domingo, outubro 28, 2007

AS DUAS TORRES

Saiu a tradução portuguesa de The Looming Tower, Al-Qaeda's Road to 9/11. O título vem de um versículo do Corão usado por Osama Bin Laden e que diz, na versão em inglês: Wherever you are, Death will find you, Even in the Looming Tower. Pedro Lomba, com muito bom gosto, escreveu no DN uma nota a recomendar o livro de Lawrence Wright, uma excelente peça de jornalismo que bem merece todos os elogios que lhe têm sido feitos, pelo seu interesse documental e interpretativo e pela sua qualidade literária: "O aspecto mais assustador desta nova ameaça - conclui Wright na introdução do livro - era, todavia, o facto de que quase ninguém a tomava a sério. Era excessivamente bizarra, excessivamente primitiva e exótica. Em confronto com a confiança que os americanos tinham na modernidade e na tecnologia e nos seus próprios ideais para os proteger do cruel curso da história, os gestos de desafio de bin Laden e dos seus seguidores afiguravam-se absurdos e mesmo patéticos. Mas Al-Qaeda não era uma mera relíquia da Arábia do século VII. Tinha aprendido a usar ferramentas modernas e ideias modernas, o que não era de estranhar, visto que a sua história tinha começado na América e nem sequer há tanto tempo como isso." (tradução minha). Pedro Lomba, na sua nota, admirava-se com razão com o título dado ao livro em português: A Torre do Desassossego (?!).

PASSEIO DE DOMINGO - THE RIGHT PLACE TO GO...


É este o vale do "Senhor dos Aneis". É do outro lado do espelho, não tem esta gentinha e esta gentalha da treta e da chacha partidária, tem Sol, rios,montanhas. E quando é preciso resolver qualquer coisa é com cavaleiros, magia branca, fé, ferro, coragem. E com isso se vive uma vida boa, que não tem nada a ver com uma boa vida.

sexta-feira, outubro 26, 2007

ABC DO SÉCULO XXI: TRANSPARÊNCIA

"Como não reconhecer que a 'transparência' se tornou uma das palavras-chave do discurso da modernização?" (Jean-Pierre Le Goff, La démocratie post-totalitaire, Paris - 2003, p.24)

"Entre as representações-chave daquilo a que Claude Lefort chama 'a matriz ideológica' do sistema totalitário, há duas, a da "criação histórico-social permanente' e a da 'transparência de si à sociedade' que estão igualmente próximas da ideologia da modernização." (id.,ibid., p.23)

ABC DO SÉCULO XXI: "PROSTITOT"

Prostitot é um jogo de palavras com prostitute (não precisa de tradução) e tot (criança). O termo é usado com desvanecimento (!) por muitos paizinhos americanos para designar os seus rebentos enfeitados como se fossem aquilo a que se costumava chamar mulheres da rua.

ABC DO SÉCULO XXI: EUROPA

"Na Europa, só pode haver Impérios ou uniões de Estados soberanos, porque não há europeus. Existem portugueses, espanhóis, franceses e por aí fora, mas não, com a mesma carga identitária, "europeus." (Rui Ramos, Público - Quarta Feira 24 de Outubro de 2007, "Equívoco contra equívoco")

Vale a pena ler o artigo todo.
Rui Ramos escreve no Público às quartas-feiras.

quinta-feira, outubro 25, 2007

O DECLÍNIO AMERICANO VISTO POR R.D.KAPLAN

Considero Robert D. Kaplan um dos autores mais interessantes e importantes de temas de "civilização" nas áreas militar e securitária. Reproduzo aqui o lead dum seu artigo em The Atlantic Monthly de Novembro, intitulado"America's Elegant Decline" . Kaplan escreve sobre a "crise" do poder marítimo norte-americano. Vale a pena lê-lo.

"Hulls in the water could soon displace boots on the ground as the most important military catchphrase of our time. But our Navy is stretched thin. How we manage dwindling naval resources will go a long way toward determining our future standing in the world.


America’s Elegant Decline

Beware pendulum swings. Before 9/11, not enough U.S. generals believed that the future of war was unconventional and tied to global anarchy. They insisted on having divisions to fight against, not ragtag groups of religious warriors who, as it turned out, fought better than state armies in the Muslim world ever did. Now the Pentagon is consumed by a focus on urban warfare and counterinsurgency; inside military circles, the development of culturally adroit foreign-area officers (FAOs) and the learning of exotic languages have become the rage. My own warnings about anarchy (“The Coming Anarchy,” February 1994 Atlantic) and my concentration on FAOs and Army Special Forces in recent books may have helped this trend. But have we pushed it too far? We may finally master the art of counterinsurgency just in time for it to recede in importance.

History suggests that the wars in Iraq and Afghanistan will be imperfect guideposts to conflicts ahead. The quaint Franco-Prussian War of 1870–1871 gave no intimation of World War I. Neither World War II nor Korea prepared us for Vietnam, which was more similar to the Philippine War of 1899–1902 than to its immediate predecessors. The ease of the Gulf War provided no hint of what an ordeal the Iraq War would be. Today, while we remain fixated on street fighting in Baghdad, the militaries of China, India, South Korea, and Japan are modernizing, and Russia has maintained and subsidized its military research-and- development base by selling weapons to China and others.

quarta-feira, outubro 24, 2007

NEO-CONSERVADORES

Ser neo-qualquer-coisa umas vezes é bom, outras mau. Ser neo-realista - por exemplo - tem sido bom (mas vemos que o neo-realismo já está num Museu, em Vila Franca de Xira, que é, como não nos cansamos de repetir, onde deve estar). Ser neo-liberal ou neo-conservador, agora, mais do que mau é sempre horrível. É um nome que se chama às pessoas em vez de "fascista" que faz um bocadinho vieux jeu, se me permitem os francesismos. Mas os neo-conservadores (americanos) não são hoje exactamente o que eram. No último número da Commentary (Outubro de 2007), Joshua Muravchik dá uma ideia razoável e sucinta do que é "The Past, Present and Future of Neoconservatism". Se calhar, traduziremos alguns trechos.

JÜNGER, BRUSCAMENTE...

Lembrei-me de um autor importante, verdadeiramente importante. E encontrei esta página dos "Diários" dos seus 70 anos. Para o ano são dez anos sobre a sua morte , em 1998. Vamos lembrá-lo aqui, no "Futuro Presente"

Wilflingen, juin 1981
Quand on juge un auteur qui se ressent lui-même comme une énigme, on aboutit inévitablement à des conclusions erronées, même dans l'hypothèse optimiste où l'on a remarqué son existence. Surtout devant un changement de style, la critique doit se mettre au diapason. Un ton nouveau inventé par un individu n'est d'abord perçu que par des individus, tel Georg Brandes. Cela dégage peu à peu une clairière dans le fourré, c'est un nouveau modèle qu'on met sur le métier. Il y a probablement eu dans tous les siècles des génies qui sont restés inconnus, faute de découvreur.

Ernst Junger

segunda-feira, outubro 22, 2007

JACK BAUER OUTRA VEZ...

E cá estamos outra vez nestas superadictivas aventuras do Jack Bauer, na sexta sessão do "24hours". Com terroristas islâmicos, bombas atómicas portáteis, traidores americanos, Presidentes, altos funcionários, a velha CTU, com a Chloe, competentíssima mas um bocado desastrada.
Mas sobretudo com o Jack Bauer, esse herói da América e do Mundo, tão torturado, com uma vida tão compolicada e infeliz. Um herói da razão de Estado, que tem que fazer escolhas terríveis, como matar um amigo e companheiro, o Curtis, para salvar um chefe terrorista cuja colaboração é necessária. Estou a fazer a revisão da Tese para a editar em livro "normal". Talvez faça lá um capítulo sobre o Jack Bauer!

domingo, outubro 21, 2007

CONHECEM JANE AUKSUNAS?

Vale a pena conhecer.Este quadro chama-se "Tuscany Hills".

PASSEIO DE DOMINGO - FOZ DO ARELHO

Para a Maria do Carmo, visitante habitual deste Blog, esta praia,este sol e este mar, onde hoje estivemos a despedir-nos deste Indian Summer português...

sábado, outubro 20, 2007

CONHECE SIEGFRIED ZADEMACK?

Eu também não conhecia, até ontem. Mas acho que vale a pena conhecer.

IRAQUE -UMA VISÃO ALTERNATIVA

Estou à vontade quanto ao assunto, pois sempre achei um grande erro estratégico a invasão do Iraque. Mais, considero a "cruzada" contra o "islamo-fascismo" dos neoconservadores, incluindo o meu amigo, noutros aspectos admirável, Norman Podhoretz, um disparate e não apenas semântico. Mas é claro que gostava que os americanos saissem bem - ou menos mal - desta louca embrulhada. Por isso transcrevemos este artigo de Michael A. Ledeen, no WSJ deste fim de semana.


Victory Is Within Reach in Iraq
By MICHAEL A. LEDEEN
October 20, 2007

Should we declare victory over al Qaeda in the battle of Iraq?

The very question would have seemed proof of dementia only a few months ago, yet now some highly respected military officers, including the commander of Special Forces in Iraq, Gen. Stanley McCrystal, reportedly feel it is justified by the facts on the ground.

These people are not suggesting that the battle is over. They all insist that there is a lot of fighting ahead, and even those who believe that al Qaeda is crashing and burning in a death spiral on the Iraqi battlefields say that the surviving terrorists will still be able to kill coalition forces and Iraqis. But there is relative tranquility across vast areas of Iraq, even in places that had been all but given up for lost barely more than a year ago. It may well be that those who confidently declared the war definitively lost will have to reconsider.
[Reconciliation]
Reconciliation: Shiite leader Ammar al-Hakim, left, and Sunni sheik Ahmed Abu Risha in Ramadi, Oct. 14, 2007.

Almost exactly 13 months ago, the top Marine intelligence officer in Iraq wrote that the grim situation in Anbar province would continue to deteriorate unless an additional division was sent in, along with substantial economic aid. Today, Marine leaders are musing openly about clearing out of Anbar, not because it is a lost cause, but because we have defeated al Qaeda there.

In Fallujah, enlisted marines have complained to an officer of my acquaintance: "There's nobody to shoot here, sir. If it's just going to be building schools and hospitals, that's what the Army is for, isn't it?" Throughout the area, Sunni sheikhs have joined the Marines to drive out al Qaeda, and this template has spread to Diyala Province, and even to many neighborhoods in Baghdad itself, where Shiites are fighting their erstwhile heroes in the Mahdi Army.

British troops are on their way out of Basra, and it was widely expected that Iranian-backed Shiite militias would impose a brutal domination of the city, That hasn't happened. Lt. Col. Patrick Sanders, stationed near Basra, confirmed that violence in Basra has dropped precipitously in recent weeks. He gives most of the credit to the work of Iraqi soldiers and police.

As evidence of success mounts, skeptics often say that while military operations have gone well, there is still no sign of political movement to bind up the bloody wounds in the Iraqi body politic. Recent events suggest otherwise. Just a few days ago, Ammar al-Hakim, the son of and presumed successor to the country's most important Shiite political leader, Abdul Aziz al-Hakim, went to Anbar's capital, Ramadi, to meet with Sunni sheikhs. The act, and his words, were amazing. "Iraq does not belong to the Sunnis or the Shiites alone; nor does it belong to the Arabs or the Kurds and Turkomen," he said. "Today, we must stand up and declare that Iraq is for all Iraqis."

Mr. Hakim's call for national unity mirrors last month's pilgrimage to Najaf, the epicenter of Iraqi Shiism, by Vice President Tariq al-Hashemi, a Sunni. There he visited Grand Ayatollah Ali al-Sistani, the top Shiite cleric. The visit symbolically endorsed Mr. Sistani's role as the most authoritative religious figure in Iraq. Mr. Hashemi has also been working closely with Mr. Hakim's people, as well as with the Kurds. Elsewhere, similar efforts at ecumenical healing proceed rapidly. As Robert McFarlane reported in these pages, Baghdad's Anglican Canon, Andrew White, has organized meetings of leading Iraqi Christian, Sunni and Shiite clerics, all of whom called for nation-wide reconciliation.

The Iraqi people seem to be turning against the terrorists, even against those who have been in cahoots with the terror masters in Tehran. As Col. Sanders puts it, "while we were down in Basra, an awful lot of the violence against us was enabled, sponsored and equipped by. . . Iran. [But] what has united a lot of the militias was a sense of Iraqi nationalism, and they resent interference by Iran."

How is one to explain this turn of events? While our canny military leaders have been careful to give the lion's share of the credit to terrorist excesses and locals' courage, the most logical explanation comes from the late David Galula, the French colonel who fought in Algeria and then wrote "Counterinsurgency Warfare: Theory and Practice" in the 1960s. He argued that insurgencies are revolutionary wars whose outcome is determined by control of, and support from, the population. The best way to think about such wars is to imagine the board game of Go. Each side starts with limited assets, each has the support of a minority of the territory and the population. Each has some assets within the enemy's sphere of influence. The game ends when one side takes control of the majority of the population, and thus the territory.

Whoever gains popular support wins the war. Galula realized that while revolutionary ideology is central to the creation of an insurgency, it has very little to do with the outcome. That is determined by politics, and, just as in an election, the people choose the winner.

In the early phases of the conflict, the people remain as neutral as they can, simply trying to stay alive. As the war escalates, they are eventually forced to make a choice, to place a bet, and that bet becomes a self-fulfilling prophecy. The people have the winning piece on the board: intelligence. Once the Iraqis decided that we were going to win, they provided us with information about the terrorists: who they were, where they were, what they were planning, where their weapons were stashed, and so forth.

It's easy to say, but quite beside the point, that any smart Iraqi would prefer us to the terrorists. We're short-termers, while the terrorists promise to stay forever and make Iraq part of an oppressive caliphate. We're going to leave in a few years, and put the country in Iraqi hands, while the terrorists -- many of whom are the cat's-paws of foreign powers -- intend to turn the place into an alien domain. We promise freedom, while the jihadis impose clerical fascism and slaughter their fellow Arab Muslims.

But that preference isn't enough to explain the dramatic turnaround -- the nature of the terrorists was luminously clear a year ago, when the battle for Iraq was going badly. As Galula elegantly observed, "which side gives the best protection, which one threatens the most, which one is likely to win, these are the criteria governing the population's stand. So much the better, of course, if popularity and effectiveness are combined."

The turnaround took place because we started to defeat the terrorists, at a time that roughly coincides with the surge. There is a tendency to treat the surge as a mere increase in numbers, but its most important component was the change in doctrine. Instead of keeping too many of our soldiers off the battlefield in remote and heavily fortified mega-bases, we put them into the field. Instead of reacting to the terrorists' initiatives, we went after them. No longer were we going to maintain the polite fiction that we were in Iraq to train the locals so that they could fight the war. Instead, we aggressively engaged our enemies. It was at that point that the Iraqi people placed their decisive bet.

Herschel Smith, of the blog Captain's Journal, puts it neatly in describing the events in Anbar: "There is no point in fighting forces (U.S. Marines) who will not be beaten and who will not go away." We were the stronger horse, and the Iraqis recognized it.

No doubt Gen. David Petraeus and Lt. Gen. Raymond Odierno know all this. It is, after all, their strategy that has produced the good news. Their reluctance to take credit for the defeat of al Qaeda and other terrorists in Iraq is due to the uncertain outcome of the big battle now being waged here at home. They, and our soldiers, fear that the political class in Washington may yet snatch defeat from the jaws of victory. They know that Iran and Syria still have a free shot at us across long borders, and Gen. Petraeus told Congress last month that it would not be possible to win in Iraq if our mission were restricted to that country.

Not a day goes by without one of our commanders shouting to the four winds that the Iranians are operating all over Iraq, and that virtually all the suicide terrorists are foreigners, sent in from Syria. We have done great damage to their forces on the battlefield, but they can always escalate, and we still have no policy to direct against the terror masters in Damascus and Tehran. That problem is not going to be resolved by sound counterinsurgency strategy alone, no matter how brilliantly executed.

Mr. Ledeen is resident scholar at the American Enterprise Institute. His book, "The Iranian Time Bomb," was recently published by St. Martin's Press.

terça-feira, outubro 16, 2007

MENEZES, O PSD E O POPULISMO

A eleição do Dr. Luís Filipe Menezes foi apresentada como um triunfo do "populismo", sendo este uma espécie de insulto ou anátema óbvio – com um "populista" os notáveis partem, e o PSD fica no mato.

A maioria das criaturas que falam disto não sabem o que é "populismo". Nas salas, o "populismo" é visto como uma coisa de gente pouco fina, de baixa condição. Raciocínio mais sofisticado, veio de alguém dado a sínteses que adiantou que "isto" (no PSD) era uma luta entre tótós (os barões) e gabirús (os populistas).

No meio da confusão, houve a definição sibilina do Eng. Ângelo Correia: "Populismo é tomar banho no Tejo e disfarçar-se de taxista".
Não sei para onde vai o PSD com Menezes mas com o Dr. Marques Mendes – aliás varão probo e excelente – e o seu discurso asséptico e rigorosamente ao centro, não ia a lado nenhum.

O que é populista? Os populistas russos do século XIX, os narodniki, não se disfarçavam de taxistas nem nadavam, mas pregavam a imensa bondade e sabedoria do povo, (narod), com quem os intelectuais e as elites deviam aprender. Os populistas americanos da era da "Reconstrução" apoiavam-se nos agricultores, desconfiavam dos barões do capitalismo e nadavam, mas nas teorias da conspiração... Um livro, Seven Financial Conspiracies Which Have Enslaved the American People, marca o espírito do tempo. Como panfletos contra os Rotschild - banqueiros, judeus e europeus. E na França, da mesma época, o populismo aparece com Déroulède e com Drumont, exalta o povo ("Les petits gens") e grita "à bas les voleurs", contra os políticos e os financeiros do beau monde da belle époque.
O fascismo – mas sobretudo o nacional-socialismo – têm um lado populista, na exaltação dessa entidade mítica, intrinsecamente boa, saída das florestas de Armínio para os Volkswagen e os paquetes da Alegria no Trabalho – o "povo alemão".

Le Pen, Berlusconi, Chavez são populistas. O populismo sul-americano apesar de Peron, foi sempre mais "à esquerda"; o europeu, desde Poujade, aos movimentos de "terceira via" do tipo gémeos polacos, mais "à direita".

Por cá, o "franquismo" e o "sidonismo" tiveram laivos populistas. Salazar, cerebral, ordeiro, conservador, com o seu azar à multidão e à retórica, não foi por aí. A ANP ensaiou um populismo "nacional" e muitas das suas bases fundaram o PSD, pela província. E em 1975 o que parou o PREC foi um movimento populista – caudilhos locais que, com muitos Padres-nossos e Avé-marias, se foram às sedes do PCP e as queimaram!

O povo não vale mais nem menos que as elites, mas tem mais gente que elas. O que conta em democracia. O PS, com as suas políticas financeiras "esclarecidas" garantiu o apoio das elites financeiras. Que aliás estão com os governos, sejam eles quais forem. Nem podem fazer outra coisa. Nem os governos.

Assim, se se livrar de más companhias, moderar regionalismos e europeísmos e for "popular" só e quanto baste, Menezes pode vir animar as coisas.

Jaime Nogueira Pinto

Publicado no Expresso a 13 de Outubro de 2007

segunda-feira, outubro 15, 2007

NEWSPEAK (EM HONRA DE GEORGE ORWELL)

Diz-nos o jornal que a nova Lei da Memória Histórica, em Espanha, vai ter como primeira consequência que os "símbolos do franquismo vão ser retirados". "Segundo o articulado - somos informados - as administrações públicas têm de eliminar os símbolos franquistas, podendo retirar subvenções ou ajudas aos privados que não acedam a esta norma". Num mundo ideal a Memória Histórica perfeita consistirá em não nos lembrarmos de nada.

domingo, outubro 14, 2007

OUTONO III

São estes campos do Novo Mundo, da Nova Inglaterra, que fascinaram os povoadores europeus no século XVII. Não era para menos. Apesar das dissidências, logo entre os primeiros pioneiros vindos da Inglaterra - os do "Mayflower" chegados ao Cape Cod, mas também os vindos para Massachussets, com John Winthrop - a América equilibrou-se devido ao enorme espaço existente para Oeste. Quem não estava bem , podia mudar-se... e mudava-se!

OUTONO II



Considerações sobre Outubro

"The first frost came on the sixth of October after the rains and the coldness. In the morning everything was silver and icy, the tall grasses delicate as glass and blue with a frosty bloom. The earth was sheathed in frost; and after the sun rose, the shadows of the house and trees were blue on the ground, and all around them, defining them, the sun-released grasses turned wet and green. The hard maple at the end of the road had turned gold in every leaf and stood motionless under the morning moon—which looked naked and lost in the blue sky. A solitary crow flew over between the moon and the lighted tree.

The early part of October is a beautiful and uncertain time, cold and wet and dry and warm. The trees have a drying yellow color all over the countryside with only a solitary burning light here and there. Our black kittens move out distastefully into the cold mornings. One is a new, imported kitten, a pure Persian, who seems out of place among the vines and falling leaves and autumn disorder. He was four months old when we got him, and had never been out of the house, but so big already—so enormous, in fact—that we named him Monstro, and he padded about like a furry whale. He regarded each descending leaf with terror, and spent his first days glued to the door like a caterpillar. As time passed, however, he ventured into the long grass step by step, sniffing the menacing weeds and shying away from grasshoppers. He watched the other kitten, Minx, who has a quarter Persian in her blood and an odd wild face like a pine marten, catch a vole, and sat respectfully two feet away, a kind of furry wonder on his big child face. He has caught nothing so far himself except a grasshopper, but this is a great advance for the housebound ball, and he goes as far as the woodpile by himself and even to the edge of the giant grasses in the garden."

Josephine Johnson,"October Frost"(1953)

SOCIETY OF ANTIQUARIES OF LONDON

Não se pode ir a Londres sem ir espreitar as exposições que estão a decorrer na Royal Academy of Arts. É que é quase impossível ficarmos desiludidos. Desta feita foi a exposição Making History. Antiquaries in Britain, 1707-2007. O título diz tudo e dá-nos garantias de qualidade.

Aqui podemos ver o percurso de homens como Humfrey Wanley, um dos fundadores da Society of Antiquaries of London, organização que se dedicou a estudar o passado, a promover escavações em locais históricos e a tentar conhecer a História da Inglaterra. O seu terceiro centenário foi a oportunidade escolhida para mostrar, nalguns casos pela primeira vez, algumas das peças mais emblemáticas da colecção, iniciada muito antes de se terem criado museus e bibliotecas nacionais.

A exposição começa por mostrar como, no século XVII, a sociedade inglesa tinha um grande desconhecimento acerca do seu passado, baseado em crenças pagãs e cristãs. Depois, preocupados com a destruição do património histórico levada a cabo durante as guerras civis, começaram a aparecer os primeiros "antiquários", que tentam preservar o que encontram e compreender o passado. Depois vem a época dos coleccionadores, dos cientistas que procuram fotografar e datar os achados e que vão estudar os túmulos dos monarcas e dos guerreiros, deixando detalhada descrição de todos os seus trabalhos. Finalmente, a passagem dos antiquários para os arqueólogos. Uma última sala dedicada a Stonehenge.

MUSEU DO GENOCÍDIO

Vilnius é uma pequena e tranquila cidade báltica cheia de história, que se prepara exaustivamente para ser Capital Europeia da Cultura em 2009. O centro histórico está a ser alvo de restauro das fachadas, das ruas, dos monumentos. A vida é tranquila, as raparigas são bonitas, o nível de vida parece subir rapidamente.

A quem vagueia calmamente pelas suas ruas, nada parece lembrar que, também por aqui, passou a II Guerra Mundial e, sobretudo, uma brutal dominação comunista de mais de cinquenta anos. É claro que há sinais evidentes disso mesmo: as estátuas dos "libertadores" soviéticos ou o pavilhão desportivo, em pura arquitectura estalinista, construído sobre o antigo cemitério judeu.

O que também muita gente não sabe é que, em 1944, depois da traição do Ocidente e da invasão soviética, vários milhares de lituanos se refugiaram nas florestas para, durante nove anos (1944-1953), promoverem a resistência à invasão comunista. É claro que pagaram caro a ousadia. Para lembrar isso mesmo, a sede da KGB foi agora transformada no Museu do Genocídio, onde podemos visitar as caves, com as suas celas de tortura, de execução, de sofrimento. Vimos uma, especialmente dedicada à alta hierarquia da Igreja Católica Lituana, por onde passaram Bispos e Arcebispos. Entrámos também no gabinete do Comandante, vimos as fotos dos mártires. No entanto, porventura o mais chocante foi que nesse dia se realizava um qualquer aniversário e a antiga prisão era agora visitada pelos antigos presos. Rostos crispados, olhos húmidos, um velho recolhido numa cela a rezar (provavelmente a cela onde sofreu pela sua ousadia de patriota). Depois, repentinamente, música, uma música cantada por todos como que para espantar os demónios que ainda pairam por essas paragens.

Remédio para os comunistas actuais: visitem o Leste! Vejam o sofrimento que ainda hoje se vive quando essas gentes recordam os resultados da passagem dos comunistas. É o que fazem os jovens lituanos que, na escola, têm visitas guiadas ao seu passado recente.

sábado, outubro 13, 2007

OUTONO - I

Estas árvores lembram-me a Nova Inglaterra ou alguns parques em cidades do Norte de Itália. É por entre elas que gostaria de fazer o meu passeio deste Domingo, pensando nos meus mortos recentes, e procurando ficar com eles um pouco mais de tempo, apesar da morte e da distância...

OS CONSERVADORES ESTÃO DE VOLTA

Os Conservadores, nos últimos anos, pareciam ter desaparecido da vida política britânica. Depois de Thatcher, o panorama era desolador. Não se via ninguém e, sobretudo, não se vislumbravam quaisquer ideias novas ou estratégias com potencial vencedor. Nem sequer com a subida à direcção dos Tories do mediático David Cameron as coisas pareciam ter mudado.
Contudo, o recente descurso de Blackpool veio trazer alguma esperança àqueles que desesperam com a permanência da esquerda no poder. De facto, as palavras de David Cameron vieram incendiar os ânimos e devolver aos conservadores a esperança de que o regresso ao poder estaria próximo. Brown falava na possibilidade de eleições antecipadas e agora a oposição subia em flecha nas sondagens.
Infelizmente, todo este capital de simpatia e de esperança não serviu de nada pois o governo depressa veio afirmar que afinal não haveria eleições antecipadas e a eventual legitimação de Gordon Brown só viria daqui a dois anos. Até lá, é preciso saber se Cameron vai conseguir manter o nível de adesão que conseguiu agora.
As propostas conservadoras no domínio da redução de impostos, da reforma da segurança social, da educação e da saúde são atractivas para muitos cidadãos britânicos e o governo sabe-o bem. Assim, vamos assistir concerteza a uma tentativa de Brown para concretizar algumas reformas neste domínio, para fazer calar os conservadores. Veremos se estes têm a imaginação e a convicção suficientes para manterem estas políticas e esta popularidade.
Em todo o caso, independentemente da desilusão que constituiu o facto de não haver eleições antecipadas, a verdade é que o movimento conservador despertou. No Carlton, em St. James, como noutros muitos "poisos" dos conservadores, parece haver um movimento inusitado e o entusiasmo estar de volta.

sexta-feira, outubro 12, 2007

"SÓ EM PORTUGAL!"

Carlos Fiolhais, no Público de hoje, para comentar mais um daqueles fenómenos que nos fazem utilizar a expressão "só em Portugal" (muito nossa, mas não só nossa, veja-se o only in America, que é declinado em vários tons nos Estados Unidos), titula, em inglês: "What is a derrapagem?" Não podia ter escolhido melhor: acabo de ler no TLS que o restauro de uma magnífica Biblioteca de Manchester, que foi concluido recentemente, tinha sido orçamentado em cerca de 70 milhões de libras e devia durar três anos. A obra afinal demorou dez anos a acabar e custou perto de 300 milhões de libras. Só em Portugal.

COISAS NOSSAS

Se não fossem outros colaboradores deste blog - e da revista - pouco se falaria aqui de assuntos portugueses. Penitencio-me. E aproveitando um conselho amigo, venho chamar a atenção para Os Despojos da Aliança, de Pedro Aires de Oliveira, uma tese de doutoramento sobre a Aliança Luso-Britânica, agora publicada em livro e cuja leitura se recomenda.

quarta-feira, outubro 10, 2007

O POPULISMO E "O ESTILO PARANOICO NA POLÍTICA"

O "populismo", para o historiador e cientista político Richard Hofstadter, é apenas uma das formas daquilo que ele classificou como "o estilo paranóico na política" - americana, no caso vertente e, por acaso, "de direita". Ele próprio reconhece que "o estilo paranóico" - uma "forma" política - pode existir e historicamente existiu tanto à esquerda como à direita. Mas ao tempo em que publicou o famoso ensaio, e depois o livro, intitulado The Paranoid Style in American Politics era do lado direito que o sapato lhe apertava. Hoje, vale a pena relê-lo: não é de todo o retrato dos chamados "populistas; é, sim, a cara chapada da "esquerda" que há, mais ou menos bloqueada.

ROMANCES E LIVROS DE BOLSO

Tenho pouca paciência para romances hoje em dia - fora os que já conheço e os romances policiais ou de espionagem de meia dúzia de autores, que ainda abro com alguma trepidação, como os de John le Carré, apesar de tudo, de Martin Cruz Smith (a série do polícia russo Arkady Renko, do Gorky Park ao Stalin's Ghost), ou o William Gibson que acaba de publicar Spook Country. De preferência e quase só em edições de bolso. (E fora algumas descobertas casuais, como Irène Nemirovsky, uma judia francesa cuja obra está agora a ter um grande êxito, vastamente póstumo, depois da saída do seu notável romance inédito Suite Française.) Mas por estes dias deu-me para pegar num velho e célebre - e brevíssimo - romance de André Gide, que nunca me tinha despertado mais do que uma vaga curiosidade:La Symphonie pastorale. Um livro lacónico, bem escrito e curioso, sobre o esplendor da Fé e a cegueira dos homens (não incluindo aqui as mulheres). O exemplar que tenho é velhinho e não aguentará inteiro muitas mais leituras. É o número 6 da colecção "Le Livre de Poche", editado em 1952. Diz a Wikipedia que o formato "de bolso" foi "inventado" no princípio dos anos 30 pelo alemão Kurt Enoch cuja carreira como editor continuaria nos Estados Unidos, onde acabou por ser um dos proprietários dos Pocket Books. Os primeiros "livros de bolso" americanos apareceram em fins dos anos 30, depois da ideia nascida na Alemanha pré-hitleriana já se ter vulgarizado em Inglaterra. Em França, o "livre de poche" por antonomásia apareceu depois da guerra: "uma notável selecção de obras de primeira linha apresentadas de uma forma elegante e prática", diz o reclame. A colecção "Le Livre de poche" continua a existir e em francês ainda se usa a designação de poche para estas edições, mas "pocket book" já não é senão uma chancela editorial: no idioma livreiro anglo-saxónico designam-se as edições deste género por "mass market paperbacks", para as distinguir dos livros não encadernados mas de formato maior (a que se dá o nome de "trade paperbacks"), como toda gente provavelmente sabe, ou não lhe interessa muito, provavelmente, ficar a saber. A edição do romance de Gide na colecção "Le Livre de Poche" usa na capa uma imagem da actriz Michèle Morgan, na sua interpretação de uma das personagens principais da história no filme de Pierre Aurenche e Jean Delannoy que foi um grande êxito da época. É uma forma rudimentar e precoce do movie tie-in, uma coisa que hoje é vulgar no mundo editorial.

domingo, outubro 07, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - HOJE FOI AQUI, A FÁTIMA.

Para a semana é que são os 90 anos do 13 de Outubro, mas hoje estivemos lá. Muitos bispos, cónegos, sacerdotes, religiosas e religiosos mas a marca de Fátima continua a ser a devoção dos mais pobres, do povo miúdo, que vem em famílias inteiras, trazendo os seus doentes, os seus velhos, os filhos pequenos.É esta fortíssima religião popular, contra a qual esbarrou a agressão ideológica dos democráticos, na Primeira República. E depois o esquerdismo político-militar de comunistas e MFAs, enquanto as burguesias acobardadas se escondiam ou disfarçavam.
Os "activistas" jacobinos do PS, BE e PCP- e os "cripto" do PSD que alinham pela mesma música
deviam pensar nisto bem antes de avançar com a sua agenda "progre" de valores e costumes.

sexta-feira, outubro 05, 2007

NOTÁVEL E NOTÓRIO


Hoje, 5 de Outubro, é a efeméride comemorativa da proclamação da República. Logo no dia, em 1910, houve o assassinato de dois sacerdotes. Agora, por cá, os "esclarecidos" e "laicos militantes" - leia-se os anti-religiosos em geral e anti-católicos em particular - além de nos maçarem com as suas enormidades nas gazetas, parecem querer ir pelo caminho da festejada República Democrática. Que acabou, como se sabe, com o 28 de Maio e Salazar. Denunciando a situação, Graça Franco escreve no PÙBLICO (pág.47 da edição de hoje) um artigo notável - "O risco existe". Querem reintroduzir a questão religiosa em Portugal? Esperem por 2009!". A Graça foi minha aluna, há muitos anos, na Católica, e afirmou-se como uma das primeiras jornalistas económicas do nosso país. Mas é sobretudo, como mostra este escrito, uma mulher de coragem, inteligência e convicções. Parabéns.

quarta-feira, outubro 03, 2007

SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 7

"Por oposição aos abstractos Direitos do Homem, Burke falava dos concretos direitos de que o homem efectivamente era detentor e gozava. Usou às vezes a expressão "direitos naturais" mas significava com ela os direitos históricos, prescritivos, herdados no contexto de sociedades e sistemas jurídicos específicos: os direitos dos Ingleses, dos Americanos, dos Franceses ou dos Índios - não os do "homem" em abstracto. Mais uma vez, estabelece-se o contraste entre o particular e o geral, entre o histórico e o abstracto.

Para Burke, a continuidade histórica era central na compreensão da sociedade. Numa das suas frases mais citadas, descreveu-a como 'uma parceria entre os que hoje vivem, os que morreram e os que ainda estão por nascer'. Ou seja, o presente não é propriedade dos vivos, para dele fazerem o que lhe aprouver. É um património de que são fieis depositários. Têm a responsabilidade fiduciária de o transmitir em boas condições. Era essa responsabilidade que os revolucionários estavam a trair. Em nome da razão, da liberdade e da igualdade, estavam a destruir todas as instituições históricas da autoridade legítima.

Desaparecida a autoridade, o resultado não seria a liberdade mas uma crescente dependência da pura força para impôr a obediência e manter a ordem. Com extraordinária visão e sem precedentes históricos que lhe servissem de guia (o conceito de totalitarismo ainda estava por inventar), nos alvores da revolução, quando reinavam ainda o idealismo e o optimismo, Burke intuíu que acabaria em terror e tirania."

Owen Harries, "What Conservatism Means", The American Conservative, Novembro de 2003

segunda-feira, outubro 01, 2007

LEITURAS I - DA VIA APIA À "ROUTE 66"

Route 66 -Na pista de Kerouac...

Acabei "Castillos de cartón" de Almudena Grandes. Falta-lhe qualquer coisa para ser um bom romance. É só uma novela interessante. E depois tem aquela marca irritante dos fins e soluções correctos para as situações marginais. A Almudena que escandalizou com Las edades de Lulu(1989) está mais tranquila, quase sossegada.
Também nessa ida ao "Corte Inglês" de Lisboa, trouxe da livraria uns relatos de Valerio Massimo Manfredi,um professor de Arqueologia e História Antiga, metido a escritor de ficção. Quem mo dera a conhecer tinha sido o Eduardo (que deve ser a pessoa que descobre autores que eu não conheço e passo a gostar) que me deu num Natal de há muitos anos a sua trilogia "Alexandros", inspirada em Alexandre da Macedónia. Este livro de Manfredi que agora li -El complot contra los Escipiones y otros relatos - consta de três narrativas diferentes, de três aventuras também em tempos e lugares diferentes. Com o denominador de serem histórias de mistério e crime e se passarem ao longo de estradas ou caminhos célebres: a Via Apia, o "Caminho de Santiago" medieval e a mítica"Route 66", a mother road dos roaring 60s americanos.Vale a pena ler.