quarta-feira, março 29, 2006

Club de l'Horloge

Estamos com azar com os franceses. Depois de Houellebecq, outro nome errado: o artigo que publicamos no nosso número 60 sobre a Al-Qaeda (e que lá aparecerá com a atribuição correcta) é do nosso amigo Yvan Blot, e não de Yann Blot, como erradamente se escreveu neste mesmo sítio. Yvan Blot foi o primeiro Presidente do Club de l'Horloge, uma instituição que anda na casa dos trinta anos e que se apresenta como "um reservatório de ideias para a direita" (ver www.clubdelhorloge.fr). Continua a atribuir todos os anos o seu regozijante Prémio Lysenko (nome de uma espécie de charlatão que durante décadas passou por um grande cientista na União Soviética; achava as descobertas da genética falsas por serem incompatíveis com o marxismo). Este prémio, criado em 1990, "é atribuido a um autor ou personalidade que tenha, pelos seus escritos ou acções, dado um contributo exemplar à desinformação em matéria científica ou histórica, com métodos ou argumentos ideológicos.Entre os galardoados contaram-se, em 2001, Gilles Kepel e Bruno Etienne pela sua análise do declínio do islamismo e, em 1998, Pierre Bourdieu, "pelo conjunto da sua obra".

Errata

Dirigida ao Jaime Nogueira Pinto, recebemos a seguinte carta do Prof. Dr. André Gonçalves Pereira:

"Li com muito interesse o seu artigo sobre o Carl Schmitt e muito se poderia também discutir sobre este pensador que sempre me interessou muito. Mas hoje escrevo-lhe apenas para chamar a sua atenção oara um pequeno pormenor, que não tem grande importância mas está inexacto.
Logo no primeiro parágrafo diz que Schmitt nasceu em 1888 "ano em que Guilherme II sucedeu ao pai, o Kaiser de Bismarck e o fundador do II Reich, Guilherme I".
Ora a Guilherme I sucedeu em 1888, seu filho Frederico III. Este, doente de cancro, só reinou 98 dias, sucedendo-lhe então seu filho Guilherme II, que era neto e não filho de Guillherme I.
Como pode calcular, só lhe faço este pequeno reparo para que possa apreciar a atenção com que o leio."
Agradecemos e registamos esta correcção do nosso ilustre leitor. Um dos nossos colaboradores, Roberto de Moraes, que também nos tinha chamado a atenção para este lapso, escreveu uma nota sobre Frederico III, o seu breve reinado (que foi de 99 dias e não de 98, conforme nos indica R. de M.) e como a História podia talvez ter sido diferente se este esquecido Imperador tivesse tido melhor saúde (às vezes a chamada história contra-factual ou virtual é um exercício interessante). Sairá no nosso número 61.

segunda-feira, março 20, 2006

Selvas em Paris

As notícias que nos chegam ultimamente de Paris falam-nos sobretudo de desordem, de caos, de contestação. Pelas imagens na televisão, ficamos com a ideia de estarmos perante um clima incontrolável, uma autêntica selva, com multidões de jovens a partir tudo, em luta contra a polícia e o governo. No entanto, acabado de regressar de Paris, trago sobretudo notícias de outras selvas.

Com efeito, no Grand Palais, podemos ver uma exposição única que, sob o título Le Douanier Rousseau, nos mostra uma série de 50 quadros de Henri Rousseau (1844-1910), de entre os quais uma extraordinária série de doze selvas, aqueles quadros originalíssimos que, todos os que gostamos da obra do mestre francês, nos habituámos a adorar.

A exposição, fruto da acção conjugada da Réunion des musées nationaux, do Musée d'Orsay, da Tate Modern e da National Gallery of Art, de Washington, inclui ainda obras de particulares que as cederam de propósito para esta exposição. A quem se desloque a Paris no período de 15 de Março a 19 de Junho, aconselhamos vivamente esta visita.

Já agora, e porque parece ser outra exposição a não perder, no período de 5 de Abril a 3 de Julho, estará em exibição no mesmo local uma mostra intitulada Italia Nova, une aventure de l'art italien, 1900-1950, composta por cerca de 120 obras representativas dos principais movimentos estéticos desse período: o futurismo, a pintura metafísica, o realismo mágico, o movimento novecento e outras tendências dos anos 50.

Exposição a não perder, sobretudo para aqueles que, como eu, ainda hoje lamentamos ter perdido a mostra de pintura italiana que, sob o título Futurismo e Aeropintura, Arte em Itália, 1909-1944, esteve aberta ao público no Palácio Galveias, em 1999.

sexta-feira, março 17, 2006

Reclames

O que é preciso é que se fale de nós, mesmo que seja bem. O Diário de Notícias de ontem (Fernando Madaíl) e o Público de hoje (Vasco Pulido Valente) têm a bondade de se referir à nossa revista (a revista da "nova direita" e do "conservadorismo musculado" – dizem eles), a propósito da nomeação de Carlos Blanco de Morais, nosso veterano e prezado colaborador, como consultor jurídico-consitucional do recém-empossado Presidente da República.

Ateus e outros fundamentalistas

Michel Onfray é catalogado por uma revista francesa de livros e comércio livreiro como "o filósofo mais lido de França". Um dos seus livros mais recentes, Traité d’ athéologie, muito vendido em França, foi considerado pelo romancista inglês William Boyd como um dos melhores livros do ano passado – que ele, "neste tempo em que Deus é invocado por todos os combatentes", leu "com gratidão e alívio". A religião dos que não têm religião não deixa de nos admirar: é claro que o mais agressivo e nocivo fundamentalismo do nosso tempo é justamente o dos ateus e outros fundamentalistas que têm uma fé cega, nefasta, e por definição irracional, nas universais e definitivas virtudes da Razão. O livro de Michel Onfray, a sua má-fé e a sua especiosa e imbecil argumentação foram arrasados por Matthieu Baumier – L’Anti-Traité d’athéologie (ver relato na Immédiatement). Mais pormenores num dos nossos próximos números.

quarta-feira, março 15, 2006

Os próximos números

Está pronto o número 60 da revista. Sairá em breve. Como anunciámos, inclui artigos de Alexandre Franco de Sá, Teodoro Klitsche de la Grange, Jaime Nogueira Pinto e Yann Blot, bem como as secções habituais de notas e comentários, com colaboração de JNP, MFC, Roberto de Moraes, Francisco Ribeiro Soares e Bernardo Calheiros. Temos também novos episódios de "As Nossas Figuras" e "Os Meios e os Fins". Vasco Duprat contribui para este número com um retrato de D. Catarina de Bragança, mulher de Carlos II de Inglaterra, de cujo nascimento passaram trezentos anos em Dezembro. Foi ela que deu o nome ao bairro nova-iorquino de Queens – e quem ensinou os ingleses a beber chá.
Para o número 61, além do mais que iremos anunciando, temos prometida colaboração de António Marques Bessa e Nuno Rogeiro. Contamos publicar também uma entrevista com o escritor português de língua inglesa Ricardo Pinto e uma apreciação da sua obra.

Palavras

Com palavras se manda matar e morrer, disse – mais ou menos – o Embaixador Franco Nogueira, memoravelmente, numa memorável intervenção na antiga Assembleia Nacional. Não desprezemos a importância das palavras. Numa entrevista concedida à revista electrónica Frontpage Magazine, pouco tempo antes de ser assassinado no Iraque, o jornalista Steven Vincent trocou impressões com o entrevistador Jamie Glazov sobre esta questão, a propósito da guerra em que é quase impossível deixar de falar. Vincent já tinha escrito e publicado In the Red Zone: a Journey into the Soul of Iraq. Ia regressar àquelas paragens onde passaria o que não sabia que eram os seus últimos meses de vida (foi raptado e crivado de balas em Bassorá, em Maio de 2005: há censura e há censura). Vincent, jornalista independente, tinha sido um decidido apoiante da "libertação" ( palavra que achava mais apropriada do que "invasão") do Iraque e visto que já "não tinha idade" para participar como soldado decidiu alistar-se nela como repórter. Na sua conversa com a revista comentava, em fins de 2004: "As palavras contam. As palavras têm um sentido moral. Sem clareza moral não teremos êxito no Iraque. É por isso que são tão cruciais os termos que os media usam na cobertura deste conflito. Os meios de informação de referência como o New York Times usam com frequência as expressões "insurrectos" ou "guerrilhas" para descrever os pistoleiros do Triângulo Sunita (...) mas quando falam dos grupos de assassinos reaccionários embuçados que operam nos países da América Latina chamam-lhes "esquadrões da morte para-militares". (....) Aqueles que apoiam a intervenção do Iraque são responsáveis em grande parte por permitir que a terminologia – e, por extensão, a narrativa – dos acontecimentos nos ter fugido das mãos, para as mãos do campo anti-guerra. As palavras e as ideias contam. (...) A mais desprezível distorção da terminologia, no entanto, dá-se quando a esquerda chama aos sadamitas e aos jihadistas estrangeiros "a resistência". Que exemplo de inversão moral! Pois o facto é que esses esquadrões da morte para-militares quem atacam é o povo iraquiano. São os que se opõem aos assassinos que são a "resistência". "
Sempre as palavras.

segunda-feira, março 06, 2006

Boa noite e boa sorte

Quem quiser ter uma ideia séria do que foi realmente o chamado McCarthyismo é claro que não pode ficar-se pelo filme em que George Clooney pôs o seu indicutível charme de actor e o seu surpreendente talento de cineasta (veja-se o outro filme que dirigiu, Confissões de uma mente perigosa) ao serviço de uma hagiografia que é também, como quase sempre, uma auto-hagiografia: "O senhor Clooney - como escreve um crítico em "The Spectator" - gosta de contar-se entre aqueles que, absurdamente, ainda acham que é de um grande arrojo deplorar o anti-comunismo do senador McCarthy". Além dos livros de William F. Buckley, Jr. (o estudo McCarthy and His Enemies, que já tem uns anos, e Redhunter, um romance de1999) e outros que referimos no nosso número 50 ("O perigo vermelho"), vale a pena ler um dos livros mais bem escritos e mais impressionantes da Guerra Fria, Witness, de Whittaker Chambers, jornalista e durante muitos anos membro do Partido Comunista americano.

domingo, março 05, 2006

Colagem Fotográfica


A secção Cultura Geral do próximo número abre com uma fotografia do filme Boa Noite e Boa Sorte de George Clooney, à qual tentámos aplicar uma técnica a que o pintor David Hockney deu o nome de "colagem fotográfica", e que é uma das suas "imagens de marca". Mais do que um pequeno truque visual, este tipo de colagem, que o artista tem explorado continuamente ao longo do seu percurso artistico, coloca-nos no coração das suas preocupações pictóricas no que respeita à nossa percepção da realidade visual, e à sua representação. Hockney é um daqueles casos raros em que a originalidade e o saber produzem aquilo que normalmente chamamos de génio, não sendo por isso de estranhar que seja universalmente apreciado tanto pela crítica como pelo público.
A colagem aquí mostrada foi retirada de um livro de entrevistas suas com Paul Joyce e reunidas sob o título Hockney on Art.
Outro livro que recomendo, este escrito pelo proprio Hockney:
Secret Knowledge, Rediscovering the lost techniques of the Old masters, David Hockney, Thames & Hudson

sábado, março 04, 2006

Os Três Imperadores

Encontra-se aberta ao público na Royal Academy of Arts, em Londres, uma exposição que, sob o título China: The Three Emperors, 1662-1785, exibe uma notável colecção de peças oriundas da Cidade Proíbida e que nos mostra alguns aspectos impressionantes, ou tão somente inesperados, da Côrte Imperial. De facto, aí encontramos não apenas alguns dos símbolos e vestimentas imperiais, como também diversos objectos que traduzem a influência ocidental, seja sob a forma de pintura da autoria de artistas europeus naturalizados chineses, sejam relógios ou outras formas de arte.

No International Herald Tribune, a exposição foi alvo de uma crítica muito negativa, acusando-a de mera propaganda política sobre o poderio chinês e de ter muito pouco a ver com arte.

Com efeito, podemos concordar que esta mostra, que tem lugar numa instituição como a Royal Academy of Arts, não reúne as peças mais representativas da arte chinesa: as porcelanas não são as melhores nem as mais belas; os bronzes não são os mais raros e valiosos e os jades estão longe dos mais extraordinários que aquela civilização produziu. Contudo, reúne-se aí um acervo de obras de arte notáveis, que servem sobretudo para que possamos conhecer a história desse período. Nomeadamente, são impressionantes as pinturas, que o próprio catálogo da exposição atesta, e os diversos objectos alusivos ao exercício do poder.

Uma exposição a não perder e de que falaremos mais detalhadamente num próximo número da revista.