segunda-feira, abril 28, 2008

PASSEIO DE DOMINGO - MADRID DE GOYA E MODIGLIANI

Normalmente arejo -vou a ares-no 25 de Abril. Mas uma vez fui a Roma e apanhei lá outro 25 de Abril! Autêntico, com verdadeiros fascistas, verdadeiramente pendurados... Cá, com os brandos costumes, não chegamos a isso.

Em Madrid, onde estive de sexta, 25, até hoje impressionaram-me os livros, originais ou reedições, sobre o 2 de Maio e a Guerra da Independência. E uma grande exposiçao com os Goyas sempre na frente. Fui também ao "Thyssen" ver a Exposição do Modigliani. Óptima.

QUE FITA VAI HOJE? - UM DIA MAIS

Acabou o recreio. De regresso às lides do cinema à distância (entre parênteses, uma história verdadeira: uma pessoa simples que foi ao teatro pela primeira vez gostou muito da novidade- era "ver a televisão pessoalmente"), só um filme hoje, mais uma vez na RTP Memória, às 22.05: Fuga de Forte Bravo (Escape from Fort Bravo, 1953), um bom western do realizador John Sturges, que fez filmes de muitos géneros mas nos anos 50 se notabilizou no universo dos filmes de cowbóis com uma série de westerns que constam de todas as histórias do género (entre os quais Gunfight at the OK Corral, 1957, e O último combóio de Gun Hill, 1959. Foi também o realizador de The Magnificent Seven (Os sete magníficos, 1960), adaptação ao Oeste americano dos Sete samurais de Akira Kurosawa, e - sobretudo - do memorável Conspiração de silêncio (Bad Day at Black Rock, 1955), um clássico.

quinta-feira, abril 24, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - ANTES QUE CAIA A NOITE

À meia-noite iniciam-se as comemorações cinematográficas da efeméride, com Capitães de Abril, de Maria de Medeiros. Só vi um trailer, ou um fragmento, em que uma menina do "regime" é brutalizada por uns agentes da Polícia na Casa do Alentejo, que no filme, acho eu, faz figura de palacete. Só para quem quer mesmo ver tudo. No TCM também não há nada de muito interessante. O Hollywwod repassa Pearl Harbor (Michael Bay, 2001), muito ruido e fúria, não direi a propósito de nada mas sem nada a ver, apesar de tudo, com o Até à eternidade de Fred Zinneman (From Here to Eternity, 1953), que está uns furos acima em todos os aspectos. Recentemente foi encontrada dentro de uma velha máquina fotográfica um rolo intacto de fotografias do ataque japonês a Pearl Harbor que vale a pena ir ver - e se parecem muito com as imagens do filme de 1953 (tinham passado pouco mais de dez anos sobre o ataque); a fotografia do filme foi da responsabilidade de dois grandes directores de fotografia: Burnett Guffey - 1905-1983 - que teve em Bonnie and Clyde (1967) um dos seus últimos trabalhos importantes - e Floyd Crosby (1899-1985), que colaborou em muitos dos filmes que Roger Corman produziu a partir dos contos de Edgar Allan Poe. Pearl Harbor, para os teóricos da conspiração, desempenhou durante muito tempo o papel que tem agora o 9/11: tudo manigâncias da sinistra classe dirigente norte-americana.

quarta-feira, abril 23, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - O IMPÉRIO DO MAL

Já é tarde para assistir ao princípio de A conquista do Oeste (How the West was won, 1962, começou às 20.00 no TCM), mas vou reincidir: embora tenha menos uma hora do que Ben Hur, tem, em contrapartida, a característica de ser um filme constituido por vários segmentos independentes; quem quiser, ainda pode ver na íntegra alguns deles. Os realizadores dos episódios são John Ford ("A Guerra Civil"), Henry Hathaway ("Os Rios", "As Planuras", "Os Fora da Lei") e George Marshall ("O Caminho de Ferro"). Richard Thorpe, segundo reza a ficha da IMDB, encarregou-se das sequências de transição. O filme era projectado em "cinerama", um sistema com três projecções justapostas que nunca provou muito bem e foi abandonado. Era uma grande produção: custou 15.000.000 de dólares; uma superprodução actual vai para os 200.000.000. Mas éramos assim em 1961. Falando de dólares, o canal Hollywood transmite hoje às 21.30, mais uma vez, Wall Street (Oliver Stone, 1987), um melodrama destinado a castigar os especuladores financeiros e a sua cobiça: estávamos no fim dos anos 8o e o lema de Gordon Gekko, o personagem interpretado por Michael Douglas, "Greed is good", já não soava muito bem. Depois vimos como os gekkos deste mundo ainda tinham muitas surpresas para nos dar.

terça-feira, abril 22, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DUAS OU TRÊS, PELO MENOS

Está a começar (20.00, mas dura mais de três horas) no TCM mais uma exibição do Ben Hur (1959) de William Wyler, protagonizado por Charlton Heston, um dos melhores maus actores do cinema americano. Heston morreu há dias. Wyler tinha-o dirigido pelo menos num outro filme, The Big Country, realizado no ano anterior, um western de "prestígio" mas nem por isso menos merecedor de consideração, muito bem escrito, dirigido, interpretado e fotografado. Este Ben Hur mostra como não há "magia" digital que substitua a grandiosidade física dos grandes cenários e dos "cast of thousands" (compare-se a corrida das quadrigas com as cenas de gladiadores do Gladiator de Ridley Scott (2000). Daqui a umas horas - já se deve saber o que aconteceu nas primárias da Pensylvannia entre H. Clinton e B. Obama - o TCM passa The Public Enemy (O inimigo público, 1931, William Wellman) - à 1.55, um clásico do cinema de "gangsters" com James Cagney e a famosa cena da toranja esborrachada na cara de Mae Clarke, para horror das feministas e das pessoas de bom coração e grande satisfação, ao que consta, do ex-marido dela. Quem ficar acordado, já sabe. Entretanto, na RTP Memória, às 22.05, temos Os revoltados do Caine, com Humphrey Bogart num papel muito afastado da sua habitual persona cinematográfica. The Caine Mutiny (1954), a partir de um romance de Herman Wouk, foi dirigido por Edward Dmytryk e é um bom espectáculo "teatral". Tem duas grandes interpretações de José Ferrer (e nunca é demais lembrar, a propósito, o seu fantástico Cyrano de Bergerac, 1950, Michael Gordon) e Fred Mac Murray, no papel de intelectual "revolucionário", covardola e cínico que o advogado Jose Ferrer faz absolver mas despreza. Foi fácil ver neste filme, como no Há lodo no cais de Kazan, uma referência à política do tempo: Dmytryk fora um dos "dez de Hollywwood" mas tinha sido depois retirado da hagiografia progressista quando decidiu que na "guerra" em curso não queria estar do lado dos comunistas, que conhecia de ginjeira, com quem já não tinha nada em comum e passara a detestar.

LIVROS EM ROMA

Nos aeroportos, nas livrarias de Roma- o que mais se nota, o que mais se vende, gira em torno da corrupção, da Máfia e da política, de Gomorra, um best seller do jornalista Roberto Saviano, "viagem ao império económico da Camorra e ao seu sonho de poder", a La Casta, em que Stella G. Antonio supostamente explica como "os políticos italianos se tornaram intocáveis. A par, as "tramas negras", neo-nazismo, grupos fascistas, etc., como Fascisteria, do jornalista Ugo Tassinari, ou, num plano um bocadinho mais académico, Il fascismo di pietra do nosso conhecido Emilio Gentile, sobre as relações de Roma com o fascismo. Entretanto, enquanto os italianos da "classe culta" se desesperam com o triunfo de Berlusconi nas eleições, em Bari, na Apúlia que em breve irei conhecer por uma particular circunstância familiar, discute-se se a Universidade Benito Mussolini deve mudar de nome - e há quem proponha o de Aldo Moro (mas as opiniões estão divididas - e os tribunais de momento dão razão aos "conservadores").

segunda-feira, abril 21, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - UM DIA MAIS

Ontem, por falha da porcaria da electrónica, não consegui prevenir ninguém da passagem na RTP1 do filme de Jacques Audiard, De battre mon coeur s'est arrêté (De tanto bater o meu coração parou, 2005). Fica aqui registado - e recomendado para uma próxima oportunidade. Invertendo uma tendência que vicejou durante alguns anos para remakes americanos de filmes franceses, trata-se de uma adaptação francesa do filme americano de James Toback Fingers (1978), que nunca consegui ver, com Harvey Keitel no papel que aqui desempenha Romain Duris. Jacques Audiard é filho do argumentista e dialoguista Marcel Audiard, esteio literário de dezenas de filmes de uma certa época do cinema francês. Foi também o realizador do politicamente incorrecto Un héros très discret (1996), adaptado de um romance de Jean-François Deniau sobre um falso herói da Resistência no Paris do pós-guerra. Hoje não me posso alargar muito, mas a passagem no Canal Hollywood de A Ilha das Cabeças Cortadas (Renny Harlin, meu Deus!, 1995) lembra-me irresistivelmente os inolvidáveis filmes de Burt Lancaster e Nick Cravat como O Facho e a Flecha (The Flame and the Arrow, 1950, de Jacques Tourneur) ou, sobretudo, O Pirata Vermelho (The Crimson Pirate, 1952, de Robert Siodmak): se os avistarem, não os percam. Falando desses tempos e deste género, passa esta noite na RTP Memória O filho do valentão (Son of Paleface, 1952, às 22.10), de Frank Tashlin (cá está outro nome da comédia cinematográfica americana dos anos 50 que precisava de mais umas linhas), continuação de O Valentão das dúzias (The Paleface, 1948), com Bob Hope, um dos grandes comediantes do palco, da televisão, da rádio e do cinema americanos, que morreu com cem anos em 2003.

A REVOLUÇÂO CULTURAL CHINESA

Sob este título, um jornal italiano regista que o chinês, ou mais popriamente o mandarim, é a língua que mais pessoas falam no mundo - mas das menos traduzidas. Para colmatar esta lacuna o governo chinês criou e está a ampliar uma vasta rede de "escolas" de mandarim no mundo inteiro, os Institutos Confúcio. Já existiam mais de cem, em 2008 vão abrir outros sessenta. No Panamá - of all places - o governo quer tornar o ensino do chinês obrigatório.

A MORTE EM DIRECTO

Como se sabe, morreu há dias na faixa de Gaza um repórter da Reuters, que "filmou a própria morte". Em tempos que já lá vão, vi na redacção do Telejornal um outro documento do mesmo género, igualmente arripiante, distribuído pela Visnews, uma agência de imagens filmadas que não sei se ainda existe: registava a morte de Bernard Fall, um historiador franco-americano da Guerra da Indochina (e depois do Vietnam) cujos livros continuam a ser indispensáveis: Hell in a Very Small Place (a batalha de Dien-Bien Phu) e Street without Joy, dois clássicos. Em 2006 foi publicado um livro da sua viúva, Dorothy Fall, Memories of a Soldier-Scholar. Fall e o repórter que ia a seu lado morreram na explosão de uma mina vietcong quando acompanhavam uma patrulha de soldados americanos. Naquele caso, como no da semana passada, as câmaras e os filmes sobreviveram. Eles é que já não servem...

O EMIGRANTE - JOSÉ SARAMAGO

José Saramago em entrevista num semanário deste fim de semana: fala em portunhol, como qualquer futebolista ou criada de servir depois de viver em Espanha meia dúzia de meses!

domingo, abril 20, 2008

SANTO EGIDIO POR VASI (SÉC.XVIII)

Ontem estava a falar de Santo Egidio e encontrei aqui uma gravura do convento e igreja no século XVIII, da autoria de Giuseppe Vasi. Está tudo assim, intocado, o que faz parte do encanto de Roma. No edifício à esquerda da igreja, que agora está fechada, funciona a Comunidade de Santo Egídio fundada há 40 anos e que foi decisiva para a paz romana de Moçambique.

PASSEIO DE DOMINGO - ROMA TRASTEVERE

Entre Julho de 1989 e Outubro de 1992 foi aqui que se passaram as negociações para a paz em Moçambique. Estava agora mesmo a escrever sobre essas negociações , bem sucedidas no seu muito particular caso de diplomacia privada, contrastando com as (apesar das aparências) mal sucedidas negociações de Bicesse que levaram, depois de concluidas, a mais 10 anos de guerra em Angola.
Fui muito a Roma nestes anos e conheci e dei-me com os protagonistas italianos e da RENAMO desta paz romana, assinada em 4 de Outubro de 1992.
Este episódio e a vitória, há uma semana, da coligação de direitas italianas nas eleições legislativas, uma vitória bem clara e sigificativa da união de famílias ideológicas diferentes mas unidas no repúdio da esquerda politicamente correcta, levam-me à sugestão para hoje.Bom domingo.

sábado, abril 19, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DE VOLTA

Fui a Roma - e não vi o Papa. Mas faltei a este encontro por uns dias. No regresso, descobri entre outras coisas que no guia de televisão publicado às sextas-feiras pelo Correio da Manhã - candidato cada vez mais forte ao título de matutino mais informativo de Lisboa - consta a programação do TCM. E em Cinema PT Gate, na net, também se pode consultar a lista dos filmes que são exibidos na televisão, incluindo no mesmo TCM. Assim, se não houver enganos, fiquei a saber que hoje, neste canal, se podem ver ou rever a Intriga Internacional (North by Northwest, 1959) de Hithcock (20.00), de que já aqui se falou, e A quadrilha (The Outfit, 1973), um Point Blank (À queima roupa, John Boorman, 1967, muito mal refeito com Mel Gibson, Payback, Brian Helgeland, 1999) de via estreita, mas não desinteressante, com Robert Duvall (22.15). A RTP 2 na sua presente e errática programação de cinema de sábado passa (23.40) uma das mais perfeitas comédias de Blake Edwards, muitas vezes repetida em diversos canais: Victor, Victoria (1982), mais um argumento para a revalorização de James Garner como actor de comédia. E por aqui me tenho de ficar.

domingo, abril 13, 2008

PASSEIO DE DOMINGO - PRAIA DE DOVER

O outro dia, há duas semanas no Xai-Xai em Moçambique, li "On Chesil Beach" do Ian Mc Ewan. A minha versão de praias inglesas é a praia de Dover e hoje achei que o passeio - virtual e virtuoso - podia ser até lá, com o poema de Mathew Arnold. Enjoy!

Dover Beach


The sea is calm tonight.
The tide is full, the moon lies fair
Upon the straits; - on the French coast the light
Gleams and is gone; the cliffs of England stand,
Glimmering and vast, out in the tranquil bay.
Come to the window, sweet is the night air!
Only, from the long line of spray
Where the ebb meets the moon-blanch'd sand,
Listen! you hear the grating roar
Of pebbles which the waves draw back, and fling,
At their return, up the high strand,
Begin and cease, and then again begin,
With tremulous cadence slow, and bring
The eternal note of sadness in.

Sophocles long ago
Heard it in the Ægæan, and it brought
Into his mind the turbid ebb and flow
Of human misery; we
Find also in the sound a thought,
Hearing it by this distant northern sea.

The Sea of Faith
Was once, too, at the full, and round earth's shore
Lay like the folds of a bright girdle furl'd;
But now I only hear
Its melancholy, long withdrawing roar,
Retreating to the breath
Of the night-wind down the vast edges drear
And naked shingles of the world.

Ah, love, let us be true
To one another! for the world, which seems
To lie before us like a land of dreams,
So various, so beautiful, so new,
Hath really neither joy, nor love, not light,
Nor certitude, nor peace, nor help for pain;
And we are here as on a darkling plain
Swept with confused alarms of struggle and fight,
Where ignorant armies clash by night!

Mathew Arnold

sábado, abril 12, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - DAQUI POR UMA HORA

Nunca vi - e acho que não gostei: Nascido a quatro de Julho (Born on the Fourth of July, Oliver Stone, 1989). À meia-noite e meia (ou 00.55?), na TVI. Dá para falar de um guiazinho dos filmes sobre a guerra do Vietname que não é mal feito - e dos filmes sobre as guerras da Indochinas e da Argélia. Amanhã ou depois. E lembrar que o único filme que militou pela intervenção americana no Sudoeste asiático foi The Green Berets, de John Wayne e Ray Kellog (1968), de que era fácil fazer troça: o filme que realmente os irritou foi O Caçador (The Deer Hunter, Michael Cimino,1978 ) - um grande filme que ficou atravessado ao povo cinematográfico de "esquerda". Doutras guerras "coloniais" nos está a falar desde as 22.30 no AXN, O homem que queria ser rei, (1975) um interessante filme tardio de John Huston (a comparar com o romance de Pierre Schoendörfer, de que também houve um filme, L'adieu au roi) - mas tudo isso são ainda outras histórias.

GRANDES CÓMICOS DO "MEU TEMPO"

Antonio de Curtis(Toto)





Outro dia a falar do TóTó e do Cantinflas com alguém da Geração de 60-mais ou menos com 15-20 anos menos que eu - fiquei surpreendido por não ter ideia como eram estes actores e o importante em termos culturais que foram, mesmo entre nós.







Mario Moreno(Cantinflas)

sexta-feira, abril 11, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - CANTINFLAS

Na RTP Memória - não é certamente o único filme de hoje que mereceria comentários mas é aquele que não se pode deixar de referir: O analfabeto (El Analfabeto, 1961), um filme de Mario Moreno (1911-1993) - Cantinflas. É um entre as várias dezenas de títulos da longa carreira do cómico mexicano, a única criação do cinema cómico "latino" que rivaliza com os personagens da farsa cinematográfica anglo-saxónica. A comparação entre o estilo e a personalidade da invenção de Mario Moreno e os dos seus homólogos anglo-saxónicos dá pano para mangas. E viria a propósito chamar também à colação outro genial criador cómico: o Príncipe Antonio de Curtis, Tótó. Às 22.10.

quinta-feira, abril 10, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - ENGANADO!

Trocaram-me as voltas. Ao contrário do que estava anunciado, ontem a RTP1 deu-nos os Três Reis de David O. Russell, em vez do filme chinês. E mais uma vez, por falta de informação adiantada, não soube senão a meio da noite que o TCM passava o western de James Cagney Tribute to a Bad Man (Honra a um homem mau, 1956 , Robert Wise), baseado como muitos outros filmes do género (entre eles Shane) numa história de Jack Schaefer (1907-1991). Amanhã será outro dia. Ah!, hoje às 23.45, para dar una espreitadela (cuidado com as crianças), no Canal Hollywod, Beleza roubada (Stealing Beauty, 1996) de Bernardo Bertolucci, com Liv Tyler.

quarta-feira, abril 09, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - À PRESSA

Não tenho tempo para ser mais longo: às 23.15, na RTP 1, passa Infiltrados 2 (Mou Gaan Dou II, Internal Affairs, 2003,de Andrew Lau e Alan Mak, cinema de Hong Kong sobrevalorizado, na minha modesta opinião, e que serviu de base ao filme - ainda mais sobrevalorizado - de Martin Scorsese, Entre inimigos (The Departed, 2006). Também dá hoje, no Arte, às 21.45, Old Boy, mais violência asiática, a ver e discutir. E ontem no TCM foi exibido The Mask of Dimitrios (1944) de Jean Negulesco: Peter Lorre, Sydney Greenstreet - e um livro de Eric Ambler. Temos mesmo que tornar a falar destes todos.

PAULO VARELA GOMES

Já há muito tempo que tenho vontade de recomendar as crónicas - e outros textos - de Paulo Varela Gomes. Deus sabe - eu, francamente, que não o conheço, não sei - que longe poderemos estar talvez em matéria de convicções ou doutrina; uma coisa é certa, isto é um conselho de amigo: leiam a crónica semanal que assina no Público; podem começar pela de hoje: "Elogio Fúnebre".

segunda-feira, abril 07, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - PAGADOR DE PROMESSAS

Exumada dos meus arquivos que estão longe de ser implacáveis, infelizmente, transcrevo a seguir a prometida "reedição" da crítica de O homem das pistolas de ouro por Manuel Maria Múrias, que assinava nessa época Manuel Moutinho, M.M.:
"O Homem das Pistolas de Ouro é um western clássico; quer dizer: - é um daqueles filmes de cow-boys cujo conteúdo possui os mil e um ingredientes temáticos que, desde sempre, desde Griffith, fizeram do género a única criação original de dramaturgia cinematográfica.
Dirigido por Edward Dmytryk, o filme estreado, no Politeama, na quinta-feira passada, seguindo porém o revolucionarismo temático que, há já anos, se tem procesado no western, quer ser mais alguma coisa do que simplesmente uma cow-boyada, e tenta intemporalizar determinadas personagens e dar-lhes o valor de símbolos. Henry Fonda, neste caso, será como que a encarnação da Ordem e Richard Widmark pretende-se que seja a Lei. Primeiro chega a Ordem, imposta violentamente, trazendo consigo a paz; depois (depois de haver ordem) vem a Lei que oferece à paz gerada pela Ordem um sentido eticamente superior. A Ordem que pretende justificar-se por si mesma é vencida e permanece a Lei cuja justificação se alicerça no Bem.
Ao público (é claro...) não lhe interessam estes devaneios literários e mais ou menos filosóficos: prende-o a dureza da luta, a violência de alguns momentos da acção e todos os elementos exteriores da história que vê desenrolar-se ante os seus olhos. Repara que o filme é impecavelmente bem feito e repara também nas extraordinárias criações de Henry Fonda, Richard Widmark e Anthony Quinn. Ao fim da projecção, sem se ter preocupado muito com o fundo dos problemas, gostou muito do espectáculo." ("Diário da Manhã", 31 de Outubro de 1959)
Não tenho o programa desta estreia mas tenho vários de outros filmes de Dmytryk em estreia ou reposição, entre os quais o de uma dessas salas de 'reprise', o "Imperial", de que não consigo lembrar-me e onde fui ver, em programa duplo, A Lança Quebrada (Broken Lance, 1954); tem os preços - de 5 a 10 escudos, consoante o dia e a hora, ou seja, mais ou menos, dois cêntimos e meio a cinco cêntimos do actual euro - e muitos anúncios, dos cosméticos Pinaud e Saint Age a casas de penhores e restaurantes (o "Estrela do Chile", p.ex.: "Às donas de casa - não se preocupem com as refeições..."), alfaiates e retrosarias. Se insistem em que fale dos filmes de hoje, só quero lembrar, primeiro, aos noctívagos impenitentes que à 1.50 passa no AXN Isto (não) é um rapto (The Ref, também conhecido por, ou AKA, Hostile Hostages, 1994) uma excelente comédia pouco conhecida, de Ted Demme (irmão do Jonathan Demme de O Silêncio dos Inocentes, etc. e que morreu muito cedo, num court de ténis, salvo erro), com um elenco de luxo: Kevin Spacey, Judy Davis, Denis Leary, Glynis John, num regresso de primeira às lides cinematográficas; no Canal Hollywood, à 1.30, é a vez de American Psycho, do romance de Brett Easton Ellis (2000, Mary Harmon), para espíritos fortes. E sublinhar, depois, que na RTP Memória, se o programa não nos engana, passa às 22.00 O Homem da Máscara de Ferro de 1939, realizado por James Whale (o realizador do famosíssimo Freaks e do primeiro Frankenstein, entre outros, e retratado em Gods and Monsters (1998, Bill Condon, com Ian McKellen, um "sósia" do biografado).

domingo, abril 06, 2008

UMA DESCOBERTA

Confesso que nunca tinha ouvido falar em Khaled Hosseini, mas os atrasos nos aeroportos dão-nos, às vezes, destas surpresas. Três horas de espera, uma corrida à livraria e a compra de um livro um pouco ao calhas, talvez porque me atraiu a capa: The Kite Runner (desconheço se existe tradução portuguesa. Ouvi dizer que sim, mas não sei qual é o título). Trata-se de um livro, um livro extraordinário, sobre a amizade, mas também sobre o Afeganistão, antes e depois dos talibãs. Um livro duro, que nos exalta, que nos comove, que nos deixa tristes e com raiva pelo mundo louco em que nos tocou viver.

O que mais espantará nesta obra, é o facto de se tratar de um primeiro romance. E, no entanto, que maturidade, que escrita, que fantástica forma de contar uma história. Por ela perpassam os últimos tempos da monarquia, uma infância feliz, a invasão soviética e a crueza dos combates, a vitória dos talibãs e o regresso ao passado, a um passado longínquo que põe em causa todas as conquistas da civilização.

Não quero contar mais, pois quero ser capaz de convencer todos os que me lêem a comprarem este livro. Não se arrependerão. E, já agora, comprei também a obra que se seguiu, A Thousand Splendid Suns. Ainda não a li, mas prometo que, quando o fizer, deixarei aqui as minhas impressões.

"GILDAS"


Lá (re) vi ontem , seguindo a sugestão do Miguel a Gilda. E que bonita era a Rita Hayworth!

PASSEIO DE DOMINGO - VICTORIA FALLS E ROBERT MUGABE

Quando voávamos para Joanesburgo, no princípio dos anos 90, ao passar sobre Victoria Falls, os pilotos chamavam-nos a atenção para a vista e, regular ou irregularmente, baixavam um bocado para vermos melhor o panorama. Que era (é) fabuloso. Tão fabuloso como uma subida do Zaire, da foz até Kinhasa, que fiz já nos finais dos anos 90, com o Helder Bataglia, num voo num Beechcraft 200, entre Luanda e Brazaville, lembrando-me muito do Conrad e do Heart of Darkness e dos fardos carregados e impostos pelos homens brancos à África.

África que, com todos os seus senãos, tragédias e problemas, guardou este lado de "mundo encantado", que tem a ver com as naturezas poupadas pela técnica, com o mundo inicial, do princípio da Criação. Como ainda se descobre em partes da América do Norte, do Brasil e da Argentina.

E Victoria Falls estão no Zimbabué, nesse antigo Reino do Monomotapa, por onde hoje passa muito do futuro da região: uma saída tranquila de Mugabe, de transição estável, com um governo de unidade sem ele, e a cornucópia dos benefícios da reconstrução cair(á)ia sobre o país. E sobre os vizinhos, também. Mas se o velho leninista, educado pelos Jesuítas, ceder às pressões da sua nomenclatura e quizer ficar no poder, ganhando as eleições de qualquer modo, pela intimidação e pela manipulação, então não vai haver nada para ninguém e a violência e guerra civil poderão ser a consequência mais próxima do maquiavelismo das élites locais e dos que, no nosso hemisfério, os encorajam a ficar no poder de qualquer maneira.
Conrad continua bem actual, com algumas adaptações.

sábado, abril 05, 2008

A TRILOGIA DE MICHAEL BURLEIGH

O historiador e ensaista Michael Burleigh acaba de publicar uma "morfologia" do terrorismo que vamos ler logo que pudermos: Blood and Rage: A Cultural History of Terrorism. Segue-se a Earthly Powers, The Conflict Between Politics and Religion from the French Revolution to the Great War (2005) e Sacred Causes: Religion and Politics from the European Dictatorships to Al Qaeda (2007). Ao todo, quase mil e quinhentas páginas que cobrem mais de dois séculos, da Revolução Francesa à actualidade, para ler e discutir.

QUE FITA VAI HOJE? - POR UM TRIZ

Ainda vamos a tempo, mas por pouco: às 23.40, no cinema dos sábados da RTP2, Gilda (Charles Vidor, 1946), "Drama/Film noir/Romance/Thriller" - com Glenn Ford e, claro, Rita Hayworth. Quem não puder ver o filme tem no youtube Put the blame on mame, um número daqueles a que os publicistas chamavam "escaldantes". Até segunda.

O SENHOR DUQUE DE LAFÕES

Só soube da morte dele já o Lopo, que Deus tenha, tinha ido a enterrar. Era uma das pessoas mais cultas, mais bem educadas e mais discretas que conheci. Com um humor que podia ser mordaz, era com certeza uma das pessoas mais verdadeiramente gentis que houve neste país.

sexta-feira, abril 04, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - ELEIÇÕES

Às 21.30, no Canal Hollywood, passa hoje um filme que chegou a adquirir um estatuto moderadamente mitológico: Eleições (Election, 1999, Alexander Payne). Embora já não fosse propriamente uma criança (tinha quase quarenta anos) este filme granjeou ao realizador uma duradoura reputação de enfant terrible de grande talento e a crítica riu-lhe muito as gracinhas, embora Election seja bastante melhor contado do que visto. Daí para a frente apresentou e foram-lhe aplaudidos dois outros filmes que também estão nitidamente abaixo das expectativas: As Confissões de Schmidt (About Schmidt, 2002, com um Jack Nicholson completamente canastrão), em que desperdiçou um notável romance de Louis Begley, com o qual, aliás, o filme e os seus pretensiosos lugares comuns não têm muito que ver, e Sideways (2004, com Paul Giamatti e Thomas Haden Church), que é um bocadinho melhor mas, apesar de ter os seus momentos (como uma cena muito bem conseguida com Giamatti e Virginia Madsen), não merece o espavento com que foi recebido e os prémios que teve. Quem quiser pode hoje fazer o seu próprio juízo sobre o filme que foi a mãe de todos os filmes de A. Payne. E quem fôr ainda mais ambicioso pode ler os romances de Begley e ver a diferença. Na RTP 2 não há propriamente cinema mas passa um "documentário" que deve valer a pena ver: é A história de Bette Davis, às 23.45.

quinta-feira, abril 03, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - ONTEM E ANTEONTEM

Está em dívida um comentário mais extenso a propósito de O Planeta Proibido, para cuja exibição televisiva chamei a atenção há dias. Este filme é geralmente considerado bastante acima da média do cinema de ficção científica da sua época, e mesmo para além dela. Baseado no entrecho da Tempestade de Shakespeare foi um filme em quase meio século precursor da moda das "actualizações" das peças do Bardo. Há muito tempo que não o revejo senão em bocadinhos - e ainda não foi desta que o consegui tornar a ver - mas pelas amostras penso que não será despropositado continuar a pensar que em termos literários, cenográficos, dramáticos e cinematográficos continua a merecer alguma consideração e pode ser mantido no seu pedestal (com a curiosidade de ter como galã sério Leslie Nielsen, um actor que depois se dedicou quase exclusivamente à farsa mais burlesca e soez, do género "Academia de Polícia"). Os azares da programação fizeram que num curto espaço de tempo tivéssemos a oportunidade de ver sucessivamente este "clássico" dos anos 50 e dois exemplares da "nova" ficção científica cinematográfica de fins dos 70, anos 80 e seguintes: Estranhos Prazeres (Strange Days, Kathtryn Bigelow, 1995, com argumento de James Cameron, o autor de Abismo, um Encontros na Terceira Fase (Close Encounters of the Third Kind, Spielberg, 1977) submarino ou Aliens, uma das sequelas de O oitavo passageiro) e, justamente, o primeiro Alien (1978), do cineasta que reiventou o género e pôs o genial Philip K. Dick no mapa cinematogáfico, e não só, com Blade Runner (Ridley Scott, 1982). E isto nunca mais acabava, mas fico por aqui.

GUERRA E PAZ

A Guimarães Editores, onde estou há uns dias, fez traduzir e publicou, vai já para três ou quatro anos, um livro que propus ao Francisco Cunha Leão editar e que se intitula A invenção da paz, do historiador militar inglês Michael Howard. O livro despertou na altura, modestamente, algum interesse. A Rádio Paris Lisboa (hoje Rádio Europa-Lisboa), salvo erro, chegou a dedicar-lhe um programa de debate, de que o DN deu na altura notícia (com um pequeno lapso: publicava uma fotografia supostamente do autor que retratava, sim, o ex-líder do Partido Conservador que tem o mesmo nome). Esse magistral livrinho de "reflexões sobre a guerra e a ordem internacional" tem como epígrafe uma sentença oitocentista de Sir Henry Maine: "A guerra parece ser tão velha como o homem mas a paz é uma invenção moderna". Não é um livro muito optimista. Encontrei agora nos arquivos da Guimarães um velho exemplar do clássico "pacifista", bem intencionado e razoavelmente equivocado de Norman Angell, aqui editado em 1914, A Grande Illusão (escrevia-se mesmo com dois l's) e traduzido pelo Dr. Carlos José de Menezes. É uma obra que tem sido lembrada ultimamente e que talvez valha a pena reeditar agora que a História da Europa e do Mundo é o que é e que a Grande Guerra de 14/18, seus antecedentes e consequentes, concita tanta atenção. Tem uns interessantes lampejos de uma teoria avant la lettre do "choque de civilizações" e da guerra do futuro como guerra civil. É acusada, diga-se de passagem, de ter servido de inspiração, no título e também no espírito, ao grande filme de Jean Renoir La Grande Illusion (com duas inesquecíveis interpretações de Pierre Fresnay e Eric von Stroheim, 1937). Angell, nascido em 1872, era do Partido Trabalhista, recebeu em 1933 o Prémio Nobel da Paz e viveu até 1967.

quarta-feira, abril 02, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - ÀS DUAS POR TRÊS

Muitas vezes a realidade imita a ficção ou, como num sentido ligeiramente diferente diz um dos nossos poetas, o sonho comanda a vida: para aparentemente o provar aí está esta noite, na TVI, às 00.25, um filme de terceira ordem intitulado Decisão Crítica (Executive Decision, Stuart Baird, 1996) em que um grupo terrorista sequestra um avião para o lançar contra Washington a coberto do falso pretexto de uma "negociação" convencional para libertar "camaradas" presos. É certo que já tinha havido uma tentativa frustrada de aplicar o mesmo modus operandi sobre Paris, mas não deixa de ser impressionante que este filme tenha sido produzido nos Estados Unidos cinco anos antes do 11 de Setembro. Na realidade, hélas, não estavam lá nem Kurt Russell nem Steven Seagal para evitar o pior. Sem mais pormenores: às 23.15, no Canal Holywood, passa o segundo filme da chamada "trilogia Bourne", ou seja The Bourne Supremacy (Supremacia, 2004, Paul Greengrass) que sucedeu a The Bourne Identity (Identidade Desconhecida, 2002, Doug Liman) e precedeu The Bourne Supremacy (Supremacia, 2007, Paul Greengrass), três brilhantes espécimes de escapismo cinematográfico, que concorrem com a série Die Hard (em especial o primeiro, Assalto ao Arranha Céus, 1988, John Mc Tiernan, e desclassificando o segundo, Assalto ao Aeroporto, 1990, Renny Harlin) pelo título de melhores filmes de acção dos últimos vinte anos; à 1.30, também no Hollywood, Alien, o oitavo passageiro, de Ridley Scott, do qual gostaria de falar um bocadinho mais, mas hoje já não pode ser: estou atrasadíssimo para um jantar com uns amigos meus.

terça-feira, abril 01, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - O ADVOGADO DO DIABO

Às 00.40, na TVI passa O advogado do Diabo (The Devil's Advocate, 1997). É muito tarde, claro, e o filme de Taylor Hackford não merece que se perca muito sono com ele, a não ser para disfrutar o tour de force de Al Pacino na sua grande arenga de Diabo despeitado. Por sinal, Taylor Hackford, marido da grande actriz inglesa Helen Mirren, também realizou outro filme mais recente que passa esta noite, quase à mesma hora (Ray, 2004, uma biografia de Ray Charles, que valeu um Óscar ao seu intérprete principal, Jamie Foxx: 00.00, Canal Hollywood). O melhor filme de Taylor Hackford, apesar de todos os seus rodriguinhos, continua a ser um dos primeiros que realizou, Oficial e Cavalheiro (An Officer and a Gentleman, 1982, com Richard Gere e uma extraordinária Debra Winger). Ainda não é hoje que adianto mais alguma coisa sobre O Planeta Proibido, mas em compensação vou acrescentar à minha anterior lista os títulos portugueses de mais dois filmes de Ronald Neame, Tunes of Glory (Uma vez, um herói) e Mr. Moses (O renegado da selva); pode dar jeito saber. Entretanto, continua a fazer falta a programação do TCM: ontem, por exemplo, vi que deram um filme que merecia ter sido anunciado: They drive by night (1940), de Raoul Walsh, uma história de camionistas e gangsters, com - nada mais, nada menos - George Raft, Humphrey Bogart, Ann Sheridan e Ida Lupino.

ATÉ QUANDO?

"Vou deixar a África do Sul. Vivi aqui por 35 anos e partirei angustiada. A minha casa e os meus amigos estão aqui, mas estou aterrorizada. Sei que me levarão a mal dizer isto, porque sou a viúva de Alan Paton."
É assim que começa uma patética carta que esta senhora escreveu há uns meses ao Sunday Times e que, como se costuma dizer, mão amiga nos fez chegar. Alan Paton foi o autor de um famoso romance publicado em 1948 e se intitulava Cry, The Beloved Country. Quando o autor morreu, em 1988, tinham-se vendido quinze milhões de exemplares desse livro que ainda hoje é lido e ensinado e foi no seu impacto uma espécie de Cem anos de solidão africano dos anos 50 e 60, mais o cristianismo e menos o o marxismo.
Este depoimento sobre o estado a que chegaram a Rodésia e a África do Sul vem juntar-se a outros que procedem de testemunhas igualmente privilegiadas, em todos os sentidos da palavra, e insuspeitas de qualquer animosidade contra a África descolonizada como Nadine Gordiner ou Doris Lessing. No resto da África sub-sahariana a devastação e o desespero são em geral ainda maiores, com Angola e Moçambique, São Tomé, Cabo Verde - ou até a pobre Guiné - a fazerem figura, apesar de tudo, de oásis no deserto de ordem, paz, tranquilidade e simples humanidade que engoliu o continente; toda a gente sabe que outros nomes tem esse inferno na terra: Serra Leoa, Libéria, Congo, Ruanda, Burundi, etc., etc. Mas são os mensageiros que são degolados - com sorte, metaforicamente.