos dois anos do Estado Novo, entre 1972 e 1974 - e a única coisa que por essa época tinha "explodido" em Angola era o crescimento económico - e a paz, que era praticamente geral, com os chamados "movimentos de libertação", em especial o MPLA, exangues. Não conhecendo os pormenores da história, pode supôr-se que terá sido a eclosão do 25 de Abril que pôs termos ao projecto "iniciado em 1972 por Marcello Caetano". Não, claro, a "guerra colonial", mas o abandono de Angola.

domingo, julho 15, 2007

"AVISOS"...

Estava agora a ver um bocado da "noite eleitoral" e as desculpas esfarrapadas dos líderes dos partidos da "direita" oficial. Um PSD que em Lisboa, pela voz de dirigentes andou a ver se ultrapassava o PS pela esquerda, apoiando a liberalização do aborto, as salas de chuto, os casamentos homossexuais, na obcessão de ser "progressista" em costumes e politicamente correcto sempre! E o CDS-PP com os seus espectáculos de arruaça interna e ausência de doutrina e coerência.
Não se admirem que a direita fique em casa ou até prefira o PS...Não se cuidem internamente, continuem assim e vão ver onde acabam!

SUNDAY PROMENADE - WHY NOT DOVER, IN THIS SUMMER'S WINTER DAY?


DOVER BEACH

by Matthew Arnold

The sea is calm to-night.
The tide is full, the moon lies fair
Upon the straits;--on the French coast the light
Gleams and is gone; the cliffs of England stand,
Glimmering and vast, out in the tranquil bay.
Come to the window, sweet is the night air!
Only, from the long line of spray
Where the sea meets the moon-blanch'd land,
Listen! you hear the grating roar
Of pebbles which the waves draw back, and fling,
At their return, up the high strand,
Begin, and cease, and then again begin,
With tremulous cadence slow, and bring
The eternal note of sadness in.

Sophocles long ago
Heard it on the {AE}gean, and it brought
Into his mind the turbid ebb and flow
Of human misery; we
Find also in the sound a thought,
Hearing it by this distant northern sea.

The Sea of Faith
Was once, too, at the full, and round earth's shore
Lay like the folds of a bright girdle furl'd.
But now I only hear
Its melancholy, long, withdrawing roar,
Retreating, to the breath
Of the night-wind, down the vast edges drear
And naked shingles of the world.

Ah, love, let us be true
To one another! for the world, which seems
To he before us like a land of dreams,
So various, so beautiful, so new,
Hath really neither joy, nor love, nor light,

Nor certitude, nor peace, nor help for pain;
And we are here as on a darkling plain
Swept with confused alarms of struggle and flight,
Where ignorant armies clash by night.

BONITO, NOSTÁLGICO, MAS IMPRÓPRIO PARA MENORES DE 40 ANOS!



Chama-se "O grande amor" é do Stan Getz, do João Gilberto e do João Jobim e fica aqui para os nostálgicos (e nostálgicas...) da minha geração e das duas seguintes. Por outras palavras é impróprio para menores de 40 anos!

sábado, julho 14, 2007

E LÁ CAÍU A BASTILHA...


Pois é, caiu a Bastilha e começou o mundo contêmporâneo. Gostei desta imagem,um pouco naïve, do princípio das soberania popular... Faz hoje 208 anos. Um dos 14 presos na Bastilha ao tempo era o Sade. Precisamente por crimes "sádicos"...

O "ZEITGEIST" DO ESTADO NOVO


Com a saída do António de Oliveira Salazar-O outro retrato regressaram algumas discussões e polémicas, umas interessantes, outras menos, outras de todo. E algumas "burrices". No lançamento do livro o Marcello Mathias fez algumas observações importantes. Mas para mim, contextualizar historicamente o salazarismo é o mais importante. E é o que certa esquerda "antifascista" não quer. Por exemplo, depois da desordem permanente da Primeira República, a aspiração de ordem, de disciplina social, de autoridade, era dominante na sociedade portuguesa. Veja-se este cartaz de Almada Negreiros, apelando ao voto afirmativo na Constituição de 1933.

sexta-feira, julho 13, 2007

" TEREMOS AINDA PORTUGAL?" - UMA MENSAGEM DO BISPO DE AVEIRO

Mão amiga, como se costuma dizer e é verdade neste caso, fez-me chegar um texto de Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Bispo de Aveiro. Vou partilhar:

TEREMOS AINDA PORTUGAL?

O título tem um tom provocatório, mas eu vou justificar. Não digo que esteja para breve o nosso fim de país independente e livre. Mas, pelo andar da carruagem, traduzido em factos e sintomas, a doença é grave e pode levar a uma morte evitável. Aliás, já por aí não falta gente a lamentar a restauração de 1640 e a dizer que é um erro teimarmos numa península ibérica dividida. De igual modo, falar-se de identidade nacional e de valores tradicionais faz rir intelectuais da última hora e políticos de ocasião. O espaço nacional parece tornar-se mais lugar de interesses, que de ideais e compromissos. Há notícias publicadas a que devemos prestar atenção. Por exemplo: um terço das empresas portuguesas já é pertença de estrangeiros; 60% dos casais do país têm apenas um filho; vão fechar mais cerca de mil escolas ou de mil e trezentas, como dizem outras fontes; nas provas de língua portuguesa dos alunos do básico, os erros de ortografia não contam; o ensino da história pouco interessa, porque o importante é olhar para a frente e não perder tempo com o passado; a natalidade continua a descer e, por este andar, depressa baterá no fundo; não há nem apoios nem estímulos do Estado para quem quer gerar novas vidas, mas não faltam para quem quiser matar vidas já geradas; a família consistente está de passagem e filhos e pais idosos já não são preocupação a ter em conta, porque mais interessa o sucesso profissional; normas e critérios para fazer novas leis têm de vir da Europa caduca, porque dela vem a luz; a emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil; os que estão fora negam-se a mandar divisas, por não acreditarem na segurança das mesmas; os investigadores mais jovens e de mérito reconhecido saem do país e não reentram, porque não vêem futuro aqui; a classe média vai desaparecer, dizem os técnicos da economia e da sociologia, uma vez que o inevitável é haver só ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres; os políticos ocupam-se e divertem-se com coisas de somenos; e já se diz, à boca cheia, que o tempo dos partidos passou, porque, devido às suas contradições, ninguém os toma a sério; a participação cívica do povo é cada vez mais reduzida e mais se manifesta em formas de protesto, porque os seus procuradores oficiais se arvoram, com frequência, em seus donos e donos do país e fazedores de verdades dúbias; programa-se um açaime dourado para os meios de comunicação social; isolam-se as pessoas corajosas e livres, entra-se numa linguagem duvidosa, surgem mais clubes de influência, antecipam-se medidas de satisfação e de benefício pessoal…Não é assim, porventura, que se acelera a morte do país, quer por asfixia consciente, quer por limitação de horizontes de vida?É verdade que muitos destes problemas e de outros existentes podem dispor de várias leituras a cruzar-se na sua apreciação e solução. Mais uma razão para não serem lidos e equacionados apenas por alguns iluminados, mas que se sujeitem ao diálogo das razões e dos sentimentos, porque tudo isto conta na sua apreciação e procura de resposta.Há muitos cidadãos normais, famílias normais, jovens normais. Muita gente viva e não contaminada por este ambiente pouco favorável à esperança. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle? Preocupa-me ver gente válida, mas desiludida, a cruzar os braços; povo simples a fechar a boca, quando se lhe dá por favor o que lhe pertence por justiça; jovens à deriva e alienados por interesses e emoções de momento, que lhes cortam as asas de um futuro desejável; o anedótico dos cafés e das tertúlias vazias, a sobrepor-se ao tempo da reflexão e da partilha, necessário e urgente, para salvar o essencial e romper caminhos novos indispensáveis. Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol…Mas não é o compromisso de todos e a esperança activa que dão alma a um povo?

D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro

QUE HOJE É SEXTA...A SEMANA DO "AOS"

Esta semana foi dominada pelo livro sobre o Salazar. Segunda foi posto à venda, terça foi o lançamento na Católica, e ontem já estávamos a rever à pressão a primeira edição, pois a "Esfera dos Livros" quer pôr a andar a segunda! E ligada a esta actividade foram entrevistas - na RTP2, ao "Correio da Manhã", que deve sair hoje, ao "DN" que sai hoje ou amanhã. E amanhã vou à SIC-Notícias e para a semana ao Rádio Clube Português.
Tenho olhado para isto com interesse, com um certo sentido de dever - dar um lado da História de Portugal do Séc.xx "ocultado". E também com um certo divertimento. Mas gostei do lançamento na terça, com tantos amigos, e amigas,"ça va sans dire"-nesta cumplicidade das "tribos" pequenas e resistentes, que é, ao fim e ao cabo, o melhor da política.

quinta-feira, julho 12, 2007

SAUDADES DE VERÕES PASSADOS...GREENWICH,CONNECTICUT



Neste (anunciado) quentíssimo dia de Julho, confesso que tive saudades dos dias, há dois anos, em Greenwich, em casa da Vivi N.com o Frank S. e os amigos que íamos vendo por ali ou em Nova Iorque para onde havia um combóio que em 40 minutos nos punha ao pé do Empire State. A ideia de Verão em N.Y. sempre me deixou sonhador e nostálgico do futuro...Ou do futuro no passado. Desde o West Side Story ao Gatsby. Ou na narrativa do Truman Capote, Summer Crossing de que já aqui também falei. Ver se lá consigo ir em Setembro, matar a melancolia.
Mas Greenwich foi muito bom.

quarta-feira, julho 11, 2007

"ARTE DE AMAR" SEGUNDO MANUEL BANDEIRA

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

MANUEL BANDEIRA

DE MANHÃ, E À PROCURA

POEM
Six Posthumous Fragments
by Yehuda Amichai

I do not know if what you were
looking for
in the world or in me
with your big eyes
all the short days of your life
you will now find. But I can
promise you
that this search will go on and on
unlike the search for survivors
of a disaster
in the air or at sea
which after a few days or weeks
is canceled.

segunda-feira, julho 09, 2007

ESQUERDA E DIREITA, AINDA OUTRA VEZ

Contributo para afinar a diferença entre "esquerda" e "direita", o contraste de dois artigos que saíram lado a lado no Público a propósito da nova legislação sobre o fumo (o fumo dos cigarros, bem se vê..): um, "Os benefícios do tabaco", de Vasco Pulido Valente, o outro de um autor cujo nome não tenho à mão, com um título de que não me lembro de momento. É um elucidativo "caso prático": de um lado, boas letras, uma posição pessoal, a experiência concreta do escritor; do outro, muita generalidade, muito dedo espetado sobre os vícios e pecados dos outros, prosa muito feia - e sempre, sempre, a ideia de surveiller et punir, como diria Michel Foucault. A desenvolver. Descobri por acaso, também por estes dias, um artigo interessante sobre a vexatória questão: "What it means to be a conservative", de Owen Harries, que traduziremos aqui. Já agora, foi num artigo de Harries que encontrei uma grande frase de John Anderson sobre a mentalidade de muitos dos nossos contemporâneos que sofrem de uma maleita a que chama the parochialism of the present, "o provincianismo do presente" ou "a parolice do presente", a ideia corrente de que nunca nada foi como agora, nunca qualquer outra geração viveu coisas parecidas com o que nós vivemos.

ZITA SEABRA: É ASSIM

Zita Seabra apresentou em sociedade, no Quartel do Carmo, num corredor a abarrotar de gente, um livro de memórias da sua vida no Partido Comunista: Foi Assim.
Numa entrevista ao DN, a autora diz que muita gente não quer perceber que "o que está errado no comunismo são as ideias, não é a prática".
"Muitas vezes - diz Zita Seabra - as pessoas saem dos partidos comunistas e dizem: o que estava errado era a prática, as ideias eram boas. E procuram ficar com a herança boa. Mas quando se esteve num partido comunista em qualquer parte do mundo defendeu-se a ditadura do proletariado, defendeu-se a superioridade moral dos comunistas, defendeu-se a ditadura do proletariado, defendeu-se a propriedade colectiva dos meios de produção. Defendeu-se o que ainda hoje se passa em Cuba..."
É assim.

O OUTRO RETRATO

Amanhã, dia 10 de Julho, pelas 18H30, será apresentada a obra "António de Oliveira Salazar - O Outro Retrato", da autoria de Jaime Nogueira Pinto (editada pela Esfera dos Livros). A apresentação será feita por Marcello Duarte Mathias na Biblioteca João Paulo II da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.

MOTU PROPRIO

Foi recentemente publicado o Motu Proprio "Summorum Pontificum" de Sua Santidade o Papa Bento XVI, libertando a Santa Missa de rito latino-gregoriano ou tridentino do opróbio a que estava votada. Com esta decisão, é dado um passo decisivo no sentido da união da Santa Igreja Católica, facto que só pode constituir uma óptima notícia para todos os católicos.

Ao contrário do que vem sendo noticiado em certa imprensa, com esta medida não se pretende ir contra a Missa actual nem se busca a generalização da Missa tradicional. Esta decisão de S.S. o Papa Bento XVI visa tão somente relembrar que a Missa tradicional nunca desapareceu, que continua a existir e a poder ser legitimamente celebrada.

Esperamos que, com esta medida, seja dado também um passo decisivo para a reintegração da Fraternidade São Pio X na normalidade da Igreja e que seja levantada a excomunhão que tão terrivelmente pesa sobre os seus membros.

Com esta notícia aumenta em todos nós a convicção de estarmos perante um grande Papa, atento às necessidades de todos os crentes.

Sobre este tema e outros com ele relacionados, aconselha-se vivamente a leitura do blog "A Casa de Sarto".

domingo, julho 08, 2007

PASSEIO DE DOMINGO, 8 DE JULHO - PR'ÀS ANTILHAS COM A.CARPENTIER



É a minha proposta de viagem, este domingo, 8 de Julho - seguir o itinerário de Victor-Hughes, o amigo de Robespierre que foi para o Novo Mundo levando consigo essa nova máquina inventada pela Revolução- a guilhotina. Um modo "ilustrado" de matar pessoas, em contraste com os modos "obscurantistas" - o machado, a forca, a fogueira - às vezes precedidos por tortura.O nosso "ilustrado" Pombal fez um uso cumulativo destes processos contra os Távoras e com um requinte de sadismo oriental, na ordem das execuções: assim, os Pais, os Marqueses"velhos" assistiram ao suplício dos filhos, e o Marido ao da Mulher. O povo parece ter também contemplado, com divertimento, estas malvadezas dos "Grandes" entre si. E Pombal foi um ídolo dos jacobinos e dos "democratas" nacionais, que o admiraram profundamente por perseguir nobres e jesuítas. Está a calhar!
Voltando ao Siglo de las Luces. É um grande romance e o seu autor um cubano comunista e embaixador de Castro em Paris, um grande escritor. O Vargas Llosa considera o seu grande romance (do Carpentier) O Reino deste Mundo. É magnífico, mas continuo a gostar mais do"Século..."E do recurso do Método, tão bem traduzido pelo Pedro Támen...
Mas embarquem com o Victor-Hughes pelas águas
das Caraíbas até Guadalupe... Ajuda a libertar. De quase de tudo.

sábado, julho 07, 2007

LORCA EM INGLÊS...

THE WAY

Virgin in crinoline,
opened up like an enormous
tulip,
Virgin of Solitude.
In your boat of light,
among turbulent Saetas
and crystal stars,
you sail
the high tide of the city.
Virgin in crinoline,
you sail
upon the river of the street
until you reach the sea!

SAETA

A black Christ
changes from a lily of Judea
to a carnation of Spain.

Look where he comes from!

From Spain.
A clear, dark sky,
a scorched earth
and riverbeds in which
the waters move slowly.
A black Christ
with long, blackened hair,
prominent cheekbones,
white eyes.

Look where he's going!

--translated by Ralph Angel

LEITURAS...


Estou a ler este romance de William Ospina,"Ursúa", que me parece à altura dos grandes memoriais novelísticos do Subcontinente americano, como El Siglo de las Luces de Alejo Carpentier, La Fiesta del Chivo de Mario Vargas Llosa, a obra de Garcia-Marquez (descontados pecadilhos de terceira ordem, como Memorias de mis putas tristes). E muita da "literatura de ditador"de Roa-Bastos, de Asturias, e, outra vez ele, o magnífico Recurso do Método de Carpentier. E lá em baixo na ponta austral, mas bem na frente de todos, Borges, Homero europeizado de Buenos Aires, pessimista, burguês, conservador, urdidor e tecedor de sonhos e mistérios que descobrimos em tardes de Verão e férias grandes portuguesas, ou nos cafés madrilenos próximos da Gran Via, nessas últimas "férias grandes" de conspirações e esperanças que foram os exílios post 1974.
Cito uma passagem:"Ursúa y Castellanos hablaron hasta que la noche azul llena de estrellas cubrió las tierras bajas de la sierra.(...)porque no hay gran amistad que no comience por un largo intercambio de historias". Os grandes amores não começam mas desenvolvem-se e crescem assim. Por troca de histórias até que a história se torna uma só...

sexta-feira, julho 06, 2007

MANHÃ DE VERÃO, AINDA SUL-AMERICANA



Ou melhor, brasileira. Comprei este disco no Rio, quando ali estive a última vez, há dois meses. Esta manhã estive a ouvi-lo e é magnífico. Estamos no Verão mas é para todas as estações! Chama-se "Que falta Você me faz" e é da dupla Vinicius - Bethânia.

quinta-feira, julho 05, 2007

A AMÉRICA LATINA VISTA DE MADRID



Foi um dia, o de ontem, a discutir numa conferência organizada pela "Fundação Vargas Llosa" a situação actual na America Latina. Interessaram-me particularmente os paineis sobre Cuba e Venezuela, e as intervenções de Carlos Alberto Montaner, um velho conhecido, de Plínio Apuleio Mendoza, um escritor e jornalista colombiano que descreveu muito bem os métodos "chavistas" enquanto Montaner com rigor descreveu a ligação Chavez-Castro.
Entretanto, para elucidação e sem nenhuma ligação com estes temas mais profanos, recomendo este livro deVargas Llosa que comprei em Bogotá.

quarta-feira, julho 04, 2007

A "GRAN VIA" DE ANTONIO LÓPEZ



O "realismo" de Antonio López dá-lhe este ar de pintor do século XIX, atirado para hoje, por um estranho fenómeno de trasladação tempo-espaço. Deixo aqui a sua "Gran Via". Já a vi assim, deserta, devassada, ou melhor, aparentemente devassada, em madrugadas-manhãs de Verão.Talvez como a de hoje, quando comecei a escrever.

MADRID EM JULHO



Volto a Madrid sempre, e sempre com alguma emoção. Vivi aqui anos complicados da minha vida,vivi aqui em 8 ou 9 lugares diferentes, tive aqui grandes esperanças e tantas desilusões daquelas que são o pão diário dos exilados e emigrados. Morei em "Los Jeronimos", perto do Retiro; no Hotel Abeba, perto da Diego de León; na Calle Clara del Rey; na Calle de La Basilica; na Torrerenta; na Av.de Valladolid; e, finalmente, na Plaza de la Cancilleria. E nas freiras, em Campamento.
Umas vezes sòzinho, outras com a família...O Eduardo e a Catarina andaram asssim também por cá. Foram mais de dois anos, entre Junho de 1976 e Outubro de 1978, quando voltei a Portugal, deixando, entretanto, por algum tempo um pied-à-terre na Cancilleria.
E depois nunca deixei de por aqui vir ou passar. Já lá vão 30 anos.
Madrid em Julho tem outras coisas mágicas e simbólicas: pra já lembra-me Julho de 36 e aqueles assassinatos embricados - o do Tenente Castillo e de Calvo Sotelo, que deram o sinal para o Alzamiento; e imagino sempre o próprio 18 de Julho,e o assalto ao Quartel de La Montana; e o terror das Chekas; mas também esse dolorosamente nostálgico romance de Foxá "Madrid de Corte à Cheka", antes da Queda e do Dilúvio.
Desta vez estou aqui, como em tantas outras, para participar numa conferência sobre segurança euro-atlântica. Bastante menos trágico, histórico ou romântico. Hoje vão estar mais de 30 graus.

domingo, julho 01, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - "UN CIMITIÈRE C'EST COMM' UN JARDIN"



"Un Cimitière c'est comm'un Jardin" é uma das frases poéticas e marcantes duma narrativa importantíssima, original e experimental, da nossa adolescência -"Les Sept Couleurs", de Robert Brasillach.
Olhei assim para os jazigos do Alto de S.João, na quarta-feira 27 de Junho. Ajudou!