quarta-feira, janeiro 30, 2008

OS FAZEDORES DA HISTÓRIA

Embora não seja a mais recente das publicações, confesso que só agora acabei de ler a excelente obra de John O'Sullivan, O Presidente, o Papa e a Primeira-Ministra (Aletheia Editores). Muito haveria a dizer sobre este livro, mas a primeira nota é para a saudade. De facto, que saudades nos traz de um tempo em que o mundo era governado por grandes líderes: Reagan, João Paulo II, Thatcher.

John O'Sullivan, destacado conservador, conselheiro de Thatcher e colaborador da National Review, descreve-nos aqui a extraordinária luta levada a cabo por estas três grandes figuras em prol da liberdade. Todos eles personalidades extraordinárias, dotadas de grande Fé e confiança nas pessoas, marcaram decisivamente o seu tempo através do fim da guerra fria, da queda do comunismo, da libertação dos povos de Leste e, no caso de Reagan e Thatcher, com a recuperação da economia dos seus países.
Todos eles foram alvo de atentados, de calunias na imprensa, de ódios, mas têm de certeza um lugar assegurado na História. Um lugar que levará as futuras gerações a admirá-los e, esperamos, a procurar seguir o seu exemplo.
Um livro a ler!

A DENÚNCIA

Dos jornais: "Maioria das multas por fumar resulta de denúncias." "Os não-fumadores não têm hesitado em chamar a polícia..." Bravo!

As palavras às vezes atraiçoam-nos - não no sentido de não exprimirem o que queremos, mas de revelarem o que realmente está no fundo do nosso pensamento. Sempre foi moderadamente divertido (em certos momentos menos do que moderadamente) comparar as intenções supostamente benévolas dos bem-pensantes do século XX e a linguagem que gostavam e continuam a gostar de usar, toda muito bélica quanto mais pacifistas são, toda baseada em "denunciar", "esmagar", proibir", etc., quanto mais atacam os "denunciantes", amam a Humanidade e defendem a "liberdade". Como dizia o outro, "quando oiço vivas à liberdade na rua vou logo à janela ver quem é que levam preso".

Há um conto do escritor Ray Bradbury, talvez menos conhecido do que o famoso e pretencioso Fahrenheit 451 (o dos bombeiros do futuro cuja missão é queimar livros), chamado "The Pedestrian" em que um tipo que gosta de ler à noite e de dar passeios a pé se torna suspeito aos olhos de toda a gente e objecto das atenções da polícia, porque não obedece às regras de comportamento numa Los Angeles do futuro em que a noite é para dormir e toda a gente anda de automóvel.

É muito estudado nas escolas americanas - segundo se fica a saber na internet - mas dá-me impressão de que o seu significado não é muito bem compreendido - se calhar nem pelo autor.

E MC CAIN GANHOU NA FLORIDA!

Acabei de ver no "WSJonline"! Devo dizer que estou muito contente!

domingo, janeiro 27, 2008

MC CAIN É ÚNICO REPUBLICANO QUE PODE GANHAR!

Diversos inquéritos de opiniãosão unânimes em mostrar que John Mc Cain é o candidato republicano mais capaz de bater Hilary Clinton e de medir forças com Barak Obama em Novembro deste ano. Transcrevo a seguir parte de um artigo WSJ, edição deste fim de semana, nesse sentido


(...)"He can work with anybody," Mr. Freid said, explaining Mr. McCain's appeal to independents.

Eric Fehrnstrom, a Romney spokesman, didn't address his candidate's performance in head-to-head polling with Democrats. "The Republican who beats the Democrat in November will be the candidate who can most effectively make the case that he will bring change to Washington and provide leadership on the economy," Mr. Fehrnstrom said.

Mr. Romney's electability pitch is based on his status as a Washington outsider. Earlier this month in New Hampshire, he decried sending the "same faces" back to Washington in "different chairs."

Mr. Romney also says his two wins in Michigan and Nevada are harbingers for wins in those swing states in November. "If you can win those two states, Michigan and Nevada, it means you put together quite the coalition and have been able to make the kind of inroads you have to make to take the White House," he said Saturday in Florida.

[Electable]

Mr. Giuliani, who needs to do well in Florida to lift his flagging status nationally, also has his supporters concerned about November. Don Jaffin, a 77-year-old living in Florida, is leaning toward Mr. Giuliani because he will "get down in the dirt with Hillary, which would be the dirtiest campaign in American history," he said after a Romney event Tuesday at the Republican Jewish Coalition of Florida. "I'll tell you who I'm for. I'm for whoever can beat Hillary."

Charlie Black, one of Mr. McCain's top advisers, doesn't think most voters are overly strategic. "Very few people vote on electability," he said yesterday. Exit polls in South Carolina, for instance, showed only 6% ranked the ability to win in November above three other choices: values, shared beliefs, and experience.

That fact doesn't prevent Mr. Black from taking Mr. Romney's electability pitch down a notch. "Romney has a poor case to make on that," he said, noting that Mr. Romney tends to have higher negative ratings than Mr. McCain and does worse in head-to-head matchups against Hillary Clinton and Barack Obama. "If I were him, I'd change the subject."


PASSEIO DE DOMINGO - PONTA DO OURO, MOÇAMBIQUE

Praia da Ponta do Ouro(Sul de Moçambique)

Hoje tinha planeado um passeio aqui, à Ponta do Ouro, bem no extremo Sul de Moçambique. Mas complicações logísticas e compromissos na cidade levaram-me a ficar pela Piscina do Polana, por sinal este Domingo muito bem frequentada. In all senses.


Piscina do Hotel Polana Maputo (ex-LM)

sábado, janeiro 26, 2008

ACONTECEU NO CONGO - LARRY DEVLIN CONFESSA-SE


Larry (Lawrence) Devlin era o Chefe da Estação da CIA em Léopoldville em 1960, no primeiro ano da independência do Congo Belga. Nessa função protagonizou e observou, na primeira fila e nunca passivamente , alguns dos mais quentes episódios da Guerra Fria - a independência do Congo, a revolta da Gendermarie, a eleição de Lumumba, o aparecimento e ascensão de Mobutu,
a secessão do Katanga com Tschombé, a morte de Lumumba, as complexas operações da ONU, a morte de Dag Hammarskjöld, o Secretário-Geral sueco que lia Saint-John-Perse.
Todos estes acontecimentos eu fui seguindo, na época, nos jornais e na televisão, num tempo que foi o meu primeiro tempo de interesse pela política, sobretudo pela política internacional.
Estou agora nestes dias de África Austral a recordá-los no livro de Devlin - Chief of Station, Congo - A Memoir of 1960-1967" (Public Affairs, New York, 2007), um livro que recomendo a todos os interessados na História de África, sobretudo da África no "grande jogo" dos tais anos quentes da Guerra Fria.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

1808

Vai chegar a Portugal o best-seller brasileiro 1808. Conta a história da "fuga" para o Brasil da Rainha de Portugal, do Príncipe Regente D. João VI e da Corte e de muita gente importante, nas vésperas da primeira invasão francesa. O autor do livro, Laurentino Gomes, reconhece a inteligência política e geo-estratégica da avisada decisão real, apesar de todos os seus remoques sobre Portugal e a Família Real. A iniciativa de D. João VI explica, entre outras coisas, que nunca tenhamos chamado à resistência aos desígnios napoleónicos "guerra da Independência", como chamam à sua os espanhóis, com o seu Pepe Botella, o irmão de Napoleão que chegou a reinar em Espanha. O Rei de Portugal foi sempre Rei de Portugal e os exércitos franceses nunca fizeram mais do que ocupar uma pequena parte do território nacional de então. 1808 tem muita informação fascinante e refere documentação não menos interessante (pelo menos para ignorantes como eu). Haverá, espero, historiadores para fazer a sua crítica. Para já, é pena que na ânsia de denegrir o Portugal católico da época se diga, logo nas primeiras páginas que o nosso país foi o último a abolir o tráfico de escravos e, a seguir, que foi também o último a abolir a Inquisição. Independentemente dos méritos da escravatura ou da Santa Inquisição, não é verdade nem uma coisa nem outra.

domingo, janeiro 20, 2008

PASSEIO DE DOMINGO - CHARLESTON (SOUTH CAROLINA)

A ideia de passear hoje por aqui vem do John McCain ter vencido as "primárias" republicanas neste Estado, reforçando muito as suas possibilidades de ser o candidato às presidenciais. A capital do Estado é Columbia mas Charleston é uma cidade muito simbólica, vizinha do famoso Fort Summer, cujo ataque deu o sinal para a Guerra Civil.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

O ESPÍRITO REVOLUCIONÁRIO SEGUNDO KOLAKOWSKI

Leszek Kolakowski nasceu e viveu a primeira parte da sua vida na Polónia (1927-1968). Foi membro do PCP (o polaco, claro, cuja designação técnica era Partido dos Trabalhadores). Filósofo, "historiador das ideias" e professor de filosofia, desde 1968 que ensina no "Ocidente" (Canadá, Estados Unidos, Grã-Bretanha). Inventou um "marxismo humanista" que não sei se ainda perfilha. No seu conhecido e monumental estudo sobre as "principais correntes do marxismo" escreveu: "Presentemente o marxismo não serve para interpretar o mundo nem para o mudar: é um catálogo de slogans que servem para organizar diversos interesses" (citação que figura num dos artigos sobre Kolakowski disponíveis na "Internet"). "O espírito revolucionário" é o título de uma colecção de ensaios de Kolakowski que foi publicada em França em 1977, num volume que inclui também "Marxismo, utopia e anti-utopia". No ensaio que dá o título a esse livro, Kolakowski tem a seguinte definição da "mentalidade revolucionária": "É uma atitude espiritual que se caracteriza pela crença particularmente intensa na possibilidade de uma salvação total do homem, em oposição total à sua situação actual de escravatura, de tal sorte que entre uma e outra não haveria nem continuidade nem mediação; mais ainda, que a salvação total seria o único e verdadeiro fim da humanidade, ao qual todos os outros valores se deveriam subordinar como meios. Não existiriam mais do que um só fim e um só valor, que seriam a negação absoluta do mundo existente." Para Kolakowski esta definição ajusta-se como uma luva a certas formas de cristianismo, em especial entre as nascidas da Reforma, que opõem esta doutrina revolucionária do "tudo ou nada" a uma Igreja que conta com "o mundo imperfeito das fraquezas humanas, um mundo que se deve encarar com benevolência e procurar melhorar". Mas onde a "mentalidade revolucionária" realizou e tenta realizar todas as suas sinistras virtualidades é na sua versão puramente política - de que é exemplo marcante a "Revolução proletária" dos marxistas.

MAIS ELEIÇÕES AMERICANAS

Amanhã, na Carolina do Sul (além do Nevada) realizam-se mais umas "primárias". Já se realizaram no Wyoming, Iowa, New Hampshire e Michigan e vão continuar a realizar-se Estado por Estado. O processo da eleição presidencial nos Estados Unidos é uma corrida de longa distância, em que durante meses os candidatos a candidatos se defrontam para conquistar votos dentro do seu próprio partido e impressionar o público em geral: há cada vez mais gente "independente" ou "não comprometida". A Carolina do Sul é mais um episódio "decisivo" (para já só para os Republicanos, os Democratas ficam para a semana) - depois de outros igualmente "decisivos" que nada decidiram. Nesta matéria, como em muitas outras, aplica-se a máxima do dramaturgo, novelista e argumentista cinematográfico William Goldman (dois Óscares e vários êxitos de bilheteira): Nobody knows anything, versão fina do nosso "prognósticos, só no fim do jogo". Se alguém soubesse alguma coisa, valia o seu peso em ouro. Assim, a prata não deixa contudo de ir correndo para consultores, analistas ou comentadores. A eleição do Presidente dos Estados Unidos ainda não é a do Presidente dos Estados Unidos do Ocidente, como preconizava em "O Édito de Caracala" um amigo imaginário de Regis Debray. (Declaração de interesse: a versão portuguesa do livro de Régis Debray foi publicada pela Guimarães Editores, numa edição em que colaborei.) Mas nem por isso é menos relevante para todos nós. E é um bom e verdadeiro "reality show".

terça-feira, janeiro 15, 2008

TABACO - A LONGA GUERRA AO FUMO

Transcrito de "The Atlantic Monthly"

"To Smoke or Not to Smoke?"

Articles from the 1860s to the 1990s take up the contentious question.

When the French National Library airbrushed the cigarette out of Jean-Paul Sartre’s hand in a 2005 poster of the iconic, chain-smoking philosopher, you knew it was only a matter of time. This February, France joins a growing number of jurisdictions that have implemented far-reaching smoke-free legislation—including such unusual suspects as Cuba (after Fidel Castro gave up cigars in 1986) and Hong Kong (which has temporarily exempted mah-jongg parlors and a few other places). But while the current antismoking phenomenon may appear unstoppable, a look back reveals that tobacco bans are hardly new—and rarely permanent. Here are some of the earlier smoke-free movements in history.

1624: On the logic that tobacco use prompts sneezing, which too closely resembles sexual ecstasy, Pope Urban VIII issues a worldwide smoking ban and threatens excommunication for those who smoke or take snuff in holy places. A century later, snuff-loving Pope Benedict XIII repeals all papal smoking bans, and in 1779, the Vatican opens its own tobacco factory.

1633: Sultan Murad IV prohibits smoking in the Ottoman Empire; as many as eighteen people a day are executed for breaking the law. Murad’s successor, Ibrahim the Mad, lifts the ban in 1647, and tobacco soon becomes an elite indulgence—joining coffee, wine, and opium, according to a historian living under Ibrahim’s reign, as one of the four “cushions on the sofa of pleasure.”

1634: Czar Michael of Russia bans smoking, promising even first-time offenders whippings, floggings, a slit nose, and a one-way trip to Siberia. By 1674, smokers are deemed criminals subject to the death penalty. Two years later, the smoking ban is lifted.

1646: The General Court of Massachusetts Bay prohibits citizens from smoking tobacco except when on a journey and at least five miles away from any town. The next year, the Colony of Connecticut restricts citizens to one smoke a day, “not in company with any other.” Though some statutes remain on the books for decades, enforcement diminishes, and by the early 1700s, New England is a major consumer and producer of tobacco.

1891: Angered by the shah’s generous tobacco concession to England, Iranians protest widely, and the Grand Ayatollah Haji Mirza Hasan Shirazi issues a fatwa banning Shiites from using or trading tobacco. The tensions spark the Tobacco Rebellion—the culmination of a long-standing confrontation between Iran’s shahs and its clergy over foreign influence. The following year, once the country’s business dealings with the Brits are revoked, Iran’s Shiites happily resume smoking.

1895: North Dakota bans the sale of cigarettes. Over the next twenty-six years, fourteen other statehouses, propelled by the national temperance movement, follow suit. Antismoking crusader Lucy Gaston announces her candidacy for president in 1920—the same year Warren G. Harding’s nomination is decided by Republican Party bosses in a “smoke-filled room.” By 1927, all smoke-free legislation—except that banning the sale of cigarettes to minors—is repealed.

1942: Adolf Hitler calls tobacco “the wrath of the Red Man against the White Man, vengeance for having been given hard liquor,” and directs one of the most aggressive antismoking campaigns in history, including heavy taxes and bans on smoking in many public places. The country’s antismoking movement loses most of its momentum after the Nuremberg trials, and by the mid-1950s, domestic consumption exceeds prewar levels.

JOHN MC CAIN À FRENTE

John Mc Cain é de todos os candidatos à Presidência dos Estados Unidos o que tem melhor perfil como homem de carácter, coragem e convicções. Lutou pelo seu país na linha da frente enquanto uns fugiam para a Suécia e outros faziam o serviço militar no conforto do homeland da Guarda Nacional. Feito prisioneiro em combate suportou estoicamente as torturas físicas e psicológicas dos comunistas em Hanói, recusando qualquer facilidade ou privilégio e recusando-se a ser libertado a troco de quaisquer críticas ao seu país. Como Senador pelo Arizona mostrou sempre uma grande independência em relação ao seu próprio partido ou a interesses corporativos dos seus eleitores. É um patriota americano e um conservador esclarecido avesso a fundamentalismos primários.
Se eu fosse americano votava por ele. A seguir transcrevo da edição de hoje do WSJ
John McCain's victory in Tuesday's New Hampshire primary appears to be paying off.
art.mccain.gi.jpg

Sen. John McCain wins 34 percent of registered Republicans in a CNN/Opinion Research Corp. poll.

The senator from Arizona is the front-runner in the battle for the Republican presidential nomination, according to the first national poll taken after the New Hampshire primary.

McCain has the support of 34 percent of registered Republicans in a CNN/Opinion Research Corp. survey out Friday. That's a 21-point jump from the last CNN/Opinion Research poll, taken in December, well before the Iowa caucuses and New Hampshire primary earlier this month.

Former Arkansas Gov. Mike Huckabee, who won the Iowa Republican caucuses, is in second place in the new survey, with 21 percent of those registered Republicans polled supporting him for the GOP nomination. Check out the poll »

Rudy Giuliani follows with 18 percent, a drop of six points from the December poll, when the former New York City mayor was the front-runner.

"Only McCain gained support among Republicans nationally. McCain's now the clear Republican front-runner," said Bill Schneider, CNN senior political analyst.

Former Massachusetts Gov. Mitt Romney is in fourth place, with the backing of 14 percent of registered Republicans, with former Sen. Fred Thompson of Tennessee at 6 percent, Rep. Ron Paul of Texas at 5 percent, and Rep. Duncan Hunter of California at 1 percent.

These results have a sampling error of plus or minus 5 percentage points.

"Giuliani has lost the 'inevitability factor.' Back in October, half of all Republicans nationwide said that he was most likely to win the nomination. Now that is down to 15 percent. McCain is now seen as the most likely GOP nominee -- 45 percent feel that way about him, up from 13 percent in October," said CNN polling director Keating Holland.


domingo, janeiro 13, 2008

PASSEIO DE DOMINGO - FOZ DO CUANZA

Estou a escrever sobre Angola em 1974-75 e tive saudades, pois já não lá vou há mais de um ano. Esta é a foz do Cuanza, destino do meu primeiro passeio em Angola, acabadinho de chegar nesse sábado de manhã. Fui com o Nuno Cardoso da Silva. Nos últimos dez anos voltei aqui algumas vezes, mas gosto sempre como da primeira vez.

EM BOLONHA, II - AEROPINTURA

sexta-feira, janeiro 11, 2008

LIBERALISMO DE PACOTILHA,TABACO & ETC.

Pedro Magalhães perdeu a cabeça. No Público da passada segunda-feira escreveu um artigo intitulado "Liberalismo de pacotilha", cujo teor lógico só é comparável ao de uma "falsa notícia" inventada por André Brun e que rezava mais ou menos assim, sob o título "Aposta estúpida": "Ontem, no botequim X, um cliente apostou com um amigo que era capaz de beber cinco litros de vinho sem parar. Quando já ia no fim do primeiro meio litro, desprendeu-se um candieiro do tecto que lhe caíu em cima e provocou a sua morte instantânea. Mais uma vítima do alcoolismo." No Público de hoje vem a resposta de Vasco Pulido Valente, que era com certeza um dos "melhores colunistas e comentadores dos jornais portugueses" visados com condescendência na estúpida diatribe de Pedro Magalhães. Quanto à questão do "repugnante vício" de fumar e ao que está "cientificamente provado" pode-se ler com algum proveito In defense of smokers, um panfleto do advogado americano Lauren A. Colby (o Google encontra logo).

quinta-feira, janeiro 10, 2008

BOLONHA - AS DUAS TORRES


Estive quatro dias - de 4 a 8 de Janeiro - em Bolonha e gostei muito, também deste ponto das "Duas Torres". Teriam inspirado o Tolkien? De qualquer modo são fantásticas.

terça-feira, janeiro 08, 2008

A VELHA DESORDEM MUNDIAL

Sua Santidade o Papa Bento XVI - lê-se no Público, por exemplo - critica a "globalização", citando Isaías: "uma névoa que cega as nações", comparável à Torre de Babel (como diria o outro, essa fomos nós que inventámos, vide "As Torres de Babel", Futuro Presente, nº 51). É fácil para quase toda a gente concordar com o Santo Padre em associar "o mundo globalizado ao caos da Torre Babel" e discutir "os efeitos positivos da liberalização à escala mundial" e acenar que sim com a cabeça quando o Papa fala da falta de "justiça social", tudo culpa dos Estados Unidos, de preferência. O que quase toda a gente já não quer ouvir é que, como também diz Sua Santidade, "se falta a verdadeira esperança, [o Homem] procura a felicidade na embriaguez, no supérfluo e no excesso". Porque ao contrário do que comenta um jornal italiano a questão não é "uma mudança radical da ordem económica", ao alcance de qualquer rápido decreto: é mudarmos nós de vida.

ELEIÇÕES AMERICANAS, 2008

Estão a decorrer, hoje, as "primárias" de New Hampshire, as segundas, depois do Iowa e antes de muitas outras que estão para vir. As "primárias" são um daqueles processos eleitorais norte-americanos que custam a perceber aos europeus. A quem estiver interessado recomendo a cobertura feita pela CNN, que explica tudo tim-tim por tim-tim, outra especialidade americana - que tem as suas vantagens: somos todos tomados por parvos, ou como se tivéssemos nascido ontem, o que permite ficar a saber muitas coisas que se calhar não nos atrevíamos a perguntar. As últimas notícias das sondagens são as seguintes (ver em Pajamas Media): do lado democrático, reforça-se o favoritismo de Barack Obama, quer para o escrutínio de hoje quer em termos nacionais; do lado republicano, Mike Huckabee, grande triunfador no Iowa, não tem grandes perspectivas no New Hampshire, onde John McCain aparece cada vez mais como possível vencedor por boa margem. A nível nacional, segundo a Gallup, Hilary Clinton está em nítidas dificuldades, empatada com Obama: já há lágrimas no seu campo e Bill Clinton ataca os meios de comunicação, último recurso dos perdedores; entre os republicanos as preferências actuais vão ainda para Mike Huckabee (com 25%), mas McCain está empatado com Rudy Giuliani (20 - 19%) a pouca distância do líder; Mitt Romney está abaixo dos 10%.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

QUEM ME AVISA MEU AMIGO É - 1

"Uma coisa é calar as pessoas, outra convencê-las. E fazê-las calar em matérias que são centrais para o seu respeito por si próprias e a sua dignidade é uma brincadeira muito perigosa, é brincar com o fogo - fazer crescer nelas ásperos ressentimentos que mais tarde ou mais cedo hão de provavelmente explodir e despertar os seus piores instintos."

(Eugene D. Genovese, The Southern Tradition, The Achievements and Limitations of an American Conservatism, 1993)

quarta-feira, janeiro 02, 2008

BENAZIR BHUTO

Capa da London Review of Books de13 de Dezembro de 2007:

"The fatal bullet had been fired at close range. The trap had been carefully laid, but as is the way in Pakistan, the crudeness of the operation made it obvious that the decision to execute the prime minister's brother had been taken at a very high level"
(Tariq Ali on the Bhuttos, o artigo sobre a família Bhutto, no interior, intitula-se "Daughter of the West")

VIDA NOVA

Temos que nos dar por satisfeitos: por enquanto, o "vício miserável", o "legado de maldição e de vingança dos peles-vermelhas", está a ser combatido pelos anti-tabagistas pela suave pressão dos diplomas legais e pelo estímulo da menos suave, mas até agora incruenta, ânsia delatora e higiénica do cidadão comum. A prática do "vício brando e útil", como lhe chamava em 1933 um raro e pacato defensor do cigarro, ainda não é punida com "bastonadas" - como na civilizada Suiça do século XVII, numa das primeiras tentativas para extirpar "esse hábito repugnante", que não teve êxito (como ensina um interessante artigo de Arlindo Manuel Caldeira no Público de hoje). Em sítios menos impressionados pela integridade física e moral dos delinquentes, como a Rússia, a Pérsia e o Império Otomano, cortava-se o nariz aos fumadores - ou até a cabeça, se reincidissem. Ora bem!

ANO NOVO

Entrámos no ano novo que já desejámos cheio de bençãos e prosperidades a entes queridos e menos queridos - e assim desejamos, evidentemente, a todos quantos certamente esquecemos e a todos os que nos lêem ou passam por aqui os olhos.
Nos livros que recolhem as crónicas que André Brun se fartou de publicar nos jornais e nós nunca nos fartamos de reler, há quase sempre alguma alusiva à passagem do ano: "Ano Novo, Vida Velha", "Ano Velho, Vida Nova" são duas delas e há também um diálogo, de cujo título não me lembro, entre o Ano Novo que se prepara para entrar em cena e o provecto Ano Velho que se despede desta vida. Têm sempre um toque de melancolia no seu humor.
Tempo de promessas que não tencionamos cumprir e de grandes e pequenos desejos que quase sempre não se cumprirão - a passagem de ano não deixa de ter um travo de amargura no fundo do champagne e das forçadas alegrias da quadra. 2007 ficou para trás, começa 2008, ano bissexto. Adeus, ano velho, que nos levaste tantos amigos. Olá, Ano Novo, que mais uma vez, supersticiosamente, pela mágica (?) mudança de um algarismo, achamos que nos trará as novidades que esperamos. (Não falámos do Natal, mas essa, claro, é a grande boa notícia que todos os anos nos é lembrada enquanto a República e os bons costumes o consentirem.)

LA CINA É VICINA

Há uns jornalistas que publicam reportagens e livros sobre a história de miséria, prepotência e corrupção da gente do campo, aparecem na televisão e tornam-se celebridades, e cineastas que fazem filmes sobre as malfeitorias do poder - com a ajuda ou a colaboração das entidades estatais. Vendem dezenas de milhares de exemplares ou ganham não sei quantos prémios nos festivais de cinema e passam nas salas de cinema do mundo inteiro. Toda a gente fala deles. As autoridades locais, a certa altura, incomodam-se - e, mais ou menos preguiçosamente, proibem, censuram, processam. Os escritores ou os artistas reclamam e falam do respeito pelo "império da lei" e pela sagrada "liberdade de expresão", os críticos estrangeiros confiam em que o bom senso levará finalmente a melhor e as censuras, as proibições, os interditos acabarão por se desvanecer. É na China, na República Popular fundada por Maozedong e, até ver, um país oficialmente comunista. O mesmo país onde uma actriz e cineasta tem o blog mais visitado do mundo - principalmente por chineses, é de presumir, porque quem lá fôr sem ter aprendido mandarim verá que é chinês para nós. La Cina é vicina, dizia Marco Bellochio, num filme muito velhinho dos moderníssimos tempos do glorioso "maoísmo" ocidental. E está pertíssimo, mas não é no sentido que então havia quem pensasse.
(O livro é, na versão inglesa disponível em todo o mundo, Will the boat sink the water?; sobre os recentes filmes chineses dignos de nota o crítico do Financial Times Nigel Andrews publicou num dos últimos fins de semana uma boa panorâmica.)

terça-feira, janeiro 01, 2008

EM 2008, À V(B)ELA COM A GULLIVERA E O MILO MANARA!

Fui sempre um aficionado de Milo Manara. Ele imaginou e desenhou as mulheres mais bonitas da criação. Além disso retratou uma parte (negra, sórdida, fragmentada, marginal, se quizerem...mas) muito real do nosso tempo. E criou e (re)inventou espaços fabulosos de sonhos e memórias de sonhos. Com isso, ajudou-nos(me) a sonhar e a viver.
Como ontem falei em manhãs de partida, lembrei-me de trazer esta do Manara, que é quase de certeza da sua versão, bela e ousada, das viagens e aventuras de(a)Gulliver(a).Bom Ano!