quinta-feira, agosto 28, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - É MESMO DE OITO EM OITO DIAS, OU MAIS - OU NUNCA MAIS...

Não morri ainda para o cinema - mas, como espero que alguém tenha reparado, tenho estado mais morto do que vivo aqui no blog. Esta semana fazia todas as tenções de chamar a atenção para a mini-retropectiva de Clint Eastwood que a RTP1 está a providenciar - e até agora não passaram de tenções. Ainda vou tentar - retrospectivamente...- dedicar umas linhas à segunda stone face do cinema americano (a primeira foi, como todas as inteligentíssimas leitoras sabem, Pamplinas ou seja o genial e granítico Buster Keaton). Veremos. Até já, se Deus quiser.

quarta-feira, agosto 27, 2008

SYLVIA PLATH

Há dias vi ao acaso dos filmes da TV Sylvia (2003) de Christine Jeffs, com Gwyneth Paltrow e Daniel Craig. Fui depois procurar poesia da Sylvia Plath. Fica aqui esta.

Southern Sunrise

Color of lemon, mango, peach,
These storybook villas
Still dream behind
Shutters, their balconies
Fine as hand-made lace,
or a leaf-and-flower pen-sketch.
Tilting with the winds,
On arrowy stems,
Pineapple-barked,
A green crescent of palms
Sends up its forked
Firework of fronds.
A quartz-clear dawn
Inch by bright inch
Gilds all our Avenue,
And out of the blue drench
Of Angels' Bay
Rises the round red watermelon sun.

Sylvia Plath

terça-feira, agosto 26, 2008

UMA QUESTÃO RACIAL?

Do WSJ de hoje transcrevo:


The Racism Excuse

Things are supposed to be looking rosy for Democrats this November. But in case Barack Obama loses the Presidency, an excuse is all ready to go: America's too racist to elect a black man. Not even, in his Vice Presidential pick Joe Biden's inimitable description, one so "articulate and bright and clean."
This narrative has gained traction with the Democratic Presidential candidate's recent setbacks in the polls. We hear it from the convention crowd in Denver and liberals in the press. The older, poorer, white, often Hillary voter who sounds ambivalent about the Obama coronation is an enticing scapegoat.
"Call me crazy, but isn't it possible, just possible, that Obama's lead is being inhibited by the fact that he is, you know, black?" wrote John Heilemann in New York magazine earlier this month. "What makes Obama's task of scoring white votes at Kerry-Gore levels so formidable is, to put it bluntly, racial prejudice."
In this week's Newsweek (and on Slate), Jacob Weisberg reasoned that only some "crazy irrationality over race" could prevent Mr. Obama from winning the White House. If he does win, America will have reached post-prejudice Nirvana. "If Obama loses, our children will grow up thinking of equal opportunity as a myth," Mr. Weisberg continued. "To the rest of the world, a rejection of the promise he represents wouldn't just be an odd choice by the United States. It would be taken for what it would be: sign and symptom of a nation's historical decline." Wow. Vote for Barack, or America is as irredeemable as many foreigners believe.
Part and parcel of this argument is that Republicans are bound to play the race card. The Democratic candidate made this case himself in late June. "They're going to try to make you afraid," Mr. Obama told a rally in Florida. "They're going to try to make you afraid of me. 'He's young and inexperienced and he's got a funny name. And did I mention he's black?'"
After a second round of this -- recall the Obama line "He doesn't look like all those other Presidents on the dollar bills" -- the McCain campaign dared complain that at no time has the GOP candidate said anything remotely about his opponent's race. Predictably, Mr. McCain was charged with playing the "race card" himself.
Not so long ago Mr. Obama was the Tiger Woods of American politics. As Geraldine Ferraro indelicately pointed out this spring, his African heritage helped him cast his candidacy in a history-changing light. Now, merely because the McCain campaign has begun to get its act together and raise issues like taxes and foreign policy, Mr. Obama is suddenly the victim of rampant Jim Crow sentiment?
The bitter glee that some Democrats find in their imagined racist America is a strange turn for Denver. Thursday's nomination of the first African-American candidate by any major party will in fact make history. Mr. Obama defeated the party favorite, Hillary Clinton, with a broad appeal that largely steered away from race. His success says something good about Democrats and the country.
There are Americans who judge politicians by their race, or gender, or religion; Mr. Obama will certainly carry the black vote in November because he is black and because he is a Democrat. But we reckon that a scant number of voters are motivated by racism, and that number's growing smaller by the day. Virginia elected a black Governor two decades ago, and Illinois has had two black Senators. America has had two black Secretaries of State, and major corporations are run by black CEOs. No other Western democracy has done as well at opening up political, business and other arenas to minorities.
Mr. Obama's descent from his Icarusian heights earlier this spring reflects a shift in this race that has nothing to do with race. A skin-deep Obamamania had energized the country. Now that's giving way to serious consideration of credentials and policy substance. After all, voters are choosing the world's most powerful man. Mr. McCain has been drawing contrasts with his younger rival to close the gap in the polls. We'll see if the trend continues.
As a matter of sober fact, many Americans look at the junior Senator from Illinois and worry, as his Democratic Vice Presidential candidate pointed out last year, that he isn't "ready" for the job. Does this mean that anyone who agrees with Joe Biden's previous assessment is a racist? Do Democrats really think so little of their fellow Americans?

quarta-feira, agosto 13, 2008

PARA NÃO FALAR DE CINEMA: O BISTURI DE PHILIPPE MURAY

De Le Portatif, dicionário filosófico de bolso do ensaista Philippe Muray, citando Vassili Grossman em "Tudo passa", quando "se interroga sobre se era verdadeiramente o amor, (a compaixão, etc.) que movia os revolucionários de 1917 e responde, bem entendido, que não":

"Os homens desta têmpera comportam-se como o cirurgião na sua clínica: o interesse que este manifesta aos pacientes, aos pais, às esposas, às mães, as suas brincadeiras, as suas palestras, a sua luta em favor da infância desvalida, a sua preocupação pelos operários que chegaram à idade da reforma, tudo isso não passa de conversa fiada e sem sentido. A alma deles está na faca. O que caracteriza esses homens é uma fé fanática no poder sem limites do bisturi. O bisturi é o grande teórico, o leader filosófico do século XX."

(Vouloir-guérir)

terça-feira, agosto 12, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DE OITO EM OITO DIAS!

O TCM passa hoje às 20.00 - pela milésima vez - Shaft-Mafia em Nova Iorque (Shaft, 1971). Foi o primeiro filme de uma trilogia dedicada ao detective "afro-americano" que na sua primeira encarnação foi interpretado por Richard Roundtree, protagonista deste e dos dois filmes que se lhe seguiram nesta série, Shaft's Big Score ('72) e Shaft in Africa ('73), que também não primam pela ausência nas noites do Turner Classic Movies. Os dois primeiros foram dirigidos por Gordon Parks, também "afro-americano", que não se distinguiu por aí além como cineasta embora tenha sido um reputado fotógrafo. Em 2000, outro "afro-americano", o realizador John Singleton, ressuscitou o personagem - na pele de um sobrinho - em Shaft, com Samuel L. Jackson no papel. Foram o ponto alto dos blackexploitation movies, aventuras de pretos com heróis pretos, um sub-género "barato" que no seu pior tinha títulos do tipo "Mulheres acorrentadas", nalguns dos quais entrou Pam Grier no princípio da sua carreira, uma actriz que nunca deixou de trabalhar mas regressou realmente ao primeiro plano cinematográfico com Quentin Tarantino em Jackie Brown (1997), sem precisar de desculpas "raciais", de que não carece. A banda sonora de Shaft foi criada pelo músico negro Isaac Hayes, que morreu há dias, ainda relativamente novo. Ainda esta noite, às 21.30, o Hollywood exibe mais um clássico daquele a quem se costumava chamar "mestre Billy Wilder": O Inferno na Terra (Stalag 17, 1953), um filme cuja história decorre num campo de prisioneiros alemão durante a II Guerra e foi à época considerado pouco correcto politicamente. Vale a pena dar uma espreitadela. A propósito, a RTP Memória exibe às 22.00 Antes do Inverno chegar (Before Winter Comes, 1969), que tudo indica ser bastante mauzinho mas tem a rara particularidade - segundo observa um anónimo comentário americano - de tratar a Àustria ocupada do pós-guerra, um cenário poucas vezes abordado pelo cinema, este do imediato pós-guerra na Europa derrotada e que está a ter uma certa voga na literatura histórico-jornalística alemã e anglo-americana. Finalmente, no TCM, às 23.20, um filme "histórico" do mudo, O demónio e a carne (Flesh and the Devil, 1926), com Greta Garbo, realização de Clarence Brown e o galã John Gilbert, (quase ) no seu "canto de cisne" - se assim se pode dizer - antes de ser traído pela voz quando se instalou definivamente o cinema falado.

quarta-feira, agosto 06, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - HOJE E ANTEONTEM

Na segunda-feira passada, entre outras coisas, na sua maioria já vistas há pouco tempo, houve na RTP Memória o filme de Fritz Lang Conquistadores (Western Union, 1941), um dos vários westerns que o realizador alemão foi improvavelmente posto a dirigir em Hollywood. E não se deu mal. Quem escrever o nome deste filme no Google só encontra o filme à terceira ou quarta página; até lá são tudo referências à actual actividade desta célebre instituição financeira cujos inícios pioneiros na comunicação telegráfica a película retrata. Passou a oportunidade mas aqui fica a lembrança. Hoje, no TCM torna a ser exibido, às 20.00, o western de Blake Edwards Vagabundos Selvagens (Wild Rovers, 1985) e à meia-noite e cinco o imperecível Ninotchka (1939), de Ernst Lubitsch: "Garbo laughs!". Se puderem, não percam.

terça-feira, agosto 05, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - AO FRANCISCO MACHADO

Suponho que onde está não lhe serve de muito este aviso, mas por si acaso e em honra da nosa recente troca de e-mails sempre previno especialmente o meu amigo Francisco Machado, além de toda a gente, claro, de que hoje o TCM faz uma noite integralmente dedicada a John Huston a começar com O tesouro de Sierra Madre, às 20.00 (The Treasure of the Sierra Madre, 1948), com Humphrey Bogart, Walter Huston, Tim Holt, uma história de garimpeiros bem sucedidos e mal avindos, que é um clássico do filme de aventuras à John Huston, incontáveis vezes imitado em incontáveis histórias de heists, capers e outros killings, nas selvas de asfalto ou não, e que Jules Dassin levou para França com o famoso Rififi (Du rififi chez les hommes, 1955); depois, às 22.25, passa Sob a bandeira da coragem (The red badge of courage, 1951), adaptado do clássico da literatura americana da Guerra Civil, escrito por Stephen Crane; além dos méritos próprios e de ser a consagração omo actor de cinema do herói da II Guerra Audie Murphy (33 condecorações) foi pretexto de um dos melhores livros sobre o cinema de Hollywood, o Picture de Lillian Ross, uma extraordinária peça jornalística de uma grande "jornalista" da escola "New Yorker", a ler e reler; em terceiro lugar, às 23.35 (escortanhado pelos produtores, "Sob a bandeira..." é muito curtinho) segue-se um filme de "propaganda de guerra", dirigido com verve por Huston e com um cast que fala por si, Humphrey Bogart, Sidney Greenstreet, Mary Astor (já tinham estado juntos, um ano antes, na história do "Falcão de Malta"): tem em português o título berrante de Garras amarelas (Across the Pacific, mais prosaicamente, 1942). Acho que por hoje já chega e sobra.

domingo, agosto 03, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - ÀS VEZES AO DOMINGO

Os três filmes que o TCM exibe esta noite são todos interessantes, embora não das mesma maneira: às 20.00, Duelo na poeira (Pat Garrett and Billy the Kid, 1973) é um Sam Peckinpah não na sua melhor forma, um regresso momentâneo ao western em que deu o seu melhor no princípio da sua carreira (algumas cenas muito bem fotografadas e montadas não chegam para dissipar o tédio desta espécie de re-pastiche, com a visível marca do western spaghetti); depois, outro filme muito anos 70: Alex in Wonderland (Alex no País das Maravilhas, 1970), de Paul Mazursky, que chegou a parecer um cineasta a ter em conta - "um pouco mais de sol eu era brasa, um pouco mais de azul...", é às 22.05 e é outra maçada; finalmente, às 23.55, uma verdadeira curiosidade The Catered Affair (1956): é uma das primeiras realizações de Richard Brooks, com Bette Davis no papel principal e, no argumento, dois nomes que raramente se pronunciam de um só fôlego, Paddy Chayefsky e Gore Vidal. Para quem queira jogar pelo seguro, o AXN passa à meia-noite A idade da inocência de Martin Scorsese (The Age of Innocence, 1993), um brilhante filme de época, baseado no romance de Edith Wharton, uma das joias literárias do "oitocentismo" americano.