quarta-feira, novembro 28, 2007

A BATALHA DE ARGEL

A batalha de Argel começou em Janeiro de 1957, há cinquenta anos. Em 2006 fez quarenta que o Festival de Veneza premiou "A Batalha de Argel", o filme de Gillo Pontecorvo que um ensaista americano de memória curtíssima considera "o primeiro filme de propaganda política de esquerda". (Por sinal exibido este ano em televisão pela primeira vez, no canal Arte). (Em tempo, mais ou menos - 29-11-07: faz falta, talvez, para quem não tem tão frescos estes acontecimentos de meio-século atrás, acrescentar que a chamada Batalha de Argel foi um episódio sangrento e decisivo da guerra da independência do que é hoje a República Popular Democrática da Argélia e que era para muitos franceses e argelinos a "Algérie Française", uma guerra que marcou o destino da própria França, onde provocou uma quase guerra civil e esteve na origem da V República Francesa ainda vigente.)
Como há lições que nunca perdem o seu valor - e a história está sempre a ser feita, voltaremos a este assunto, à batalha e à "batalha". Entretanto aqui fica um "pensamento para o dia", tirado de uma directiva emitida à época pelo CEE (Comité de Coordenação e Execução) do FLN argelino em Tunes: "Uma bomba que mata dez (civis) e fere outros cinquenta equivale no plano psicológico à perda de um batalhão francês". Como verificava, num misto de cansaço, surpresa e exasperação, um diplomata americano, na Somália dos anos 90: "É que eles não querem a paz, querem a vitória!".

segunda-feira, novembro 26, 2007

KAPLAN (ROBERT D.) DIZ COMO É!

Quelling anarchy in Iraq, Pakistan, and elsewhere, will require building on tribal loyalties—not imposing democracy from the top down

by Robert D. Kaplan

It's the Tribes, Stupid!

For more than 230 years, Americans have assumed that because we have had a happy experience with democracy, so will the rest of the world. But the American military has had a radically contrary experience in Iraq. And Iraq may be but prologue for what our troops may encounter in the tribal areas of Pakistan. Iraq has had three elections that have led to chaos. Bringing society out of that chaos has meant a recourse not to laws or a constitution, but to blood ties. The Anbar Awakening has been a rebuff not only to the extremism of al-Qaeda, but to democracy itself. Restoring peace in Anbar has been accomplished by a lot of money changing hands, to the benefit of unelected but well-respected tribal sheikhs, paid off with cash and projects by our soldiers and marines. Progress in Iraq means erecting not a parliamentary system, but a balance of fear among tribes and sectarian groups.

Because Iraq was among the most backward parts of the Ottoman Empire, tribalism has always been strong there. The power of the tribes intensified during the Iran-Iraq war of the 1980s, when the state was weakened in part by economic pressures. Because the tribes in Anbar, along the desert smuggling route to Syria, were too strong to subdue, Saddam Hussein had no choice but to co-opt them and make them part of his power structure – exactly as our military has lately been doing.

It is such traditional loyalties existing below the level of the state that historically both Marxist and liberal intellectuals, in their efforts to remake societies after Soviet and Western democratic models, tragically underestimated. A realist like St. Augustine, in his City of God, understood that tribes, based on the narrow bonds of kinship and ethnicity rather than on any universalist longing, may not constitute the highest good; but by contributing to social cohesion, tribes nevertheless constitute a good in and of themselves. Quelling anarchy means starting with clans and tribes, and building upwards from those granular elements.
The tribal lands of the Afghanistan-Pakistan border reveal the future of conflict in the Subcontinent, along with the dark side of globalization. By Robert D. Kaplan

The tribal nature of Pakistan is even more pronounced than in Iraq. Pakistan, divided among geographically based ethnic groups, is a nuclear Yugoslavia-in-the-making. Our troops are already in Afghanistan. So it is highly conceivable that we will have boots on the ground in Pakistan’s border area with Afghanistan. This is the true frontline in the war on terrorism, where presumably the leadership of al-Qaeda is ensconced. Our troops will find there a deathly volcanic landscape of crags and winding canyons and alkaline deserts 1,000 miles long and 100 miles wide. In this high desert, the tribes rule: Dravidian Raisanis, Turko-Iranian Baluchis, and Indo-Aryan Pushtuns. Neither the British nor any succeeding Pakistani government has managed to subdue them.

The tribes of Baluchistan and the Northwest Frontier Province don’t require Western institutions because they already have institutions of their own. What we call warlords are often, in reality, tribal elders who settle divorce cases, property disputes, and other civil conflicts for which we resort to the courts or government. If the American military deploys to these badlands in numbers large or small, it will follow the Anbar example of working with the tribes, greasing their palms for information on al-Qaeda, while accepting their social and political way of life.

There is nothing wrong or cynical about this. Where democratic governance does not exist, we must work with the material at hand. We have inherited our Anglo-Saxon traditions of liberty and democracy just as other peoples, with different historical experiences and geographical circumstances, have inherited theirs. And these other peoples yearn for justice and dignity, which does not always overlap with Western democracy. Throughout the Arab world, old monarchial and authoritarian orders are now weakening. Keeping societies stable will depend largely on tribes, and the deals they are able to cut with one another. In the Middle East, an age of pathetic, fledgling democracies is also an age of tribes.

When George W. Bush first ran for president in 2000, he spoke about the need for “humility” in foreign affairs. Now that our troops are practicing what he preached, after years of failure we’re finally seeing some tenuous results. In striving for a new, post-modern order in the Middle East, we have awakened a medieval one, from which we must now build something permanent.

25 DE NOVEMBRO

Passou.

domingo, novembro 25, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - LISBOA DE MADRUGADA

O meu passeio matinal...Foi a passar sobre isto no voo da TAP vindo de Moçambique. É bom sair e viajar, mas também é óptimo voltar à base. E atravessar a cidade deserta, antes do dia nascer, agora já no Inverno.

sábado, novembro 24, 2007

LUGARES COMUNS: CAMILO

Tenho sido sempre mais "eçista" que camiliano, mas segui inesperadamente o conselho dum amigo - depois de ter desouvido o mesmo de muitos outros mais próximos da minha vida e dos meus gostos e fui ler Coração, Cabeça e Estômago, de Camilo Castelo Branco. Além da graça do livro, que tem achados geniais ("A criada, neste ponto, levou o avental ao rosto, para encobrir que não corava...") e onde se aprende mais um bom bocado de português, localizei vários "lugares comuns" que não sabia que ali estavam situados. É ali que, pela boca de Silvestre da Silva, se diz que "A ignorância é muito atrevida."; lá se conta a história do gramático francês que à hora da morte declara "Hélas! Je m'en vais... ou je m'en vas... car je crois toujours que l'un et l'autre se dit ou se disent!" - e nessa pedante vacilação deixou por dar o derradeiro recado. E outras coisas - incluindo o adiantamento na ficção do que aconteceu no julgamento de Manuel Maria Múrias por abuso de liberdade de imprensa, mais de cem anos depois da impressão do livro...

sexta-feira, novembro 23, 2007

AQUECIMENTO GLOBAL: COOL IT

Com risco da sua carreira, embora talvez não da sua vida, o professor dinamarquês Bjorn Lomborg leva batalhando desde há alguns anos contra a "histeria mediaticamente assistida" do "aquecimento global", também conhecido por "alterações climáticas". O seu livro de 1998 The Skeptical Environmentalist - Measuring the Real State of the World, deu brado e trouxe-lhe grandes dissabores. Acaba de sair mais um livro do mesmo autor, também indispensável: Cool It, The Skeptical Environmentalist's Guide to Global Warming. Tanto num como noutro, põe em causa muitos dos raciocínios, medições, estatísticas e informações do lobby do pavor ecologista que alegremente coadjuvam os meios de comunicação de massas (e sobre a psicologia das "massas" já se disse tudo há muito tempo) com a sua congénita nervoseira alarmista. Há um capítulo especialmente curioso neste livro: "The politics of global warming". Há quem proponha seriamente que se aplique a quem ponha em dúvida as teses pavorosas o mesmo sistema que já se aplica a quem discute as teses oficiais sobre o Holocausto - ou seja uma "lei da rolha", um "porque no te callas?" a que dá singular eficácia a aplicação de penas de cadeia, perseguições e saneamentos sem apelo nem agravo. Às leis que existem sobre o Holocausto ou a "apologia" do colonialismo (na libérrima França!) se calhar não tardarão em juntar-se outras sobre o crime contra a Humanidade que consiste em, por exemplo, verificar que os ursos polares não estão a desaparecer (mas até a crescer em número) ou que por 350.000 pessoas mais que morrerão hipoteticamente de calor daqui a cem anos, morrerão hipoteticamente menos um milhão e setecentas mil de frio, etc., etc. Nem umas nem outras nos dizem muito sobre os reais e putativos crimes do III Reich ou sobre o aquecimento ou arrefecimento globais e o que os causa, mas dizem bastante sobre a tolerância e o rigor científico dos paladinos encartados da tolerância e da ciência - e sobre a confiança que têm no valor dos seus estudos e dos seus argumentos. Só nos faltava que além disso nos proibissem de fumar.

quarta-feira, novembro 21, 2007

FIN DE SIÉCLE

"Com as novas técnicas disponíveis [...] (o espectáculo) escasso em palavras, abundante em pathos e terror [...] incidentes fortes, efeitos impressionantes, sensações empolgantes, vilania, fogo, inundações, naufrágios, erupções vulcânicas, avalanches [...] (é) catarse em saldo para todos."

(Não se trata dos blockbusters de mais um verão de cinema, mas da grand opera dos melodramas populares de fins do século XIX em França. Plus ça change... Pode-se - e deve-se - ler tudo no livro de Eugen Weber France,Fin de Siécle, de 1986, que se continua a recomendar. Weber é um veterano estudioso da França dos últimos dois séculos e escreveu há muitos, muitos anos - 45, para sermos exactos - o clássico L'Action Française, primeira grande história do movimento de Charles Maurras, traduzido para francês e publicado pela Stock em 1964, ainda hoje indispensável.)

terça-feira, novembro 20, 2007

NORMAN MAILER - "MEMÓRIA" MUITO BREVE

Foi pelo post do Miguel, aqui mesmo no nosso blog, que soube da morte do Mailer. E queria dizer qualquer coisa, até porque a seu modo e a seu tempo foi importante para mim. Primeiro com essa parábola da guerra The Naked and the Dead. Muito mais tarde com Harlot's Ghost um roteiro épico de algumas histórias que ficam da História depois do seu fim, "histórias" em que e com que desconstruimos e reconstruimos a vida e aventura do nosso tempo.
Devo ao Mailer essa tarde de Domingo do princípio dos anos 90, em que deitado no sofá da minha sala li sem parar as primeiras 150páginas de Harloth's Ghost e fui com ele por aqueles lugares reais e simbólicos da Nova Inglaterra - casas georgeanas entre árvores centenárias, gabinetes alcatifados e com alta tecnologia, estradas chuvosas à margem do Atlântico com faróis iguais aos do Edward Hopper da costa do Maine.
Estava a viver ele o escritor da esquerda "macha" 200 por cento, em Provincetown, a capital "gay" no Norte de Cape Cod. Cape Cod que fizemos de carro num Verão já do século XXI, depois do 11/9. Li o seu último livro The Castle in the Forest e falei dele aqui e na FP. Vou concerteza voltar a eles, mas não quiz estar tanto tempo sem dizer nada.




segunda-feira, novembro 19, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - MAPUTO, EX-LM

Ontem sábado almocei aqui no "Zambi", que é excelente. Mas estive sem Internet pelo que me atrasei a vir cá contar o meu passeio.Se estivesse no Norte podia ter ido à Ilha do Ibo, que também é extraordinária.

sábado, novembro 17, 2007

RETRATO DE MAFRA COM SARAMAGO

Há uma magna reunião em Mafra, onde se discute com destaque, entre outras coisas, "O Memorial do Convento". José Saramago pontifica. Ocorre-me uma frase de Silvestre da Silva, protagonista do Coração, cabeça e estômago de Camilo: "Nesse mesmo dia fui para Mafra, com tenção de morrer de tédio; o sítio era azado..."

sexta-feira, novembro 16, 2007

A MINHA VIDA NA CIA

Ainda anda por aí o filme "O Bom Pastor" (The Good Sheperd, 2006) realizado por Robert de Niro. Embora muito fantaseada (para muito menos interessante do que a realidade) é a vida do verdadeiro e lendário Director de Contra Inteligência James Jesus Angleton que serve de inspiração (e, às vezes, de mais do que inspiração) a esta obra longa e rotundamente falhada, infelizmente. Matt Damon, no protagonista, é um tremendo erro de casting que não ajuda o resultado.
A verdadeira história de James Jesus Angleton foi romanceada por William Buckley, Jr. no livro Spytime: The Undoing of James Jesus Angleton, disponível nas livrarias electrónicas para quem possa estar interessado. Há outras biografias do homem, como a que escreveu Tom Mangold, intitulada James Jesus Angleton, The CIA Master Spycatcher. A carreira e a cabeça de Angleton nunca mais foram as mesmas desde que descobriu que o seu grande amigo e colega inglês Kim Philby era um agente altamente colocado do KGB. A personagem e as suas vicissitudes têm papel destacado tanto no Harlot's Ghost de Norman Mailer como em The Company, de Robert Littel, dois ambiciosos romances da CIA, de diferente felicidade literária mas igualmente mastodônticos..
Numa recensão da biografia de Tom Mangold há umas linhas que foram parar directamente aos diálogos do filme : "The very qualities that make a good counter-intelligence officer - a suspicious mind, a love of complexity and detail, and an ability to detect conspiracies - are also the qualities most likely to corrode natural intelligence and objective judgment."
Como curiosidade, incluo a seguir um parágrafo do livro My Life in CIA (1973) do excêntrico Harry Mathews, um americano expatriado, amigo de muitos escritores franceses e muito ligado (um dos poucos não francófonos, ao lado do poeta John Ashbery) ao grupo do OULIPO (Ouvroir de Litérature Potentielle), fundado por Raymond Queneau "and friends". Diz Mathews: "I asked Patrick if there was something particularly useful he could pass on to me 'about the CIA'. 'The fist thing to remember is that nobody connected with the Agency calls it the CIA. It's plain CIA'".
Ficam também a saber.

quinta-feira, novembro 15, 2007

UM MUNDO SITIADO

Roger Scruton é certamente um dos filósofos mais originais - e mais válidos - do pensamento conservador na actualidade. É já vasta a sua obra, marcada sempre por alguma irreverência e por ideias que, no fundo, todos tivemos já nalguma altura das nossas vidas, mas que não soubemos sistematizar e incluir num todo coerente e capaz de servir de argumentação para os combates ideológicos que temos de travar todos os dias.

A sua mais recente obra aparece-nos sob a forma de um pequeno livro com pouco mais de cem páginas intitulado Culture Counts - Faith and Feeling in a World Besieged, editado pela norte-americana Brief Encouters. Basicamente trata-se de uma reacção contra o niilismo e o relativismo que marcam a cultura dominante na actualidade. É, acima de tudo, uma defesa da cultura ocidental e dos seus valores perenes. Nos mais diversos sectores de actividade, na filosofia, na literatura, na música, na arquitectura, na educação.
Neste seu livro, Roger Scruton insurge-se contra a forma como estão a ser postos em causa todos os grandes valores da nossa cultura. Aqui se faz a apologia da necessidade de defendermos a educação musical dos nossos filhos contra a facilidade do pop; a necessidade de preservarmos a nossa paisagem contra as avançadas da arquitectura minimalista e dos seus autores que, inexplicavelmente, ganham sempre prémios de "integração na paisagem"; a necessidade de voltarmos a ler os clássicos e apreciar a pintura figurativa. Enfim, a necessidade de voltarmos a ver a cultura com padrões mais exigentes.
Contudo, se é trágico o retrato que o autor faz da situação actual, marcada por uma inteligentzia que dita as modas culturais e o modo de pensar das pessoas, também é verdade que conclui o seu livro com uma nota de esperança, enumerando diversos autores que, nos mais variados domínios, têm uma produção susceptível de ser integrada na corrente da grande cultura ocidental.
Não temos dúvidas que se trata de uma obra muito polémica e que suscitará grandes reacções dos mais variados sectores da cultura oficial. No entanto, é um livro que sabe bem ler e que, no fundo, diz aquilo que muitos pensam mas têm medo de dizer, pelo menos em voz alta.

quarta-feira, novembro 14, 2007

JACK BAUER - MATAR PELA PÁTRIA

Sou adicto ao 24 Hours e ao Prison Break; como fui do Polvo e dos Sopranos e vi as miniséries históricas brasileiras do tipo Desejo (vida e morte de Euclides da Cunha), JK (vida e obra de Juscelino Kubisheck), Agosto (do romance de Ruben Fonseca), Anos Dourados e Anos Rebeldes – o Rio no seu encanto e tragédia. Ou a também brasileira e fabulosa adaptação de Os Maias.
Mas 24 Horas e o seu protagonista – Jack Bauer - são outra coisa. Acabei a 6ª série. Para aqueles que não conhecem explico, simples e rápido. Trata-se de uma série em tempo real – o que quer dizer que o tempo do filme é o tempo dos acontecimentos. Com 20 ms. descontados por hora, pois os episódios têm 40 ms...
Jack Bauer é um operacional de uma agência federal americana – CTU – Counter-Terrorist Unit. Baseada em Los Angeles, a CTU tem por missão descobrir, combater e neutralizar os projectos macroterroristas contra os EUA e a sua população. Tem pano para mangas.
A época é hoje. Os ataques vêm de fanáticos islâmicos com armas de destruição maciça – bactereológicas, químicas, nucleares - dentro da América e com cúmplices americanos.
O Jack Bauer e a CTU, com miolos, tecnologia e força física, vão pondo em cheque estes atentados, capturando ou matando os seus autores. Ao mesmo tempo, há sempre uma intriga ou conspiração a nível da Casa Branca, envolvendo o Presidente ou alguns dos seus mais próximos colaboradores. Dos presidentes que apareceram já, destacam-se os Palmer, afro-americanos e irmãos. Os Vice-Presidentes têm saído mauzotes.
Bauer, personalizado por Kiefer Sutherland, é um solitário, com um itinerário trágico que o foi privando dos afectos próximos. Encarna a razão de Estado da emergência, tem que continuamente escolher, decidir, remediar, corrigir no terreno as decisões dos chefes. Às vezes tem que eliminar os próprios amigos e companheiros para proteger a missão. Tem uma energia e uma força inesgotáveis, mas é um homem marcado e torturado por uma saga de desgraças, de sacrifício silencioso, de quem queima as próprias saídas. Desta vez confronta-se, além dos terroristas do Médio Oriente, com um pai (o seu) paranóico e um irmão traidor, com um comando chinês que quer roubar componentes nucleares secretas, mais um general e um diplomata russos que se querem vingar da derrota da URSS na Guerra Fria. Chega para todos.
Vê-se uma lista completa de "inimigos" actuais ou potenciais dos EUA. Os personagens são bem recortados e os tipos da política actual bem transmitidos: neoconservadores maquiavélicos, liberais insensatos, realistas q.b.. E uma equipa de quadros da CTU, motivados e com espírito de corpo. Extraordinários na utilização da alta tecnologia informática – mas os "maus" não lhes ficam atrás – e na coordenação dos meios operacionais. E, dentro do exagero a que obriga pelo "tempo real" e permanente suspense, um bom retrato da guerra surda e suja do século XXI. Onde, como mostra o Jack Bauer, ainda é preciso morrer – e sobretudo matar – pela pátria!
Jaime Nogueira Pinto
Publicado no Expresso a 10 de Novembro de 2007

terça-feira, novembro 13, 2007

A POLÍTICA DA VIOLÊNCIA

Estou a tentar pela segunda ou terceira vez ler o livro de Charles Tilly, The Politics of Collective Violence, uma meritória tentativa de sistematizar as formas e usos da "violência colectiva". Tilly é um conceituado historiador e cientista político; esta sua obra tem observações pertinentes e agudas; o livro é bem escrito e inclui muita informação importante ou, até, "divertida". Mas já o tornei a pôr de lado - e já lhe peguei otra vez e outra vez o larguei. São os mistérios da leitura - que neste caso talvez tenham como fácil explicação o cariz exaustivamente académico e óbvio da obra. Pró-memória, aqui indico o sumário: Varieties of violence, Violence as politics, Violent rituals, Coordinated destruction, Opportunism, Brawls (Rixas), Scattered attacks, Broken Negotiations, Conclusions (não muitas, embora mais uma vez esta observação que só faz bem repetir as vezes que fôr preciso: Terrorism is a strategy, not a creed, o terrorismo é uma estratégia, não é um credo). Na dedicatória a dois colegas, Tilly diz com um sentido do humor muito "britânico" que embora tenha colaborado com eles muitas vezes continuam a ser amigos. O jornalista espanhol Alfonso Sánchez, há muito desaparecido, cinéfilo e colunista, que ainda conheci e muitas vezes li no velho Informaciones, nunca se referia a outro jornalista sem acrescentar, entre vírgulas, "mi compañero y sin embargo amigo".

domingo, novembro 11, 2007

NORMAN MAILER

Aos 84 anos, morreu ontem o escritor americano Norman Mailer. No último número do Futuro Presente publicámos um texto de Thomas Fallon sobre o seu último romance, The Castle in the Forest. Sempre tive um fraquinho por este escritor de "esquerda" (?) de que "a esquerda" a justo título sempre desconfiou e as feminazis sempre detestaram. Mais do que pelos seus romances - não desfazendo - merece ser lembrado e relido pelo jornalismo, os ensaios e o memorialismo que foi coligindo em livros como The Armies of the Night, Miami and the Siege of Chicago, Advertisements for Myself, Cannibals and Christians, The Prisoner of Sex, e por aí fora, sem esquecer o magnífico The Fight, sobre o combate entre Cassius Clay e George Foreman, no Zaire. Inventou o left conservatism, que se parece muito ao tory anarchism de George Orwell, outro grande representante da "esquerda" buissonière. Entre os romances é claro que prefiro, em todo o caso, destacar Tough Guys Don't Dance, um simulacro de romance "negro", que foi depois adaptado ao cinema num filme que o próprio Mailer dirigiu, e o romance épico sobre a CIA Harlot's Ghost (quase tantas centenas de páginas como The Company, de Robert Littell, de que já falámos aqui).

PASSEIO DE DOMINGO - CITTÁ DI CASTELLO, COM MILO MANARA

Alguns dos meus amigos mais fanáticos do Manara chamaram-me a atenção para que a miúda do Joseph Bergman, que aqui aparecia, e ainda por cima num naufrágio, dava uma ideia modesta das mulheres do Manara. Creio que têm razão e por isso venho reparar a falta, esta semana,propondo uma visita a Cittá di Castello, com acolhimento não sei se pela própria Lucrécia Bórgia. Enjoy!

quinta-feira, novembro 08, 2007

O "DUELO" SÓCRATES - SANTANA II

Mas o duelo foi mais deste género ...

O "DUELO SÓCRATES - SANTANA I


A rapazeada mais excitada dos "media" quis-nos convencer que ia ser assim...

terça-feira, novembro 06, 2007

PREFIRO ESTES DUELOS


A pepineira dos (b)analistas maçou-nos com o "duelo" Santana-Sócrates, que seria muito esperado, como se fosse o Ben-Hur e o Messala no Circo. Pelos vistos a pergunta de Santana Lopes foi do tipo perguntar as horas e o PM dizer-lhas sem grande história para além disso. Quanto a duelos gosto muito mais destes,deste extraordinário "Scaramouche"(1952),de George Sidney, com o Stewart Granger-o artista- o Mel Ferrer o mau da fita e a Eleanor Parker-a rapariga bonita!

domingo, novembro 04, 2007

PASSEIO DE DOMINGO - NO PERIGO COM MANARA

Poie é, nem sempre os passeios podem ser tranquilos. Este, com o Giuseppe Bergman do Milo Manara e uma amiga, parece até estar a correr com alguns problema. Espero entretanto que onde naufragaram se consigam safar. E a miúda , apesar do ar de intelectual dos anos 60, não é nada de se deitar fora.

sexta-feira, novembro 02, 2007

"SALAZAR": A 5ª EDIÇÃO

Tem estado à venda nas livrarias (e nalguns aeroportos, o de Lisboa, pelo menos...) o livro do Jaime sobre Salazar, que continua a ser procurado por muita gente. Segundo nos informa a editora, já está a ser distribuida a 5ª edição: é um bocadinho mais do que um succés d'estime.

"LA FIESTA DEL CHIVO"- O FILME




Vi ontem o filme de Luís Llosa feito a partir do belo romance de Vargas Llosa, que conta a morte do ditador da República Dominicana, Rafael Leónidas Trujillo, em 1961. O romance é excelente e o filme vê-se muito bem. Tomás Milian faz um excelente Trujillo, Isabella Rosselini é Urania Cabral que volta ao país 30 anos depois da morte de Trujillo. Urania é filha de um dos colaboradores próximos do líder -Agustin Cabral - quem ao cair em desgraça e para reconquistar as boas graças do "Chefe" se prestou a entregar-lhe a própria filha.
A atmosfera de arbítrio e terror da tirania trujillista está bem reconstituida, bem como o permanente uso e abuso do poder político para satisfação de interesses, apetites e caprichos do ditador e seus próximos. Quase nada a ver com Salazar e o Estado Novo.

DUBAI- NEM TUDO É FANTÁSTICO NO PARAÍSO

In Rape Case,

a French Youth

Takes On Dubai

De há tempos par cá dou-me conta que os meus amigos importantes, vão ao Dubai. Os amigos e os inimigos!Como dantes se ia à Suiça ou para a Côte d'Azur. Negócios, novas tecnologias, gestão, imobiliário, turismo,tudo ali se passa.Mas pelos vistos há também alguns problemas como se vê desta transcrição de um artigo no "New York Times"de ontem.


The rape of a 15-year-old French boy in a remote patch of desert outside of Dubai has raised questions about how the country’s legal system treats foreigners.

By THANASSIS CAMBANIS

Published: November 1, 2007

DUBAI, United Arab Emirates, Oct. 31 — Alexandre Robert, a French 15-year-old, was having a fine summer in this tourist paradise on the Persian Gulf. It was Bastille Day and he and a classmate had escaped the July heat at the beach for an air-conditioned arcade.

Just after sunset, Alex says he was rushing to meet his father for dinner when he bumped into an acquaintance, a 17-year-old native-born student at the American school, who said he and his cousin could drop Alex off at home.

There were, in fact, three Emirati men in the car, including a pair of former convicts ages 35 and 18, according to Alex. He says they drove him past his house and into a dark patch of desert, between a row of new villas and a power plant, took away his cellphone, threatened him with a knife and a club, and told him they would kill his family if he ever reported them.

Then they stripped off his pants and one by one sodomized him in the back seat of the car. They dumped Alex across from one of Dubai’s luxury hotel towers.

Alex and his family were about to learn that despite Dubai’s status as the Arab world’s paragon of modernity and wealth, and its well-earned reputation for protecting foreign investors, its criminal legal system remains a perilous gantlet when it comes to homosexuality and protection of foreigners.

The authorities not only discouraged Alex from pressing charges, he, his family and French diplomats say; they raised the possibility of charging him with criminal homosexual activity, and neglected for weeks to inform him or his parents that one of his attackers had tested H.I.V. positive while in prison four years earlier.

“They tried to smother this story,” Alex said by phone from Switzerland, where he fled a month into his 10th-grade school year, fearing a jail term in Dubai if charged with homosexual activity. “Dubai, they say we build the highest towers, they have the best hotels. But all the news, they hide it. They don’t want the world to know that Dubai still lives in the Middle Ages.”

Alex and his parents say they chose to go public with his case in the hope that it would press the authorities to prosecute the men.

United Arab Emirates law does not recognize rape of males, only a crime called “forced homosexuality.” The two adult men charged with sexually assaulting Alex have pleaded not guilty, although sperm from all three were found in Alex. The two adults appeared in court on Wednesday and were appointed a lawyer. They face trial before a three-judge panel on Nov. 7. The third, a minor, will be tried in juvenile court. Legal experts here say that men convicted of sexually assaulting other men usually serve sentences ranging from a few months to two years.

Dubai is a bustling financial and tourist center, one of seven states that form the United Arab Emirates. At least 90 percent of the residents of Dubai are not Emirati citizens and many say that Alex’s Kafkaesque legal journey brings into sharp relief questions about unequal treatment of foreigners here that have long been quietly raised among the expatriate majority. The case is getting coverage in the local press.

It also highlights the taboos surrounding H.I.V. and homosexuality that Dubai residents say have allowed rampant harassment of gays and have encouraged the health system to treat H.I.V. virtually in secret. (Under Emirates law, foreigners with H.I.V., or those convicted of homosexual activity, are deported.)

Prosecutors here reject such accusations. “The legal and judicial system in the United Arab Emirates makes no distinction between nationals and non-nationals,” said Khalifa Rashid Bin Demas, head of the Dubai attorney general’s technical office, in an interview. “All residents are treated equally.”

Dubai’s economic miracle — decades of double-digit growth spurred by investors, foreign companies, and workers drawn to the tax-free Emirates — depends on millions of foreigners, working jobs from construction to senior positions in finance. Even many of the criminal court lawyers are foreigners.

quinta-feira, novembro 01, 2007

PASSEIO DE TODOS-OS-SANTOS - UM CASTELO ROMÂNTICO

Pois, hoje não é domingo, mas é feriado-La Toussaint-, Dia de Todos os Santos e se não me engano do Terramoto de 1755 e do começo da Guerra da Argélia em 1954. Uma escapada romântica até este castelo, e existem vários assim no Sul de França e de Itália e por todas as costas do Mediterrâneo Oriental. Ou então na Normandia. São cenários possíveis de novelas de Dumas ou até de Stendhal. Nostalgias que é do que andamos a precisar. Bom feriado.